Mitocôndrias, Estresse Oxidativo e Ácido Metilmalônico

Você já ouviu falar em ácido metilmalônico (AMM)? Embora pouco conhecido fora dos círculos acadêmicos, esse composto pode ser uma peça-chave para entender uma série de doenças ligadas à disfunção mitocondrial e ao estresse oxidativo — fatores centrais em condições como Alzheimer, Parkinson, envelhecimento precoce e até distúrbios metabólicos raros.

O Que É o Ácido Metilmalônico?

O AMM é um metabólito intermediário gerado nas mitocôndrias durante a quebra de certos aminoácidos e ácidos graxos de cadeia ímpar. Para ser eliminado corretamente, ele depende de uma enzima chamada metilmalonil-CoA mutase, que, por sua vez, precisa da vitamina B12 como cofator.

Quando essa via é interrompida — por deficiência de B12 ou falha mitocondrial — o AMM se acumula no sangue e nos tecidos, podendo causar toxicidade celular.

AMM, Mitocôndrias e Estresse Oxidativo: A Tríade Perigosa

As mitocôndrias são as "usinas de energia" das células. Quando estão danificadas, além de produzir menos energia, liberam espécies reativas de oxigênio (ROS), que causam estresse oxidativo e danificam DNA, proteínas e lipídios.

O AMM não é apenas um marcador passivo, mas também pode contribuir ativamente para o estresse oxidativo, amplificando o dano mitocondrial — o que cria um ciclo vicioso.

Por Que Isso É Importante?

Em doenças como acidúria metilmalônica (um erro inato do metabolismo), o acúmulo de AMM é gravíssimo e pode afetar o cérebro, os rins e o fígado. Em casos de deficiência de vitamina B12, especialmente em idosos, níveis elevados de AMM podem antecipar sintomas neurológicos antes mesmo de aparecerem nos exames convencionais.

Leita também: interpretação do exame de AMM

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O Legado Invisível da Guerra: Como o Trauma do Passado Pode Marcar Gerações

É difícil imaginar que a dor vivida por um soldado há mais de 150 anos possa influenciar a saúde de seus filhos — mas a ciência tem mostrado que isso é mais do que possível. Um estudo recente sobre prisioneiros da Guerra Civil Americana revelou que os traumas sofridos por uma geração podem deixar marcas profundas nas seguintes, mesmo décadas depois.

Esse fenômeno faz parte do crescente campo da epigenética, que estuda como fatores ambientais — como estresse extremo, fome e violência — podem alterar a forma como os nossos genes se expressam. Em outras palavras, nossas experiências não apenas moldam quem somos, mas podem também impactar quem nossos filhos serão.

O Passado Que Persiste no Presente

Pesquisadores analisaram registros de soldados da União que foram mantidos como prisioneiros em condições brutais durante a Guerra Civil dos EUA. Descobriram que os filhos desses homens tinham maior probabilidade de morrer precocemente, principalmente por causas como câncer e AVC. Acredita-se que isso seja resultado de alterações epigenéticas transmitidas de pai para filho (Costa, Yetter, & DeSomer, 2018).

Mas o que isso tem a ver com 2025?

Infelizmente, tudo. Hoje, o mundo segue marcado por conflitos armados e crises humanitárias. Guerras civis, invasões, terrorismo, repressões estatais e deslocamentos forçados afetam milhões de pessoas. Conflitos como os da Ucrânia, Rússia, Gaza, Sudão, Síria, Haiti, Irã e outros continuam a expor populações inteiras a níveis extremos de sofrimento.

E esses traumas não desaparecem quando o conflito acaba. Como mostrou o estudo, a fome, o estresse crônico e a violência vividos por uma geração podem alterar a saúde física e mental de seus filhos e netos.

Ou seja, os efeitos das guerras de 2025 podem ainda estar sendo sentidos em 2100 — não apenas nos livros de história, mas nos corpos e mentes de pessoas que sequer nasceram.

