De forma simplificada, podemos dizer que a epigenética estuda os mecanismos biológicos que ativam e desativam genes. Como assim?
Relembrando a genética
Todas as instruções necessárias para dirigir suas atividades estão contidas no ácido desoxirribonucleico químico, também conhecido como DNA. O DNA humano é constituído por aproximadamente 3 bilhões de bases de nucleotídeos.
Existem quatro tipos fundamentais de bases que compreendem o DNA - adenina, citosina, guanina e timina, comumente abreviados como A, C, G e T. A sequência, ou a ordem, das bases é o que determina nossas instruções de vida.
Os genes são sequências específicas de bases nitrogenadas e contém as instruções para que as células produzam proteínas, sejam elas anticorpos, hormônios, enzimas, fibras musculares… Esta sequência de bases nitrogenadas e genes é nossa herança. Não muda ao longo da vida. Contudo, ter um gene que favorece, por exemplo, a obesidade, não determina que seremos obesos. Genes podem se expressar ou não. É o que estuda a epigenética.
A epigenética também influencia a especialização dos tecidos
Nossa genética é a mesma da cabeça aos pés. Contudo, nosso pâncreas “sabe” que precisa produzir insulina. Já o fígado também tem as informações para produção de insulina, mas “entende” que deve produzir sais biliares. Pois é, a epigenética afeta a maneira como os genes são lidos pelas células. Vejamos um outro exemplo: o gene COL1A1 está presente em todos os tipos de células, mas é "expresso" apenas nas células da pele para produzir proteínas de colágeno tipo 1. A epigenética determina a especialização de uma célula.
O que e quanto você come, onde mora, que tipo de ar respira, como movimenta-se, com quem interage, quando e quanto dorme - tudo isso e muito mais podem causar modificações químicas em substâncias que ativam ou desativam a expressão de genes. Mesmo que você tenha um irmão gêmeo univitelino, com um DNA idêntico ao seu, vocês não serão iguais. Se comerem algo diferente os genes serão ativados de formas diferentes. As diferentes combinações de genes que são ativadas ou desativadas é o que torna cada um de nós único.
A epigenética é herdada, mas reversível
O que sua avó comeu na gestação pode ter modificado a metilação de genes de sua mãe. A metilação é um dos possíveis modificadores epigenéticos. Consiste na união de um grupo metil (CH3) ao carbono 5 da base nitrogenada citosina. Com isso, a leitura da informação genética é alterada. Isto pode ser bom, por exemplo, se um gene que aumenta o risco de hipertensão estiver metilado, o risco de doença cardiovascular na idade adulta é menor.
Epigenética, abortos e prematuridade
A perda recorrente da gravidez é uma das áreas mais frustrantes e difíceis na medicina materno-fetal. O risco de abortos aumenta com o avanço da idade materna, se a mulher apresenta a síndrome do anticorpo antifosfolípide, diabetes mellitus não tratada, síndrome dos ovários policísticos, hipo ou hipertireoidismo ou hiperprolactinemia. Alterações no gene CREB5 também parecem aumentar o risco de abortos recorrentes ou prematuridade. Para redução do risco este gene deve estar bem metilado. Para tanto não podem faltar na dieta nutrientes como vitamina B6, B9 e B12. Outras carências nutricionais também precisam ser corrigidas para redução do risco de abortos. Falo um pouco mais sobre o tema neste vídeo: