OPÇÕES DE TRATAMENTO NA ATAXIA CEREBELAR

A etiologia da ataxia cerebelar (AC) é heterogênea e inclui causas facilmente identificadas e frequentemente reversíveis (isto é, toxicidade por drogas e deficiência de vitamina B12). Mas também inclui condições degenerativas irreversíveis, de alto desafio para a equipe de saúde, para os pacientes e seus familiares.

Nas ataxias há degeneração progressiva do cerebelo e de suas vias aferentes e eferentes, resultando no comprometimento do controle motor. Os pacientes geralmente apresentam queixas de falta arrastada e marcha instável. A neuroquímica da AC é complexa, e inclui alterações de neurotransmissores como glutamato e GABA.

Para controle da hiperexcitabilidade cerebelar são usados medicamentos como riluzol. Para favorecer o equilíbrio de neurotransmissores são prescritas drogas como amantadina, buspirona, gabapentina, pregabalina, lamotrigina e topiramato. O acompanhamento neurológico é fundamental. Neuroreabilitação e até jogos com videogames tem sido estudados para melhoria da conexão entre neurônios.

Suplementos

Deficiências nutricionais podem afetar o funcionamento cerebral, motor, a produção de neurotransmissores, a função mitocondrial e os níveis de neuroinflamação. Dependendo dos polimorfismos genéticos encontrados suplementos serão sugeridos. Antioxidantes, DHA, vitamina D, zinco estão entre os suplementos frequentemente prescritos.

Para aumentar a energia de neurônios precisamos melhorar a função mitocondrial. Um ciclo de estratégias como jejum intermitente, dieta cetogênica, restrição calórica, sauna banho gelado, atividade física, tudo ajuda. Além disso, suplementos como vitaminas do complexo B, ribose, NADH, coenzima Q10, ácido alfa lipoico, creatina, antioxidantes e carnitina podem ajudar. Na dieta, deve-se caprichar nos polifenóis!

Para atingir os valores acima alguns pacientes precisarão adotar uma dieta com características mais cetogênicas. Um estudo publicado em 2022 mostrou que a suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM) na quantidade de 18g ao dia, por 3 meses, melhorou a marcha e o equilíbrio de pacientes idosos. Isto foi devido ao metabolismo da glicose suprimido no córtex sensório-motor no cérebro. Além disso, ressonância magnética e PET com 18F-fluorodeociglicose também confirmaram o aumento da conectividade funcional do hemisfério cerebelar ipsilateral (Mutoh et al. 2022).

Basicamente, o cérebro estava funcionando melhor e isso se traduziu em melhor movimento físico. Os MCTs (triglicerídeos de cadeia média) são únicos em comparação com outras gorduras, pois são rapidamente convertidos em corpos cetônicos. As cetonas são pequenas moléculas solúveis em água que são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica. Eles fornecem mais energia por unidade de oxigênio e produzem menos resíduos metabólicos, daí sua reputação como um supercombustível para o cérebro.

Conforme envelhecemos o uso de glicose para o cérebro torna-se menos eficiente. Por isso, açúcares e carboidratos simples devem ser reduzidos e corpos cetônicos aumentados. Uma forma de estimular a produção de corpos cetônicos é pela dieta cetogênica suplementada com TCM.

Tipos de TCM

Existem quatro tipos diferentes de TCMs:

  • Ácido capróico (C6): é o mais eficiente na absorção e absorção, mas tem um cheiro e sabor bastante ruins, quando isolado. Presente naturalmente no óleo de palma e laticínios integrais.

  • Ácido caprílico (C8) ou ácido octanóico: ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido. Aumenta corpos cetônicos na corrente sanguínea 3 vezes mais rápido que C10 e 6 vezes mais rápido que C12. Cheiro e sabor melhores do que C6. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido cáprico (C10): ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido, contudo 3 vezes mais lentamente que C8. Mas, a mistura nos produtos é interessante para manter os níveis de corpos cetônicos mais constantes no plasma. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido láurico (C12): ajuda a manter a microbiota saudável. Tem ação antifúngica. Leva mais tempo para ser absorvido e pode elevar mais os níveis de colesterol plasmáticos do que C8 e C10. Disponível naturalmente no óleo de coco e nos laticínios integrais.

Destes, C8 e C10 são os mais associados à perda de peso e encontrados em marcas como:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Atrofia de múltiplos sistemas e EGCG

A atrofia de múltiplos sistemas é uma doença neurodegenerativa progressiva e rara caracterizada pela agregação da proteína α-sinucleína em neurônios e oligodendrócitos. Os pacientes diagnosticados com a doença experimentam alterações do sistema nervoso autônomo e sintomas como parkinsonismo predominante (rigidez, tremores, lentidão) ou ataxia cerebelar (desequilíbrio, incoordenação motora, caminhar e fala como se o paciente estivesse embrigado).

A sobrevida após o diagnóstico é de 3 a 10 anos. Atualmente não há medicação capaz de atrasar a progressão da doença. Mas um estudo publicado em 2019 mostrou que a suplementação do polifenol epigalocatequina galato (EGCG) extraído do chá verde modula a formação de oligômeros de α-sinucleína, reduzindo sua neurotoxicidade. No estudo 47 pacientes receberam o EGCG e 45 receberam um placebo (manitol).

Os participantes receberam uma cápsula de gelatina (contendo 400 mg de epigalocatequina galato ou manitol) por via oral uma vez ao dia durante 4 semanas, depois uma cápsula duas vezes ao dia durante 4 semanas (800 mg) e, em seguida, uma cápsula três vezes (1.200 mg) ao dia durante 40 semanas. Após 48 semanas, todos os pacientes foram submetidos a um período de wash-out de 4 semanas (Levin, 2019).

