Importância do ômega-3 na gestação e primeira infância

O tecido cerebral é abundante em ácidos graxos ômega-3, com o DHA compreendendo aproximadamente 30% dos lipídios do cérebro. O ômega-3 é um modulador de membranas celulares, tem ação antiinflamatória e antioxidante. A importância dos ácidos graxos ômega-3 na saúde neurocognitiva começa no útero e continua ao longo da vida.

Gravidez, ômega-3 e neurodesenvolvimento

O status materno de ômega-3 é um fator importante para o neurodesenvolvimento fetal e infantil. Bebês cujas mães ingerem mais ômega-3 na gestação exibem maiores volumes no córtex frontal e no corpo caloso, áreas do cérebro envolvidas na consciência, comunicação, memória, atenção e integração motora, sensorial e função cognitiva entre os hemisférios do cérebro.

O DHA, em particular, influencia o desenvolvimento mental e psicomotor. A quantidade de DHA presente no leite materno é fortemente influenciada pela dieta e estilo de vida da mãe. Por exemplo, quando mulheres lactantes tomaram um suplemento dietético contendo 400 miligramas de DHA, seu leite materno continha 123% mais DHA do que o leite materno de mulheres que tomaram placebo.

Um estudo envolvendo pares mãe-filho, quando as crianças tinham seis meses (mais de 82.000 pares) e 12 meses (mais de 77.000 pares), constatou que as crianças cujas mães consumiram peixes ou ácidos graxos ômega-3 durante a gravidez eram menos probabilidade de experimentar atrasos na resolução de problemas aos seis meses de idade e em habilidades motoras finas e resolução de problemas aos 12 meses de idade. Além disso, eram menos propensos a sintomas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

O ômega-3 no cérebro é importante para a mielinização de neurônios, para o controle da neuroinflamação, para a produção de neurotransmissores (como serotonina e dopamina), para modulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e para o equilíbrio entre glutamato e GABA.

Mesmo com toda esta importância, dados epidemiológicos indicam que a maioria das mulheres grávidas ou mulheres em idade fértil não consome fontes dietéticas suficientes de ácidos graxos ômega-3, colocando-as em risco de desnutrição materna, crescimento fetal prejudicado e resultados de gravidez insatisfatórios.

Especialistas em saúde pública recomendam que as mulheres grávidas consumam aproximadamente 500 miligramas de DHA por dia por meio da ingestão de peixes com baixo teor de mercúrio. Estudos também mostram que a suplementação com 1.000 miligramas de DHA (fornecido em óleo de algas) diariamente foi superior a 200 miligramas na redução do nascimento prematuro precoce, particularmente em mulheres com baixo nível basal de DHA.

Ômega-3 na infância

Entende-se por neurodesenvolvimento uma sequência de eventos que inicia-se na vida uterina e termina ao final da adolescência, levando ao crescimento físico, bioquímico e biológico do cérebro. Esta série de processos envolve etapas como a neurogênese, gliogênese, poda neural etc. Momentos em que estes processos estão mais ativos são janelas de oportunidade para atuarmos, melhorando o neurodesenvolvimento e evitando prejuízos futuros. Além de estímulo, educação escolar e amor, precisamos de nutrientes adequados para que possamos nos desenvolver bem em cada fase. Um destes nutrientes é o ômega-3.

Estudos indicam que pessoas com TDAH, especialmente crianças, tendem a ter níveis mais baixos de ômega-3 no corpo. Esses ácidos graxos são importantes para a saúde cerebral e podem influenciar aspectos como a concentração, o comportamento e a memória.

Uma análise de estudos que investigaram os efeitos das intervenções dietéticas nos sintomas associados ao TDAH descobriu que as dietas de eliminação (dietas que excluem alimentos que desencadeiam os sintomas) e a suplementação com óleo de peixe mostraram-se as mais promissoras.

Os resultados de um estudo randomizado controlado indicam que os níveis sanguíneos de DHA preveem o quão bem as crianças se concentram e aprendem. O estudo envolveu 362 crianças com idades entre sete e nove anos que tinham habilidades de leitura abaixo da média, com a maioria das crianças lendo em níveis cerca de 18 meses antes de suas idades cronológicas. Cada uma das crianças tomou 600 miligramas de DHA suplementar por dia ou um placebo por 16 semanas. Os pesquisadores observaram pequenas melhorias entre aqueles que estavam lendo nos níveis mais baixos, com crianças lendo no percentil 20 ganhando quase um mês em termos de idade de leitura. nível e aqueles lendo no 10º percentil ganhando quase dois meses – aproximadamente uma melhoria de 50 por cento acima do que seria normalmente esperado.

