Disfunção mitocondrial na síndrome de Down

Por meio de Ressonância Magnética Nuclear é possível avaliar, em amostras de plasma e urina, a produção de substâncias relacionadas ao metabolismo energético mitocondrial. As mitocôndrias são nossas usinas energéticas, responsáveis pela produção de energia na forma de ATP. Estudo mostrou que pessoas com síndrome de Down apresentam maiores concentrações de piruvato, succinato, fumarato, lactato e formato, compostos produzidos no início ou durante o ciclo de Krebs (Caracausi et al., 2018).

Essas alterações sugerem um desequilíbrio entre o funcionamento do ciclo de Krebs e da cadeia transportadora de elétrons, na mitocôndria. O ciclo de Krebs é uma via metabólica central para regulação do metabolismo celular e equilíbrio energético. O acúmulo de metabólitos do ciclo de Krebs poderia sugerir um desequilíbrio devido à comprometimento de certas enzimas ou mau funcionamento das mitocôndrias. A superexpressão do gene Hsa21 NRIP1 parece ser uma das causas da disfunção das mitocôndrias, prejudicando a capacidade de produção energética das células. Outra causa da disfunção mitocondrial (no cérebro) é o acúmulo de proteína beta amilóide.

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Saber que compostos estão alterados durante o metabolismo celular nos ajuda a pensar que nutrientes precisamos suplementar para melhorar o funcionamento mitocondrial. Um estudo recente, por exemplo, mostrou que a disfunção mitocondrial participa do desenvolvimento de COVID-19 e pode ser responsável pela desregulação da resposta imune e aumento da gravidade da infecção.

A linfopenia (queda de linfócitos), exaustão de células T (imunodeficiência) e tempestade de citocinas (hiperinflamação) são marcas registradas de pacientes com COVID-19 grave. Nossa hipótese é que o MitoQ poderia ser um potencial agente de tratamento em COVID-19, melhorando a disfunção mitocondrial e restaurando a resposta imunológica desregulada. Neste artigo, fornecemos evidências para apoiar o uso de MitoQ como um tratamento ou terapia adjuvante para COVID-19.

Disfunção mitocondrial, envelhecimento e propensão à doenças

A disfunção mitocondrial é uma marca registrada do envelhecimento, que é acompanhada pelo aumento da produção de radicais livres. O estresse oxidativo ativa vias inflamatórias de forma crônica. A disfunção mitocondrial e a inflamação crônica de baixo grau também são prevalentes em doenças cardiovasculares e metabólicas, incluindo hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2. Populações idosas, indivíduos com comorbidades (diabetes e doença cardiovascular) ou em estado de disfunção mitocondrial (como frequentemente observado na síndrome de Down) parecem mais suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2 (Kieran et al., 2020).

Os efeitos benéficos da suplementação de coenzima Q10 no envelhecimento e nas doenças cardiovasculares e metabólicas, por meio da melhora da disfunção mitocondrial e do alívio da inflamação, foram amplamente descritos na literatura. A coenzima Q10 ajuda a modular o estresse oxidativo e reduz a produção de TNF-α no diabetes tipo 2. Pesquisadores agora especulam que a coenzima Q10 usada no estágio inicial da infecção por coronavírus pode ajudar a interromper ou retardar a progressão da doença em pacientes idosos com COVID-19 ou naqueles com comorbidades ou disfunção mitocondrial (Ouyang & Gong, 2020).

A imagem acima apresenta um exame metabolômico de paciente jovem com muita fadiga. O teste mostrou alterações no ciclo de Krebs, indicando possíveis disfunções mitocondriais.

O que é o ciclo de Krebs? É a via metabólica mais importante para a produção de energia (ATP) nas mitocôndrias. Alterações nos metabólitos desse ciclo podem indicar problemas na produção de energia celular.

O mofo, presente na casa da paciente, pode afetar o ciclo de Krebs principalmente através das micotoxinas, substâncias tóxicas produzidas por fungos como Aspergillus, Penicillium e Stachybotrys. Essas toxinas podem prejudicar a função mitocondrial e levar a uma redução na produção de energia celular (ATP).

As micotoxinas aumentam inflamação e estresse oxidativo e podem inibir enzimas do ciclo de Krebs, alterando metabólitos, como mostrado no exame.

- Ácido Isocítrico elevado, sugerindo possível deficiência na enzima isocitrato desidrogenase, associada ao metabolismo do NAD+ e B3.

- α-Cetoglutarato está uito elevado, indicando acúmulo devido a um bloqueio na conversão para succinil-CoA, exigindo cofatores como B1, B2, B3, B5 e ácido lipóico.

- Ácido Succínico elevado pode refletir problemas na conversão para ácido fumárico, sugerindo deficiência de B2.

- Ácido Malico ligeiramente aumentado, possivelmente indicando um fluxo compensatório.

O que pode ser feito? Redução da exposição a mofo, identificando vazamentos, infiltrações, ambientes com pouca ventilação e umidade excessiva. Depois de resolver a umidade, usar vinagre branco nas áreas afetadas, bicarbonato em superfícies laváveis, água oxigenada 10 volumes por 15 minutos. Usar desumidificadores e pintura antimofo.

