Nutrição e doença de Crohn

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A doença de Crohn é uma afecção inflamatória crônica, que pode acometer qualquer local do trato digestivo, da boca ao ânus. A parte final do intestino delgado costuma ser bastante afetada. A ciência ainda não compreende a causa da doença, mas parece haver envolvimento genético, podendo atingir vários membros da mesma família. Também há envolvimento do sistema imunológico e do ambiente.

As células imunológicas acumulam-se nos intestinos, atacando bactérias, alimentos, tecido corporal saudável e outras substâncias inofensivas ou mesmo benéficas, causando sintomas como dor abdominal, diarréia, sangramento retal, perda de peso, febre e fadiga. Essas células imunes que se acumulam produzem substâncias químicas que promovem a inflamação, danificam as paredes intestinais e causam os sintomas da doença de Crohn.

O tratamento pode envolver cinco componentes:

  • Medicação

  • Cirurgia

  • Reabilitação nutricional

  • Suporte psicológico

  • Técnicas de relaxamento

O tratamento medicamentoso visa deter o processo inflamatório e cicatrizar a mucosa digestiva. Cirurgias ficam reservadas quando há a necessidade de correção de complicações , como obstrução, hemorragia e abscessos. Durante as crises ocorre uma diminuição da capacidade de absorção de nutrientes. Há também perda de fluidos e eletrólitos, principalmente se houver diarreia.

Outras preocupações durante crises são a febre e o emagrecimento. Para garantir que todas as necessidades sejam atendidas durante crises pode ser necessária o uso de uma sonda (terapia enteral ou mesmo parenteral) ou modificações na dieta. Suplementos também podem ser prescritos pelo nutricionista já que deficiências podem surgir (especialmente de cálcio, ferro, zinco, manganês, cobre, selênio, vitaminas D, B9 e B12).

OUTRAS DICAS

Se o paciente apresentar perda de apetite, risco de desnutrição ou já estiver desnutrido, se apresentar intolerâncias ou esteatorréia (perda de gordura nas fezes) produtos hipercalóricos e hiperproteicos também poderão ser necessários. Mesmo comendo bem a necessidade de energia está aumentada quando o intestino está muito inflamado ou perdendo sangue.

Durante as crises certos alimentos podem piorar os sintomas, aumentando gases e agravando a diarréia. É importante manter um diário alimentar que facilite a compreensão dos tipos de alimentos que funcionam como gatilhos para as crises. Além disso, é importante:

  • Fazer pequenas refeições, várias vezes ao dia;

  • Beber pequenas quantidades de água ou água de coco frequentemente ao longo do dia;

  • Se estiver com diarreia, evitar alimentos ricos em fibras. Cereais, massa e pães integrais, leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, grão de bico) podem piorar o inchaço e dor abdominal. Estes alimentos podem ser bem tolerados fora das crises;

  • Evitar nozes, sementes e pipoca pois podem ser difíceis de digerir, causando maior irritação intestinal;

  • Cozinhar frutas e vegetais para facilitar a digestão;

  • Evitar alimentos gordurosos e frituras pois podem piorar os sintomas;

  • Evitar pimentas e outros alimentos picantes;

  • Limitar o consumo de produtos lácteos, se tiver dificuldade em digerir a lactose, o açúcar encontrado no leite;

  • Limitar a ingestão de cafeína, pois agrava as crises;

  • Evitar as bebidas alcoólicas e as com gases, como refrigerantes;

  • Dar preferência a alimentos leves e macios;

  • Reduzir o consumo de FODMAPs, durante as crises;

  • Incluir proteína suficiente na dieta.

Embora a doença de Crohn seja desafiadora é possível viver uma vida plena, recompensadora, feliz e produtiva. Existem algumas evidências de que os ácidos graxos ômega-3 (ou seja, óleos de peixe) podem ser úteis na redução de recidivas na doença de Crohn, devido ao seu efeito antiinflamatório. As dietas de exclusão mostraram benefício limitado, quando o paciente encontra-se estável. Ou seja, fora das crises a dieta vai sendo aos poucos liberada, respeitando-se a tolerância de cada pessoa.

Estudos preliminares sobre preparações probióticas que contenham Bifidobacterium, Lactobacillus e Streptococcus são promissoras na prevenção da recorrência da doença de Crohn. Prebióticos (alimentos não digeríveis que estimulam a atividade bacteriana no cólon) também podem ser suplementados, quando bem tolerados, ajudando a melhorar a composição da microbiota e a reduzir a inflamação do trato digestivo.

