Teoria polivagal

A Teoria Polivagal, desenvolvida por Stephen Porges, propõe que o sistema nervoso autônomo (SNA) é mais complexo do que a tradicional divisão entre simpático (luta ou fuga) e parassimpático (descanso e digestão). Em vez disso, Porges identificou diferentes ramificações do nervo vago, que desempenham papéis distintos na regulação emocional e comportamental.

Divisão do Sistema Nervoso Autônomo na Teoria Polivagal

A teoria sugere que o SNA evoluiu em três estágios:

1️⃣ Complexo Vagal Dorsal (Parassimpático Primitivo) – Resposta de Colapso

Controlado pelo complexo vagal dorsal (núcleo motor dorsal do vago). Associado a comportamentos de imobilização e conservação de energia. Predominante em répteis e ativado em situações extremas de estresse, levando a uma resposta de "desligamento", como desmaio ou congelamento.

2️⃣ Circuito Simpático – Resposta de Luta ou Fuga

Preparação para ação em situações de perigo. Aumento da frequência cardíaca, dilatação das pupilas, liberação de adrenalina.

3️⃣ Circuito Vagal Ventral (Parassimpático Evoluído) – Regulação Social e Segurança

Controlado pelo complexo vagal ventral (núcleo ambíguo do vago). Evoluiu em mamíferos para facilitar a conexão social, calma e cognição emocional. Está associado a músculos da face, ouvidos e voz, permitindo comunicação não verbal e interação social.

🔗 Relação entre os Sistemas

O simpático e os dois ramos do parassimpático (ventral e dorsal) não funcionam de forma isolada. Se o sistema simpático falha em resolver uma ameaça, o circuito vagal dorsal pode assumir e gerar um estado de "colapso". Quando nos sentimos seguros, o vagal ventral mantém o equilíbrio, promovendo relaxamento e interação social.

Implicações para Saúde Mental e Terapia

Trauma pode desativar o vagal ventral, deixando o sistema simpático ou o vagal dorsal dominantes, resultando em ansiedade crônica ou dissociação. Terapias baseadas na Teoria Polivagal, como o uso de ritmo respiratório, yoga, meditação, música e conexão social, ajudam a reativar o vagal ventral, promovendo segurança e bem-estar.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Efeito dos hormônios esteróides no cérebro da mulher

Os hormônios esteroides, como estrogênio, progesterona e andrógenos, desempenham um papel fundamental no funcionamento do cérebro feminino. Durante a menopausa, a queda desses hormônios pode impactar diversas funções neurológicas.

Principais efeitos dos hormônios esteroides no cérebro da mulher

  1. Neuroproteção e Plasticidade Cerebral

    O estrogênio promove a sobrevivência neuronal e a plasticidade sináptica, ajudando na manutenção da função cognitiva e da memória. Atua na modulação da expressão de fatores neurotróficos, como o BDNF (Brain-Derived Neurotrophic Factor), essencial para a regeneração e crescimento neuronal.

  2. Regulação do Humor e Emoções

    O estrogênio e a progesterona influenciam neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, regulando o humor e reduzindo o risco de depressão e ansiedade. Com a menopausa, a queda desses hormônios pode contribuir para sintomas como irritabilidade, depressão e alterações emocionais.

  3. Termorregulação e Sintomas Vasomotores

    O estrogênio participa da regulação da temperatura corporal no hipotálamo. Sua redução leva a ondas de calor e suores noturnos, sintomas comuns da menopausa.

  4. Efeito na Inflamação e Estresse Oxidativo

    O estrogênio tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, ajudando a proteger o cérebro contra danos. Com a menopausa, há um aumento na inflamação cerebral, o que pode contribuir para doenças neurodegenerativas.

  5. Função Cognitiva e Memória

    O estrogênio melhora a função do hipocampo, região associada à memória e ao aprendizado. A menopausa pode estar associada a um declínio cognitivo leve, aumento do risco de demência e maior dificuldade de concentração.

Receptores de Estrogênio (ERs):

Existem dois tipos principais: ERα e ERβ. Localizam-se no núcleo celular (modulação da expressão gênica) e na membrana celular (vias de sinalização rápidas).

Efeitos variam conforme a região cerebral, o tipo de receptor e a concentração do hormônio, podendo ter efeitos excitatórios (aumento da excitabilidade neuronal, neurotransmissão excitatória) e relaxantes (neurotransmissão inibitória, redução da ansiedade).

Receptores de Progesterona (PRs):

Também presentes em várias regiões do cérebro. A progesterona pode modular a excitabilidade neuronal e a neurotransmissão.

Em geral, a progesterona tende a ter efeitos inibitórios ou moduladores, por exemplo, ela tem um efeito calmante no sistema nervoso central. A progesterona pode modular a função dos receptores GABAérgicos, que são inibitórios. A progesterona tem efeitos neuroprotetores.

A reposição hormonal, quando possível, é muito bem-vinda para uma boa memória ao longo da vida. Quando a reposição não é possível suplementos podem ser usados, incluindo:

Suplementos que mimetizam os efeitos do estrogênio

Algumas substâncias conhecidas como fitoestrógenos possuem estrutura semelhante ao estrogênio e podem oferecer benefícios:

  1. Isoflavonas de Soja

    • Fitoestrógenos que podem aliviar sintomas da menopausa, como ondas de calor.