As ações humanitárias são fundamentais. O estudo traz uma mensagem de esperança: os efeitos epigenéticos podem ser mitigados. Filhos cujas mães estavam bem nutridas durante a gravidez, por exemplo, tiveram melhores condições de saúde, mesmo sendo descendentes diretos de prisioneiros traumatizados. Ou seja, o cuidado no presente importa — e muito. Garantir segurança alimentar, acesso à saúde e apoio psicológico às populações em zonas de conflito pode quebrar ciclos de sofrimento que, de outra forma, durariam gerações.

Responsabilidade Coletiva

Saber que os traumas de hoje podem marcar o amanhã impõe um novo tipo de responsabilidade: não basta reconstruir prédios, precisamos também reconstruir pessoas. Governos, ONGs, profissionais de saúde e até cidadãos comuns têm um papel a cumprir para reduzir as cicatrizes invisíveis deixadas por guerras e desastres.

A epigenética nos ensina que as decisões que tomamos hoje — em tempos de conflito ou paz — ecoam muito além do presente. Protestar, cortar relações com países em guerra e cuidar da saúde física, mental e emocional dos afetados por guerras não é apenas um gesto de humanidade, é uma forma de proteger o futuro da nossa espécie.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição no autismo

A nutrição no autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA) é um aspecto essencial do cuidado integrado, pois pessoas com autismo frequentemente apresentam desafios alimentares e necessidades nutricionais específicas que impactam diretamente sua saúde física, comportamento e qualidade de vida.

Por que a nutrição é tão importante no autismo?

  1. Seletividade alimentar: Muitas crianças e adultos autistas têm hipersensibilidade sensorial, levando a rejeição de texturas, cores, cheiros e sabores, resultando em dietas muito restritas.

  2. Problemas gastrointestinais (GI): Prisão de ventre, diarreia, refluxo, distensão abdominal são comuns — e podem agravar comportamentos irritáveis e de autoagressão.

  3. Deficiências nutricionais: A dieta restrita e os problemas GI podem levar a deficiências de ferro, zinco, vitamina D, B12, ômega-3, entre outros.

  4. Conexão intestino-cérebro: O intestino influencia diretamente o cérebro via o eixo intestino-cérebro. Desequilíbrios na microbiota podem afetar humor, sono, foco e comportamento.

Principais alterações alimentares no autismo

Nutrientes que merecem atenção no TEA

Alimentos que podem agravar sintomas (em alguns casos)

  • Glúten (trigo, centeio, cevada): Em alguns autistas, pode gerar inflamação intestinal e comportamental. Estudos são mistos, mas há relatos de melhora com a exclusão.

  • Caseína (leite de vaca): Pode formar peptídeos tipo opiáceos (casomorfinas) em certos indivíduos sensíveis. Remoção da caseína pode melhorar sono, foco e comunicação em alguns.

  • Aditivos, corantes e conservantes: Alguns estudos sugerem que podem aumentar agitação, impulsividade e irritabilidade.

  • Açúcar em excesso e ultraprocessados: Afetam o humor, causam picos de glicose e pioram inflamação.

Estratégias práticas de nutrição no autismo

  1. Acompanhamento nutricional individualizado

  2. Introdução alimentar gradual e sensorial

    • Estratégias de “dessensibilização” para novas texturas e cores

    • Uso de terapias integradas (fonoaudiologia + TO + nutrição)

  3. Uso dos suplementos quando necessário

    • Sempre com orientação profissional, com o objetivo de corrigir carências ou tratar disbiose

    • Exemplos: ômega-3, probióticos, vitaminas D e B12

  4. Ambiente alimentar estruturado

    • Horários fixos, baixa estimulação visual/auditiva, utensílios adequados

    • Reforço positivo (sem pressões excessivas)

Para aprender mais

Curso online: Nutrição no TEA

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/