Glifosato: o agrotóxico mais utilizado no Brasil

Nos últimos 50 anos mais de 3,3 milhões de km2 de cobertura vegetal nativa foram suprimidas ou degradadas na Amazônia, no Cerrado e na Caatinga. Desrespeitamos o que há de mais importante na terra: a natureza. O Brasil é também o campeão mundial no uso de produtos químicos na agricultura.

A décadas o Brasil tolera a grilagem e a concentração da propriedade fundiária. Multiplicaram-se os megalatifúndios com mais de 100 mil hectares. Em 2003, eles eram apenas 22 e representavam 2% da área dos imóveis rurais do país. Em 2014, eles passaram a ser 365 e ocupavam 19% dessa área. No outro extremo da balança, as pequenas propriedades de até 10 hectares, que ocupavam 2% dessa área em 2003, representavam em 2014 apenas 1%. E é justamente das pequenas propriedades que vem grande parte dos alimentos que consumimos. Megalatifúndios interessam-se é pela produção de soja, milho e cana (principalmente para combustível).

Esse processo de concentração fundiária consolidou o modelo do agronegócio, com a produção sendo tratada não como alimento mas como commodity (soja, milho, café, cacau, gado etc), com valores negociados na CME (Chicago Mercantile Exchange) mesmo antes da produção. O crescimento do agronegócio brasileiro apoia-se na expansão da área cultivada, frequentemente em detrimento das florestas e sem respeito pela biodiversidade.

A área de cultivo da soja aumentou de 18,5 milhões de hectares em 2002/2003 para 33 milhões em 2015/2016, um salto de 79% em 13 anos. Para o agronegócio é mais barato avançar sobre a floresta. Seu lema é considerar a devastação ambiental como uma externalidade e aniquilar tudo o que ameace a máxima rentabilização imediata de sua mercadoria.

A monocultura desequilibra o ecossistema e para controlar pragas e aumentar a produção o uso de agrotóxicos aumenta. Entre 2002 e 2014, o consumo de agrotóxicos no Brasil aumentou em 340%, passando de cerca de 150 mil toneladas para mais de 500 mil toneladas de ingrediente ativo. O que é incrível é que o Brasil participa com apenas 4% do comércio mundial do agronegócio mas consome hoje cerca de 20% de todo agrotóxico comercializado no mundo. Muitos dos ingredientes usados no Brasil são proibidos no exterior justamente por gerarem efeitos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente.

Pesquisas mostram níveis elevados de resíduos agrotóxicos em um terço das frutas, vegetais e hortaliças analisadas entre 2011 e 2012 no país. E o pior: uma a cada três amostras avaliadas apresenta ingredientes ativos não autorizados, entre eles dois agrotóxicos que nunca foram registrados no Brasil: o azaconazol e o tebufempirade.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), “dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer. (...) Vale ressaltar que a presença de resíduos de agrotóxicos não ocorre apenas em alimentos in natura, mas também em muitos produtos alimentícios processados pela indústria, como leites para bebês, biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas, pizzas e outros que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja, por exemplo. Ainda podem estar presentes nas carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos, devido ao processo de bioacumulação.” 

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O glifosato (glicina + fosfato) é o agrotóxico mais utilizado no Brasil. O Roundup da monsanto é produzido a base de glifosato. Trata-se de um agrotóxico sistêmico, isto é, desenhado para matar quaisquer plantas, exceto as geneticamente modificadas para resistir a ele. Seu uso tem sido associado a maior incidência de câncer, à redução da progesterona em células de mamíferos, a abortos e a alterações teratogênicas por via placentária.

O Limite Máximo de Resíduos (LMR) de glifosato permitido na soja na União Européia é de 0,05 mg/kg, no Brasil é de 10 mg/kg, portanto um limite 200 vezes maior.

Já na água o limite do Brasil é 5.000 vezes maior do que o da Europa. A quem isso interessa. Está claro que a preocupação com a saúde pública é inexistente.

