Surtos de doenças pelo mundo

As primeiras semanas de outubro de 2018 registraram no mundo surtos de chikungunya, doença do vírus Ebola, cólera, varíola símia e MERS-CoV (Síndrome respiratória por coronavírus do Oriente Médio), todas de potencial pandêmico e epidêmico. O Brasil, especificamente, já teve 3 surtos de doenças em 2018: um de sarampo e dois de febre amarela.

Sarampo

De 1º de janeiro a 23 de maio de 2018, foram relatados 995 casos de sarampo, principalmente no Amazonas (n = 611) e em Roraima (384). Destes casos, 114 foram confirmados laboratorialmente (30 no Amazonas e 84 em Roraima), incluindo dois óbitos. Oitenta e três casos foram descartados e 798 permanecem sob investigação.

No Amazonas, dos 84 casos confirmados, 58 estão entre os venezuelanos (69%), 24 brasileiros (28,6%), um da Guiana (1,2%) e um argentino (1,2%). De todos os casos confirmados, 34 são indígenas. Duas mortes por sarampo ocorreram entre os venezuelanos do município de Boa Vista. Os dois estados fizeram depois uma campanha de vacinação mas é importante lembrar que o sarampo é uma doença viral altamente contagiosa. A higiene é fundamental já que o vírus é transmitido através de gotículas do nariz, boca ou garganta de pessoas infectadas.

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Os sintomas iniciais, que geralmente aparecem 10 a 12 dias após a infecção, incluem febre alta, geralmente acompanhada por um dos seguintes sintomas: nariz escorrendo, olhos vermelhos, tosse e pequenas manchas brancas no interior da boca. Vários dias depois, uma erupção cutânea desenvolve-se, começando na face e pescoço superior e gradualmente se espalhando para baixo.

Um paciente é infeccioso quatro dias antes do início da erupção a quatro dias após o aparecimento da erupção cutânea. Não há tratamento antiviral específico para o sarampo, e a maioria das pessoas se recupera dentro de duas a três semanas. O tratamento de casos inclui administração de vitamina A e remédios para febre. Nas crianças desnutridas o sarampo pode causar sérias complicações, incluindo cegueira, encefalite, diarréia grave, infecção no ouvido e pneumonia.

Para a Organização Mundial de Saúde, o risco de disseminação no Brasil continua elevado devido à situação epidemiológica e ao alto potencial de transmissão. Os principais desafios são a cobertura vacinal entre os imigrantes e a capacidade de diagnóstico laboratorial nas instalações locais.

Febre Amarela

Entre 1º de julho de 2017 e 28 de fevereiro de 2018, 723 casos humanos confirmados de febre amarela foram registrados no Brasil, incluindo 237 mortes; esse número é superior ao relatado para o mesmo período de 2016/2017 (576 casos confirmados, incluindo 184 óbitos). Este aumento é provavelmente devido ao vírus da febre amarela circulando em áreas do país que têm a população mais concentrada e que vivem em áreas onde a vacinação contra a febre amarela não era recomendada anteriormente.

Casos confirmados foram relatados (em ordem decrescente) nos estados de Minas Gerais (314 casos, incluindo 103 óbitos), São Paulo (307 casos, incluindo 95 óbitos) e Rio de Janeiro (96 casos, incluindo 38 óbitos), Espírito Santo. (5 casos confirmados, sem mortes) e no Distrito Federal (1 caso fatal).

No estado de São Paulo, 39,7% dos casos confirmados tinham um provável local de infecção no município de Mairiporã (uma área rural localizada a 15 km ao norte do município de São Paulo). No Estado do Rio de Janeiro, 46,8% dos casos confirmados foram entre os residentes dos municípios de Angra dos Reis (18 casos e sete óbitos), Valença (15 casos e cinco óbitos) e Teresópolis (12 casos e seis óbitos). Esses municípios estão localizados em uma faixa de 96 e 162 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, 28,3% dos casos confirmados residem em municípios localizados ao sul e sudeste da cidade de Belo Horizonte, e onde nenhum caso humano foi detectado durante o surto no período sazonal 2016/2017. Os locais prováveis ​​de infecção para todos os casos confirmados correspondem a áreas com epizootias documentadas em primatas não humanos.

