As taxas globais de obesidade infantil aumentaram dramaticamente. Evidências sugerem que a exposição no útero à obesidade materna ou ao diabetes mellitus gestacional (DMG) pode contribuir para essas tendências. Crianças nascidas de mães com DMG ou obesidade durante a gravidez têm uma probabilidade aumentada de desenvolver obesidade e distúrbios metabólicos em comparação com crianças não expostas.
Embora os fundamentos biológicos dessa programação materno-fetal não sejam completamente compreendidos, estudos convincentes em modelos animais sugerem que a exposição intra-uterina à obesidade ou diabetes materna leva a alterações no desenvolvimento e na função do hipotálamo, predispondo o desenvolvimento de filhotes com obesidade. O estudo que deixo em anexo investigou se a exposição intra-uterina à obesidade materna ou DMG está associada a alterações na função hipotalâmica em humanos. E sim.
Crianças expostas ao DMG diagnosticadas na gestação de 26 semanas apresentaram aumento do fluxo sanguíneo hipotalâmico (um marcador de ativação hipotalâmica) em resposta à glicose quando comparadas com crianças não expostas, e os resultados permaneceram após ajustes para idade, sexo, IMC e pré-gestação materna IMC . Esta maior resposta hipotalâmica à glicose previu maiores aumentos no IMC da criança 1 ano depois do parto.
Por isso, toda a mulher que deseja engravidar deve adotar uma alimentação saudável, para preparar o corpo para a gravidez. Uma dieta antiinflamatória torna o útero menos hostil para o bebê. Já mulheres que consomem muito álcool, alimentos fritos e com características inflamatórias, que vivem doentes (por exemplo, estão sempre gripadas), que tem o intestino ruim (aprenda mais sobre disbiose) ou tem um excesso de gordura corporal apresentam muito mais inflamação corporal, tornando o útero um meio muito mais hostil para o feto. Isto aumenta o risco de malformações e também de abortos.
Além disso, o corpo inflamado gera alterações no desenvolvimento cerebral da criança (Rudolph et al., 2018). A inflamação pode ser um fator de risco para transtornos do neurodesenvolvimento (como autismo e TDAH) e outras doenças neurológicas, como esquizofrenia. Porém, mais estudos são necessários nesta área (Gustavson et al., 2019).
O que acontece na barriga da mãe pode mudar a expressão genética do bebê e aumentar a susceptibilidade a doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, renais e certos tipos de câncer (Thornburg et al., 2014). Fatores como a má nutrição, o estresse (com elevação de cortisol), a má circulação (e hipoxia tecidual) modificam genes.
O ideal é que mulheres com excesso de gordura corporal percam um pouco de peso antes de engravidar, uma vez que a obesidade está ligada a um ambiente mais inflamatório e dificuldades na metilação, o que aumenta o risco de doenças futuras nos filhos (Chavira-Suárez, 2019).
Estudos clássicos mostram que mulheres com carência nutricional de vitamina do complexo B produzem menos substâncias protetores, como glutationa e SAM ( S-adenosilmetionina). Por isso, antes de engravidar a mulher vai provavelmente precisar suplementar B9, B12, vitamina D e ômega-3. Se tiver outras carências, estas precisarão ser corrigidas. Se tiver disbiose intestinal, esta também precisará ser tratada.
Se a mulher engravidar precisará de um polivitamínico que contenha colina, selênio, iodo, complexo B. Vitamina B12 e B9 poderão ser necessárias em maiores quantidades se a mulher for vegana ou se tiver polimorfismos como o do gene MTHFR. Precisará continuar tomando ômega-3 e provavelmente também probióticos.
A mulher também poderá precisar de suplementos para que possa amamentar sem desenvolver carências nutricionais. O acompanhamento nutricional nas 3 fases (antes, durante e após a gravidez) é fundamental.