A atividade física regular é muito importante, ajudando a prevenir a osteoporose, manter a massa muscular, além de estimular o apetite. Para a saúde mental psicoterapia, grupos de suporte, meditação e yoga podem ser de grande valia.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Pais que cuidam-se tem filhos mais saudáveis

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A maternidade e a paternidade geram um caminhão de novas emoções e situações estressantes. Alguns bebês trocam o dia pela noite, crianças ficam doentes, adolescentes passam por situações difíceis. Quem tem filhos sabe. Tentamos ser super pacientes mas nem todo dia conseguimos manter a calma. Quando estamos bem, lidamos melhor com as birras. Mas após um dia difícil no trabalho a paciência está mesmo mais curta. Mas gritar não gera bons comportamentos. Precisamos aprender a respirar.

Pesquisas mostram que pais e mães precisam de tempo para relaxar, praticar esportes, estar com os amigos. Aqueles que cuidam-se mais, que aprendem a gerar as próprias emoções, que sentem-se mais saudáveis física e emocionalmente conseguem apoiar melhor o desenvolvimento dos filhos.

Práticas de meditação e yoga também ajudam muito. Aprender a observar, ouvir, perceber o que está acontecendo, sem julgamentos, cria mais oportunidades de interações saudáveis. A prática também reduz ressentimentos e negatividade. As crianças beneficiam-se também. Com os pais mais relaxados e felizes, apresentam menos comportamentos negativos e ansiosos.

A parentalidade consciente hoje é uma linha de pesquisa importante. Fiz parte do meu doutorado em Harvard, universidade que possui um centro sobre o Desenvolvimento da Criança (e bem estar da família). Lá são feitas pesquisas sobre o desenvolvimento do cérebro da infância à fase adulta, redução do estresse nas famílias, desenvolvimento de habilidades essenciais para gerenciar a vida, o trabalho e os relacionamentos com sucesso. Para tanto uma série de tecnologias são utilizadas, como práticas de mindfulness e meditação, que você pode aprender em casa também:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Huperzia Serrata (Huperzine A) na prevenção da doença de Alzheimer

Com o aumento da expectativa de vida da população aumenta também o risco de desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas, como Parkinson, Huntington e Alzheimer. Síndromes demenciais são caracterizadas por déficit progressivo da memória e das funções cognitivas, comprometendo a execução de tarefas, a autonomia, o comportamento e a qualidade de vida como um todo. A doença de Alzheimer (DA) é a síndrome demencial mais comum na população idosa, sendo a nutrição fundamental tanto na sua prevenção quanto no tratamento.

A DA caracteriza-se por um déficit de memória e deterioração de múltiplas funções cognitivas, devido à perda de neurônios no hipocampo e no córtex cerebral. É comum que com a doença o cérebro perca até 30% de sua massa. Este quadro é subsequente ao acúmulo de proteína beta amilóide e de emaranhados neurofibrilares no cérebro.

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A proteína beta amilóide aumenta o estresse oxidativo, a inflamação, os danos no cérebro, além de dificultar a plasticidade sináptica. São fatores de risco para o Alzheimer: a idade, genética, doenças metabólicas, estresse oxidativo, hiperglicemia, aumento da homocisteína, síndrome de Down, baixa escolaridade, dieta pobre, sedentarismo e mutação dos genes ApoE4 ou ApoE14 (cromossomo 19) .

A ciência da nutrição vem investigado o uso de vitaminas, minerais, ácidos graxos e fitoquímicos na modulação do metabolismo cerebral. Uma das plantas estudadas pela área da fitoterapia é a Huperzia Serrata. Usada há centenas de anos pela medicina popular chinesa para o tratamento de envenenamentos e da esquizofrenia, tem como princípio ativo a Huperzina A (HupA). A substância é capaz de inibir a enzima acetilcolinesterase (AChE), responsável pela degradação da acetilcolina.

Devido à capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, a HupA eleva as concentrações de acetilcolina no córtex. Esta ação tem sido relacionada à diminuição das perdas cognitivas e alterações comportamentais em modelos animais e à atenuação do déficit de memória e aprendizado em humanos.

Também tem sido demonstrado um efeito neuroprotetor, pois estimula a liberação do fragmento de proteína precursora do amilóide, prevenindo a progressão da DA. Outros efeitos incluem ação antioxidante e proteção contra a toxicidade do glutamato, um neurotransmissor excitatório parcialmente responsável pela neurodegeneração.

A segurança no uso não foi estudada por mais de 20 semanas, assim como a segurança durante a gravidez. Quando administrada em doses altas, a huperzina A pode causar náuseas, vômitos e diarreia, fala arrastada, espasmos musculares, salivação, incontinência, pressão arterial elevada e frequência cardíaca baixa.

Huperzine A pode interagir com medicamentos anticolinérgicos como atropina e escopolamina; pode também interagir com anti-histamínicos e medicamentos antidepressivos.‍ Também não é recomendada para pessoas com doenças cardíacas, hipertensão ou em uso de medicações anticolinérgicas para Alzheimer ou glaucoma.

Por tratar-se de composto ativo, nutricionistas não podem prescrever a Huperzina A. Contudo, podem prescrever a planta Huperzia serrata. Para dosagens e tempo de uso consulte um profissional especialista em fitoterapia.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/