Existem aproximadamente 50 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo. Infelizmente, a previsão é de que em 203 sejam 75 milhões de indivíduos com prejuízos cognitivos importantes ao redor do mundo. O principal tipo de demência é a doença de Alzheimer (DA) e, além da genética e do envelhecimento populacional, vários fatores ambientais têm contribuído para o aumento da incidência desta doença.
A maioria das abordagens terapêuticas atuais se concentra no manejo dos sintomas comportamentais ou na tentativa de retardar o progresso da doença, mas nenhuma dessas soluções modifica o curso inevitável da doença.
Muitas pessoas têm familiares com DA e se perguntam por que não foram dadas alternativas que realmente parassem a progressão da doença, preservasse a perda da memória e a lembrança de seus entes queridos. E, qual é a alternativa para a prevenção da doença nos outros membros da família.
A doença de Alzheimer é bastante complexa e sabemos que um estilo saudável é fundamental para a manutenção de um cérebro desinflamado. Dieta rica em antioxidantes, pobre em açúcar e alimentos ultraprocessados, sono adequado, atividade física regular, controle do estresse e aprendizado constante fazem parte das estratégias de prevenção e controle da doença.
Problemas com a pesquisa atual do Alzheimer
Os depósitos de amilóides no cérebro são a principal linha de pesquisa da indústria farmacêutica. Como eliminar estes depósitos faz com que empresas gastem milhões na busca de remédios. Contudo, é importante saber o que está causando esse depósito. Sabemos que colesterol alto, hipertensão, inflamação, intoxicação por alumínio, infecções são alguns dos fatores que geram maior acúmulo de beta amilóide (Aβ) e emaranhados de tau no cérebro.
Quanto mais Aβ e emaranhados neurofibrilares intraneurais maiores são as perdas cognitivas, que levam a confusão menta, dificuldade na tomada de decisões, perdas de memória e alterações comportamentais. Mas essas são a consequência do problema e não a causa. Por isso, até hoje não existem medicamentos eficazes. Ensaios clínicos de medicamentos direcionados ao Aβ tiveram uma taxa de falha de 99,6% em 10 anos.
E o processo de neurodegeneração pode começar cedo, às vezes antes dos 40 anos, culminando com um diagnóstico de Alzheimer a partir dos 60 anos. A DA de início precoce é mais rara (5% dos casos), ocorrendo antes dos 65 anos. A DA de início tardio ocorre em pessoas com mais de 65 anos e é a forma mais comum. β-amilóide e tau levam ao declínio precoce da doença de Alzheimer, enquanto o hipometabolismo da glicose leva ao declínio tardio.
Outras hipóteses para a doença de Alzheimer
Um dos especialistas mundiais em doenças neurodegenerativas é o Dr. Francisco Gonzalez-Lima, Ph.D., pesquisado da Universidade do Texas em Austin. Ele não concorda com a hipótese de que os emaranhados de Aβ e tau causam demência em idosos. Em vez disso, ele diz que os problemas ocorrem por causa da inibição da citocromo oxidase (CO). De acordo com o investigador, biomarcadores de neurodegeneração, especialmente hipometabolismo de glicose, são melhores em predizer DA de início tardio do que a presença de emaranhados de Aβ e tau.
À medida que nossos corpos envelhecem, temos enfraquecimento crônico em nosso sistema circulatório. Isso diminui o fluxo sanguíneo (portanto, o suprimento de oxigênio) para o cérebro. Crucial para este processo é a citocromo oxidase (CO), uma enzima mitocondrial que acelera uma reação celular vital para a produção de energia aeróbica.
Dr. Gonzalez-Lima foi capaz de realizar pesquisas em cérebros imediatamente após a morte de pacientes com DA. Ele notou que os cérebros daqueles com DA apresentavam uma regulação negativa da citocromo oxidase no momento da morte.
Numerosos estudos mostraram que anormalidades nas mitocôndrias desempenham um papel no desenvolvimento da DA. A disfunção mitocondrial pode levar à neuroinflamação e estresse oxidativo por meio de vários mecanismos, o que pode ser um fator de doença cerebral. Portanto, tem havido interesse em terapias que visem melhorar o funcionamento das mitocôndrias e que diminuam a inflamação ou lesão causada pelo estresse oxidativo.
De acordo com o pesquisador, o azul de metileno mostrou ser benéfico para a função mitocondrial. O azul de metileno (AM) atravessa a barreira hematoencefálica e em baixas doses serve como um ciclador de elétrons na cadeia de transporte de elétrons mitocondrial.
A hipoperfusão (baixa oxigenação) cerebral crônica em distúrbios neurocognitivos diminui a atividade da citocromo oxidase, levando a efeitos neurodegenerativos e comprometimento do aprendizado e da memória. O azul de metileno em baixas doses estimula a atividade da citocromo oxidase e pode assim neutralizar os efeitos adversos da hipoperfusão cerebral (Auchter et al., 2020) e melhoria da memória (Rojas et al., 2011). É importante dizer que para melhorar a circulação é importante também manter níveis de colesterol apropriados e coração forte, por meio de dieta adequada e atividade física.
O azul de metileno (MB) é um medicamento aprovado pela FDA usado em clínicas para tratar doenças sanguíneas, envenenamento por monóxido de carbono (CO2) e envenenamento por cianeto. Contudo, o órgão avisa que MB não deve ser administrado com drogas psiquiátricas pois as reações no sistema nervoso podem ser sérias (FDA, 2011). Artigo de Hammond e colaboladores (2020) traz possíveis interações medicamentosas, recomendações de dosagem, um resumo dos estudos disponíveis e como o azul de metileno pode ajudar na doença de Alzheimer.
Indica-se também o azul de metileno para prevenção e logo nos primeiros sintomas da doença de Alzheimer pela sua eficácia em estágios iniciais da doença ((Hochgräfe et al., 2015). A farmacologia do azul de metileno para a doença de Alzheimer foi descrita em detalhes por Oz e colaboradores (2009). O AM é um medicamento e o uso deve ser prescrito e acompanhado por neurologista.
Por que o azul de metileno é tão especial?
A resposta para esta pergunta está em parte na estrutura química do AM. Um dos primeiros usos do AM foi como um indicador redox. Em sua forma oxidada, ele aceita elétrons de doadores de elétrons tornando-se azuis. Em sua forma reduzida e incolor, atua como doador de elétrons e pode transferir elétrons para o oxigênio para formar água. Além disso, os grupos únicos na estrutura da molécula permitem que o AM se auto-oxide e retenha sua atividade redox, apesar de reduzida.
Apesar do AM ser altamente solúvel em meio aquoso, sua natureza aromática (com anéis) confere lipofilicidade, permitindo que penetre nas membranas celulares, inclusive a barreira hematoencefálica. Assim, a molécula resultante é um poderoso antioxidante que pode ser direcionado ao cérebro.
O AM tem afinidade por várias oxidases, como enzimas das mitocôndrias. Estimula o consumo de oxigênio. Acumula-se nas mitocôndrias onde transporta elétrons evitando o estresse oxidativo. Porém, em doses altas passa a dificultar a respiração celular. O uso indicado é, portanto em baixas doses.
Além de seu efeito no metabolismo mitocondrial, o AM também modula a agregação de proteínas no cérebro reduzindo o risco de demências. Essa é uma incrível aplicação de um composto químico utilizado originalmente como um corante.