Por que a memória piora depois da infecção pelo COVID-19

As infecções geram uma resposta inflamatória. O pulmão sofre, mas o cérebro também. Isto porque nosso bulbo cerebral possui receptores onde o vísus SARS-Cov-2 consegue se ligar. Dentre as alterações possíveis estão redução de olfato, paladar, ansiedade, depressão e também dificuldades de memória.

A neuroinflamação gerada pela infecção causa redução nos níveis de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina. A queda da serotonina contribui para a depressão. A queda da dopamina gera falta de foco e memória. Já o aumento do glutamato está associado à continuidade da neuroinflamação (Attademo, & Bernardini, 2020).

Pacientes pós-COVID correm mais risco de desenvolvimento de doença de Alzheimer. Como restaurar a memória?

O primeiro passo é desinflamar. Adote uma dieta antiinflamatória, rica em frutas, verduras, peixes, sementes (como linhaça e chia), abacate e azeite (fontes de gorduras monoinsaturadas), ervas e condimentos (ricos em antioxidantes), redução de gorduras saturadas (máximo de 15% das calorias da dieta), carboidratos simples e tudo o que fizer mal para a pessoa.

Para aumentar a produção de serotonina consuma vegetais verde escuros, oleaginosas e leguminosas (complexo B) e proteínas (fonte do aminoácido triptofano como peixes, iogurte e whey protein). Muitos pacientes podem precisar suplementar niacina (vitamina B3 ou NADH) ou aminoácidos essencial para facilitar a recuperação. Outros nutrientes importantes são B9 (10 a 17 ng/ml), B6 (5,1 a 60 µg/L) e B12 (500 a 900 pg/ml no exame de sangue).

Para aumentar a produção de dopamina necessitamos do aminoácido tirosina (ovos, peixes, oleaginosas, abacate), vitamina B6 (soja, castanhas, iogurte, atum, grão de bico), ômega-3.

A gema do ovo é rica em colina, nutriente que também vai dar origem ao neurotransmissor acetilcolina, super importante para a memória, e para a fosfatidilcolina. Alguns fitoterápicos aumentam acetilcolina no cérebro, como sálvia officinalis, huperzina A da Huperzia serrata e Bacopa Monnieri (importante para prevenção e tratamento do Alzheimer).

Para reduzir o excesso de glutamato, que prejudica memória e concentração é importante consumir bastante magnésio. Vegetais verde escuros e sementes (abóbora e girassol), abacates, castanhas, cacau. Se o intestino estiver preso ou estiver com insônia vale a pena suplementar o magnésio. Outro nutriente que ajuda a reduzir o excesso de glutamato é o aminoácido cisteína presente na couve, couve flor, couve de bruxelas, nabo, rabanete. Quando o glutamato entra nos neurônios ele deixa entrar muito sódio nos neurônios e isso é ruim. Reduza o consumo de sal nesta fase.

Evite também suplementar cálcio nessa fase pois o cálcio em excesso também faz mal para os neurônios. Se você tem osteoponia e precisa do cálcio, este deve ser suplementado juntamente com vitamina D, vitamina K2 e magnésio. Para redução de estresse oxidativo cerebral são importantes os caratonóides (incluindo astaxantina), coenzima Q10, ácido alfa-lipóico.

Para estimular a sinaptogênese (produção de novas sinápses que vão permitir a conversa entre os neurônios) é importante atividade física e consumo de ômega-3, fosfatidilcolina, vitaminas do complexo B, Para individualização marque sua consulta.

Influência da composição corporal na recuperação da infecção pelo COVID-19

Muito também se falou nos últimos anos de suplementos e alimentos para melhoria do sistema imune. Mas melhorar a imunidade nem sempre é fácil. Nosso corpo é complexo e exige cuidados diários. Não é um própolis em um dia e um suco verde no outro que resolvem o problema.

Estudos mostraram que a quantidade de músculo e gordura que você tem no corpo influenciará muito sua imunidade. Quem tem mais massa muscular costuma passar menos tempo internado devido à infecção por COVID-19 do que quem tem mais gordura corporal. Isto porque o músculo produz mais citocinas anti-inflamatórias enquanto o tecido adiposo contribui para a tempestade de citocinas, característica de um maior estado inflamatório e de maior gravidade dos pacientes (Nigro et al., 2020).

Não dá para fugir: alimentação antiinflamatória, com dieta baseada em plantas, exercício físico e sono de qualidade para recuperação são os pilares básicos da saúde. Sim, quando necessário usamos suplementos para garantir imunidade inata, adquirida, diversidade da microbiota etc (Jawara et al., 2020). Mas não esqueça-se do todo!

