Ômega-3 e transtornos do espectro autista

Os transtornos do espectro autista (TEA) são desordens complexas que afetam o desenvolvimento neurológico. Sua prevalência na população vem aumentando, existindo uma série de hipóteses para o seu aparecimento. Pesquisas sugerem alterações genéticas associadas a fatores neurológicos e ambientais (como infecções, intoxicações durante o período pré-natal, exposição à agrotóxicos, prematuridade e deficiências nutricionais).

O autismo caracteriza-se pelos déficits de comunicação e interações sociais e pelos comportamentos repetitivos e interesses restritos. O tratamento multidisciplinar envolve terapias de comunicação, comportamento e linguagem, medicação, fisioterapia e modificações alimentares, com exclusão de certos grupos de alimentos e suplementação de nutrientes específicos que diminuam o risco de carências nutricionais, aumentem a proteção do sistema nervoso e reduzam a permeabilidade intestinal

O tratamento dos TEAs é dependente de estratégias comportamentais e educacionais intensivas, iniciadas precocemente. Terapias farmacológicas (uso de medicamentos) também vem sendo estudadas, principalmente para o controle da irritabilidade.

Em relação à suplementação, o uso está focado na correção de alterações no metabolismo. O ômega-3, por exemplo, vem sendo investigado com o intuito de melhorar o funcionamento do cérebro e reduzir o déficit de linguagem. Este lipídio é composto pelos ácidos graxos eicosapentaenóico (EPA) e docosahexanóico (DHA), os quais são importantes para o desenvolvimento e função cerebral.

EPA e DHA são componentes importantes das membranas das células nervosas e fundamentais para o desenvolvimento neurológico. Crianças com autismo tendem a ter menos níveis de ômega-3 circulantes, por isto a suplementação é comum. Contudo, os estudos são controversos.

Estudo de Ooi e colaboradores (2015) avaliou o efeito da suplementação de 1g de ômega-3 (EPA + DHA) por dia em 41 crianças e adolescentes com TEA, por 12 semanas. Observaram melhoras significativas em termos de atenção e redução de problemas sociais. Em uma pesquisa publicada em 2015 na revista Molecular Autism, Mankad e colaboradores relataram os resultados da suplementação de 1,5g de EPA e DHA para 38 crianças com idades entre 2 e 5 anos. Contudo, a suplementação não resultou em melhoria de sintomas como agressividade e hiperatividade após 6 meses de uso.

A suplementação de ômega-3 também não foi capaz de melhorar tais sintomas em adultos (Politi et al., 2008). Revisão sistemática publicada por James e colaboradores em 2011 também apontou o mesmo resultado. Os autores estudaram os efeitos do ômega-3 sobre as principais características e sintomas associados ao TEA. Realizaram meta-análise dos estudos selecionados por três principais características: interação social, comunicação e comportamentos estereotipados, além de hiperatividade, considerada uma característica secundária. Da análise de oito artigos, somente dois ensaios clínicos foram incluídos totalizando 37 crianças autistas com algum nível de deficiência intelectual. Não foi evidenciado efeito do ômega-3 sobre a interação social, comunicação, comportamentos estereotipados ou hiperatividade. Os autores concluíram que mais ensaios clínicos randomizados são necessários, além de um período de seguimento maior.  

Desta forma, ainda não existem evidências de que o ômega-3 seja eficaz no tratamento do autismo, apesar de sua importante função neuronal e benefícios para o tratamento da depressão e redução da progressão de outras doenças como Parkinson

Por isto, a recomendação é incluir fontes de ômega-3 na própria dieta, adotando-se como proteína animal o peixe, pelo menos duas vezes por semana, e fontes vegetais como linhaça e outras sementes. Se optar por suplementar ômega-3 adote um com quantidades muito baixas de mercúrio e procure um nutricionista para conversar sobre a suplementação concomitante de outros antioxidantes que irão evitar a oxidação deste nutriente.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dietas anti-envelhecimento emagrecem!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Proteína para hipertrofia