O desfecho foi a alteração na pontuação do exame motor da Escala Unificada de Avaliação de Atrofia de Sistemas Múltiplos. O chá verde não conseguiu reverter os problemas motores dos pacientes. Contudo, foi observada uma menor perda de volume cerebral no grupo que recebeu o EGCG (atrofia de 3,4% x 7,3% no grupo que recebeu o placebo). Talvez o grupo de pacientes já estivesse grave demais para mostrar efeito clínico significativo.

De qualquer forma, se você é um paciente com parkinson, parkisonismo ou ataxia utilize EGCG ou consuma chá verde. Mas atenção: alguns pacientes apresentaram toxicidade hepática. Não recomenda-se na vida real doses de EGCG superiores a 900 mg/dia.

O que é EGCG?

A epigalocatequina-3-galato, ou EGCG, é um composto vegetal encontrado naturalmente na planta Camelia sinensis que dá origem a chá verde, branco, oolong e preto.

Dados de animais e celulares sugerem que 2,8% do EGCG consumido atravessa a barreira hematoencefálica humana após 30 min. Efeitos potencialmente benéficos do EGCG incluem a quelação de ferro, redução da inflamação e eliminação de radicais livres.

Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Suplementação nas ataxias

Ataxias cursam com perda do controle muscular durante movimentos voluntários, como andar ou pegar objetos. Pessoas com ataxia têm problemas com a coordenação, uma vez que partes do sistema nervoso que controlam o movimento e equilíbrio são afetados.

As ataxias podem ser hereditárias ou adquiridas:

  • Hereditárias: conjunto de doenças geneticamente determinadas (como a ataxia de Machado-Joseph).

  • Adquiridas: não têm um componente genético envolvido, podendo ser causadas por abuso de álcool ou drogas, intoxicação por metais pesados (chumbo/cádmio/mercúrio/arsênico) ou por disfunções do sistema neuroimunológico, como a esclerose múltipla. Outras condições incluem traumatismo craniano, AVC, ataque isquêmico transitório, paralisia cerebral, catapora, tumores, reações tóxicas a medicamentos, deficiência de vitamina E ou vitamina B12, alergia ao glúten.

Ataxia espinocerebelar - doença de Machado-Joseph (Klockgether, Mariotti & Paulson, 2019)

Ataxia espinocerebelar - doença de Machado-Joseph (Klockgether, Mariotti & Paulson, 2019)

Tratamento

O primeiro passo é procurar ajuda médica. Neurologistas podem fazer o diagnóstico das ataxias, basendo-se em um conjunto de sintomas e/ou exames genéticos.  Ainda não existe um tratamento específico para as ataxias, mas os pacientes beneficiam-se de um conjunto de medidas que podem incluir prescrição farmacológica (como no caso de disfunções do cerebelo), prescrição de suplementos (Vitaminas E e B12, coenzima Q10, 5-HTP, zinco), terapia ocupacional, fisioterapia e atividade física para fortalecimento da musculatura e yoga, para melhoria do equilíbrio.  

Um estudo publicado em 2022 mostrou que a suplementação de triglicer´ídeos de cadeia m´édia (TCM) na quantidade de 18g ao dia, por 3 meses, melhorou a marcha e o equilíbrio de pacientes idosos. Isto foi devido ao metabolismo da glicose suprimido no córtex sensório-motor no cérebro. Além disso, ressonância magnética e PET com 18F-fluorodeociglicose também confirmaram o aumento da conectividade funcional do hemisfério cerebelar ipsilateral (Mutoh et al. 2022).

Basicamente, o cérebro estava funcionando melhor e isso se traduziu em melhor movimento físico. Os MCTs (triglicerídeos de cadeia média) são únicos em comparação com outras gorduras, pois são rapidamente convertidos em corpos cetônicos. As cetonas são pequenas moléculas solúveis em água que são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica. Eles fornecem mais energia por unidade de oxigênio e produzem menos resíduos metabólicos, daí sua reputação como um supercombustível para o cérebro.

Conforme envelhecemos o uso de glicose para o cérebro torna-se menos eficiente. Por isso, açúcares e carboidratos simples devem ser reduzidos e corpos cetônicos aumentados. Uma forma de estimular a produção de corpos cetônicos é pela dieta cetogênica suplementada com TCM.

Tipos de TCM

Existem quatro tipos diferentes de TCMs:

  • Ácido capróico (C6): é o mais eficiente na absorção e absorção, mas tem um cheiro e sabor bastante ruins, quando isolado. Presente naturalmente no óleo de palma e laticínios integrais.

  • Ácido caprílico (C8) ou ácido octanóico: ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido. Aumenta corpos cetônicos na corrente sanguínea 3 vezes mais rápido que C10 e 6 vezes mais rápido que C12. Cheiro e sabor melhores do que C6. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido cáprico (C10): ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido, contudo 3 vezes mais lentamente que C8. Mas, a mistura nos produtos é interessante para manter os níveis de corpos cetônicos mais constantes no plasma. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido láurico (C12): ajuda a manter a microbiota saudável. Tem ação antifúngica. Leva mais tempo para ser absorvido e pode elevar mais os níveis de colesterol plasmáticos do que C8 e C10. Disponível naturalmente no óleo de coco e nos laticínios integrais.

Destes, C8 e C10 são os mais associados à perda de peso e encontrados em marcas como:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/