Dificuldade para engravidar: previna e/ou trate o envelhecimento ovariano precoce

É comum que meninas comecem a usar anticoncepcionais cada vez mais cedo. O uso por muitos anos depleta os estoques de zinco, o que dificulta depois a gravidez. Mas isso é fácil de resolver, assim como a deficiência de folato, que também atrapalha o amadurecimento do folículo ovariano.

Outro problema é que muitas mulheres optam por engravidar após os 40 anos. Neste caso, a alimentação saudável é ainda mais importante pois a partir dos 35 anos o envelhecimento dos ovários acelera-se bastante. O histórico familiar também conta. Mulheres cujas mães entraram na  menopausa precocemente (no início da 4a década de vida) podem ter também maior dificuldade de engravidar após os 35 anos.

Para saber se os ovários estão funcionando bem mede-se o hormônio anti-mülleriano (decorei o nome pois meu pai chama-se Carlos Müller). O hormônio anti-Mülleriano é um marcador da reserva ovariana. É produzido nas células da granulosa dos pequenos folículos em estágio 1 e exerce funções reguladoras sobre a formação de células nos ovários.

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A concentração sérica de hormônio anti-Mülleriano reflete o número de folículos pré-antrais e antrais em fase inicial. Este hormônio declina gradualmente com a idade da mulher (principalmente a partir dos 30 anos). A dificuldade para engravidar e a falta de sucesso na fertilização in vitro é indicativa de reserva ovariana diminuída e se associa com baixos níveis de hormônio anti-Mülleriano.

Ovários policísticos também podem dificultar a fertilidade

Mulheres com ovários policísticos (SOP) podem ter este hormônio mais baixo. Valores abaixo de 1 são características de um ovário mais envelhecido.

Outra forma de avaliar o envelhecimento ovariano é avaliar o FSH no 3o dia do ciclo. Ele deve estar menor do que 10. Se estiver maior que 10 o ovário está envelhecendo e a mulher está mais próxima da menopausa.

Pelo menos 7 folículos precisam ser recrutados em cada ovário para liberar o óvulo (oócito secundário). Este processo de amadurecimento começa 85 dias antes da ovulação. Ou seja, a qualidade do óvulo é dependente da alimentação dos últimos 3 meses. Mulheres com endometriose possuem um envelhecimento ovariano mais precoce. Alimentação saudável é fundamental. 

O estresse oxidativo, estradiol < 35 no terceiro dia do ciclo faz com que a camada endometrial seja mais fina, dificultando a gravidez. O endométrio precisa estar entre 8 e 12 mm no dia da implantação para que a gestação seja bem sucedida. Quando o endométrio é fino o risco de aborto expontâneo é muito alto.

Em relação à suplementação a coenzima Q10 por 3 meses reduz o estresse oxidativo e pode melhorar a qualidade da reserva ovariana (Gat et al., 2016; Özcan et al., 2016; Akarsu et al., 2017). A vitamina D aumenta o hormônio anti-Mülleriano porém a suplementação depende da dosagem plasmática (Kumari & Hadalagi, 2015).

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Tem muita gente fazendo dieta cetogênica mas a dieta hiperlipídica pode reduzir a quantidade de oócitos e reduzir o hormônio anti-Mülleriano (Tsoulis et al., 2016). O carboidrato não é seu inimigo. Sua dieta precisa ser equilibrada às suas necessidades fisiológicas.

O estresse oxidativo também inflama os ovários e prejudica a fertilidade. Obesidade, endometriose, SOP, uso de drogas, álcool, tabagismo, aumento do estresse psicológico aumentam a quantidade de radicais livres no ovário. A dieta precisa então ser rica em frutas e verduras para redução do estresse oxidativo. De fato, dietas ricas em antioxidantes atrasam a menopausa em 1 a 3 anos (Pearce & Tremellen, 2016). Um suplemento interessante para a redução do estresse oxidativo ovariano é a glutationa. A n-acetilcisteína também pode ser importante, dependendo do caso. Além disso, aumente o consumo de alimentos ricos em enxofre como brócolis, repolho e couve-flor.

Dormir bem também é fundamental. Sabia que o órgão com maior número de receptores de melatonina (hormônio do sono) nas mulheres é o ovário (Reiter et al., 2014)? A melatonina é um antioxidante reduzindo o estresse oxidativo ovariano. Este composto pode ser suplementado e também é produzido no corpo, quando está escuro. Mulheres precisam dormir bem para reparar todas as células, para diminuírem o estresse oxidativo e conseguirem engravidar. E sabia que para dormir bem a dieta também precisa estar boa (triptofano, ômega-3 principalmente para mulheres com SOP, B6, B9, B12)? Pois é... Sem melatonina a taxa de implantação do embrião é menor. Pensando em engravidar? Marque uma consultoria.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta Budwig no combate ao câncer

A dieta Budwig ou protocolo Budwig é um plano alimentar criado em 1952 pela bioquímica alemã Johanna Budwig  para ajudar no tratamento do câncer. A dieta consiste na eliminação de alimentos industrializados, carnes processadas, açúcar, manteiga e margarina e óleos inflamatórios. A dieta é rica em frutas e verduras mas seu diferencial está no consumo de várias porções diárias de queijo cottage misturado com óleo de linhaça.  A linhaça é rica em ácidos graxos poliinsaturados com propriedades antiinflamatórias.

