Alimentando recém-nascidos com Síndrome de Down

Ter um bebê é uma alegria e uma aventura incrível. Crianças dão novo sentido à vida familiar, trazem mais risadas para os lares, nos ensinam a viver e amar de maneira única, não importa se o bebê que chega é típico ou não. No caso de crianças com Síndrome de Down um dos primeiros desafios é a amamentação. A mesma deve ser tentada e encorajada já que fortalece o sistema imune do bebê, o protege contra doenças autoimunes e infecções respiratórias, fortalece a musculatura facial e também contribui para a recuperação materna e para o estabelecimento de um vínculo forte entre a mãe e o recém-nascido. 

Mas amamentar nem sempre é fácil. A mãe deve estar confortável, assim como o bebê. Se este for muito pequenininho deve ser posicionado sobre um travesseiro ou almofada para que alcance o bico do peito sem esforço. O bebê deve ser segurado bem perto do corpo da mãe, que deve estar relaxada, bem alimentada e hidratada. Fonoaudiólogos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, fisioterapeutas e familiares podem ajudar neste primeiro momento para que a mulher sinta-se mais confiante.

Profissionais de saúde capacitados também poderão avaliar o tempo que o bebê leva para mamar, se tem interesse na mamada, se permanece ativo no período em que está acordado, se dorme bem, se os reflexos estão presentes, se a deglutição se dá de forma adequada ou se o leite escorre pela boca, se há boa sincronia entre respiração e deglutição e, claro, se está ganhando peso dentro do esperado. Vários fatores podem interferir no aleitamento de uma criança com Síndrome de Down como o formato do palato, a posição da língua, a coordenação dos lábios, a presença de doenças cardíacas ou respiratórias.

Um recém nascido com Síndrome de Down ganha cerca de 113 gramas por semana e molha aproximadamente 6 fraldas ao dia a partir do 4o dia de vida. Obviamente estes números não são absolutos e dependem da semana gestacional em que o bebê nasceu, do quanto mama e de seu estado de saúde. Bebês que não conseguem sugar adequadamente, que dormem rapidamente ao peito ou cujas mães estão produzindo pouco leite (por estresse, por exemplo) podem receber poucas calorias e nutrientes ganhando pouco peso. Manter o bebê acordado enquanto mama fazendo-o esvaziar todo o leite de um peito antes de trocá-lo é muito importante. Para os bebês que não conseguem sugar o leite poderá ser ordenhado. Evite inserir mamadeiras precocemente (até a 4 semana de vida) pois neste período o bebê ainda está aprendendo a mamar no peito e esta é uma tarefa complicada. Paciência e apoio são fundamentais. 

Para as mães que estão ordenhando ou fornecendo fórmulas sempre surge a dúvida, será que o bebê está consumindo leite na quantidade adequada? Para bebês a termo (que nasceram entre a 39a e a 42a semana gestacional) a capacidade gástrica no primeiro dia de vida é de 5 a 7ml. O estômago é um músculo e vai crescendo junto com o bebê. Ao final do primeiro mês a capacidade gástrica pode chegar a 150 ml. 

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Uso de fórmulas infantis é alto no Brasil. O que isso significa para a saúde do bebê?

A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo pelos primeiros 6 meses de vida do bebê. Após a introdução de novos alimentos, recomenda-se ainda o aleitamento de forma complementar até os 2 anos de vida. 

Existem evidências científicas  de que o aleitamento materno protege mãe e bebê. Reduz a incidência de câncer de mama na mulher, contribui para a involução do útero após o parto e reduz os sangramentos. Também acelera a conexão emocional mãe-bebê.

Para os bebês as vantagens incluem ainda a redução da incidência de doenças alérgicas, incluindo a asma, a redução no número e severidade das diarreias, assim como o menor número de internações hospitalares por todas as causas.  Bebês amamentados por mais de 6 meses também parecem ter menor risco de desenvolverem déficit de atenção/hiperatividade e autismo (Sari, Milanaik, Adesman, 2016).

