Quando uma grande amiga teve câncer seu médico lhe disse que não precisava preocupar-se com a alimentação, que nada que comece faria diferença no tratamento, nem para melhor, nem para pior. Infelizmente isto não foi há 10 anos e sim em 2018. A falta de conhecimento sobre nutrição é, infelizmente, muito comum, dentre muitos profissionais de saúde. Felizmente, um número cada vez maior de clínicas propõe-se a trabalhar verdadeiramente de forma interdisciplinar, valorizando cada área.
E a nutrição precisa ser valorizada. Não só porque ajuda a prevenir o câncer mas também porque contribui - e muito - durante o período de tratamento, além de contribuir depois evitando novos casos na mesma pessoa. Para os céticos basta dar uma pesquisada no google acadêmico para ver a quantidade de boas pesquisas já existentes na área. Não é que nutrição seja tudo. Não é e não faz milagre.
O câncer possui causas multifatoriais mas a má alimentação está dentre as mais importantes. Cerca de 90% de todos os tipos de câncer são resultado de dieta inadequada, estilo de vida (como fumar) e fatores ambientais (como poluição, exposição à vírus e bactérias) (Wu et al., 2016).
Dois estudos recentes mostram também a importância da nutrição durante o tratamento do câncer. A suplementação do aminoácido histidina durante o tratamento da leucemia, em camundongos, aumentou a eficácia do medicamento quimioterápico metotrexato (Ledford, 2018). A histidina pode ser encontrada em alimentos como atum, soja, semente de abóbora, feijão e lentilha.
A dieta adequada também influencia os níveis de insulina, aumentando a eficácia de medicamentos que atacam a proteína PI3K, a qual estimula o crescimento do tumor (Janku, Yap & Meric-Bernstam, 2018). A insulina pode ser equilibrada com dieta de baixo índice glicêmico ou dieta cetogênica. Como existem vários tipos de tumores e o metabolismo de cada um é único é muito importante trabalhar com um nutricionista especialista na área para que a melhor dieta seja adotada.
Para quem não está em tratamento a palavra-chave é prevenção. Um estudo publicado no prestigiado JAMA mostrou que o consumo de alimentos orgânicos deve ser estimulado. Por exemplo, mulheres que consomem menos alimentos com agrotóxicos desenvolvem menos câncer de mama na menopausa (Baudry, Assmann & Touvier, 2018). Pesticidas usados na agricultura convencional podem causar danos estruturais ao DNA, bem como danos às mitocôndrias também são frequentemente mencionados na literatura.