Dieta cetogênica e câncer de mama

O câncer de mama sozinho é responsável por 30% de todos os cânceres femininos. Embora a doença tenha sido considerada resultado de uma mutação em genes, estudos recentes questionam a validade desta teoria, uma vez que um número significativo de mulheres com câncer:

  • não apresentam alterações cromossômicas ou mutações genéticas associadas à câncer.

  • não tem função mitocondrial normal e isto é essencial para a supressão da tumorigênese.

  • apresentam metabolismo glicolítico alterado, fator associado ao risco de vários tipos de câncer. Vamos focar. neste item.

Metabolismo energético desordenado

As células tumorais encontradas na maioria dos tecidos cancerígenos, incluindo tecido de câncer de mama, apresentam anormalidades no número, estrutura e função de suas mitocôndrias. Essas anormalidades comprometeriam a produção eficiente de energia por meio da fosforilação oxidativa (OxPhos). Consequentemente, o aumento do metabolismo da fermentação seria necessário para compensar a deficiência de OxPhos, a fim de manter energia suficiente para a viabilidade e crescimento do câncer de mama (Seyfried et al., 2020).

Figura da direita: mitocôndria normal (Seyfried et al., 2020).

Figura da esquerda: célula HMC-1 com perda de invaginações e vacúolos. Essas anormalidades estão ligadas a anormalidades na cadeia de transporte de elétrons em tecidos cancerosos.

Fermentação aeróbica de glicose e glutamina em células cancerígenas

A glicose e a glutamina são os principais combustíveis fermentáveis usados pelas células cancerígenas com OxPhos prejudicado. A glicose é fermentada em ácido láctico através da glicólise no citoplasma celular, enquanto a glutamina é fermentada em ácido succínico através da glutaminólise no ciclo do ácido tricarboxílico (TCA).

A fermentação aeróbica (efeito Warburg) é comum no câncer de mama, independentemente do tipo histopatológico, grau ou perfil de expressão gênica. Além da glicose, a glutamina é o outro principal combustível necessário para as células do câncer de mama. As células não fazem escolhas ou têm preferências, mas simplesmente respondem às condições em seus ambientes internos e externos de acordo com programas metabólicos projetados evolutivamente.

OxPhos prejudicado junto com a fermentação compensatória leva ao acúmulo de espécies reativas de oxigênio. As ROS são cancerígenas e mutagênicas e são amplamente responsáveis pela instabilidade genômica e mutações observadas nas células tumorais. Em outras palavras, as mutações observadas nas células tumorais surgem como consequência do metabolismo energético prejudicado.

TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA

As terapias para o câncer de mama dependem em grande parte do estágio, grau e biologia da doença. A cirurgia e a radioterapia (mama e axila) são utilizadas para controle local da doença, estadiamento e extirpação do tumor. Quimioterapia, terapia hormonal (tamoxifeno, inibidor de aromatase ou um seguido pelo outro), terapias direcionadas, trastuzumabe (Herceptin) e pertuzumabe (Perjeta), ou combinações destes são projetados para destruir células cancerígenas residuais locais e metástases latentes, além de reduzir o risco de recorrência.

Comportamento invasivo e metastático é esperado para células de câncer de mama com propriedades mieloides. Dietas que elevem os níveis de glicose ou insulina no sangue devem ser evitadas, pois a glicose é conhecida por acelerar o desenvolvimento do câncer de mama. Os produtos usados na anestesia também podem aumentar os níveis de glicose e insulina no sangue, assim como glicocorticóides, que são administrados a alguns pacientes com câncer de mama, apoiando a fermentação aeróbica dependente de glicose. Além de elevar a glicose no sangue, os glicocorticóides também podem bloquear a apoptose induzida por estrogênio para estimular ainda mais o crescimento do câncer de mama.

Terapia Metabólica Cetogênica para tratamento do câncer de mama

A terapia metabólica cetogênica está emergindo como uma estratégia terapêutica complementar ou alternativa eficaz para o gerenciamento de uma ampla gama de cânceres malignos, incluindo câncer de mama. A restrição calórica e as dietas cetogênicas com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura reduzem a glicose necessária para impulsionar o efeito Warburg, além de elevar os corpos cetônicos. As células cancerígenas não podem efetivamente usar corpos cetônicos ou ácidos graxos para a síntese de ATP através de OxPhos devido a defeitos no número, estrutura e função de suas mitocôndrias.