Contudo, no Brasil, apenas 41% das mulheres conseguem amamentar exclusivamente seus filhos até os 6 meses de vida. A capital onde a situação é melhor é em Belém, onde 56,1% das mulheres amamentam exclusivamente durante os primeiros 180 dias de vida do bebê. A capital com pior desempenho neste área é Cuiabá (Brasil, 2009).

A mediana do Brasil é muito ruim. A maior parte dos bebês são amamentados exclusivamente por apenas 54 dias. Ao serem desmamadas as crianças passam a receber fórmulas infantis. Estudos mostram que a substituição do leite materno pelos famosos leites em lata associa-se a maior risco de alergias, obesidade, disbiose intestinal, prisão de ventre, compromentimento do desenvolvimento, maior risco de autismo (Adesman, Soled & Rosen, 2017; Menlnik et al., 2012; Shi-Sheng et al., 2013).

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Estas questões devem-se às limitações das fórmulas infantis que não são perfeitas como o leite materno. Em geral, são mais ricas em aminoácidos, especialmente leucina, possuem uma quantidade de vitaminas superior à do leite materno (podendo gerar uma cascata oxidante), redução de pré e próbióticos, assim como de compostos imunomoduladores e ácidos graxos essenciais.

Crianças que são alimentadas com fórmulas também são mais intoxicadas por bisfenol A (Adesman, Soled & Rosen, 2017) e outros bisfenóis e fitalatos, compostos oriundos de plástico (de recipientes e mamadeiras) que prejudicam o sistema nervoso e o funcionamento de diversas glândulas.

Leite de vaca é pobre em ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) comprometendo o neurodesenvolvimento. Algumas fórmulas vem adicionadas de PUFAs, como DHA e ácido araquidônico (ARA). Contudo, estudos mostram que o acréscimo de PUFAs às fórmulas não promove os mesmos benefícios do leite materno (Jasani et al., 2017).

Grande parte das fórmulas contém ingredientes que não são interessantes para bebês incluindo óleo de palma, oleína de palma, xarope de milho, óleo de canola, lecitina de soja. As fórmulas também podem ser fontes de contaminação por alfatoxinas, metais pesados (Akhtar et al., 2017) e glicotoxinas que aumentam o risco de diabetes, insuficiência renal, doenças hepáticas e neurodegenerativas (Kutlu, 2016). Por outro lado, algumas fórmulas são acrescentadas de pré e probióticos, fibras, ômega-3. O ideal é sempre amamentar. Se não puder converse com seu nutricionista e pediatra para que possam juntos avaliar a melhor alternativa para seu bebê.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Relatório sobre a qualidade do leite vendido para bebês em diferentes países

Nasci em 1975 e minha mãe conta que já saiu da maternidade com uma lata de leite debaixo do braço, cortesia da clínica e da Nestlé. Apesar das evidências crescentes de que o leite materno era o alimento ideal para o bebê as gigantes do leite intensificavam suas estratégias de vendas junto a pediatras.

A nestlé conseguiu dominar até a Sociedade Brasileira de Pediatria que tinha gravado em todas as suas publicações a marca Nestlé. Além da Nestlé, outras empresas como a Danone, Mead Johnson e Abbot patrocinam eventos, congressos e até a reforma do consultório pediátrico! Como indicar o aleitamento materno quando tantos "presentes" são indicados pela indústria?

Agora, a Nestlé está tendo que se defender novamente. A empresa diz que seus produtos "copiam da melhor forma possível o leite materno". Já o grupo Changing Markets Foundation mostra que em cada continente o produto tem uma fórmula. O leite para bebês comprado nos EUA é muitas vezes diferente daquele comprado na Europa ou na Ásia. De acordo com os ativistas holandeses o lucro vem bem antes da ciência. 

A Nestlé rebate dizendo que incentiva o aleitamento materno e segue recomendações internacionais para formulação e venda de seus produtos. Mas a verdade é que a empresa alega que seus produtos são os melhores para "bebês famintos", para o combate à prisão de ventre, para o refluxo... Para ler o relatório completo com o comparativo das fórmulas infantis em diferentes países clique na imagem.

Baixe também o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos, publicado pelo Ministério da Saúde e disponível para download gratuito na internet.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/