Outro estudo descobriu que crianças (de dois a seis anos) com os níveis mais altos de ácidos graxos ômega-3 totais (especialmente DHA) tiveram melhor desempenho em testes de função cognitiva.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Desenvolvimento cerebral infantil

Há um crescimento muito acelerado nos primeiros 1.000 dias (toda a gestação e dois anos após nascimento), mas a neuroplasticidade permanece ao longo da vida. O bebê tem um cérebro com 70% do tamanho do cérebro de um adulto. Como é um órgão com taxa de crescimento acelerado, a insuficiência de nutrientes pode gerar danos (alguns permanentes).

Ao final do período embrionário, por volta da 8.ª semana gestacional, as estruturas rudimentares do cérebro são estabelecidas e os compartimentos principais dos sistemas nervosos central e periférico são definidos. Entre os 2.º e 4.º meses de gestação, a grande produção e proliferação de neurônios e de células da glia.

A partir dos 5 meses de gestação até o pós-parto, há a proliferação de células da glia. Conforme estas células se proliferam e diferenciam, migram do local de origem para diferentes regiões do cérebro. Ali conectam-se com neurônios (Mattei, & Pietrobelli, 2019).

O cérebro é um órgão heterogêneo composto de diferentes regiões anatômicas (hipocampo, córtex, corpo estriado) e processos (mielinização, produção de neurotransmissores, etc.). Cada região e para cada processo há necessidade de nutrientes. Praticamente TODOS os nutrientes são necessários ao cérebro.

Nutrientes importantes antes da gestação, essenciais para implantação e para o desenvolvimento fetal (Gernand et al., 2016).

Um dos pontos negligenciados e que afetam a neuroplasticidade e o neurodesenvolvimento é o cuidado com o intestino, tanto na gestação, quanto na infância. Explico neste vídeo.

O período de mielinização dos neurônios é longo, sendo rápido e dramático do segundo trimestre gestacional até os 2 anos pós-parto, continuando pela vida adulta. A eficiência da neurotransmissão depende da boa mielinização, que, por sua vez, é dependente de nutrientes como ferro, colina e ômega-3.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Dieta cetogênica na gestação: mais pesquisas são necessárias

As mulheres que planejam engravidar devem ser aconselhadas a evitar dietas restritivas com baixo teor de carboidratos. Existem poucos estudos na área e os já publicaram mostraram evidências de que as mulheres que engravidam fazendo dietas de baixo teor de carboidratos têm maior 30% mais chance de gerar bebês com defeitos do tubo neural e QI infantil reduzido.

Contudo, muitos dos estudos realizados são criticados pois não levaram em conta outros fatores que afetam o QI da infância, como status socioeconômico, educação dos pais, QI dos pais e anormalidades neurológicas e metabólicas nas crianças.

De qualquer forma, uma das preocupações é que a produção de corpos cetônicos é maior na gravidez devido a alterações no metabolismo materno. Estudos observacionais prospectivos de longo prazo e metodologicamente rigorosos são necessários para examinar a relação entre os níveis séricos de cetona materna, os resultados adversos do feto e o QI infantil (Tanner et al., 2021).

Enquanto a dieta cetogênica clássica não é recomendada na gravidez, adaptações podem ser feitas, especialmente em gestantes com risco de desenvolvimento de diabetes ou diabetes gestacional já diagnosticado. Dentre as opções estão a redução de carboidratos totais e de alto índice glicêmico.

Para a Associação Americana de Diabetes (ADA, 2022), 175 g de carboidratos são recomendados para o gerenciamento do diabetes na gravidez, ou 35% das calorias com base em uma dieta de 2.000 calorias.

Outra consideração é a adequação do folato da dieta. Mulheres com dietas mais pobres em carboidratos possuem menos folato circulante, o que também contribui para o risco de problemas do tubo neural. Vegetais de folhas verdes (como espinafre, rúcula, couve, agrião), abacate são ricos em fólico e devem estar presentes em abundância na dieta para reduzir risco de mal formação fetal. A suplementação de 400mcg de folato também é recomendada.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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