Os corpos cetônicos e os ácidos graxos não podem ser fermentados e, portanto, não podem substituir efetivamente a glicose e a glutamina como fonte alternativa de energia para o câncer. Oprincipal corpo cetônico, beta-hidroxibutirato, não estimula o crescimento do tumor de mama.

A dieta cetogênica parece funcionar melhor quando a glutamina é restringida, já que o microambiente de muitos tumores é hipóxico, acidótico e enriquecido com glicose e glutamina. Sob dieta cetogênica, este microambiente pró-tumorigênico torna-se menos inflamado. O metabolismo do principal corpo cetônico circulante, D-beta-hidroxibutirato, reduz a produção de espécies reativas de oxigênio. A implementação do KMT antes de qualquer procedimento cirúrgico também pode beneficiar as pacientes.

Dieta após o tratamento de câncer de mama

A redução da ingestão de carboidratos após o diagnóstico de câncer de mama em mulheres reduz o risco de recorrência. Evidências mostram que a cetose terapêutica pode atuar sinergicamente com vários medicamentos e procedimentos para melhorar o controle do câncer, melhorando a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global.

Por exemplo, a oxigenoterapia hiperbárica (HBOT) aumenta o estresse oxidativo nas células tumorais, especialmente quando usada juntamente com terapias que reduzem a glicose no sangue e elevam as cetonas no sangue. Ao reduzir a glicose no sangue, a dieta cetogênica também reduziria os efeitos imunossupressores do ácido lático no microambiente tumoral.

Estudos recentes mostram que a cetose terapêutica pode facilitar a administração de medicamentos através da barreira hematoencefálica. Isso seria importante para ajudar a atingir as células de câncer de mama que metastatizam para o cérebro.

O inibidor da glutamina desidrogenase, galato de epigalocatequina (EGCG) também é proposto para atingir o metabolismo da glutamina através de um efeito na glutamato desidrogenase.

O índice de glicose : cetona

O Índice de Glucose Cetona (IGC) é um número único que representa a razão glicose/cetona (expressa em mmol/L) e foi desenvolvido como um guia para avaliar a eficácia terapêutica cetogênica.

Um valor de IGC de 1,0 ou inferior foi sugerido como meta terapêutica para o tratamento do câncer. No entanto, os valores terapêuticos de IGC podem ser difíceis de alcançar para muitos pacientes com câncer. Por exemplo, carga tumoral, protocolos de tratamento tóxico e estresse emocional e físico podem se combinar para elevar os níveis de glicose e insulina no sangue, impedindo assim que o paciente atinja valores terapêuticos de IGC.

A dieta cetogênica e o uso de suplementos que elevam cetonas no sangue é importante em todas as fases do tratamento.

A dieta cetogênica reduz a inflamação, níveis de insulina e redução no tamanho dos tumores (Khodabakhshi et al., 2020). Mas, nem todas as mulheres com câncer de mama conseguem seguir o protocolo. Mesmo assim, podem manter níveis de cetonas mais altos com uso de suplementos de TCM e/ou corpos cetônicos exógenos (sais ou ésteres de cetonas). Aprenda mais em https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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ALVOS GENÉTICOS PARA A PREVENÇÃO DO CÂNCER

Olhando para sua família você terá algumas pistas sobre a sua genética. A cor dos seus olhos, da sua pele, sua altura, são características influenciadas pela genética da sua família. Mas conhecer mais profundamente sua genética permite ir além, permite a prevenção de doenças que tendem a aparecer na fase adulta e velhice.

Os exames genéticos mostram predisposições a doenças como diabetes, doenças cardiovasculares, doenças autoimunes, vários tipos de câncer, doenças neurodenegerativas e também o que fazer para a prevenção destas condições. Isto é o mais importante.

Exames genéticos, tecnologia disruptiva para a prevenção do câncer

Assim como outras tecnologias também foram na época de sua invenção (análises clínicas, raio x, ressonância magnética, tomografia computadorizada, ecografia etc), os exames genéticos são uma inovação que provoca uma ruptura com os padrões, modelos ou tecnologias em vigor. Poucos profissionais de saúde têm familiaridade com a solicitação e interpretação de exames genéticos.

