Dieta, funcionamento intestinal e esclerose múltipla

A esclerose múltipla (EM) é uma doença degenerativa, desmielinizante crônica, de natureza inflamatória e auto-imune, que afeta adultos jovens, especialmente mulheres. Observa-se nos pacientes afetados a inflamação do cérebro e medula espinhal com infiltração de linfócitos que geram danos na mielina e nos axônios. Disbiose intestinal e carência de vitaminas lipossolúveis, especialmente A, E e D podem estar envolvidos na gênese da inflamação.

A diferença entre a vitamina D e as drogas convencionais usadas no tratamento das doenças autoimunes é que ela é um imunorregulador e não um imunossupressor. Enquanto os medicamentos para doenças autoimunes deprimem o sistema imunológico como um todo, deixando o organismo suscetível a infecções, a vitamina D inibe a reação chamada “th17”, que é causada pelas doenças autoimunológicas.

Existem também outras causas para o aparecimento da doença como infecções virais, intoxicação por metais pesados, poluição ambiental, excesso de peso na infância e adolescência, sedentarismo e dieta rica em gordura animal e/ou açúcar. A distribuição geográfica da EM é mais comum em países ocidentais, menos expostos à luz solar (onde é maior carência a de vitamina D) e em pessoas com dieta rica em alimentos processados e ultraprocessados.

O funcionamento intestinal também deve ser observado. Quanto mais pobre a dieta estiver em fibras e em alimentos fermentados (kefir, kombucha, iogurte natural, coalhada, pickles), maior o risco de disbiose intestinal e inflamação crônica. Como intestino e cérebro comunicam-se quando o intestino inflama, o cérebro também sofre.

Os alimentos fornecem mais do que calorias. Contém substâncias capazes de ativar ou inibir receptores nucleares, fatores de transcrição ou enzimas, que, por sua vez, regulam a expressão de genes específicos e, assim, impulsionam reações metabólicas. Dietas pró-inflamatórias são, em geral, hipercalóricas, ricas em gordura saturada e açúcar, carboidratos refinados, alimentos fritos ou processados, sal e bebidas açucaradas. Costuma ter também muita proteína animal e pouca fibra, favorecendo o ganho de peso, a hiperinsulinemia, a inflamação, a disbiose intestinal e o aparecimento de doenças crônicas.

Revisão de 32 estudos mostrou que a diminuição de gordura saturada, açúcar, leite e glúten beneficia os pacientes. Por outro lado, a alimentação baseada em vegetais ou vegetariana tem efeito contrário se for adequada em termos de calorias e rica em alimentos in natura e minimamente processados (Beckett et al., 2019).

Trate também o intestino. A disbiose intestinal e a inflamação de baixo grau são gatilhos para a neuroinflamação. Mudanças na dieta aumentam lipopolissacarídeos bacterianso (LPS), a produção de substâncias inflamatórias (como IL-6, IL-1β e fator de necrose tumoral-α) e aumentam a permeabilidade da barreira intestinal. O rompimento da barreira intestinal permite a passagem de LPS, peptídeos, proteínas e bactérias para a circulação, quebra da barreira hematoencefálica, ativação da micróglia e astrócitos. Com isso, a inflamação perpetua-se, em todo o corpo, nos nervos, no cérebro.

Tratamento

Resumindo, o primeiro passo é aumentar o consumo de vegetais (frutas, verduras, leguminosas, castanhas, aveia, quinoa, cogumelos), por serem fontes de fibras, alimentando as bactérias boas. Estas podem ser obtidas de alimentos fermentados como kefir, kombucha, iogurte natural, pickles). A hidratação também é fundamental, tanto para a eliminação de toxinas, quanto para o bom funcionamento intestinal. Tome sol (20 minutos por dia) para aumentar a produção de vitamina D.

