Eventos estressantes na infância impactam a saúde por toda a vida

Enquanto a maior parte das crianças cresce em famílias amorosas, muitas crescem em ambientes com pouco apoio e relações familiares conturbadas. Quando as crianças não sentem-se seguras podem crescer com baixa autoestima, ansiedade ou mesmo problemas de saúde que perpetuam-se por toda a vida.

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Experiências adversas, ou seja, eventos estressantes na infância são conhecidas em inglês como ACEs e incluem diferentes formas de abuso físicos, emocionais ou sexuais. Incluem também violência doméstica, bullying, contato com adultos que tenham problemas com álcool ou drogas, divórcio dos pais, morte de um ou ambos os pais, criação por adultos com doenças mentais, ter um dos pais na prisão, passar por muitas privações devido à baixa condição econômica da família.

Relatório de 2018 publicado pela fundação Abrinq mostra que 40% das crianças no Brasil vivem na pobreza. Além disso, descaso, divórcio, abuso do álcool, violência doméstica podem ocorrer em qualquer classe social. Ou seja, a situação é gravíssima no Brasil. É muito provável que você ou pessoas muito próximas a você tenham passado por experiências adversas na infância. Pense: que impacto estes eventos tiveram no resto de sua vida?

Em relação à saúde, estudos mostram que quando uma criança não recebe suporte adequado ou quando o número de eventos adversos é grande as complicações na idade adulta aumentam.

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Crianças submetidas a 4 ou mais ACEs possuem maior probabilidade de desenvolverem na fase adulta problemas cardíacos, diabetes tipo 2, depressão, perpetuarem situações de violência, serem encarcerados, abusarem de álcool ou drogas. Além disso, pessoas submetidas a 4 ou mais ACEs tendem a perpetuar a pobreza e viverem em áreas com menos recursos.

Para prevenir ACEs fale sobre as mesmas. Quanto mais nos informamos mais conseguimos atuar. Observe as crianças com as quais tem contato e seus comportamentos. Converse com elas. Transmita-lhes segurança. Ter um adulto confiável por perto reduz os efeitos negativos dos ACEs. Isto é fundamental já que poucas crianças tem acesso à acompanhamento psicológico pelo tempo necessário.

Na psicologia a teoria do apego ou da vinculação argumenta que uma forte ligação emocional e física com um cuidador primário em nossos primeiros anos de vida é fundamental para o nosso desenvolvimento. Se a nossa ligação é forte e estamos firmemente ligados, então nos sentimos seguros para explorar o mundo. Se o nosso vínculo é fraco, nos sentimos inseguros. Temos medo de sair ou explorar um mundo de aparência assustadora. Após a segunda guerra mundial observou-se que as crianças órfãs e sem lar apresentaram muitas dificuldades, Na época o psicanalista e psiquiatra John Bowlby foi chamado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para estudar o tema, formulando depois a teoria.

Aprendendo a cuidar-se

O termo autocuidado refere-se às práticas intencionais para que possamos estar bem. Pode ser facilmente mal interpretado como algo superficial, da pessoa que só pensa em se pentear, maquiar, malhar. Mas envolve muito mais e um trabalho muito maior e interno, para o desenvolvimento da autoconsciência, autocompaixão, autoperdão, compreensão de sua própria identidade etc.

Todos temos traumas passados. Alguns são muito profundos. Violência  na família, abusos sexuais, segregação racial, falta de oportunidades pela condição socio-econômica são realidades diárias. Existe um estigma nas comunidades menos favorecidas de que o cuidado com a saúde mental é coisa de branco rico. Que o papel deles é cuidar de quem está em volta, da família, dos filhos, da comunidade. Contudo, nem isso é possível se a própria pessoa não encontra-se bem física, mental e emocionalmente. Isto porque podem pensar que autocuidado é ir para um SPA, para um resort, para uma sessão de massagem. Mas o importante do autocuidado é o que fazemos todos os dias, como um ato de amor próprio:

  • Dormir bem

  • Escovar os dentes

  • Hidratar-se bem

  • Consumir pouco álcool

  • Consumir pouco alimento ultraprocessado

  • Adotar uma dieta a base de plantas

  • Definir limites para as pessoas

  • Movimentar o corpo

  • Praticar a gratidão

  • Estar com pessoas do bem

  • Limitar tempo em redes sociais

  • Perceber o que está acontecendo internamente (está ficando com pouca energia?) e neste momento dizer não para tudo o que não te serve

O autocuidado tem o poder de quebrar ciclos viciosos. Cuide-se para poder cuidar melhor também.

Obrigada por compartilhar!
Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/