  2. Cimicifuga racemosa (Black Cohosh - Erva-de-São-Cristóvão)

    • Reduz sintomas como suores noturnos e ressecamento vaginal.

  3. Trifolium pratense (Trevo-vermelho)

    • Rico em isoflavonas, pode ajudar na saúde óssea e sintomas da menopausa.

  4. Semente de Linhaça

    • Contém lignanas, que possuem ação estrogênica suave.

  5. Maca Peruana

    • Ajuda no equilíbrio hormonal e melhora a energia e libido.

  6. Dong Quai (Angelica sinensis)

    • Usada na medicina tradicional chinesa para equilibrar os hormônios femininos.

Suplementos que mimetizam os efeitos da progesterona

A progesterona natural é difícil de substituir completamente, mas algumas substâncias podem estimular efeitos parecidos:

  1. Vitex agnus-castus (Árvore-do-casto ou Agnocasto)

    • Estimula a produção natural de progesterona.

    • Ajuda na regulação do ciclo menstrual e sintomas da TPM.

  2. Diosgenina (presente no Inhame Selvagem - Wild Yam)

    • Algumas fontes sugerem que pode ser convertida em progesterona pelo organismo, mas isso ainda é debatido.

  3. Magnésio

    • Essencial para a produção de progesterona.

    • Reduz sintomas como irritabilidade e insônia.

  4. Vitamina B6

    • Auxilia na produção de progesterona e na regulação do humor.

Outros nutrientes importantes

Além dos fito-hormônios, alguns nutrientes auxiliam na regulação hormonal e minimizam sintomas da deficiência de estrogênio e progesterona:
Ômega-3 – Reduz inflamação e melhora o humor.
Vitamina D – Essencial para a saúde óssea e imunidade.
Cálcio e Magnésio – Previnem osteoporose e regulam o sistema nervoso.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Menopausa e alterações da microbiota

​A menopausa provoca alterações significativas na microbiota do corpo feminino, afetando tanto o trato gastrointestinal quanto o geniturinário. Diversos estudos têm investigado essas mudanças e suas implicações para a saúde.​

Este artigo revisa a literatura disponível sobre menopausa, hormônios sexuais femininos e o microbioma intestinal em humanos. A pesquisa sugere que a menopausa está associada a uma menor diversidade do microbioma intestinal e a uma mudança em direção a uma maior semelhança com o microbioma intestinal masculino. A microbiota intestinal está envolvida na regulação dos níveis de hormônios circulantes livres, sugerindo uma relação bidirecional. O conjunto de genes bacterianos capazes de desconjugar estrogênios é denominado "estroboloma".

Os estrogênios na circulação sistêmica, produzidos pelos ovários, glândula adrenal e tecido adiposo ou outros tecidos, sofrem metabolismo de primeira passagem no fígado e também podem ser conjugados com grupos glicuronídeos ou sulfatos no fígado, o que facilita a excreção biliar. No trato intestinal, os estrogênios conjugados são excretados nas fezes ou desconjugados pela microbiota intestinal com enzimas β-glicuronidase ou sulfatase, denominadas "estroboloma" - isso permite que os estrogênios entrem na circulação entero-hepática e, portanto, reentrarem na circulação sistêmica e alcancem outros tecidos.

Este outro artigo traz uma revisão focada nos efeitos da menopausa no microbioma geniturinário. Discute a importância dos microbiomas intestinal e vaginal na saúde feminina. O aumento do pH vaginal causado pela redução do estrogênio altera o microbioma vaginal, resultando em níveis reduzidos de Lactobacillus. Essas mudanças influenciam a estrutura e as funções vaginais, contribuindo para o início da síndrome geniturinária da menopausa. Uma disbiose do microbioma urinário está associada à urgência e à incontinência urinária e também está relacionada à cistite intersticial/síndrome da dor da bexiga e à bexiga neuropática. A diminuição na porcentagem de Lactobacillus na urina precede a cistite recorrente.

Por fim, neste trabalho forma mostradas diferenças no microbioma duodenal em mulheres pós-menopáusicas que tomam TH (HT+), mulheres pós-menopáusicas que não tomam TH (HT-) e mulheres em idade reprodutiva que não tomam hormônios exógenos (RA).

O estudo descobriu que o microbioma duodenal central era diferente em participantes HT- em comparação com participantes RA, mas mais semelhante em participantes HT+ e RA. Participantes HT- apresentaram aumento de táxons Proteobacteria, levando a maior disbiose microbiana, e diminuição da prevalência de Bacteroidetes, associada a níveis mais altos de glicose em jejum, menor diversidade microbiana duodenal e níveis mais baixos de testosterona.

Participantes HT+ apresentaram níveis mais altos de estradiol e progesterona e níveis mais baixos de glicose em jejum do que participantes HT-, e apresentaram maior abundância relativa de Prevotella e menor abundância de Escherichia, Klebsiella e Lactobacillus, todas associadas a menores riscos de doenças cardiovasculares.

Os achados sugerem que a TH pode ter efeitos benéficos após a menopausa e também pode apoiar um efeito benéfico da TH no microbioma duodenal. O estudo destaca a importância de considerar o microbioma do intestino delgado em mulheres pós-menopáusicas e o potencial impacto da terapia hormonal sobre ele.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/