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Neurociência nutricional

A neurociência nutricional é a disciplina científica que estuda os efeitos que vários componentes da dieta, como minerais, vitaminas, proteínas, carboidratos, gorduras, fitoquímicos, hormônios sintéticos e aditivos alimentares, têm na neuroquímica, neurobiologia, comportamento e cognição.

Pesquisas recentes sobre mecanismos nutricionais e seus efeitos no cérebro mostram que eles estão envolvidos em quase todas as facetas do funcionamento neurológico, incluindo alterações na neurogênese, fatores neurotróficos, vias neurais e neuroplasticidade, ao longo do ciclo de vida.

O cérebro consome uma imensa quantidade de energia em comparação com o resto do corpo. O cérebro humano tem aproximadamente 2% do seu peso total mas usa mais de 20% de toda a energia que você consome. Interrupção da chegada de energia ou nutrientes selecionados afetam neurogênese, sinaptogênese, neurotransmissão e os processos cognitivos.

É muito importante cuidar do cérebro. Cuidar do hipocampo, por exemplo, é fundamental pois é ali que acontece mais neurogênese e é uma área fundamental para a flexibilidade cognitiva. Vários fatores podem gerar atrofia de hipocampo como doença de Alzheimer e depressão. Por isso, prevenir e cuidar deve ser preocupação de todos. Quem tem mais flexibilidade cognitva sai mais fácil de situações difíceis.

Quando alguém te fecha no trânsito você consegue manter a calma ou já parte para a briga? Pois é, cada pessoa lida com o estresse de forma diferente. Mas é importante saber que a resiliência é um processo ativo e adaptativo. Podemos nos tornar mais resilientes e isso é muito importante para não adoecermos, não infartarmos, não desenvolvermos doenças psiquiátricas ou neurológicas. Ou para que possamos nos recuperar se isso acontecer. Você pode fortalecer vias de resiliência em seu cérebro.

É óbvio que uma pessoa que foi para a guerra, que passou por abusos, que perdeu um familiar vai sofrer. Mas depois do sofrimento precisamos nos recuperar. E para isso podemos estimular BDNF (por exemplo, com atividade física, reduzindo o consumo de alimentos inflamatórios, reduzindo carboidratos simples e aumentando proteína, consumindo mais polifenóis de plantas). Mais BDNF significa flexibilidade cognitiva melhorada que, por sua vez, ajuda a diminuir o comportamento do tipo ansiedade e do tipo depressivo.

A figura de cima mostra que pessoas que fazem mais neurogênese (a), em situações adversas, produzem menos hormônios relacionados ao estresse, sofrem com menos ansiedade, desespero e anedonia do que pessoas com baixa neurogênese. Além disso, recuperam-se mais rápido. É por isso, que duas pessoas que ficaram órfãs podem ter respostas diferentes, uma desenvolvendo depressão e outra não.

A neurogênese facilita o aprendizado com as situações e promove flexibilidade cognitiva, tornando mais fácil e rápida uma adaptação positiva a ambientes novos e ajudando a prevenir o desenvolvimento de psicopatologia induzida pelo estresse crônico.

A neurogênese é abundante em pacientes saudáveis neurologicamente e é muito reduzida no Alzheimer e em outras condições como a própria depressão e a neuroinflamação. A neurogênese também não acontece no cérebro inteiro, mas pode acontecer no hipocampo, área muito importante para a memória.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Como evitar o declínio cognitivo?

Uma história familiar de doença de Alzheimer aumenta significativamente o risco de desenvolvimento da doença. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência na terceira idade. Para desenvolvermos tratamentos preventivos, é necessário identificar os indivíduos que apresentam maior risco de desenvolver a doença de Alzheimer.

O fardo financeiro, emocional e social da doença de Alzheimer é gigantesco e a melhor estratégia até hoje é a prevenção. Apesar da associação familiar, a maior parte dos fatores de risco para o declínio cognitivo é ambiental, modificável.

Se prestarmos atenção, fizermos a prevenção e abordarmos rapidamente os primeiros sinais de declínio cognitivo em nós mesmos e nos entes queridos, não apenas nos daremos a chance de reverter o quadro, mas também evitar o impacto negativo econômico, familiar e social. No vídeo abaixo você testará suas chances de declínio cognitivo e fará um exercício de treino cognitivo, para melhorar foco e concentração.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/