Alimentação na gestação influencia a saúde dos filhos por toda a vida.

Durante a gravidez o corpo da mulher muda. Durante cerca de 40 semanas o óvulo fecundado se desenvolverá transformando-se em um bebê com cerca de 3,5 kg. O crescimento do bebê, da placenta, do útero, das mamas, do volume sanguíneo aumenta as necessidades da mulher que precisa modificar a própria alimentação.

A gestante possui uma maior necessidade energética (entre 330 kcal e 452 kcal a mais do início ao final da gravidez), de proteína, ácidos graxos essenciais e micronutrientes (ácido fólico e ferro). Mulheres que já engravidam com carências nutricionais podem ter demandas ainda maiores. A figura a seguir lista nutrientes e necessidades dietéticas maternas antes, durante e depois da gestação (Perng et al., 2017):

Por exemplo, vários micronutrientes são importantes para a implantação do óvulo no útero (como B12, vitaminas D e E, folato, cobre, iodo, selênio e zinco). A produção hormonal e vascularização da placenta também depende destes nutrientes, com excessão do iodo. Por outro lado, o fero torna-se fundamental.

A carência de nutrientes pode comprometer então a capacidade de conceber, a duração da gestação, o crescimento e desenvolvimento do feto, seu tamanho, aumentar o risco de defeitos na formação, de distúrbios metabólicos e prematuridade (Gernand et al., 2016).

Agora, de nada adianta uma dieta saudável ou o uso de suplementos se estes não forem absorvidos. Por isso, a microbiota, o conjunto de microorganismos que habitam o intestino, precisa ser muito saudável. A microbiota da mulher relaciona-se também com vários aspectos da saúde. Quando está em desequilíbrio, TPM, risco de miomas, infertilidade e endometriose aumentam. Probióticos (bactérias boas) podem ser suplementados, caso necessário (discuto mais sobre o tema no curso online sobre disbiose intestinal).

A suplementação de probióticos na gestação pode ajudar a manter os níveis de colesterol e açúcares em níveis mais saudáveis. Também parece reduzir o risco de diabetes gestacional e pré-eclâmpsia o colesterol total e LDL, diminuiu o ganho de peso nas últimas 2 semanas, uma diminuição maior em glicemia de jejum e menor resistência à insulina (Arango et al., 2018 - pp. 275-288).

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Mesmo com a suplementação de probióticos, as bactérias não sobrevivem muito tempo se não houver uma disponibilidade adequada de nutrientes e fibras. Assim, a variedade de alimentos e uma dieta adequada são importantíssimos, garantindo o adequado desenvolvimento do bebê, melhorando a imunidade de mãe e filho. A microbiota materna também metabolizará substâncias diversas, incluindo medicamentos e toxinas. Alguns subprodutos desta metabolização serão absorvidos passando pela corrente sanguínea para o bebê, que aprenderá como lidar com os mesmos (Macpherson et al., 2017).

Ou seja, dependendo do que a mãe consumir durante a gestação, a sua microbiota será mais ou menos saudável. O sistema imune do bebê será mais ou menos treinado e isto influenciará a sua saúde não só ao nascimento, mas por toda a vida. Deseja engravidar ou está grávida? Agende uma consultoria. Será um prazer atender-te.

Extra: no módulo 9 do meu curso de yoga converso mais sobre nutrição na gestação e ensino as técnicas de yoga e meditação apropriadas para a gestante praticar em casa.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Apesar de todo o movimento de positividade corporal, que é muito importante, os estudos são unânimes: obesidade não é saudável

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Amar o corpo é importante, mas amar o corpo e descuidar dele não é inteligente. Muito se fala sobre a possibilidade de sermos saudáveis com qualquer corpo. Mas esta é uma verdade parcial. Um corpo magérrimo de fato não é realista para a maioria das pessoas.

Olhe em volta em sua própria família e terá uma noção sobre sua genética e o formato mais comum que seu corpo assumirá com o passar dos anos. Mas não use este dado como determinante de seu destino. Vários estudos mostraram que os portadores dos chamados genes da obesidade de fato sentem mais fome, consumindo diariamente, em média 125-280 kcal a mais em relação às pessoas que não possuem a mesma genética. Por outro lado, estudos mostram que a atividade física ajuda a regular genes, como o FTO, mantendo o peso estável ao longo dos anos.

