Diferença entre radical livre e espécie reativa de oxigênio

A formação de espécies reativas (ER) decorre maioritariamente de processos redox que ocorrem nas células. É um processo fisiológico natural, sendo uma parte essencial da vida. No entanto, a produção excessiva de ER e a sua elevada reatividade podem ter implicações patológicas, causando danos aos sistemas que são responsáveis por manter a sua regulação.

O efeito tóxico decorrente do excesso de ER é denominado de estresse oxidativo e pode decorrer quando: (1) há um desequilíbrio entre a produção e a eliminação de ER, com favorecimento do primeiro em detrimento do segundo; (2) os mecanismos de defesa endógenos não se encontram funcionais, (3) há alterações dos processos redox celulares.

As espécies reativas podem ser radicais livres ou não. Esta é um dúvida comum, então vamos diferenciar:

Radical livre

  • É uma molécula ou átomo que possui um elétron desemparelhado em sua camada externa.

  • Esse elétron faz com que o radical seja altamente reativo, buscando reagir com outras moléculas para se estabilizar.

  • Podem ser de oxigênio, nitrogênio ou outros elementos.

  • Exemplo clássico:

    • Radical hidroxila (·OH)

    • Superóxido (O₂·⁻)

    • Radical peroxil (ROO·)

Todo radical é uma espécie reativa, mas nem toda espécie reativa é um radical.

Espécie reativa de oxigênio (ERO / ROS – Reactive Oxygen Species)

  • São moléculas derivadas do oxigênio que são altamente reativas, podendo ser radicais ou não-radicais.

  • Incluem:

    • Radicais livres de oxigênio:

      • Superóxido (O₂·⁻)

      • Radical hidroxila (·OH)

    • Moléculas reativas não-radicais:

      • Peróxido de hidrogênio (H₂O₂)

      • Singlete de oxigênio (¹O₂)

ROS é um termo mais amplo. Alguns são radicais livres, outros não, mas todos podem causar estresse oxidativo se acumularem.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Valores ótimos de exames básicos de saúde

Estes parâmetros servem como um guia. Em geral, quando mantidos, costumam indicar um bom funcionamento do organismo.

  • Pressão arterial: 110-115/70-75 mmHg

  • Pulso (frequência cardíaca): 60 a 80 bpm (em repouso)

  • Frequência respiratória: 12 a 14 rpm (normal em repouso)

  • Temperatura corporal: 36,6 a 37oC (varia conforme horário e ambiente)

  • Hemácias (glóbulos vermelhos): homens 4,7 a 5,5 milhões /µL | mulheres 4,2 a 5,0 milhões/µl

  • Hemoglobina (Hb): homens 13 a 18g/dL | mulheres 12,5-16g/dL

  • Ferritina sérica: 80 a 180 ng/mL

  • Leucócitos (glóbulos brancos): 4.500-7.00/µL

  • Plaquetas: 200.000-350.000/µL

  • Glicose no sangue (jejum): < 90 mg/dL

  • Colesterol total: < 150 mg/dL

  • Triglicerídeos: 50 a 80 mg/dL

  • Potássio (K+): 4,2 a 5,0 mEq/L

  • Sódio (Na+): 138 a 145 mEq/L

  • Cálcio (Ca): 9,5 -1 10,5 mg/dL

  • Vitamina D3: 50 a 100 ng/mL

  • Vitamina B12: 600 a 900 pg/mL

Mas é importante lembrar que saúde não se resume a estar dentro da faixa de normalidade. Duas pessoas podem ter os mesmos números e estarem em condições metabólicas completamente diferentes.

Por isso, também consideramos genética, rotina, alimentação, sintomas, histórico e individualidade biológica.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Síndrome de Guillain-Barré: o que é e por que merece atenção

A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma doença neurológica rara, mas potencialmente grave, causada por uma reação autoimune que ataca os nervos periféricos. Ela pode evoluir rapidamente, provocando fraqueza muscular, paralisia e, nos casos mais severos, insuficiência respiratória.

Causas e gatilhos

Na maioria dos casos, a SGB surge após uma infecção — geralmente intestinal ou respiratória. As mais comuns são causadas pelas bactérias Campylobacter jejuni e Mycoplasma pneumoniae, ou por vírus como Zika, Epstein-Barr e citomegalovírus.

A infecção ativa o sistema imune de pacientes suscetíveis e resulta em danos à bainha de mielina (Leonhard et al., 2024)

Em situações raras, o quadro pode ser desencadeado por vacinas, cirurgias ou traumas, mas o risco é extremamente baixo quando comparado aos benefícios da imunização. O mecanismo mais aceito é o chamado mimetismo molecular: o sistema imunológico, ao tentar combater a infecção, produz anticorpos que também atacam estruturas dos nervos.

Sintomas

Os primeiros sinais costumam incluir:

  • Formigamento ou fraqueza nas pernas e braços

  • Dores musculares ou nas costas

  • Perda de reflexos

  • Dificuldade para engolir ou respirar

A apresentação clínica é variada (Leonhard et al., 2024)

Em cerca de 20% dos casos, o paciente precisa de ventilação mecânica. Existe também uma forma variante chamada síndrome de Miller Fisher, caracterizada por falta de coordenação e paralisia ocular.

