Alimentação consciente para todos os tipos de corpo

A vida moderna é muito corrida. Fazemos muitas coisas durante o dia e muitas vezes sem prestarmos atenção. Chegamos ao final do dia cansados, irritados, desmotivados. Por isso, para manutenção da saúde é muito importante cuidarmos do nosso lado mental, emocional e espiritual.

Eu não levo mais o aparelho celular para o quarto pois quando fazia isso já começava o dia olhando os emails, mensagens de whatsapp e redes sociais. Isso fazia com que eu saísse correndo da cama para resolver problemas dos outros e do trabalho. Às 10 da manhã já estava exausta. Hoje, deixo o telefone na sala, acordo calmamente, faço minha meditação, meu alongamento e só depois que me arrumo pego o celular. Meu estresse diminuiu significativamente, minha produtividade aumentou e as ideias fluem muito melhor. À noite, também fico menos compulsiva por comida já que meu cortisol fica mais equilibrado durante o dia.

Esta prática de prestar atenção às nossas ações também pode extender-se à nossa alimentação. Já ouviu falar das práticas de alimentação consciente? Em 2017 gravei uma série por este tema e você pode assistir lá no meu canal no youtube. Muitas pessoas pensam que apenas quem está acima do peso precisa deste tipo de prática, precisa aprender a prestar atenção à comida. Mas não é verdade. Magros também podem estar comendo correndo, em pé, navegando pela internet, assistindo TV, comendo sem fome, comer para tapar buracos emocionais e também podem enfrentar também má digestão, insatisfação com a comida, menos prazer, menor produção enzimática e por aí vai.

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E se não ficamos satisfeitos com nossa alimentação comemos mais, comemos pior, buscamos mais guloseimas. E aí, deixamos de comer para atender nossas necessidades fisiológicas para tentar suprir nossas necessidades emocionais. O que difere a pessoa magra da pessoa que está lutando para emagrecer costuma ser o arrependimento por ter comido.

Mas práticas de Mindful Eating não são tratamento para obesidade. Elas podem ajudar no processo de emagrecimento, mas são muito mais importantes do que isso. Fazem parte de um processo de autoconhecimento. De um processo de autoaceitação e de um processo de redução do estresse, já que este sim está associado à mais compulsão (Cotter & Kelly, 2018). Não dá para trabalhar um lado (querer emagrecer) sem trabalhar os demais. Deixo uma prática de bondade amorosa para com o corpo para você:

Se não aprendemos a nos acalmar e usamos a comida o tempo todo como forma de acalento acabamos perdendo a habilidade de identificar sinais de fome e saciedade. E aí vira uma bagunça, pois aprendemos a pular refeições, mesmo estamos com fome, e descontamos em outros horários, comendo exageradamente, mesmo quando a fome já foi embora. E isso, a longo prazo contribui para a dificuldade de emagrecimento e também pode contribuir para problemas de saúde.

Profissionais habilitados podem trabalhar estes aspectos todos, tirando o foco do alimento (do que pode, do que não pode, do que é saudável, do que não é) e ensinando o paciente a gerenciar melhor o estresse, a traçar objetivos, a se automonitorar, a ter mais autonomia, ao invés de seguir dietas malucas ou padrões estabelecidos pela mídia e que não respeitam a genética, as vontades, gostos. O ideal é que cada pessoa vá ganhando cada vez mais autonomia e possa comer de forma intuitiva, sem neuras, com prazer, sem culpa. A comida deve nos dar alegria, saúde, bem-estar, deve proporcionar momentos agradáveis e tudo isso é possível.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Vencendo a compulsão alimentar noturna

Muitas pessoas passam o dia todo alimentando-se adequadamente mas quando chega a noite a fome é enorme. Um dos motivos é a disrupção do ciclo circadiano. O ritmo circadiano ou ciclo circadiano designa o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos. Este ciclo é influenciado principalmente pela variação de luz, temperatura, consumo alimentar, descanso, atividade física, produção hormonal e genética (Poggiogalle, Jamshed & Peterson, 2018).

Dormir é a principal forma de reparo do nosso organismo. Quando o descanso não é respeitado, o corpo desregula-se (não só o horário da fome mas também a glicemia e o humor). Quem dorme tarde ou dorme mal produz mais grelina, menos leptina e sente vontade de beliscar alimentos ricos em gordura ou açúcar. Por isso, a higiene do sono é tão importante (falo sobre ela aqui). Alguns suplementos podem auxiliar a melhorar a qualidade do sono como L-teanina, magnésio, fosfatidilserina e chás como passiflora, camomila e mulungu.