Outra questão;: somos todos diferentes, nosso corpo é único. Mas precisamos lembrar que mesmo quando os parâmetros bioquímicos estão dentro do normal, pessoas obesas ainda enfrentam maior risco de desenvolverem diabetes tipo 2, doenças renais crônicas, além de terem uma maior mortalidade precoce. Você tem o direito de definir suas prioridades e tomar as decisões que sejam coerentes com seus valores e desejos. Pode escolher por exemplo, viver a base de bolo e pizza. A vida é sua, o corpo é seu e você não é pior do que ninguém por ter tomado esta decisão. Uma calça tamanho 38 não é melhor do que uma calça tamanho 48. Não é esta a questão. A questão é: a obesidade é como o cigarro. Assim como ninguém desenvolve câncer de pulmão após a primeira tragada, ninguém desenvolve diabetes após o primeiro pote de sorvete. Ou seja, apesar de os danos não serem visíveis, ou detectáveis em exames inicialmente, definitivamente estão lá.

Por exemplo, um estudo de 2013 investigou as consequências da obesidade a longo prazo. Comparou pessoas saudáveis ​​com peso normal e pessoas aparentemente saudáveis, mas obesas. Estas últimas tiveram um risco significativamente maior de morrer ou desenvolver doença cardiovascular. Os cientistas que realizaram o estudo chegaram à conclusão de que a crença de que você pode ser “gordo, mas saudável” é na verdade um mito (Kramer, Zinman & Retnakaran, 2013).

Pesquisa de 2015 confirmou esses resultados. Acompanhou indivíduos obesos supostamente saudáveis ​​por mais de 20 anos e descobriu que mais da metade desenvolveu problemas de saúde. O risco de adoecer foi 8 vezes maior do que nas pessoas saudáveis com peso normal. Dentre os problemas que surgiram destacam-se: diabetes, doença cardiovascular, câncer, apnéia do sono, artrite / problemas nas articulações, problemas de fertilidade, asma, dor nas costas, incontinência, gota e derrame (Bell et al., 2015).

A ilusão de que está tudo bem é rompida quando o obeso fica sem fôlego ao subir um lance de escadas, quando não consegue agachar-se, ou alcançar os pés para dar o laço no cadarço. Existem obesos que correm maratonas? Sim, um exemplo é Ragen Chastain. Mas lembre: sua média foi de 3,5 km por hora, que é muito mais lenta que a velocidade de caminhada de uma pessoa de fato apta fisicamente. A maratona havia terminado oficialmente horas antes de ela cruzar a linha de chegada - as arquibancadas foram removidas, os organizadores foram embora. A última participante a completar a corrida, várias horas antes de Chastain, era uma mulher de 70 anos.

Claro, todo mundo tem que começar do seu próprio nível de condicionamento físico. Orgulhe-se de seu próprio desenvolvimento e progresso individual. Esteja satisfeito com cada fase, viva a vida plenamente independentemente do seu peso. Viver insatisfeito(a) e declarando isso aos 4 ventos, viver de dietas restritivas é muito ruim para a saúde física e emocional. Mas fechar os olhos para a obesidade também pode ser. Estamos em uma encruzilhada: não podemos falar do peso das pessoas. Ao mesmo tempo, já ouvi muitas vezes no consultório grandes obesos relatando: ¨nunca ninguém me disse para emagrecer, achava que estava tudo bem¨. A obesidade é um tabu. Definitivamente não defendo uma vida de privações. Adoro minha cerveja e meu chocolate. Adoro sair para comer. Meu marido também. Acredito que podemos ser sim saudáveis dentro de uma variedade de corpos, mas e dentro de um corpo obeso?

Obesidade: uma doença

Em 2013, membros da Câmara de Delegados da Associação Médica Americana (AMA) votaram em sua conferência anual para definir a obesidade como uma doença. A decisão foi considerada extremamente controversa mas mantiveram a posição visto que existem componentes genéticos envolvidos, além de poder estar associada a outras questões como hipotireoidismo, doença de Cushing e síndrome dos ovários policísticos. Outras organizações também reconhecem a obesidade como uma doença, incluindo a Organização Mundial de Saúde, a Federação Mundial de Obesidade e a Associação Médica Canadense.

Nem todos os especialistas concordam

Um dos motivos da controvérsia sobre o tema é o fato de não existir uma forma clara de medir a obesidade. O Índice de Massa Corporal não aplica-se a todos. Além disso, a obesidade está muito relacionada à fatores emocionais, ao estilo de vida e às escolhas individuais, como hábitos alimentares e prática de atividade física. Grupos que defendem a aceitação de todos os tamanhos, expressaram preocupação de que a definição da obesidade como uma doença aumente a discriminação e o estresse na vida das pessoas. O debate continuará acerca da terminologia. Falo mais sobre o tema neste artigo , publicado na revista científica DEMETRA.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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