Diagnóstico

O diagnóstico combina:

  • Avaliação clínica da fraqueza progressiva e simétrica

  • Exame do líquido cefalorraquidiano, que mostra aumento de proteínas sem elevação de células

  • Estudos de condução nervosa

  • Testes para anticorpos específicos (como anti-GQ1b)

Tratamento

A SGB é uma emergência médica e deve ser tratada o mais rápido possível.
As duas terapias comprovadamente eficazes são:

  • Imunoglobulina intravenosa (IVIg)

  • Plasmaférese (troca de plasma)

Ambos os tratamentos reduzem a atividade do sistema imunológico e ajudam na recuperação. Corticoides não mostraram benefício. A recuperação pode levar meses ou anos. Mesmo com o tratamento adequado, cerca de 20% dos pacientes permanecem com limitações após 6 meses e 5% acabam falecendo.

Frequência e impacto

  • Incidência global: 1 a 2 casos por 100 mil pessoas por ano

  • Mais comum em homens e pessoas acima dos 60 anos

  • Em países com poucos recursos, a mortalidade é maior pela dificuldade de acesso a terapias intensivas

A maior parte dos dados são de países com renda mais alta. A incidência geralmente varia entre 0,16 e 3,0 casos por 100.000 pessoas por ano (Leonhard et al., 2024).

Perspectivas futuras

Apesar dos avanços, ainda faltam biomarcadores que facilitem o diagnóstico precoce e tratamentos personalizados. Pesquisadores reforçam a importância de preparar sistemas de saúde para possíveis aumentos de casos após surtos infecciosos, como aconteceu com o Zika e o COVID-19.

Cirurgia bariátrica e síndrome de Guillain-Barré

Deficiências nutricionais estão implicadas no desenvolvimento da SGB, particularmente após cirurgia bariátrica ou perda ponderal rápida, sendo a suplementação de tiamina e vitamina B12 crucial [2] [3]. O início da SGB geralmente ocorre semanas ou meses após a cirurgia, e a recuperação varia, com alguns pacientes apresentando déficits neurológicos persistentes ou insuficiência respiratória [2].

Outra revisão de cinco casos de SGB induzida por dieta e 19 casos associados à cirurgia bariátrica enfatizou que a perda de peso rápida e substancial, que pode levar a deficiências nutricionais, pode desencadear a SGB. Todos os cinco pacientes com SGB induzida por dieta obtiveram recuperação completa em 6 meses, sendo que três receberam imunoglobulina intravenosa (IVIG) e dois receberam apenas terapia nutricional [3].

Nutrição na síndrome de Guillain-Barré

Após o diagnóstico, se o paciente não puder se alimentar por via oral precisará de suporte nutricional. Contudo, a alimentação por sonda nasogástrica a longo prazo representa um risco relevante para pacientes com síndrome de Guillain-Barré (SGB) na fase aguda. Assim, alguns pacientes necessitarão de gastrostomia, que não pode ser removida [1].

Um estudo retrospectivo com 50 pacientes com SGB (idade média de 51,1 ± 18,7 anos) constatou que 14 pacientes necessitaram de alimentação por sonda durante a fase aguda. Embora todos os sete pacientes que receberam alimentação por sonda nasogástrica tenham tido suas sondas removidas (duração média de 62,1 ± 46,5 dias), dois dos sete pacientes com sondas de gastrostomia não puderam tê-las removidas, indicando necessidade de suporte nutricional a longo prazo [1].

A nutrição enteral e parenteral contínua pode melhorar significativamente os sintomas em pacientes com SGB que apresentam complicações graves, como a síndrome da artéria mesentérica superior (SAM), devido à perda ponderal. Em um caso pediátrico de SGB refratária complicada por SMAS grave devido à perda de peso, a progressão gradual da nutrição enteral e parenteral contínua melhorou significativamente os sintomas do paciente e resolveu a hipofosfatemia, facilitando o desmame da ventilação mecânica [4].

Referências

1) M Yoshida et al. Prevalence of Tracheotomy and Percutaneous Endoscopic Gastrostomy in Patients with Guillain-Barré Syndrome. Dysphagia (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27687522/

2) M Bidares et al. Guillain-Barré Syndrome and Related Neuropathies Post-Bariatric Surgery: A Systematic Review of Clinical Cases and Outcomes. Obesity surgery (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40897982/

3) Q Wu et al. Guillain-Barré Syndrome following weight loss: a review of five diet-induced cases and nineteen bariatric surgery cases. Frontiers in neurology (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40201020/

4) E Ghaedi et al. Superior mesenteric artery syndrome in a child with acute gastric dilatation with refractory Guillain-Barré syndrome. Clinical nutrition ESPEN (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31221288/

5) RA Hughes et al. Supportive care for patients with Guillain-Barré syndrome. Archives of neurology (2005). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16087757/

6) SE Leonhard et al. Guillain-Barré syndrome. Nature reviews. Disease primers (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39702645/

7) AF Hahn et al. Guillain-Barré syndrome. Lancet (London, England) (1998). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9746040/

8) HJ Willison et al. Guillain-Barré syndrome. Lancet (London, England) (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26948435/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/