O que você come durante o dia também vai influenciar sua fome à noite. Seu almoço deve ser rico em fibras (salada com sementes), gorduras boas (azeite, abacate, castanhas) e uma proteína (peixe, tofu, ovo). Se o seu intestino estiver ruim seu cérebro ficará mais inflamado e isto também pode aumentar a compulsão. Consuma laranja com bagaço e pergunte para seu nutricionista sobre a suplementação de psyllium, goma acácia ou espirulina. Isto é muito importante, principalmente naqueles com polimorfismos desfavoráveis de FTO, GLP1, GIPR, GHSR ou MC4R.

Avalie também seus genes relacionados ao metabolismo de neurotransmissores. Em minha consulta indico testes nutrigenéticos para avaliação de polimorfismos como o da COMT, que regula a dopamina. Pessoas com polimorfismo da COMT podem ser mais ansiosas e beneficiam-se da prática de yoga, meditação e do uso de chás com efeito ansiolítico (como melissa, jasmim, camomila). Suplementos como L-teanina, L-taurina, magnésio, Citrus sinensis (Serenzo), extrato de aveia verde (Neuroavena) também ajudam. L-tirosina pode ser usada para aumentar dopamina, assim como magnésio, metilfolato e inositol.

O gene ALPL também precisa ser analisado visto que polimorfismos podem aumentar a necessidade de vitamina B6 para a ação do GABA no cérebro. Para aumentar GABA no cérebro também podemos pensar em suplementos como L-taurina e L-teanina.

Alterações nos genes ligados a sensibilidade à insulina e regulação da glicemia, como SLC2A2 (GLUT2), IRS1 (receptor de insulina), TCF7L2 (principal gene ligado ao diabetes tipo 2) também interferem nas sensações de fome e saciedade. Para o equilíbrio glicêmico podem ser utilizados suplementos como ácido lipoico, cromo, vanádio, extrato de canela, Gymnema sylvestre, Berberina e fibras.

Fatores como ansiedade, estresse emocional e inflamação agravam as alterações em todos esses genes. Por isso, os alvos do tratamento da compulsão costumam ser múltiplos: (1) estabilização da glicemia, com atividade física, dieta antiinflamatória e suplementação adequada; (2) controle da inflamação (avalie também o funcionamento intestinal pois este influencia também no bem-estar emocional); (3) melhoria da qualidade do sono; (4) redução do estresse e modulação da produção hormonal por meio de atividades corpo-mente, como yoga e meditação.

DICAS IMPORTANTES PARA A REDUÇÃO DA COMPULSÃO ALIMENTAR

1 - Dieta de baixo índice e carga glicêmicas, com redução gradativa do consumo de açúcares e adoçantes. Dependendo das características genéticas um grupo de pessoas beneficia-se também de dietas cetogênicas e jejum intermitente (pelo menos 2 vezes por semana).

2 - Atividade física moderada.

3 - Uso de suplementos adaptógenos para redução do estresse (Ashwagandha, Rhodiola rosea, Humulus lupulus, Schizandra, Mucuna pruriens, Citrus sinensis, cogumelos como reishi, cordyceps, chaga, Lions mane etc).

4 - Aumento no consumo de ervas e condimentos picantes, amargos e ricos em polifenóis para controle da inflamação. Suplementos como Boswellia serrata, quercetina, ômega-3, curcumina, extrato de chá verde e vitamina D também podem ser úteis;

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5 - Tratamento da disbiose intestinal para reequilíbrio do eixo intestino-cérebro;

6 - Desligar o celular, o computador e a TV pelo menos 1 hora de ir para a cama;

7 - Jantar cedo (pelo menos 3 horas antes de dormir) para um sono reparador e reequilíbrio hormonal;

8 - Uso de óleos essenciais podem complementar a prática de yoga e meditação. Antes de dormir uma boa opção é o óleo essencial de lavanda colocado no difusor do quarto.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

A reversão da diabetes tipo 2

A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) pode ser considerada uma pandemia global. Estimativas recentes da Organização Mundial da Saúde indicam que mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo têm diabetes. A doença está associada a maiores taxas de morbimortalidade e altos custos de tratamento.

A literatura trata de diversos métodos para a reversão da diabetes:

Adietas são menos extremas, mais seguras do que a cirurgia bariátrica. A modificação da dieta na forma de restrição de carboidratos era o tratamento da diabetes antes do advento da terapia com insulina e hipoglicemiantes orais. O uso de insulina exógena revolucionou o tratamento do diabetes tipo 1 e também se estabeleceu como uma terapia no DM2, apesar das diferenças na fisiopatologia destas doenças.