Além disso, o número de casos confirmados de febre amarela em viajantes internacionais não vacinados aumentou dos sete casos relatados anteriormente (um na França e um na Holanda, dois de cidadão argentino, três de cidadãos chilenos) para um total de dez casos. Os três casos mais recentes foram relatados em viajantes da Argentina (um caso), mais recentemente na Romênia (um caso) e na Suíça (um caso). Prováveis ​​locais de infecção para esses casos estão sob investigação e são prováveis: Mairiporã / Atibaia (um caso), Ilha Grande, município de Angra do Reis (oito casos), Brumadinho, Minas Gerais (um caso). Foi anunciada uma campanha de vacinação em janeiro, tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Paulo.

O vírus da febre amarela é transmitido aos macacos por mosquitos residentes na floresta, como Haemagogus e Sabethes ou na cidade pelo Aedes aegypti. Os seres humanos expostos a estes mosquitos podem ser infectados se não forem vacinados. A vacinação é a medida mais importante para prevenir a febre amarela. A vacina tem sido usada por muitas décadas, é segura e acessível, oferecendo imunidade efetiva contra a febre amarela em 10 dias para mais de 90% das pessoas vacinadas e em 30 dias para 99% das pessoas vacinadas. Uma única dose fornece proteção ao longo da vida.

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O verão aproxima-se novamente e quem não está vacinado, precisa vacinar-se. Viajantes internacionais também devem ser comunicados antes de viajarem a áreas de risco. A comunicação de risco refere-se ao intercâmbio de informações, conselhos e opiniões em tempo real entre especialistas e pessoas que enfrentam ameaças à sua saúde, bem-estar econômico ou social. O objetivo final da comunicação de risco é permitir que as pessoas em risco tomem decisões informadas para proteger a si e seus entes queridos. A comunicação de risco usa muitas técnicas de comunicação, desde comunicações de mídia e mídia social, comunicações de massa e envolvimento da comunidade.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Papel da comunicação para a eliminação das disparidades em saúde

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A comunicação em saúde pode ser definida como o estudo e uso de métodos para informar e influenciar os comportamentos de forma a melhorar a saúde de indivíduos e da população.  Quando a comunicação em saúde é feita de forma mais eficiente há aumento do conhecimento e da conscientização das pessoas acerca de temas importantes da áera.

No entanto, esforços isolados de comunicação em saúde, feitos em blogs como este, sem apoio político e de instituições importantes geram poucos resultados em termos de modificação de comportamtentos. 

Um dos problemas são as disparidades no acesso às informações de saúde. Pessoas sem acesso à internet, com baixa escolaridade ou que não percebem a saúde como algo importante acessam menos informações nesta área.

Uma forma de aumentar o acesso é incluir mensagens de saúde na programação de entretenimento. Novelas e outros programas de TV, noticiários no rádio, peças teatrais em escolas ou outros espaços comunitários, ajudariam a disseminar mais informações. A programação de entretenimento tem a capacidade de atingir proporções significativas das populações que experimentam maiores disparidades em saúde.

O contato interpessoal entre prossionais e pessoas também é fundamental. O acesso à saúde é direito de todos mas a relação entre paciente e profissionais de saúde nem sempre é saudável. O ideal é que esta relação sempre ajudasse a diminuir as disparidades em saúde. Contudo, profissionais que retém informações, que tratam determinadas parcelas da população com preconceito, que comunicam-se por meio de jargões de difícil compreensão, fazem as disparidades aumentarem.

O apoio social é outra forma de amenizar as desigualdades e iniquidades em saúde. As redes de apoio virtual vem ganhando espaço na sociedade moderna. Contudo, novamente, o acesso pode ser problemático em comunidades carentes.

A eliminação das disparidades na saúde requer que mais profissionais de saúde pública estudem esta temática já que para projetar intervenções efetivas é necessária a compreensão de teorias de mudança de comportamento e de marketing, além de princípios para o desenvolvimento de mensagens e e-Health. Também devemos trabalhar colaborativamente com comunidades que experimentam disparidades para que juntos possamos  superar barreiras (falta de acesso à internet e tecnologias, desconfiança, falta de suporte, baixa habilidade para o uso de tecnologias de comunicação e informação, baixa escolaridade...) para a melhor saúde e qualidade de vida.
 

