Dicas para passar longe do Alzheimer

Você está com sede e vai até à cozinha. Ao chegar não lembra o que foi fazer ali. Encontra um velho conhecido e não se lembra do seu nome. Vai ao computador pagar uma conta, mas perde-se na internet, esquece do seu propósito e deixa a conta vencer. Todos nós temos lapsos de memória, nos distraímos, mas se os seus estão têm se agravado com o passar dos anos é importante melhorar as suas rotinas. O diagnóstico de demência vem após os 70 ou 80 anos, mas os processos que levaram a ela iniciam-se décadas antes. A maioria dos casos de Alzheimer são evitáveis, com medidas adequadas.

Muitas pessoas que tiveram COVID experimentaram uma grande piora da memória por conta da neuroinflamação, tornando mais importante ainda cuidar da redução do estresse, adequar níveis de vitamina D, consumir mais antioxidantes, reduzir álcool, parar de fumar… Outra questão é continuar a estimular o cérebro, principalmente com leituras. Muitos pacientes que amavam ler romances ou livros de ficção científica dizem que pararam, não conseguem acompanhar a história, lembrar dos personagens. Mais um motivo para insistir, nem que tenha que grifar ou sublinhar a primeira menção ao personagem, fazer anotações. Mas faça o que for preciso para se manter lendo.

Em 2020, uma pesquisa da comissão da revista científica Lancet sobre demência sugeriu que até 40% dos casos de Alzheimer podem ser prevenidos ou retardados – assim como doenças cardíacas e muitos cânceres – com melhorias nestes 12 fatores de risco modificáveis (:

  1. Educação - continue lendo, aprendendo, estudando ao longo da vida. Existem também estudos com treinos cognitivos por computador, videogames. Estimule seu cérebro de toda a forma que puder, especialmente se não completou o ensino médio.

  2. Perda auditiva - é o fator que mais impacta o risco de demência. O uso de aparelhos auditivos é um fator protetor quando há perda auditiva.

  3. Traumas cranianos - se você teve algum acidente ou praticou esportes que envolvem contato com a cabeça precisará atentar-se ainda mais aos outros fatores, uma vez que lesões cerebrais contribuem para mais edema, estresse oxidativo, agregação de proteína amilóide e neuroinflamação, todos fatores de risco para demências.

  4. Hipertensão - o controle da tensão arterial é fundamental para redução do risco cardíaco e cerebral. Muitos fatores aumentam a pressão arterial, incluindo obesidade, inflamação, alto consumo de sal, alto consumo de carboidratos, sedentarismo, dislipidemias. Contudo, medicamentos antihipertensivos e estatinas não previnem Alzheimer. O que mantém o cérebro saudável é o estilo de vida saudável. Não há mente saudável em um corpo doente!

  5. Inatividade física. Ficar parado agrava muitos parâmetros de saúde, faz a pessoa ganhar peso, acumular gordura em certas partes do corpo, a pressão tende a aumentar, a controle da glicemia piora. Movimente-se para manter corpo e memória boa ao longo da vida.

  6. Diabetes. Altas taxas de açúcar no sangue são um fator de risco claro para a demência. Adote uma dieta cetogênica e após estabilização migre para uma dieta mediterrânea bem antiinflamatória.

  7. Consumo de álcool. A partir dos 65 anos a quantidade de neurônios vai caindo a uma velocidade mais rápida. Para que arriscar suas células nervosas enchendo-se de álcool, uma substância neuroinflamatória?

  8. Obesidade. Um índice de massa corporal elevado é um dos principais fatores de risco para a demência. Estudos mostram melhoria da memória e níveis de atenção com redução de pelo menos 2kg do peso corporal inicial.

  9. Tabagismo. Fumantes possuem um risco maior de deterioração da memória. O mesmo vale para quem vive com fumantes. Fatores de risco cardiovascular combinados (fumar, beber, dieta inadequada, sedentarismo, acúmulo de gordura corpora, hipertesnsão, dislipidemia, hperglicemia) aumentam ainda maisi o risco de ataques cardíacos, derrames e demência.

  10. Isolamento social é um fator de risco para a demência enquanto o contato social é protetor.

  11. Poluição ambiental - altas concentrações de dióxido de nitrogênio (NO2) foram associadas à maior incidência de demência.

  12. Depressão. Esta doença complexa está associada a maior risco de demência. Os estudos são controversos em relação à capacidade de antidepressivos (como inibidores da recaptação de serotonina) em reduzirem o risco de declínio cognitivo. Assim, é fundamental que a medicação seja acompanhada de outras estratégias como psicoterapia, atividade física, dieta e suplementação para combater o estresse oxidativo e neuroinflamação.

Outros fatores vêm sendo estudados como as alterações de sono e o impacto no cérebro e o aumento da homocisteína. Além de fazer a higiene do sono avalie anualmente seus níveis de cortisol, glicose, hemoglobina glicada, insulina, colesterol, LDL (preferencialmente oxidado), triglicerídeos, proteína C reativa, enzimas hepáticas, ferritina, vitaminas, e, claro, homocisteína.

A homocisteina quando alta significa que a formação de glutationa está baixa (ciclo da metionina). A homocisteína alta eleva a neuroinflamação, gera distúrbios do óxido nítrico, reduz atividade de bomba de sódio e potássio.

Valores de referência laboratoriais:

Menor de 15 anos: menor ou igual a 10 micromol/L

Entre 15 e 65 anos: menor ou igual a 15 micromol/L

Pacientes com Alzheimer: ideal de 5 a 9 micromol/L.

Maior de 65 anos: menor ou igual a 20 micromol/L

Contudo, se você já tem questões relacionadas à memória ou fatores de risco genéticos, tente manter a homocisteína abaixo de < 7 µmol/L.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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