A conveniência dos medicamentos acabou fazendo com que os médicos e pacientes relaxassem no controle da dieta, o que gerou o aumento do número de complicações como amputações, insuficiência renal, neuropatia, disfunção sexual, doenças cardíacas e comprometimento da visão.

A redução de carboidratos na dieta pode assumir várias formas. As dietas VLCK (very low carbohydrate ketogenic) recomendam 30 g ou menos de carboidrato dietético por dia. As dietas LCK (cetogênica com baixo teor de carboidratos) recomendam 30-50 g de carboidratos dietéticos por dia. As dietas com redução de carboidratos recomendam entre 50 g e 130 g de carboidratos dietéticos por dia. As dietas com moderação de carboidratos adotam mais de 130g de carboidratos de baixo índice glicêmico ao dia e restrição calórica. A quantidade de carboidrato ideal depende dos valores da glicemia diária, das metas terapêuticas, da capacidade de adesão do paciente à quantidades menores deste nutriente na dieta e da tolerância aos corpos cetônicos.

A avaliação e o aconselhamento dos pacientes antes do início de uma dieta com restrição de carboidratos pode acontecer tanto durante uma internação, quanto em consulta fora do ambiente hospitalar. Os testes laboratoriais iniciais devem incluir o testes de função hepática, hemograma completo, testes de função tireoidiana, hemoglobina glicada, painel lipídico, urinálise, glicemia e insulina em jejum, frutosaminas, vitamina D, peptídeo C, ácido úrico, proteína C reativa de alta sensibilidade (hsCRP), modelo homeostático de resistência à insulina (HOMA-IR).

A redução dos açúcares na dieta (especialmente abaixo de 50 g de carboidrato por dia) colocará a maioria dos adultos em cetose nutricional. Durante esse estado, o corpo depende principalmente de ácidos graxos e uma pequena quantidade de cetonas pode ser detectada no sangue, na urina ou na respiração. As cetonas podem ser avaliadas no sangue utilizando-se aparelho de monitoramento da glicemia e da quantidade de corpos cetônicos. As cetonas também podem ser avaliadas no hálito com a utilização de aparelhos específicos como este.

É importante ressaltar que a cetose nutricional difere da cetoacidose, na qual uma falta absoluta de insulina causa lipólise descontrolada e grandes quantidades de cetonas geram um nível de acidose que ameaça a vida. Uma dieta com baixo teor de carboidratos enfatiza o consumo de alimentos proteicos e boas fontes de gordura. Ovos, abacate, azeitonas, azeite de oliva extra virgem, salmão e outros peixes, saladas variadas, castanhas e sementes são benéficas para o controle da glicemia e para a saúde intestinal.

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Deve-se também considerar a adoção de jejum intermitente desde que em constante contato com o endocrinologia para ajustes na dosagem de insulina e outros medicamentos, evitando-se situações de hipoglicemia. Com um nutricionista deve-se acompanhar efeitos adversos associados à dieta com baixo teor de carboidrato, como a perda exagerada de sal pela urina, aumento dos níveis de colesterol ou constipação intestinal (Cucuzzella et al., 2019). Neste caso suplementos como psyllium e goma acácia purificada podem ser recomendados pelo nutricionista.

As dietas com baixo teor de carboidratos também podem ser utilizadas para controle da inflamação, tratamento da disfunção mitocondrial e da resistência à insulina. Chás são bastante indicados durante o dia para controle da compulsão alimentar, bem estar geral e redução da inflamação. Os chás de canela, moringa, açafrão e gengibre são boas opções. Especiarias também devem ser utilizadas abundantemente na alimentação. Cravo, alecrim, orégano, manjerona, cominho, salsinha, açafrão, manjericão, sálvia, pimenta, hortelã, tomilho, cacau, canela são incríveis.

Os jantares devem ser realizados até 3 horas antes de dormir para não atrapalhar a qualidade do sono, que também interfere no controle glicêmico. O controle do estresse e a prática de atividade física também são muito importantes para o controle glicêmico e não devem ser esquecidos.

Suplementos podem ser utilizados para melhoria do perfil glicêmico. Algumas boas recomendações incluem: Gymnema sylvestre, faseolamina, extrato de canela, trans- resveratrol, ácido R- alfa lipóico e ômega 3, magnésio e zinco quelado, vitamina D, cromo GTF, vanádio quelado, mio-inositol e d-chiro inositol.

Outros suplementos usados no tratamento do diabetes na Europa.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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