Apesar das críticas a licença do glifosato foi renovada na União Europeia. Mesmo assim, a França determinou que o produto será proibido a partir de 2022.

No Brasil a bancada ruralista luta para que o glifosato não precise mais ser reavaliado. Aliás, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi afirma que a proibição do uso de glifosato no Brasil seria um "desastre" para a agricultura. O que eu acho é que seria um desastre para os grandes latifundiários. Se você também pensa assim não reeleja ruralistas! Saiba quem são estes parlamentares:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bancada_ruralista

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Agrotóxicos acabam com seus neurônios. Vote contra!

Nossa lei sobre o uso dos agrotóxicos não é uma maravilha. Mas foi resultado de muita luta. Os agrotóxicos passaram a ser regulados a partir da constituinte de 1988. Antes disso, recebiam o nome de “defensivos agrícolas”. Defensivo parece algo bom, algo que vai te defender. Mas os agrotóxicos estão longe de defender nossa saúde. É por isso, que na Europa o uso é cada vez vez mais regulado e restrito.

Só para você ter uma ideia no Brasil usamos 5 vezes mais agrotóxicos na cana, milho e sorgo do que na Europa; 10 vezes mais no melão; 20 vezes mais nas frutas cítricas e 500 vezes mais no feijão (Bombardi, 2017). E tudo pode piorar!

O Brasil está andando na contra mão do mundo e o congresso nacional tenta mudar a lei liberando ainda mais o uso de veneno em nossas comidas. O novo projeto de lei tira poderes do ministério da saúde e do meio ambiente. Afinal, de acordo com o ex-senador e atual ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP-MT) os agrotóxicos são fundamentais para modernizar a produção brasileira. Será? E a quem isso interessa?

Pesquisas mostram que agrotóxicos estão envolvidos sim em tudo que essa galera do veneno nega: aumento dos casos de câncer, malformações, depressão e suicídio. Até mesmo bebês, de zero a 12 meses, não escapam da intoxicação e dos desdobramentos do uso indiscriminado de substâncias tóxicas. Para Larissa Bombardi, pesquisadora responsável pelo atlas que mostra o uso dos agrotóxicos no Brasil a situação é um desrespeito ao direito mais básico que todo ser humano tem, especialmente as crianças – que é o direito à vida.

A nova proposta de legislação muda o nome de agrotóxico para pesticida (algo que parece bom - acabar com as pestes). Essa mudança visa esconder da população o risco que ela corre com o uso de produtos tóxicos na produção de alimentos. A nova proposta também liberaria para o mercado agrotóxicos mesmo que não houvessem sido finalizados os estudos técnicos de segurança. De acordo com os ruralistas, o governo demora demais na liberação.

O governo é moroso sim e isso tem que melhorar mas a nova medida coloca todo o risco nas costas da população, favorecendo apenas os fabricantes dos agrotóxicos. O projeto de lei também restringe a possibilidade dos estados e municípios criarem legislações mais restritivas e de maior controle sobre o uso dos insumos da agricultura e pecuária, facilitando a entrada na cadeia alimentar de produtos danosos à saúde e ao ambiente.

Uma das principais controvérsias do projeto é a ideia de que agrotóxicos só serão proibidos no país caso apresentem "risco inaceitável". O que é isso, já que câncer e doenças neurológicas parecem ser aceitáveis? Agrotóxicos de vários grupos, como organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretroides e outros, se associam a efeitos neurológicos agudos, geram sequelas tanto sensitivas quanto motoras, além de deficiências cognitivas transitórias ou permanentes. Pois é, parece que para os ruralistas o único risco inaceitável é a redução dos seus lucros financeiros.

Atualmente, a lei 7.802/1989, que rege o uso de agrotóxicos, proíbe o uso de substâncias que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas (que provoquem câncer ou alterações em embriões ou no DNA), que provoquem distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor ou que causem danos ao meio ambiente. Isso no Brasil já não é respeitado!