Para fazer a mistura para a dieta Budwig, a recomendação é de misturar 1 colher de sopa de óleo de linhaça para cada 2 colheres de sopa de queijo cottage até que o óleo não seja mais visível. No total os pacientes consomem cerca de  6 colheres de sopa de óleo de linhaça ao longo do dia.

Infelizmente, os estudos acerca deste protocolo para o tratamento do câncer são inconclusivos. Contudo, existem evidências de que o óleo de linhaça de fato seja benéfico para a prevenção e tratamento do câncer. Em um estudo publicado no Cancer Prevention Research Journal camundongos alimentados com sementes de linhaça tiveram um número reduzido de novos tumores de pulmão em comparação com os que seguiram uma dieta sem semente de linhaça (Chikara et al., 2017).

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Outra pesquisa também mostra que galinhas com câncer de ovário que consumiram maior quantidade de linhaça tiveram menos tumores e melhores resultados após um ano do que as que não consumiram a semente (Ansenberger et al., 2010).

Embora existam evidências de que a linhaça possa combater o câncer em animais, não há muita pesquisa disponível sobre o efeito da linhaça em humanos com câncer. Por exemplo, Meiners em 2011 publicou estudo de caso acerca de uma paciente de 41 anos com câncer de mama que entrou em remissão. Contudo, além do óleo de linhaça a paciente também fez uso de ômega-3, coenzima Q10, vitamias B2 e B3, um fitoterápico (Boswellia serrata). Passou também por terapias tradicionais, incluindo quimio e radioterapia. Ou seja, não há como tirarmos conclusões acerca da importância do óleo de linhaça neste tratamento.

Outro pequeno estudo mostrou que uma dieta restrita em gordura, suplementada com óleo de linhaça, reduziu os níveis de testosterona e o tamanho dos tumores antes da cirurgia de homens com câncer de próstata (Demark-Whanefried et al., 2001).

Embora esses resultados sejam encorajadores, estudos maiores e com grupo controle precisam ser realizados para que possamos chegar a uma conclusão sobre a eficácia da linhaça no tratamento do câncer. Como efeitos colaterais, o consumo exagerado de óleo de linhaça pode gerar dor de estômago, flatulência e diarreia. Comer linhaça sem beber água suficiente pode levar a uma maior chance de desenvolvimento de obstrução intestinal.

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Avaliação da função mitocondrial

As mitocôndrias são responsáveis pela geração de 90% da energia em nosso corpo. O mal funcionamento mitocondrial afeta em grande medida coração, músculos, cérebro e pulmões. Problemas mitocondriais são difíceis de serem diagnosticados pois os sintomas variam de pessoa para pessoa.

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Alterações no funcionamento mitocondrial podem ocorrer conforme vamos envelhecendo e também são comuns em alguns transtornos e síndromes (autismo, síndrome de Down, síndrome do X frágil). Mais de 3.000 genes precisam estar funcionando adequadamente para que as funções da mitocôndria sejam executadas. 

Sintomas suspeitos incluem convulsões, dificuldades para andar, enxergar ou falar, atrasos no desenvolvimento, problemas para digestão de alimentos. O diagnóstico é importante já que pacientes com doenças mitocondriais possuem maior risco de complicações relacionadas à anestesia durante cirurgias. Também possuem maior dificuldade de destoxificação de medicamentos como ácido valpróico, metformina, estatinas, acetaminofen em alta dosagem, alguns antibióticos como linezolida, tetraciclina, azitromicina e eritromicina.

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Existem também estudos relacionando as disfunções mitocondriais a maior risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, Alzheimer, Parkinson, derrames, distúrbios metabólicos, envelhecimento acelerado e câncer. O jejum também não é recomendado para pacientes com disfunções mitocondriais.

O diagnóstico é feito por uma combinação de observações clínicas, avaliações laoratorias, imagens cerebrais e biópsia muscular. Porém, muitos serviços de saúde fazem apenas testes simples uma vez que não possuem, por exemplo, laboratórios capazes de fazer exames metabólicos mais complexos. A sociedade de medicina mitocondrial publicou seu consenso sobre o diagnóstico da doença mitocondrial que inclui (Parikh et al., 2014):

Avaliação metabólica (sangue e urina) de todos os pacientes:

Testes bioquímicos básicos, hemograma, aminoácidos plasmáticos, acilcarnitina, enzimas hepáticas, amônia, ácidos orgânicos urinários, lactato, piruvato, razão lactato:piruvato, creatina quinase

Avaliação sistêmica de todos os pacientes:

Ecocardiograma, teste audiológico, exame oftalmológico, eletrocardiograma, ressonância magnética do cérebro

Avaliação do fluido espinhal (pacientes com sintomas neurológicos):

Lactato, piruvato, aminoácidos, estudos de rotina incluindo contagem celular, concentração de proteína e glicose.

Avaliação neurogenética (pacientes com atrasos do desenvolvimento):

Cariótipo (estudo do pareamento dos cromossomos e presença ou ausência de anormalidades), consulta genética, avaliação neurológica

Após o diagnóstico um nutricionista deve ser consultado

O consenso traz recomendações acerca da suplementação de coenzima Q10 na forma de ubiquinol. Durante o tratamento a quantidade de ubiquinol no plasma deve ser idealmente monitorada. Na dificuldade de avaliação do ubiquinol monitorar as enzimas lactato desidrogenase (LDH) e/ou creatina quinase (CK). Outros suplementos importantes incluem riboflavina, ácido folínico, ácido α-lipóicoL-carnitina, preferencialmente iniciando-se um por vez. Além disso, deve ser feita a correção de carências de quaisquer outros nutrientes.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/