O sistema digestório (ou gastrointestinal) compreende as partes do corpo envolvidas na ingestão e processamento dos alimentos, absorção e utilização dos nutrientes, além do descarte de resíduos. Começa na boca e vai até o reto, passando pelo esôfago, estômago, intestino delgado e grosso. Além disso, possui glândulas e órgãos anexos, na boca (salivares) e dentro da cavidade abdominal (fígado, vesícula biliar e pâncreas).
Muitos são os problemas digestivos. Você com certeza já enfrentou problemas que culminaram com diarreia ou constipação, gases ou arrotos, dor abdominal ou indigestão. Pois é, ninguém está livre. Mas nas pessoas com síndrome de Down a frequência de problemas relacionados ao sistema digestório costumam ser ainda maiores. Alterações clínicas e anatômicas como atresia de esôfago ou duodeno, megacólon, doença de Hirschsprung, doença celíaca são mais comuns, o que pode gerar mais dificuldades nos processos de engolir e digerir alimentos, absorver nutrientes ou eliminar dejetos. Sintomas como vômito, diarreia, constipação, refluxo e gastroenterites (infecções intestinais) podem aparecer e devem ser rapidamente investigadas.
Ao nascer, toda criança com síndrome de Down deve ser avaliada em sua capacidade de sugar e engolir normalmente. Em caso de dúvida, um pequeno tubo flexível pode ser passado para o esôfago do bebê para verificar se há algum bloqueio. Entre a boca e o estômago está o esôfago. Para digerir a proteína dos alimentos produzimos no estômago o ácido clorídrico. O estômago possui uma camada de muco que o protege contra o ácido. Se o conteúdo estomacal (alimento + ácido) volta para o esôfago este fica irritado e dolorido já que não possui o muco protetor. Se o bebê chora demais é sinal de que está com dor. Vômitos e perda de peso também são critérios importantes para que o médico pesquise o refluxo, que é mais comum na síndrome de Down devido ao baixo tônus muscular. Isso afeta o controle dos músculos da barriga, tornando o refluxo mais provável. Além disso, como as crianças tendem a demorar mais para adquirir uma posição sentada e em pé, elas correm mais risco de refluxo.
A hipotonia muscular também aumenta a frequência de constipação intestinal. Outro problema frequente é a doença de Hirschsprung, uma anomalia congênita que tem como característica intrínseca a ausência dos neurônios no intestino grosso, principalmente na parte final (cólon sigmóide e reto). Os principais sinais e sintomas da doença são a distensão abdominal que ocorre logo após o nascimento, com presença de vômitos e retardo de mais de 48 horas na passagem do mecônio. Deixada evoluir sem o tratamento precoce pode provocar retardo do desenvolvimento que, não raramente, culmina com a morte, quase sempre associada a enterocolites graves. O tratamento é cirúrgico e se resume na retirada do segmento sem inervação, com reconstrução imediata do trânsito intestinal.
Todos estes problemas podem resultar em ganho de peso insuficiente durante a infância. É importante que a criança seja acompanhada de acordo com curvas específicas para a síndrome de Down. Se o crescimento for insuficiente é bom investigar também a ocorrência de doença celíaca, problema autoimune causado pela reação ao glúten, proteína presente em alimentos que contenham trigo, cevada ou centeio. O glúten causa nestas crianças danos à superfície do intestino. Tais danos dificultam a absorção de nutrientes importantes ao desenvolvimento como ferro, zinco, vitaminas A, B6, B9, B12, D (Wiedsma et al., 2013).
Exames importantes na avaliação gastrointestinal incluem a ultrassonografia abdominal, a pesquisa de anticorpos antigliadina e antiendomísio (para doença celíaca). Outros exames como contrastes ou biópsias poderão ser necessários, dependendo do caso.