Associaçao DIRETA com o risco de câncer

Muitos genes estão associados a maior predisposição ao desenvolvimento do câncer, como mutações em BRCA1 e BRCA2. Mutações herdadas destes genes dificultam a manutenção da estabilidade do genoma.

Para não colocar mais lenha na fogueira mudanças no estilo de vida são importantíssimas. Os exames genéticos modernos nos permitem estudar também outros genes importantes para a manutenção da saúde.

Mostram se você inflama muito ou se tem uma tendência alta a estresse oxidativo, glicação, disfunção mitocondrial, problemas de metilação e assim por diante. Aponta ainda sua capacidade de metabolizar bem macronutrientes (carboidratos, proteínas, lipídios), micronutrientes (vitaminas e minerais) e compostos bioativos.

VEJAMOS ALGUNS GENES INDIRETAMENTE ASSOCIADOS COM O RISCO DE CÂNCER

1) COMT - Catecol-O-metiltransferase é um gene responsável pela degradação de neurotransmissores tipo catecolaminas (adrenalina, dopamina e noradrenalina) e também degradação de estronas. Quem degrada mais lentamente as catecolaminas, elimina mais lentamente as estronas. Em excesso, estronas estão associados a maior risco de câncer. Clinicamente, pacientes com COMT lenta possuem também mais adrenalina, são mais tensos, mais agitados, mais ansiosos. Podem ser ótimos profissionais, motivados. Porém, precisam melhorar o estilo de vida para não se prejudicar.

Precisam fazer atividade física na maior parte dos dias da semana. Para reduzir estronas (que podem estar aumentadas em até 50% por conta da variação genética) precisamos também melhorar a dieta consumindo mais brássicas (repolho, couve, couve-flor, brócolis). O indol-3-carbinol (I3C) é um composto contendo enxofre, que se encontra de forma abundante em vegetais crucíferos. No ambiente ácido do estômago, este composto é convertido num derivado que neutraliza os radicais livres, promove a desintoxificação e auxilia na regulação do ciclo celular das células saudáveis.

Indol-3-carbinol (I3C) é geralmente formado quando os vegetais crucíferos são cortados, mastigados ou cozidos. Basicamente, cortar, esmagar, mastigar ou cozinhar esses vegetais danifica as células vegetais, permitindo que a glucobrassicina entre em contato com uma enzima chamada mirosinase, resultando em sua hidrólise em indol-3-carbinol (I3C), que modula o gene da COMT e outros genes, reduzindo o risco de vários tipos de câncer (Fare, 2014).

2) MTHFR - Metilenotetrahidrofolato redutase. Este gene é importante para a metilação e proteção do material genético. Pode ter atividade física em até 70% dependendo das variações genéticas presentes. Clinicamente podem ser pacientes que relatam mais cansaço ou sintomas depressivos. Além disso, estudos mostram que estas variações aumentam risco de alguns tipos de câncer (He, & Shen, 2017). Para estes pacientes é muito, muito importante o aumento do aporte de vitaminas do complexo B, especialmente B9. O ideal é aumentar bem o consumo de vegetais verde escuros (couve, brócolis, espinafre, couve de bruxelas, agrião, rúcula, acelga, folha de beterraba, almeirão, ora pro nóbis…).

3) SOD2 - superóxido dismutase 2. Este gene é importante para a produção do antioxidante glutationa, responsável pela proteção do organismo contra radicais livres. A pessoa com variações genéticas podem produzir até 40% menos destes antioxidante, o que gera maior risco de envelhecimento prematuro e câncer. Como grande parte da SOD é produzida no fígado, este órgão precisa estar protegido. Não entupa seu fígado de toxinas, álcool, açúcar, gordura.

Vários nutrientes ajudam a aumentar a produção de glutationa pelas células: NAC ( N-acetil-cisteína), vitamina E, Vitamina C, ácido alfa lipóico, proteínas, ômega-3, selênio, vitaminas B1, B5 e B12. Consulte também a tabela ORAC e capriche no consumo de antioxidantes. Para aumentar sua capacidade antioxidante faça também jejum, atividade física de alta intensidade, sauna, tome banho frio.

4) GST - glutationa S-transferase, um gene importante para eliminação de toxinas. De novo, não se entupa de toxinas. Prefira alimentos orgânicos, evite ambientes poluídos, álcool, drogas, tabaco e acompanhe seu exame de GGT (gama GT), enzima do fígado que quando alterada indica uma menor eliminação de toxinas. É um paciente que tende a ficar mais inchado. Consuma também chás amigos do fígado, como alcachofra, chá de dente de leão, além de nutrientes específicos para apoiar a função hepática.

