Quanto mais sabemos, menos sabemos

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Quanto mais estudo menos eu sei. E com esse sentimento de não saber fiz graduação, pós graduações, mestrado, doutorado, pós-doutorado. E se me deixassem passaria a vida só estudando. Mas a prática é fundamental. É no fazer que o profissional de saúde ajuda quem precisa. Então, sigo aprendendo e colocando em prática. Saber que não sei cria em mim um desconforto que é essencial para que eu continue sempre me atualizando e oferecendo a meus clientes o melhor serviço possível. E, por isso mesmo, fico impressionada com a quantidade de gente sem formação específica mas que aconselha todo mundo. São cursos online de nutrição ministrados por engenheiros, blogs de emagrecimento escritos por modelos, suplementos alimentares com cantores e apresentadores na propaganda...

"Só sei que nada sei". Se na filosofia a frase é esclarecedora, no mundo na nutrição é enlouquecedora. Não que outras pessoas não saibam nada sobre alimentação. Claro que sabem! Afinal todo mundo come desde o dia que nasceu. Mas a quantidade de besteiras que a gente ouve por aí é grande. E preocupante. Quantas pessoas desenvolveram transtornos alimentares seguindo dietas malucas? Quantas pessoas morreram tentando atingir o corpo perfeito?

As pessoas se espantam quando criticamos, mas veja bem, um nutricionista não deve: (1) construir uma ponte, (2) fazer uma cirurgia, (3) arrancar dentes, (4) montar treinos de musculação, (5) prescrever medicamentos, dentre tantas coisas que são atribuições de outras áreas. E a regulamentação das áreas serve justamente para proteção da população. O ministério da educação diz: para ser nutricionista você precisa saber no mínimo x. Para ser engenheiro precisa saber no mínimo y. Para ser médico precisa saber no mínimo z e assim por diante. Fora isso, os conselhos profissionais fiscalizam a atuação desses profissionais. Punem quando necessário. Mas quem fiscaliza a amiga que passa dieta pra todas as outras por Whatsapp/E-mail/Instagram/Facebook/Blog...?

A ciência pode ser muito contraditória mesmo quando nos baseamos em pesquisas bem conduzidas. Isso acontece também na nutrição e quando um monte de gente atrapalha e sai recomendando coisas da própria cabeça a chance de efeitos negativos para a saúde aumenta muito.

O mundo vai mudando, algumas profissões vão deixando de surgir, outras vão aparecendo, várias se misturam. Talvez um dia isso aconteça com a nutrição, quem sabe? Há espaço para todo mundo falar de comida? Sim! Todas as pessoas comem, pensam em comida, falam de comida, saem para comer. E tem aqueles que ainda postam fotos do prato do dia, assistem a programas de culinária, compram livros de receitas ou de dietas. Perfeito. Afinal, a maioria de nós ama comida. E quem quiser mesmo aconselhar a vizinha, o amigo, a irmã, o avô e todas as outras pessoas será bem vindo: fazendo um curso superior de nutrição.

Não dá pra ter preguiça de estudar, gente! Aristóteles, 2.500 anos atrás, provavelmente sabia 90% do conhecimento existente em sua época. Mas isso foi mudando ao longo do tempo. No início do século XX o conhecimento dobrava a cada 100 anos. Em 2014 o conhecimento passou a dobrar a cada 13 meses e a expectativa é de que em 2020 isso aconteça a cada 12 horas. Ou seja, não sabemos nem nunca saberemos tudo. O segredo é cada um se esforçar para saber bastante sobre seu pequeno nicho, sobre algo que seja útil para as pessoas. Pode ser no direito, na matemática, na física, na dança, na política, no que você quiser. E se achar que a nutrição é sua praia será mais que bem vindo a esse time.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Suplementação de ácido fólico pode melhorar sintomas associados ao autismo

O transtorno do espectro autista representa um grupo complexo de alterações do desenvolvimento neurológico, que tem como características comuns dificuldades de interação social, de comunicação e comportamentos estereotipados repetitivos. No dia 02 de abril foi comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Em meu site você encontra mais de 50 textos sobre as pesquisas na área de alimentação e suplementação no autismo.

Ao longo da última década, muitas pesquisas focaram nas alterações fisiopatológicas observadas no autismo, incluindo a desregulação imune, a disfunção mitocondrial e as anormalidades metabólicas. Por exemplo, existem evidências de que o metabolismo de folato, homocisteína e glutationa sofre alterações prejudicando reações de metilação, eliminação de toxinas e contribuindo para o aumento do estresse oxidativo (Adams et al., 2009).

Alguns pesquisadores defendem que a suplementação de ácido fólico (400 mcg, 2x/dia, por 3 messes) ou seus metabólitos resulta em melhoria da sociabilidade, linguagem, expressão afetiva e comunicação em relação ao grupo de crianças autistas que não receberam a suplementação  (Sun et al., 2016). Contudo, outros estudos apresentaram inconsistências ou resultados inconclusivos (Castro et al., 2016).

É claro, a suplementação sozinha não é capaz de substituir as intervenções de outros profissionais como médicos, terapeutas ocupacionais, professores, psicólogos, fonoaudiólogos, educadores físicos. A intervenção multidisciplinar, associada ao amor e suporte familiar, são fundamentais para o diagnóstico e para que as melhores intervenções possam ser iniciadas precocemente.

Além disso, se existem polimorfismos genéticos outras formas da vitamina B9 serão mais indicadas. Aprenda mais no vídeo:

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Comida como arma de guerra

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Você fica de mal humor ou faz loucuras quando está com fome? Pois é, a comida meche com nossas emoções, com nosso juízo. E por isso, além de estupros e assassinatos contra muçulmanos Rohingya, o exército da Birmânia agora restringe a oferta de alimentos básicos a este grupo étnico, como uma forma de controle social.

A crise do povo rohingya é uma das mais longas do mundo e também uma das mais negligenciadas, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Os rohingyas representam 5% da população de Mianmar (Birmânia). De acordo com os mesmos são decendentes de indígenas do Estado de Rakhine. Mas de acordo com autoridades de Mianmar são "simplesmente" muçulmanos de origem bengali que migraram durante a ocupação britânica.

Em Mianmar são considerados expatriados e proibidos de se casar ou de viajar sem a permissão das autoridades e não têm o direito de possuir terra ou propriedade. As restrições do governo tornam impossível medir a verdadeira incidência de fome no país, mas os recém-chegados em campos de refugiados de Bangladesh encontram-se severalmente malnutridos. Dentre os refugiados, mais de 60% são crianças. 

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Tanto as Nações Unidas quanto as organizações de defesa dos direitos humanos pedem que as autoridades de Mianmar revejam a Lei de Cidadania de 1982, de forma a garantir que os rohingyas não continuem sem pátria. Enquanto isso, sofrem com preconceito, abusos, violência e com a fome.

Para quem é da área de saúde e interessa-se pelos problemas do mundo, existem especializações em saúde pública global (global public health). A saúde global é um campo que foca nas ações que podem e devem ser conduzidas em conjunto. As questões de saúde são hoje globais. Doenças e vírus cruzam fronteiras o tempo todo afetando todos ao mesmo tempo. Com as migrações surge a necessidade de buscar respostas comuns e reforçar a cooperação entre os países, na busca de mais saúde e da garantia de direitos - inclusive à alimentação adequada em qualidade e quantidade.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/