Probióticos e outras condutas no tratamento do intestino irritável

Nos últimos 100 anos, nosso modo de vida mudou dramaticamente. O estilo de vida moderno e tecnologicamente avançado nos traz inúmeras vantagens como o acesso à vacinas, unidades de tratamento intensivo, medicamentos, internet. Contudo, as facilidades também refletem-se na alimentação. Uma parte substancial da população consome diariamente alimentos ultra processados, geneticamente modificados e cheios de pesticidas. Estima-se ainda que 47% da população brasileira seja sedentária, o que aumenta ainda mais o risco de doenças como ataques cardíacos, derrame, depressão, diabetes…

O estilo de vida agitado contribui ainda para o altos níveis de estresse, afetando não só os sistema nervoso mas também o trato digestivo. Além de gases, prisão de ventre e sensação de má digestão, o mal funcionamento intestinal tem sido ligado também ao desenvolvimento de diversas alterações como artrite, diabetes, eczema, falta de libido, dores e fadiga. Quando nosso intestino não é saudável, todo o corpo está em risco. Isso ocorre porque os sistemas digestivo, imunológico, nervoso e endócrino se comunicam e interagem entre si. Quando o intestino não está funcionando adequadamente, as atividades dos outros sistemas também ficam comprometidas.

Desequilíbrio bacteriano, infecções patogênicas e inflamação crônica causam estragos em nosso sistema digestivo, causando sintomas desconfortáveis, esgotando nossa energia e contribuindo para condições crônicas e doenças graves. O intestino secreta enzimas, digere, absorve, defende-se. Pode ser uma surpresa, mas o revestimento do intestino faz tudo isso com apenas uma célula de espessura. Essas células intestinais formam a barreira, conhecida como barreira intestinal, que nos separa do mundo exterior. microb

Quando nossa microbiota está desequilibrada, experimentamos uma inflamação que causa hiperpermeabilidade ao revestimento intestinal. Isso significa que irritantes e toxinas caem com maior facilidade na corrente corrente sanguínea, danificando nossas células e prejudicando a função do cérebro e de outros órgãos vitais. Além disso, toda vez que uma partícula ou patógeno indesejado entra na corrente sanguínea, uma resposta imune é desencadeada.

Cerca de dez trilhões de bactérias vivem no corpo humano. A parte mais vital da sua saúde gastrointestinal é justamente esta comunidade bacteriana, também conhecida como microbiota. As bactérias boas (probióticas) são importantes para a resposta imune contra espécies patogênicas. Contribuem também para a digestão saudável, fabricam vitaminas, enzimas, hormônios. A microbiota varia de pessoa para pessoa devido a diferentes condições ambientais, como tipo de parto, medicamentos, infecções e exposição tóxica. Além disso, higiene, idade e genética também afetam a microbiota.

Os distúrbios na microbiota intestinal normal levam à translocação bacteriana (crescimento excessivo de bactérias em partes não ideais do TGI), disfunção da barreira intestinal (hiperpermeabilidade) e disbiose intestinal (desequlíbrio entre microorganismos “bons” e “ruins”). Quando tais questões não são tratadas a inflamação instala-se em todo o corpo, o que aumenta o risco de condições como síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, artrite reumatóide, esclerose múltipla e colite ulcerativa. Tais condições costumam ser acompanhadas de gases, diarreia e/ou prisão de ventre, sensibilidades alimentares, dores nas articulações, cansaço, erupções cutâneas, ansiedade, depressão, mudanças de humor, dor de cabeça, enxaqueca, alterações na tireóide.

A síndrome do intestino irritável (SII) vem se tornando cada vez mais comum

As queixas gastrointestinais estão entre as questões mais comuns entre meus clientes. Um passo importante é identificar os gatilhos para estes problemas. Pode ser o estresse, o estilo de vida apressado, a falta de tempo para descanso, o comer em pé, a mastigação rápida, o baixo consumo de frutas e verduras, o alto consumo de alimentos ultraprocessados, o contato com metais pesados, alimentos alergênicos, pesticidas, promotores de crescimentos ou outros compostos químicos tóxicos.

Para reparar o intestino precisamos nos afastar do que não nos faz bem e nos aproximar do que cura. A diversidade bacteriana intestinal pode ser recuperada com o u so de probióticos, prebióticos, glutamina, fibras alimentares diversas e dieta antiinflamatória. O American College of Gastroenterology conduziu uma metanálise de mais de 30 estudos, que descobriram que os probióticos podem melhorar os sintomas gerais, além de inchaço e flatulência, em pessoas com síndrome do intestino irritável (Ford et al., 2014). Foi relatado que a cepa probiótica Bifidobacterium bifidum MIMBb75 adere particularmente bem às células intestinais e, portanto, pode ter uma vantagem em alterar a microbiota intestinal e aumentar a barreira intestinal.

Em um ensaio clínico publicado na Aliment Pharmacology & Therapeutics, o Bifidobacterium bifidum MIMBb75, uma vez ao dia, melhorou significativamente os sintomas gerais da SII, bem como os sintomas individuais da SII, incluindo dor abdominal, inchaço e urgência fecal (Guglielmetti et al., 2011). Estudo de 2020 revelou ainda que mesmo probióticos inativos aliviam os sintomas da SII. No ensaio clínico de oito semanas, duplo-cego e controlado por placebo, publicado na Lancet Gastroenterology, os pesquisadores observaram uma melhoria de 30% ou mais da dor abdominal, inchaço, satisfação do movimento intestinal e qualidade de vida com o Bifidobacterium bifidum MIMBb75 em comparação com o placebo (Andresen, Gschossmann, & Layer, 2020). Os probióticos inativos têm várias vantagens potenciais sobre os probióticos ativos. Por exemplo, é mais provável que sejam estáveis, principalmente se expostos a calor excessivo. Probióticos inativos também são mais fáceis de padronizar do que probióticos ativos, além de serem mais seguros para pacientes com hiperpermeabilidade.

Outras condutas que melhoram o funcionamento intestinal

Alimentos e suplementos com propriedades anti-inflamatórias e calmantes também podem contribuir para a redução dos sintomas da SII. O extrato de aloe vera tem sido muito utilizado por inibir a produção de citocinas pró-inflamatórias - moléculas que promovem a inflamação. Além disso, os extratos de aloe vera reduzem os níveis de ácido gástrico no estômago, impedindo mais danos ao intestino com hiperpermeável.

O gengibre reduz os gases intestinais e acalma o trato intestinal, promovendo a motilidade e aumentando a produção de bile. Reduz a inflamação, traz alívio para a dor de garganta e o esôfago doloroso associado, por exemplo, ao refluxo.

O açafrão é uma das especiarias mais utilizadas em todo o mundo. É rico em antioxidantes e compostos anti-inflamatórios. Tudo isso graças ao seu ingrediente ativo, a curcumina - que também possui propriedades antiviral, antibacteriana e anticâncer. Também é eficazmente usado para tratar azia, inflamação e úlceras estomacais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/