Suplementação de vitaminas do complexo B (principalmente B2, B3, B5), coenzima Q10 e ácido lipóico para melhorar a eficiência do ciclo de Krebs. Dieta contendo alimentos ricos em cofatores mitocondriais, como carnes, ovos, vegetais de folhas verdes e sementes.

Pessoas acima de 40 anos produzem quantidades significativamente menores de coenzima Q10, assim como aquelas em uso de estatinas. Além disso, é comum, a existência de polimorfismos genéticos que atrapalham esta produção. Alguns dos genes avaliados no painel genético são: PDSS1, PDSS2, COQ2, COQ4, COQ6, ADCK3, ADCK4, and COQ9.

Painel genético da Síndrome de Down - FullDNA - avaliação e pedido em consulta nutricional

Painel genético da Síndrome de Down - FullDNA - avaliação e pedido em consulta nutricional

Não esqueça de avaliar outros nutrientes importantes como vitamina C e vitamina D.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Retirou glúten e o intestino piorou?

Somos todos diferentes, genéticamente diferentes. As dietas sem glúten são muito populares e beneficiam, de fato, muitas pessoas. A redução do consumo de pães, bolos, biscoitos, massas pode contribuir para o emagrecimento. Em pessoas com sensibilidade ao glúten a redução do consumo desta proteína ajuda a controlar inflamação e até dores. Pessoas com doenças celíaca precisam excluir totalmente esta proteína para garantir uma boa qualidade de vida e recuperar a barreira intestinal.

Porém, não é todo mundo que precisa excluir glúten. Estudos com pessoas longevas da dieta mediterrânica apontam um alto consumo de pães e massa (porém mais caseiros, com reduzidíssimo consumo de alimentos industrializados). Alimentos feitos com farinha integral contribuem para um bom aporte de fibras na dieta e a retirada total destes alimentos pode, em determinadas pessoas, piorar a composição da microbiota intestinal. Estudos mostram uma redução de bactérias benéficas intestinais como Bifidobactéria e Roseburia, e aumento das concentrações de bactérias patogênicas como Escherichia coli e Enterobacteriaceae.

Como consequência da diminuição das bactérias benéficas, ocorre também diminuição da produção de ácidos graxos de cadeia curta, como butirato e propionato. Estas substâncias são importantes para a manutenção da barreira intestinal, para o peristaltismo, para preservação da imunidade e também para o adequado metabolismo do fígado.

Exames genéticos identificam a suscetibilidade à doença celíaca ou graus aumentados de intolerância ao glúten. Mas, se você não apresenta problema com trigo, centeio, cevada, se a sua digestão não sofre com estes alimentos não haveria porque ser tão rígido com sua dieta.

As proteínas específicas encontrada no trigo, centeio e cevada (prolaminas) são tóxicas para celíacos. Existem também pessoas alérgicas a prolaminas específicas, gliadina (trigo), secalina (centeio) e hordeína (cevada). Na digestão normal, esses longos filamentos de proteína são decompostos por enzimas digestivas. Quem não tolera proteínas como a alfa gliadina ativam mais células do sistema imune e desenvolvem mais sintomas alérgicos, sendo que celíacos respondem mais severamente.

O fato é, não há ninguém para conhecer melhor seu corpo do que você mesmo. Exames genéticos ajudam e faço a solicitação durante consultas. Mas você precisa avaliar como sente-se. Seu intestino melhora ou piora quando exclui o glúten da dieta? E sua pele? Seu humor? Sua memória, seu sono? Você fica mais ou menos inchado? Tudo isso é importante e contribui para a decisão final acerca da melhor dieta para seu caso.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Genômica nutricional e vegetarianismo | Genes importantes a serem avaliados em pessoas com dietas a base de plantas

Cada reação bioquímica de nosso corpo depende de nutrientes (vitaminas, minerais, carboidratos, aminoácidos, ácidos graxos). Carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos possuem função energética e estrutural, enquanto a maioria das vitaminas e minerais possui alguma função reguladora. Com exceção da vitamina D estes micronutrientes não podem ser produzidas no corpo humano em quantidade suficiente. Por isso, a dieta precisa ser bem variada, com alimentos de muitos grupos.

A deficiência de vitamina A pode levar à cegueira noturna. Veganos não obtém vitamina A da dieta mas pró-vitaminas, carotenóides que podem ser transformados em vitamina A se o indivíduo tiver genética para isso. A vitamina D pode ser produzida em maior ou menor quantidade na sua pele, dependendo da sua genética. Você pode ter mais ou menos receptores para absorção dos nutrientes, pode conseguir usar ou não nutrientes vindos da dieta. Cada pessoa é diferente. Existem vegetarianos que nunca desenvolverão deficiências nutricionais, assim como existem aqueles que adotam uma dieta adequada, balanceada mas vivem com sintomas de carências. Neste vídeo discuto os genes que mais impactam o estado nutricional das pessoas que limitam o consumo de alimentos de origem animal:

Agende sua consulta. Conheça sua genética e ajuste sua dieta e suplementação para que tenha saúde por toda a vida. Seja um vegetariano/vegano sem deficiências nutricionais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/