Meu sonho é que cada pessoa já saísse da maternidade com seu exame genético feito. Hoje trabalho com exames nutrigenéticos que avaliam mais de 4.000 polimorfismos. Estes exames oferecem dados para trabalharmos durante toda a vida.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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15 genes mais relevantes no câncer de próstata

O câncer de próstata é a doença maligna mais comum e a segunda principal causa de mortes relacionadas ao câncer entre os homens em muitos países. Os níveis séricos de antígeno específico da próstata (PSA) têm chamado a atenção para fins de previsão.

Fatores de risco para o câncer de próstata

Considera-se um fator de risco qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença. Embora os fatores de risco influenciem a chance de um homem desenvolver câncer de próstata, a maioria não causa o câncer diretamente ou por si só. Algumas pessoas com vários fatores de risco conhecidos nunca desenvolvem câncer, enquanto outras sem nenhum fator de risco conhecido desenvolvem a doença. De qualquer forma, as pesquisas destacam entre os fatores de risco:

  1. Envelhecimento - cerca de 60% dos cânceres de próstata são diagnosticados em homens com 65 anos ou mais.

  2. Raça - homens negros são diagnosticados com câncer de próstata mais do que homens de outras raças.

  3. Obesidade aumenta o risco de vários tipos de câncer.u

  4. História familiar - o câncer familiar constitui cerca de 20% de todos os cânceres de próstata. Este tipo de câncer de próstata se desenvolve devido a uma combinação de genes compartilhados e fatores ambientais ou de estilo de vida compartilhados. Um homem com pai, irmão ou filho - com câncer de próstata, possui 2 a 3 vezes mais chance de desenvolver a mesma doença do que pessoas que não possuem parentes de primeiro grau com o problema. Vários genes têm sido investigado em relação ao risco de desenvolvimento da doença. Os 15 mais comuns estão listados na tabela abaixo. Contudo, outros vêm sendo investigados como o HBOC.

https://www.genecards.org/Search/Keyword?queryString=prostate%20cancer

Os genes mais estudados são o BRCA1 e BRCA2. Os portadores de mutações BRCA2 (posição 1 na tabela) têm um alto risco de desenvolver câncer de próstata, particularmente câncer de próstata mais agressivo. Mas esse risco varia de acordo com o histórico familiar de câncer de próstata e a localização da mutação no gene (Nyberg et al., 2020).

Outro gene bastante estudando é o metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), que aparece na posição 7 da tabela. A variante C677T deste gene encontra-se no exon 4 no sítio de ligação do folato do gene MTHFR e resulta na substituição de uma alanina por um resíduo de valina. Pacientes com o genótipo CT heterozigoto e o alelo 677T do polimorfismo MTHFR podem estar associados a um risco mais reduzido de câncer de próstata Küçükhüseyin et al., 2011

Dá para prevenir?

Embora não haja uma forma de reduzir o risco de câncer de próstata a zero, você pode sim diminuir as chances de aparecimento da doença. Dependendo da sua genética você pode optar pela quimioprevenção. Uma classe de medicamentos chamados inibidores da 5-alfa-redutase (5-ARIs), que inclui dutasterida (Avodart) e finasterida (Proscar), são frequentemente usados ​​para tratar o câncer. Eles também podem reduzir o risco de um homem desenvolver a doença. Contudo, o uso preventivo não é rotina, por isso é importante fazer seu exame genético e conversar com seu médico.

Melhore sua dieta. Alguns estudos mostram que o consumo de gordura animal está associado ao aumento do risco de câncer de próstata. Já uma dieta rica em vegetais, frutas e legumes, como feijão e ervilha, parece reduzir o risco de câncer de próstata. O licopeno, um nutriente encontrado no tomate, na melancia e na goiaba vermelha é um dos compostos bioativos relacionados à prevenção do câncer de próstata.

Cuidado com suplementos. Células cancerígenas amam glutamina e podem se multiplicar mais rápido com o uso do suplemento. Existem pesquisas mostrando, inclusive, que a inibição de enzimas que permitem as células de utilizarem a glutamina, seria uma das estratégias para o tratamento do câncer de próstata.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/