A deficiência de macro e micronutrientes tem sido associada ao aumento de problemas comportamentais e a suplementação nutricional tem se mostrado eficaz no tratamento de distúrbios neuropsiquiátricos. Como isso acontece? Pela disponibilidade de nutrientes para produção de hormônios e neurotransmissores e também pela regulação epigenética.
Muitos aspectos do desenvolvimento humano e da doença são influenciados pela interação entre genética e fatores ambientais. Entender como nossos genes respondem ao meio ambiente é fundamental para a preservação da saúde e é um dos principais desafios atuais da ciência. Vários processos epigenéticos afetam a estrutura cromossômica e acessibilidade do ácido desoxirribonucleico (DNA) à maquinaria enzimática que leva à expressão de genes.
A modificação química do DNA pela metilação (adição do grupo metil - CH3) pode mudar durante o desenvolvimento e em resposta ao meio ambiente, muitas vezes com efeitos profundos na expressão dos genes.
A interação entre meio ambiente e genética é chamada de plasticidade fenotípica, um mecanismo pelo qual espécies podem se adaptar rapidamente em resposta a mudanças das condições ambientais. As modificações que permitem que a plasticidade fenotípica ocorra não constituem uma mudança na sequência genética, não são mutações, mas mudanças epigenéticas. Ou seja, o gene herdado pelos pais está ali, mas pode expressar-se ou não dependendo do que comemos no dia-a-dia, da forma como vivemos, se fumamos ou não, do nosso nível de estresse e nível de atividade física.
A metilação é um importante processo regulatório na expressão dos genes. O aumento da metilação pode resultar na diminuição ou no aumento da expressão genética. A inserção de um grupo metil (CH3) junto a um gene depende do consumo de nutrientes específicos.
O reconhecimento de que o DNA pode ser modificado pela alimentação é recente mas modelos animais nos fornecem explicações sobre a influência da dieta nas modificações epigenéticas. Abelhas trabalhadoras e abelhas rainhas são diferentes. Esta diferenciação surge no início da vida. As larvas alimentadas com geléia real tornam-se rainhas. As alimentadas com pólen, néctar e mel tornam-se abelhas trabalhadoras. As últimas são menores, tem um tempo de vida mais curto, coletam néctar e são inférteis. Isto se dá devido ao alto consumo de compostos fenólicos pelas abelhas operárias. Os compostos fenólicos influenciam a expressão de genes que induzem mudanças em níveis genômicos de metilação do DNA.
Há evidências crescentes para apoiar a ideia de que, se uma modificação epigenética se estabelece no DNA de células germinativas, esta assinatura pode ser herdada para várias gerações. Isso implica que a alimentação dos pais no momento da concepção pode direcionar as características de seus descendentes.
O neurodesenvolvimento, por exemplo, depende de um DNA bem metilado. Fatores que afetam esta metilação no início da vida podem comprometer aprendizado, memória e acelerar a neurodegeneração. Muitos micronutrientes presentes na dieta são importantes doadores e cofatores para a metilação, como folatos, vitamina B12, metionina, betaína e colina.
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Vários estudos sugeriram que níveis baixos de metilação, folato e SAMe correlacionam-se com depressão, fadiga, maior risco de autismo e esquizofrenia. Existem evidências de que melhorias na dieta ajudam a modular o controle epigenético, reduzindo o risco de doenças, tanto na infância quanto na fase adulta. No entanto, nossa compreensão dos efeitos potenciais da suplementação ainda é bastante limitado. Felizmente, muitos grupos de pesquisa hoje tem expressado interesse nesta área, para que no futuro possamos individualizar cada vez mais as intervenções dietéticas (Stevens, Rucklidge, & Kennedy, 2018).