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Evolução na comunicação em saúde

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A popularização da internet mudou drasticamente a forma como nos comunicamos. E mudou a maneira de pensar a comunicação para promover a saúde da população. A Internet e a World Wide Web são tecnologias disruptivas pois alteram radicalmente  as formas pelas quais as informações fluem em nossa sociedade. Até a década de 1990 a comunicação interpessoal na área de saúde era a principal fonte de acesso à informação por parte do grande público. Assim, quando alguém queria uma informação sobre saúde precisava marcar uma consulta com o médico. Se queria uma informação sobre alimentação precisaria marcar uma consulta com um nutricionista.

Mas o crescimento da internet gerou uma explosão de blogs, sites e redes sociais, possibilitando que qualquer pessoa produza e acesse conteúdo quando e de onde desejar. Estas plataformas de comunicação trouxeram ganhos para o campo da saúde pública, oferecendo poderosas e acessíveis ferramentas de comunicação. Mais recentemente os aplicativos e wearables (dispositivos "vestíveis"), como relógios, pulseiras, jaquetas, sutiãs, óculos que registram informações sobre os usuários. Assim, nutricionistas podem receber informações como quantas calorias seus clientes gastaram em um dia e quanto consumiram, além da qualidade da alimentação.

As últimas duas décadas também testemunharam uma revolução dramática na forma como profissionais de saúde entendem o adoecimento e a saúde. Entende-se hoje que os determinantes da saúde da população existem em múltiplos níveis e incluem não apenas as características dos indivíduos (por exemplo, sexo, idade, atitudes e crenças), mas também as características das redes sociais, as organizações. a vida das pessoas (por exemplo, local de trabalho, igreja, clubes, escolas) e os locais onde vivem. Assim, para que a população tenha saúde devemos exercer múltiplos níveis de influência a fim de influenciar toda a gama de fatores que prejudicam - ou promovem - a saúde da população

Comunicação de massa em nutrição e saúde pública

A maior parte das campanhas de saúde pública na mídia tem como alvo apenas uma pequena gama de determinantes de saúde limitando sua efetividade. Campanhas eficazes normalmente têm duas qualidades importantes: (1) apresentam mensagens bem projetadas, (2) as mensagens são entregues ao público-alvo com alcance e frequência suficientes para serem vistas ou ouvidas e lembradas. Podem ser divulgadas por canais tradicionais como rádio, televisão, revistas, outdoors e jornais, bem como aqueles que utilizam novas tecnologias, como e-mail, telefones celulares e sites interativos.

Fatores individuais que influenciam os comportamentos de saúde incluem: cognições (por exemplo, conhecimento e crenças, autoeficácia e expectativas de resultados), afeto (por exemplo, depressão), habilidades (por exemplo, para cozinhar), motivação e intenções.  Predisposições biológicas (por exemplo, busca de prazer) e fatores demográficos (por exemplo, gênero, renda,  emprego) são fatores adicionais no nível individual que serviriam como um meio para segmentar) audiências e melhor direcionar mensagens.

Tenho uma forte crença de que a comunicação adequada pode contribuir para a melhoria da saúde da população. Um adulto pode gastar horas diárias consumindo informação por meio de twitter, Facebook, YouTube, TV, rádio, jornal. Quando parte desta informação visa produzir hábitos saudáveis, ampliar laços sociais positivos e estimular mudanças nos locais por onde as pessoas transitam aumentam-se as chances de mudanças nos comportamentos. 

Por exemplo, campanhas sobre a fortificação de alimentos no Brasil visaram conscientizar a indústria, reforçar a lei e estimular consumidores a adquirirem sal iodado e farinhas acrescidas de ferro e ácido fólico. Hoje o consumo destes produtos é feito por toda a população. O sucesso de ações de comunicação deve-se ao foco em três níveis: individual, social e comunitário. Muitas vezes existem constrangimentos de tempo e orçamento que fazem as campanhas atingirem apenas um nível e por menor período de tempo, o que reduz a eficácia da ação comunicativa. Mesmo assim, profissionais de saúde pública não podem eximir-se de estudar mais a fundo de que forma a mensagem pode chegar, ser compreendida e posta em prática pelo maior número de pessoas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/