O segundo passo é reduzir o que inflama o intestino e o cérebro:

  • Ácidos graxos saturados, presentes predominantemente em alimentos de origem animal (manteiga, leite integral, queijo, carne, salsichas) - dieta cetogênica sempre com gorduras boas;

  • Ácidos graxos trans, presentes principalmente em alimentos processados e ultraprocessados (margarina, carnes processadas, salgadinhos, batatas fritas e outros alimentos fritos e tipo fast food) - interferem no metabolismo dos ácidos graxos insaturados;

  • Carne vermelha - rica em ferro e compostos nitrosos, que aumentam a inflamação,

  • Açúcar, cereais refinados, bebidas açucaradas - aumentam a secreção de insulina e a inflamação pós-prandial (que ocorre logo após a alimentação);

Dentre as substâncias antiinflamatórias que contribuem para o tratamento da EM estâo os ácidos graxos do tipo ômega-3 (peixes, linhaça, chia), vitaminas (A, D, PP, C, E, carotenóides), minerais (selênio, zinco, magnésio), compostos tiólicos (ácido lipóico, N-acetil-cisteína), polifenóis - flavonóides (quercetina, catequinas…) e não flavonóides (resveratrol, curcumina, hidroxitirosol…) - probióticos e prebióticos. Nossa saúde e a de pacientes com EM depende de escolhas alimentares adequadas e de suplementação bem ajustada às fases da vida (Riccio e Rossano, 2017).

Na esclerose múltipla outros suplementos podem ajudar como metilfolato e metilcobalamina, coenzima Q10 (80mg/dia), gingko biloba (100 a 300mg/dia). A aromaterapia com óleo de olíbano, junípero, lavanda e gengibre também são coadjuvantes no tratamento. Fora isso, aprender a desestressar e a gerir as emoções também é fundamental. Faça yoga e meditação. A prática lhe beneficiará por toda a vida!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Coma bem e proteja-se contra a depressão

Como atendo muitos clientes com esta demanda sempre escrevi muito aqui no blog sobre a importância da alimentação para a prevenção e tratamento da depressão.

A depressão é uma desordem do sistema nervoso central que atinge mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. O transtorno multifatorial leva à queda da produtividade, do bem estar e da qualidade de vida. Grande parte da pesquisa foca no uso de drogas para o tratamento do fenômeno. Contudo, sozinhas têm eficácia reduzida. A atividade física a psicoterapia, estratégias para o combate ao estresse e a alimentação saudável devem fazer parte do tratamento para melhores resultados.

Depressão e suicídio são considerados problemas de saúde pública. O tratamento é multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos, educadores físicos e nutricionistas. A alimentação tem seu papel importante, tema deste vídeo. Biografia: Andreia Torres nasceu no Rio de Janeiro mas morou quase toda a vida em Brasília, onde fez graduação, especializações, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

A alimentação tem também um papel importante na saúde mental. Estudos mostram que pessoas que consomem mais frutas, verduras, peixes e grãos integrais associam-se a menor risco de depressão (Lai et al., 2014). 

Nutrientes individuais também vem sendo estudados como o ômega-3, aminoácidos e vitaminas do complexo B. Abordei algumas vezes este assunto neste blog. 

Os chás também são muito interessantes. A Camellia sinensis, planta que dá origem ao chá branco e ao chá verde (Rothenberg & Zhang, 2019). Os mesmos podem ajudar a modular o estresse, diminuir inflamação, aumentar o BDNF (um fator neurotrófico que beneficia o cérebro). A dieta antiinflamatória como um todo também é indicada.

A psicoterapia também ajuda muito. Falar sobre sentimentos reduz a ansiedade e ajuda no gerenciamento da medicação. Indico a Julia Maciel, psicóloga formada pela UnB e que atende online, por videoconferência Atividade física, meditação, acupuntura e yoga também vêm mostrado-se importantes complementos ao tratamento tradicional medicamentoso. Cuide-se!

Todas as estratégias de tratamento mental e metabólico estão interligadas. Entenda a melhoria da sua saúde mental e metabólica como uma jornada. Tenha paciência, seja bondoso consigo mesmo, cerque-se de profissionais competentes.

Uma maneira simples de manter seu estilo de vida saudável é estabelecer uma rotina. As rotinas podem ser úteis para reduzir o estresse, melhorar o gerenciamento do tempo e criar um senso de estrutura e previsibilidade na vida diária. Uma rotina que amo é a prática de yoga. Estudos mostram que o yoga contribui para o gerenciamento do estresse e a redução da ansiedade. A prática também contribui para redução dos sintomas depressivos (Bridges, & Sharma, 2017).

