Compulsão x impulsividade alimentar

Muita gente chega na consulta dizendo: tenho compulsão por doces. Na verdade isso não é compulsão, é impulsividade. Pessoas com compulsão alimentar não apresentam seletividade. Comem o que tem pela frente. Enquanto a impulsividade pode ser tratada no consultório de nutrição, a compulsão é um diagnóstico psiquiátrico e o tratamento é bastante mais complexo.

O transtorno da compulsão alimentar caracteriza-se por episódios recorrentes de consumo de grandes quantidades de alimentos com sensação de perda de controle. Eles não são seguidos por comportamentos compensatórios inapropriados, tais como indução de vômitos ou abuso de laxantes. O diagnóstico é clínico e os critérios para o diagnóstico do transtorno de compulsão alimentar requerem que a compulsão alimentar tenha ocorrido pelo menos 1 vez/semana nos últimos três meses. Os pacientes têm sensação de falta de controle em relação à alimentação. Além disso, ≥ 3 dos seguintes itens deve estar presente:

- Comer muito mais rápido do que o normal para mesmo peso, idade, cultura.

- Comer até se sentir desconfortavelmente cheio.

- Comer grandes quantidades de alimento quando não se sentindo fisicamente com fome.

- Comer sozinho por vergonha.

- Sentir-se nauseado, deprimido ou culpado depois de comer excessivamente.

O transtorno de compulsão alimentar é diferenciado da bulimia nervosa (que também envolve compulsão alimentar) pela ausência de comportamentos compensatórios (p. ex., vômitos autoinduzidos, uso de laxantes ou diuréticos, excesso de exercícios, práticas de jejum).

O tratamento é com terapia comportamental cognitiva ou, às vezes, psicoterapia interpessoa, medicamentos como lisdexanfetamina (impulsividade) e outros, dependendo também das comorbidades apresentadas pelo paciente (ansiedade, depressão etc).

As causas do transtorno da compulsão alimentar periódica não são completamente entendidas, mas é mais comum em mulheres do que em homens. Embora pessoas de qualquer idade possam ter transtorno de compulsão alimentar periódica, ele geralmente começa no final da adolescência ou início dos 20 anos.

Fatores que podem aumentar o risco de desenvolver transtorno de compulsão alimentar incluem:

- História familiar. É muito mais provável que você tenha um transtorno alimentar se seus pais ou irmãos tiverem (ou tiveram) um transtorno alimentar. Isso pode indicar que os genes herdados aumentam o risco de desenvolver um transtorno alimentar.

GENES ENVOLVIDOS NA COMPULSÃO ALIMENTAR | Fonte: GeneCards, 2021

OUTRAS CAUSAS PARA COMPULSÃO ALIMENTAR

- Práticas de dietas restritas. Muitas pessoas com transtorno de compulsão alimentar periódica têm um histórico de dieta ao longo da vida. Fazer dieta ou restringir calorias desde cedo pode desencadear uma vontade de comer compulsivamente, especialmente se você tiver sintomas de depressão.

- Problemas psicológicos. Muitas pessoas que têm transtorno de compulsão alimentar possuem baixa autoestima, algumas passaram por grandes traumas durante a vida. Os gatilhos para a compulsão podem incluir estresse, autoimagem corporal ruim e a disponibilidade de alimentos compulsivos preferidos.

E SE NÃO FOR COMPULSÃO?

A maioria das pessoas costuma sofrer é de impulsividade alimentar, agimos por impulso. Vemos algo gostoso e não nos controlamos. Pode acontecer em outras áreas, vemos algo bonito e compramos sem pensar. Mas o nosso cérebro é treinável e podemos pensar: vou para casa, se depois de amanhã ainda quiser este item volto e compro.

Na alimentação acontece o mesmo. Precisamos pensar para inibir impulsos. O que quero? Emagrecer, ficar mais saudável, sentir menos dores? Esse bolo parece mesmo muito gostoso mas sei que se não comer me sentirei melhor mais à frente. Agora, uma coisa interessante: quanto mais inflamados estamos mais imediatistas ficamos. Se temos disbiose isso gera neuroinflamação, se seguimos uma dieta inflamatória, isso gera neuroinflamação. E quanto mais o cérebro estiver inflamado mais difícil é dizer não às guloseimas.

