Lactoferrina para redução da neuroinflamação e melhora cognitiva em pacientes com Alzheimer

A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de demência na população idosa, levando a um progressivo declínio mental, comportamental e funcional, grave comprometimento da memória e da capacidade de aprender.

Patologicamente, a DA é caracterizada pela presença de duas características neurológicas: placas senis e emaranhados neurofibrilares intracelulares. As placas senis consistem principalmente de peptídeo β-amilóide extracelular (Aβ), particularmente depósitos de Aβ42, enquanto os emaranhados neurofibrilares intraneuronais são formados pela agregação de proteína tau anormalmente hiperfosforilada.

Causas do Alzheimer

Mutações genéticas (APP, PSEN1, PSEN2, APOE4) estão entre as causas da doença. Contudo, outras hipóteses vem sendo perseguidas. A mais famosa é o estresse oxidativo, atribuído principalmente aos oligômeros Aβ42 insolúveis que promovem a hiperfosforilação da tau, resultando em efeitos tóxicos nas sinapses e mitocôndrias dos neurônios, além de danos às membranas ricas em colesterol encontradas em oligodendrócitos e mielina.

A neuroinflamação é outro componente envolvido na doença, gerando aumento de placas Aβ42, que ativam a microglia (células de defesa e limpeza do cérebro) pela ligação com CD36 e receptores semelhantes a Toll 4 e 6. As células da microglia ativadas estimulam a liberação de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina 1β (IL-1β), TNF-α e IFN-γ, que por sua vez promovem a produção de mais oligômeros Aβ42.

A lesão oxidativa e a resposta inflamatória leva a uma homeostase iônica neuronal alterada e atividades de quinase/fosfatase, em que a superexpressão de fosfatase e homólogo de tensina (PTEN) causa desregulação da fosfatidilinositol-4,5-bifosfato 3-quinase (PI3K)/proteína quinase B (PKB ou Akt) em conjunto com atividade elevada de glicogênio sintase quinase-3-beta (GSK3β) e atividade de proteína quinase ativada por mitogênio (MAPK). Isto agrava a disfunção neuronal e sináptica e perda seletiva de neurônios de acetilcolinérgicos (ACh), com subseqüentes déficits do neurotransmissor acetilcolina.

Funções da acetilcolina

A acetilcolina tem muitos papéis. Quando se liga aos receptores muscarínicos, gera diversas respostas.

  • Regula as contrações cardíacas e a pressão sanguínea e diminui a frequência cardíaca.

  • Move o alimento através do trato digestivo, contraindo os músculos intestinais e aumentando as secreções estomacais e intestinais.

  • Faz com que as glândulas secretem substâncias como lágrimas, saliva, leite, suor e sucos digestivos.

  • Controla a liberação de urina.

  • Contrai os músculos que controlam a visão de perto.

  • Causa ereção peniana.

A acetilcolina também pode se ligar a receptores nicotínicos. Neste caso:

  • Permite que o músculo esquelético se contraia.

  • Causa a liberação de adrenalina e norepinefrina das glândulas supra-renais.

  • Ativa o sistema simpático com a liberação de norepinefrina.

Ambos os tipos de receptores estão envolvidos na memória, incluindo memória de longo prazo e de trabalho, formação de memória e consolidação e recuperação. Dentro do cérebro, a acetilcolina também está envolvida na motivação, excitação, atenção, aprendizado e promoção do sono de movimento rápido dos olhos (REM). A falta de acetilcolina é um dos componentes da doença de Alzheimer.

Desregulação da via fosfatidilinositol-4,5-bifosfato 3-quinase (PI3K)/proteína quinase B (PKB ou Akt) em resposta à superexpressão da fosfatase e ao homólogo da tensina (PTEN ).

Reparando a disfunção metabólica

Cinquenta pacientes (28 homens e 22 mulheres) com diagnóstico clínico de Alzheimer foram submetidos à avaliação por ressonância magnética, bem como ao Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) para avaliar a gravidade da doença.

Posteriormente, os pacientes (egípcios idosos com mais de 65 anos de idade) foram divididos aleatoriamente em dois grupos pareados por idade e sexo que receberam terapia padrão (grupo 1, pacientes com DA sem LF) ou cápsulas de lactoferrina (Jarrow Formulas®, EUA, 250 mg/ dia) por três meses.

A lactotransferrina ou lactoferrina (LF) é uma glicoproteína ligante de ferro multifuncional. Está presente no leite humano, sendo conhecida por seus efeitos imunomoduladores contra infecções bacterianas, fúngicas e virais. Também tem ação antioxidante e efeito anti-inflamatório, decorrentes da sua capacidade de eliminação do ferro excessivo.

A presença de LF no cérebro humano foi confirmada. Como está presente em maior quantidade no cérebro de pessoas mais velhas e com Alzheimer, acreditava-se que seria um problema. Contudo, na verdade ela está ali tentando defender o cérebro.

Pacientes com DA apresentaram diminuição sérica de acetilcolina (ACh), serotonina (5-HT), marcadores antioxidantes e anti-inflamatórios e diminuição da expressão de Akt em linfócitos do sangue periférico (PBL), bem como níveis de PI3K e p-Akt no lisado de PBL.

Todos esses parâmetros melhoraram significativamente após a administração diária de lactoferrina por 3 meses. Da mesma forma, níveis séricos elevados de β amilóide (Aβ) 42, colesterol, marcadores de estresse oxidativo, IL-6, proteína de choque térmico (HSP) 90, caspase-3 e p-tau, bem como aumento da expressão de tau, MAPK1 e PTEN em Pacientes com DA, foram significativamente reduzidos após a ingestão de lactoferrina.

A melhora nos marcadores foi refletida na função cognitiva aprimorada avaliada pelos questionários Mini-Mental State Examination (MMSE) e Alzheimer's Disease Assessment Scale-Cognitive Subscale 11 (ADAS-COG 11) como parâmetros clínicos.

Esses resultados fornecem uma base para um possível mecanismo protetor da lactoferrina na doença de Alzheimer por meio de sua capacidade de aliviar a cascata patológica da DA e o declínio cognitivo por meio da modulação da via p-Akt/PTEN, que afeta os principais atores da inflamação e do estresse oxidativo envolvidos na patologia da DA (Mohamed, Salama, & Schaalan, 2019).

Suplementos contendo lactoferrina:

Precisa de ajuda para individualizar sua dieta? Marque aqui sua consulta de nutrição online

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
Tags