Já somos muito mais permissivos do que o resto do mundo. Por exemplo, permitimos um nível de glifosato na água (considerado cancerígeno para animais) até 5 mil vezes maior do que o permitido na união europeia. O novo projeto de Lei (6670/2016) deixa tudo ainda mais flexível.

Um terço dos 504 agrotóxicos que são autorizados no Brasil são proibidos na UE. Dos dez mais vendidos no Brasil atualmente, dois são proibidos lá. O que pode acontecer agora é que essa diferença pode aumentar. Outro problema é a questão da reavaliação dos riscos dos agrotóxicos.

Nos Estados Unidos, os agrotóxicos permitidos devem ser reavaliados a cada 15 anos. No Japão, a cada três. Na Europa, são 10 anos. Após esse período, as autorizações devem ser revistas de acordo com as novas pesquisas científicas disponíveis sobre elas. Em todos os casos, a sociedade também pode pedir a reavaliação. No Brasil, uma substância só é reavaliada atualmente mediante pedido. É tudo muito complicado. Vou escrever mais sobre o tema durante toda esta semana.

Enquanto isso você pode:

1) Assinar a petição contra a mudança da lei dos agrotóxicos. Ela está longe de ser perfeita. Mas as propostas de mudanças só prejudicarão nossa população. https://bit.ly/2NdC4e1

2) Não vote na bancada ruralista. Eles não estão nem aí para sua saúde. O que interessa para esses mega fazendeiros é a produção de commodities, de produtos para a exportação como soja ,milho e cana de açúcar. O que irá para os eu prato e de que forma passa longe das preocupações desses caras que não se importam em desmatar a amazônia ou intoxicar as pessoas. Afinal, é tudo em nome do lucro. Saiba quem são esses caras: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bancada_ruralista

3) Cobre do seu candidato um posicionamento em relação aos agrotóxicos. De preferência por escrito, na forma de plano de governo!

4) Fazer uma horta na sua casa ou na sua janela.

5) Conhecer as plantas alimentícias não convencionais, fáceis de cultivar, muito mais nutritivas e saudáveis. https://andreiatorres.com/blog/?offset=1506795660091

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Por que comer de forma intuitiva é tão difícil?

Fazer dieta, contar calorias, seguir regras sobre o que é certo e é errado comer. Apesar de comum, todas estas atitudes vão contra nossos instintos. Crianças não fazem isso. Simplesmente quando comem quando estão com fome e param de comer quando estão saciadas. E esta é a melhor forma de ter uma relação saudável com seu corpo e com os alimentos. 

A forma como comemos é tão importante quanto o que comemos. Mastigar bem o alimento é essencial. Use todos os sentidos para perceber o alimento: suas cores, aromas, texturas. O som que faz em sua boca ao ser mastigado. Entre uma garfada e outra respire.

Mas de acordo com Susi Orbach, autora do livro "Gordura é uma questão feminista", publicado em 1978, fazer as pazes com a comida e com o próprio corpo não é tão fácil. Ao escrever na década de 1970 sobre o sofrimento das mulheres em relação à alimentação, sobre o quanto as mulheres preocupavam-se com a aparência e o ganho de peso, pensou que tudo mudaria.

O alimento tornou-se o calmante das pessoas e ela propõe no livro que as mulheres troquem a comida pelas palavras. Afinal, o corpo é lugar em que vivemos. Contudo, frequentemente nos chegam diretrizes sobre o que devemos fazer em relação a ele (dietas, massagens, exercícios, cirurgias) com o discurso disfarçado de saúde.

O bombardeamento começa ainda na infância. Por isso, pode ser tão difícil mudar e sentir-se bem comendo. Para muitos não é fácil resgatar sinais de fome e saciedade. Quem tem uma relação caótica com a comida, recheada de culpa e ações extremadas é procurar a ajuda de um nutricionista comportamental. Também tenho um curso sobre alimentação consciente e intuitiva na plataforma Udemy. Saiba mais:

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/