Por isso, tratamento da disbiose e dieta antiinflamatória são importantíssimos. Indivíduos com alto percentual de gordura corporal também são mais inflamados e possuem maior tendência à perpetuar a compulsão alimentar. Desta forma, atividade física, dieta balanceada para evitar muitas flutuações de glicemia e sono de qualidade são estratégias que não podem ser neglicenciadas. No início é difícil mas você consegue assumir novos hábitos. Se precisar de ajuda marque uma consulta. Terei todo prazer em te acompanhar.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
Tags

DISTÚRBIOS ALIMENTARES | DICAS PARA VENCER A COMPULSÃO

O confinamento e o estresse relacionado à pandemia pelo Covid-19 agravou os transtornos alimentares. É o que foi demonstrado em dois estudos recentes. O isolamento social, a ansiedade, a interrupção da atividade física, o tédio e a mudança de rotina aumentou a prevalência de bulimia, dietas malucas e compulsão alimentar (Miniati et al., 2021; Termorshuizen et al., 2020).

O tempo passado nas redes sociais também fez com que muita gente passasse muito tempo exposta ou refletindo sobre imagem corporal. TROQUE PELO CURSO DE YOGA!! No tempo que gasta navegando pode se formar como instrutor, sabia? E se estiver em dificuldade ainda te dou uma bolsa de 50% de desconto!

Atenção: os transtornos alimentares e outras condições de saúde mental costumam estar de mãos dadas. Depressão e ansiedade têm taxas de comorbidade muito altas com transtornos alimentares. Por isso, precisando procure um psicólogo e um psiquiatra. Não tenha medo de pedir ajuda, principalmente em recaídas.

Aprenda a dizer não, a descansar, a parar, a se avaliar, a processar suas emoções. Colorir, meditar, cantar. A psicoterapia também ajuda muito. Falar sobre sentimentos reduz a ansiedade e ajuda no gerenciamento da medicação. Indico a Julia Maciel, psicóloga formada pela UnB e que atende online, por videoconferência. Atividade física, meditação, acupuntura e yoga também vêm mostrado-se importantes complementos ao tratamento tradicional medicamentoso. Cuide-se!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Alimentação consciente no tratamento da compulsão alimentar

CICLO.jpg

Na compulsão alimentar existem desregulações nos mecanismos de fome e saciedade, desregulações emocionais, que contribuem para os comportamentos compulsivos.

Estudos mostram que as técnicas de alimentação consciente são eficazes no tratamento da compulsão alimentar.

Quando entendemos o que nos leva a comer, por que escolhemos o que escolhemos, por que comemos na quantidade de comemos. Quando respeitamos mais o corpo, quando evitamos restrições desnecessárias o controle da compulsão é facilitado.

Processos cognitivos influenciam o comportamento alimentar

Higgs et al., 2017

dlPFC: córtex pré-frontal dorsolateral; COF: córtex orbitofrontal; vmPFC: córtex pré-frontal ventromedial.

O círculo externo na imagem acima (em laranja) fornece uma visão geral dos processos que operam antes de uma refeição: a expectativa de comer, a visão do alimento a ser consumido, e a interação entre quaisquer objetivos (como ter mais saúde), memória do sabor e o prazer da comida, a atenção aos sinais alimentares (fome) determinarão se os indivíduos começarão a comer e que tipo de comida escolherão.

O círculo do meio (em verde) representa os processos dentro da refeição que influenciam a quantidade consumida. As sensações de prazer e recompensa tendem a ir diminuir conforme nos alimentamos (a primeira garfada é mais gostosa que a última) e levam ao término da refeição. A saciedade compreende componentes hormonais, metabólicos, cognitivos e também de memória. A atenção ao processo de alimentação e o controle cognitivo também influenciarão no término da refeição.

O círculo interno (em vermelho) representa os processos que operam entre as refeições, por exemplo, a memória episódica de uma refeição influenciará as decisões sobre quando iniciar a próxima refeição. Registramos as refeições na “memória episódica” nas áreas do hipocampo e no córtex pré-frontal. Esses registros nos guiam inconscientemente nas decisões do quanto comer nas refeições seguintes.

Porém, imagina não dar atenção adequada a refeição, vendo televisão ou usando o celular. O cérebro não percebe com a mesma eficiência se já comeu, se não comeu, se foi bom, se não foi, se foi suficiente… E se não lembrar que comeu vai querer comer mais. Prestar atenção às refeições é uma forma de reduzir em até 40% o consumo calórico durante as refeições.

Gostou? Aprenda mais sobre cérebro e nutrição em https://www.t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/