Proteínas fornecem aminoácidos, nutrientes essenciais ao ganho de massa magra. Contudo, o consumo excessivo de carboidratos não resulta em maior ganho de musculatura. Hoffman e colaboradores (2006) compararam o consumo de proteínas no ganho de força, composição corporal e alterações hormonais de atletas de futebol americano experientes em treino de musculação. Os mesmos foram divididos em 3 grupos: 

1 - Consumo mais baixo de proteína (1,0 a 1,4g de ptn/Kg/dia);

2 - Consumo médio de proteína (1,6 a 1,8 g de ptn/Kg/dia);

3 - Alto consumo de proteína (> 2,0 g de Ptn/kg/dia). 

Todos os indivíduos praticaram musculação em alta intensidade por 4 semanas. Ao final do estudo foi observado que os grupos tiveram os mesmos resultados em relação ao ganho de força, aumento da massa muscular e perda de gordura. As concentrações de testosterona, cortisol, GH e IGF-1 também não apresentaram diferença estatística entre os grupos. Ou seja, consumir mais proteína não gerou maiores benefícios.

Por outro lado, o consumo excessivo de aminoácidos como metionina, presente em grande quantidade em carnes aumenta o risco de doenças e a mortalidade (Cavuoto e Fenech, 2012López-Torres e Barja, 2008McCarty, Barroso-Aranda J, Contreras, 2008). Paoli e colaboradores (2015) trouxeram um dado novo. Dietas com mais de 1,8g de proteína por Kg de peso aumentam a produção de miostatina e esta reduz o IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina), limitando a hipertrofia. Os pesquisadores ainda estão intrigados com o resultado deste consumo crônico de proteínas e agora estudam o comportamento de moléculas sinalizadoras musculares como o mTOR e Akt.

Por horário 0,25g/Kg são mais do que suficientes (Philips, 2014). Mais do que isso não parece trazer benefícios. Ou seja, o limite fica em 20g para uma pessoa de 80kg (Atherton e Smith, 2012). O consumo de cerca de 0,25g/Kg próximo ao exercício resistido (no espaço entre 1h antes até 1h depois) aumenta a resposta anabólica. Para calcular quanta proteína você precisa ingerir em cada refeição multiplique seu peso por 0,25. Por exemplo, para uma mulher de 56 kg, multiplica-se este peso por 0,25. O resultado será 14 gramas de proteína por horário. Para saber a quantidade de proteína existente nos alimentos acesse as tabelas em anexo. Outra forma é utilizar calculadoras como o myfitness pal que está disponível em português.

Lembretes:

1. Estudos mostram que mesmo quantidades mais baixas de proteína na dieta geram hipertrofia (0,85g-1,25g/Kg), caso a dieta forneça todos os aminoácidos essenciais e também energia em quantidade adequada. 

2. Refeição com 0,25g/Kg de proteína aumentam a resposta anabólica. A refeição pode ser composta de alimentos como ovos, carnes, laticínios ou mesmo suplementos proteicos.

3. Suplementos não são necessários para a maioria das pessoas já que a dieta padrão do brasileiro já fornece ao menos 1,5g ptn/Kg. 

4. Quando busca-se o emagrecimento, sem perda de massa magra, pesquisadores como Murphy e colaboradores (2015) sugerem um consumo maior de proteínas (1,6 a 2,7g/kg/dia). Uma das explicações para a maior queima de gordura com tal prescrição é que a proteína aumenta a termogênese induzida pelo alimento. Fora isso, uma refeição com mais proteínas mantém o alimento por mais tempo no estômago, reduzindo a velocidade de absorção dos carboidratos, reduzindo a liberação de insulina, o que favorece o emagrecimento, além de promover maior saciedade.

5. Você precisa saber o que quer mas não precisa saber calcular. Não se desespere, um nutricionista fará isso por você.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/