Outro dia enviaram-me uma dúvida. Pessoas com síndrome de Down podem consumir milho? Sim, a maior parte dos indivíduos com trissomia do cromossomo 21 pode consumir milho. Da onde surgiu esta questão e quem é que não pode consumir milho?
O milho não deve ser consumido por pessoas alérgicas
O milho e produtos derivados do milho estão presentes em muitos alimentos processados e ultraprocessados. A alergia ao milho é relativamente rara e de difícil diagnóstico pois pode confundir-se à alergia por outros grãos e sementes. A suspeita aparece quando os sintomas somem após a eliminação de todos os produtos contendo milho.
Os sintomas mais comuns da alergia ao milho são vômitos, dores de estômago, indigestão, diarreia, chiado no peito, falta de ar, dificuldade em respirar, tosse, rouquidão, palidez, coceira na pele, inchaço de língua ou lábios, tontura, confusão mental.
O milho esconde-se em cereais matinais, balas, geleias, xaropes, molhos, salgadinhos, frutas enlatadas, carnes processadas (salsicha, linguiça, mortadela etc), sucos e refrigerantes contendo xarope de milho.
Milho no Brasil
Muitas pessoas preocupam-se com os cultivares de milho transgênico. No Brasil, mais de 90% da área plantada com soja, milho e algodão é transgênica. Os transgênicos são alimentos modificados geneticamente para que rendam mais, resistam mais às pragas e contaminem-se menos com micotoxinas (que são tóxicas e cancerígenas).
Existem muitas críticas em relação aos alimentos transgênicos como a redução da biodiversidade por eliminação de espécies naturalmente presentes no ambiente (borboletas, abelhas etc). Outra crítica é que as espécies transgênicas são protegidas por patentes, o que significa que o agricultor que decidir utilizá-las deverá pagar royalties para a empresa detentora da tecnologia.
A consequência mais imediata é o aumento da dependência do agricultor das empresas transnacionais do setor. Isto por que, por regra contratual, o agricultor não pode utilizar as sementes do plantio anterior. Assim, teria que comprar novas sementes transgênicas a cada safra. Além disso, caso o agricultor não queira mais utilizar sementes transgênicas, pode ter que pagar multa e mais royalties se for verificada que sua plantação ainda está misturada com as sementes antigas. Isto empobreceria a população rural, o que é um grande problema social.
Existem também muitas dúvidas em relação aos efeitos dos transgênicos na saúde. Em um artigo publicado em 2018 cientistas italianos divulgaram o resultado do acompanhamento do consumo de milho transgênico por mais de 20 anos. Fizeram uma meta-análise rigorosa e verificaram que o milho transgênico é seguro e o consumo não apresentaria riscos à saúde humana (Pellegrino e colaboradores, 2018).
Agrotóxicos e tireóide
O maior problema do milho no Brasil é o uso de agrotóxicos em larga escala. Os agrotóxicos são utilizados para matar ervas daninhas e pragas nas culturas de soja, milho, trigo, algodão, café, dentre outras produções. São muitos os agrotóxicos vendidos, como herbicidas (glifosatoco, 2,4-D, atrazina, dicloreto de paraquate, diurom, S-metolacloro, mesotriona, acetocloro), fungicidas e inseticidas.
O paraquate, por exemplo, é um herbicida que afeta o funcionamento da tireóide (Goldner et al., 2010). Na população típica, 5 a 9% dos adultos apresentam hipotireoidismo subclínico e entre 0,8% e 7,5% apresentam doenças da tireóide. Devido à características genéticas próprias, na população com síndrome de Down esta incidência é bem maior, não só em adultos, mas também em crianças.
O milho não seria o problema mas sim a grande quantidade de agrotóxicos. O milho é um alimento milenar, consumido ao longo da história por muitos povos. Em 1493, quando Cristóvão Colombo retornou à Europa, levou consigo sementes de milho, que havia conhecido nas Américas. Só que ao longo dos anos, o milho foi modificando-se e hoje é um dos produtos com mais agrotóxicos. Por este motivo, indica-se o consumo de alimentos orgânicos.
Outro aspecto muito importante é evitar o consumo de alimentos ultraprocessados. O milho e seus subprodutos ( como xarope de milho) são muito baratos e adicionados pela indústria à uma infinidade de produtos como refrigerantes, doces, sorvetes, cereais matinais, balas, chocolates, iogurte adoçado, pizzas congeladas, pães, frutas enlatadas, sucos em embalagens tetra pack, barras de cereais, biscoitos, bolos, donuts, batatas fritas, barras energéticas, bebidas esportivas, bebidas energéticas, geleias, dentre tantos outros produtos ultraprocessados.