Cresci em uma casa com um quintal espaçoso em uma rua calma. Tenho lembranças de observar as formigas em suas trilhas, as joaninhas nas folhas, de comer amoras, jaboticabas e acerolas do pé. De mexer na terra e chegar com as unhas sujas em casa. Fazia com as amigas comidinhas com grama e flores para alimentar nossas bonecas. Tenho lembranças de correr descalça pela rua, de ser picada por marimbondo e abelha, de ralar os joelhos, de cair de bicicleta, de subir em árvores.
Quando cresci fui morar em um apartamento, minha mãe vendeu a casa, passei a correr de um lado para outro entre dois empregos. A apressar-me entre o trabalho e a busca da filha na escola. Comecei a ficar cada vez mais ansiosa e irritada. Adoeci várias vezes. Emendei mestrado, doutorado e pós-doutorado. Até que resolvi jogar tudo para o alto, parar e respirar. Voltei a caminhar mais pelos parques, a nadar mais na piscina, a andar mais de bicicleta, a meditar, praticar yoga, consumir os alimentos de acordo com preceitos do Ayurveda.
Voltar a viver de acordo com os ritmos da natureza e do próprio corpo é um grande desafio da vida moderna. Mas muito importante. Precisamos nos reconectar com quem nós somos, precisamos reequilibrar nossa energia, corpo e mente, sem prendermo-nos ao passado e ao futuro.
Hoje trabalho mais horas em casa do que na rua. Seleciono consultorias. Meu desafio maior é desconectar-me da internet. Por isso, quando saio com a família opto por deixar o celular em casa. Quando saio para caminhadas também. E é libertador. Sem checar mensagens e emails a toda hora conecto-me com o presente e com o que importa.
Esta semana minha mãe e minha sogra vieram nos visitar. Quero deixar as listas de tarefas de lado e construir memórias. Quero sentir o aperto de braços amorosos, não a pressão do excesso de compromisso. Quero me perder na conversa com pessoas amadas, ao invés de passar tempo olhando coisas sem importância na internet e na TV. Quero assistir o pôr do sol e não ser esmagada por uma agenda sobrecarregada que rouba minha alegria.
Precisa disso também? Coloque os pés na grama ou na areia, sente-se debaixo de uma árvore, faça caminhadas, vá acampar ou fazer uma pequena viagem. Observe como sente-se antes e depois. Quando nos conectamos novamente com o que importa (pessoas amadas e natureza) a cabeça areja e a energia volta.
Relembre: o que você fazia quando criança que o mantinha calmo, feliz, equilibrado? Retome os pequenos hábitos. Não enterre-se em afazeres, desejos, compras, redes sociais, grupos de WhatsApp. Se estiver com dores, faça exercícios simples de yoga (existem muitos vídeos gratuitos no YouTube). E coma de forma saudável. Alimentos frescos mantém corpo e mente saudáveis por muito mais tempo.