A partir dos 4 a 6 meses de vida os bebês começam a consumir outros alimentos, diferentes do leite materno. A introdução da alimentação complementar deve ser lenta e gradual, observando-se a tolerância da criança. A maior parte dos bebês passa por este processo tranquilamente mas outros desenvolvem alergias. Vejamos o que acontece dentro do corpo quando este percebe uma substância nova.
Quando uma substância estranha (antígeno) é reconhecida por células dendríticas e macrófagos há a apresentação desta mensagens nos linfonodos às células Th0 (T helper 0), linfócitos virgens, sem diferenciação. As células Th0 vão se diferenciar em células T reguladoras (Treg), linfócitos associados a processos de tolerância e controle do sistema imunológico. As Treg vão secretar interleucina 10 (IL-10) que é antiinflamatória.
Neste caso a criança desenvolve a tolerância oral, estado imunológico em que a exposição frequente a antígenos não resulta em reações alérgicas. O consumo de proteínas alimentares induz a tolerância oral. A exposição a novas proteínas entre o 4o e o 7o mês de vida pode ajudar a desenvolver a tolerância a substâncias alergênicas dos alimentos.
Contudo, dosagens altas de alimentos potencialmente alergênicos ou em pessoas não saudáveis provoca outro tipo de reação. Na imagem seguinte já encontramos a situação em que há desagregação da tolerância imunológica.
Observamos na figura um afastamento das células epiteliais. Esta maior permeabilidade permite a passagem de antígenos pela mucosa. As células epiteliais começam a produzir citocinas inflamatórias (IL-25, IL-33) que entorpecem as células dendríticas. Estas passam a apresentar os alérgenos por meio da produção de interleucina 4 (IL-4) fazendo as Th0 diferenciarem-se em Th2. Este por sua vez secretam outras interleucinas (IL-4, IL-5 e IL-13) que fazem as células beta (B cell) produzirem IgE (anticorpos) que liga-se a mastócitos e basofilos produzindo uma resposta inflamatória.
Resumindo, a alergia está associada a uma quebra da tolerância que gera uma cascata de ativação de mastócitos e basófilos e a resposta inflamatória. Ou seja, é muito importante que as crianças sejam saudáveis para que o intestino esteja íntegro, não permitindo a passagem de antígenos para a corrente sanguínea. A melhor forma de deixar o bebê saudável é amamentando-o exclusivamente até os 6 meses de vida. A conduta reduz bastante o risco de alergias alimentares futuras.
No momento da transição alimentar os alimentos potencialmente alergênicos já poderão ser introduzidos. É o que acreditam diversos especialistas da área que indicam a exposição da criança a alimentos diversos, incluindo soja, leite, frutas cítricas, peixe, ovos, oleaginosas a partir do 6o mês de vida (Larson et al., 2017).
Pesquisas recentes mostram que quando atrasamos a exposição a certos alimentos a incidência de alergias não deixa de aumentar. Em Israel, por exemplo, o amendoim é um dos alimentos utilizados para o desmame e lá o numero de crianças alérgicas a esta oleaginosa é menor. Avaliações sistemáticas concluíram que atrasar a exposição a alimentos na verdade pode aumentar a incidência de alergias (Fewtrell et al., 2017).
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