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Lembre: mesmo com todas estas estratégias, mantenha seus medicamentos. Não faça ajustes por conta própria, sem a supervisão do seu médico. Profissionais de saúde interessados em nutrição e cérebro podem aprender muito mais na plataforma https://t21.video.

Compartilhe conhecimento.
Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Erva x especiaria

Como você classificaria uma erva? E uma especiaria? Esta distinção não é tão clara e rígida. De maneira geral, ervas aromáticas são aquelas plantas usadas pelos cozinheiros para conferir sabor e aroma à comida. A palavra deriva do latim herba, que também pode ser traduzida como verdura. Assim, no início aplicava-se o termo a uma grande variedades de folhas que desenvolvem-se em climas temperados e são utilizadas na culinária. São exemplos de ervas: alecrim, salsa, manjericão, beldroega, mitsuba (salsa japonesa), louro, alfazema, bergamota, estragão, endro, funcho, hortelã, cebolinha, aipo, orégano, tomilho e coentro.

Especiaria é um termo mais utillizado para as plantas que crescem em climas tropicais. Podem ser raízes, sementes, frutos, normalmente utilizados na forma seca, inteiros ou moídos. A palavra especiaria também tem origem no latim (species) e significa também bem ou mercadoria. São exemplos de especiarias cardamomo, papoula, gengibre, baunilha, cúrcuma, tamarindo, gergelim, acácia, canela, cravo, zimbro, pimentas, páprica, anis-estrelado, alcaçuz, cominho, noz-moscada, assa-fétida, mostarda.

Ervas e especiarias podem ser consumidas sozinhas ou misturadas. O aliño chileno é um condimento utilizado em carnes e peixes, sopas e geralmente leva partes iguais de tomilho seco, alecrim seco, orégano seco, sálvia seca, hortelã seca, erva-cidreira seca, manjerona seca e estragão seco. No nordeste brasileiro o tempero baiano é muito popular.

No Japão ingredientes aromáticos costumam ser misturados com produtos à base de soja e algas. O Shichimi togarashi ou pó das sete especiarias inclui sementes de gergelim, casca de tangerina seca e esmagada, lascas de nori (alga), lascas de pimentas, sansho (pimenta do Japão) e papoula.

Na cultura chinesa, o equilíbrio dos cinco sabores (salgado, azedo, amargo, pungente e doce) é prezado, garantindo vigor culinário e medicinal. Para temperar carnes é comum a mistura de anis-estrelado, pimenta-de-sichuan, sementes de funcho, cravo, canela ou cássia moídas.

O principal requisito de um bom cozinheiro indiano é saber misturar especiarias (chamadas de masalas). Garam masalas, ou "especiarias quentes", são usadas para adicionar sabor e aroma à comida. De acordo com o Ayurveda, as especiarias garam masala aumentam o dosha Pitta. Como resultado, a temperatura do corpo sobe. A garam masala tradicional leva cardamomo, coentro, cominho, pimenta do reino, cravo, canela e tejpat (folhas da planta indiana Cinnamomum tamala). Outras variações podem levar gengibre, pimenta branca, sementes de erva-doce, açafrão, alho, feno-grego, sementes de mostarda e tamarindo.

Ikaria é uma das ilhas gregas estudadas pela alta longevidade da população. Os Ikarianos envelhecem quase totalmente livres de demência, apesar de ser frequente que cheguem aos 90 anos ou mais. Uma combinação de fatores explica isso, incluindo geografia, cultura, dieta, estilo de vida e perspectivas. Eles gostam de vinho tinto, jogos de dominó, um ritmo de vida descomplicado, atividades ao ar livre e dieta com ervas frescas, da estação. Costumam entreter familiares e amigos com chás de ervas com alto potencial antioxidante. Sabemos que os chás de alecrim selvagem, sálvia e orégano também ajudam a manter a pressão arterial sob controle, livrando o corpo do excesso de sódio e água. Que tal começar a celebrar com um chá ao invés de oferecer a quem visita sua casa um suco, refrigerante, bolo ou salgadinho?

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/