Dieta, comportamento e obesidade

O que você come afeta não só a sua saúde física mas também sua saúde mental. Mas como exatamente as coisas acontecem a nível celular ainda é um tanto quanto misterioso. Sabemos que há uma relação entre o que comemos e a produção de hormônios e neurotransmissores. Entre o que comemos e nossa resposta ao estresse, na influência em nosso humor e até no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Estudos mostram ainda que esta relação é bidirecional. Ou seja, a dieta influencia o cérebro e o que acontece no cérebro influencia nossas escolhas alimentares.

Nosso cérebro, diferente de muitos outros órgãos, não é capaz de armazenar nutrientes, oxigênio ou energia para uso futuro. Por isto, devemos adotar um estilo de vida saudável, condutas diárias, que incluem dieta saudável, exercício, sono e exercícios de respiração.

Alguns nutrientes importantes para o cérebro e suas fontes na dieta

  • Magnésio - sementes, nozes, germe de trigo, grãos integrais, abacate

  • Ômega-3 - chia, linhaça, peixes gordos do mar e de água fria e profunda (sardinha, arenque, salmão, atum, bacalhau, truta, cavala)

  • Colina - gema do ovo, salmão, cogumelo shiitake

  • Ácido fólico - folhosos verde escuros como espinafre, couve, brócolis, agrião, salsa

  • Vitamina D - peixes gordos (salmão, sardinha), mariscos, ovos, leite integral, fígado, cogumelos

  • Antioxidantes diversos - açaí, uva roxa, cereja, mirtilo, amora, acerola, laranja, limão, morango, cajú, jaboticaba, umbu, ameixa, alho, cebola, couve, couve-flor, tomate, cebolinha, salsinha, espinafre, repolho, rabanete, escarola, mostarda, nabo, brócolis, beterraba, castanhas, nozes, açafrão

Deficiências nutricionais afetam a produção de neurotransmissores

Neutrotransmissores envolvidos no comportamento alimentar (Avena, &  Bocarsly, 2011)

Neutrotransmissores envolvidos no comportamento alimentar (Avena, & Bocarsly, 2011)

Estes neurotransmissores, assim como o sistema opióide, estão envolvidos no comportamento alimentar (Avena, & Rada, 2015; Chiara, & Pietro, 2015; Leibowitz, & Shor-Posner, 1986; Volkow et al., 2003). Para produção de serotonina é necessário o consumo de triptofano, B9, B5, vitamina C, zinco, magnésio, B12, ferro, cálcio e B3 (niacina). Para produção de dopamina precisamos de tirosina e vitamina B6 e para a síntese de acetilcolina há necessidade de colina, outra vitamina do complexo B.

Por exemplo, pacientes com carências nutricionais de vitaminas do complexo B apresentam mais sintomas depressivos, mais alterações de humor, mais ansiedade e, frequentemente, maior compulsão alimentar e risco elevado de ganho de gordura corporal em excesso.

Claro, a produção de neurotransmissores também é afetada pela atividade física, pelo estresse, pela inflamação e pelo funcionamento intestinal. Desta forma, precisamos de uma abordagem integrativa que analise todo o estilo de vida e sua relação com doenças físicas e mentais.

A relação entre dieta, humor e peso é complexa

Conforme mostrado na imagem acima, o estresse pode levar a um aumento dos casos depressivos, do consumo de alimentos e de ganho de peso. A depressão em indivíduos obesos pode ser gerada pela alteração na produção de neurotransmissores, por bullying, por problemas de autoimagem, por histórico de abusos, por alterações induzidas pela dieta, pela inflamação e pela disbiose intestinal, dentre tantos outros fatores.

Conexão intestino-cérebro-comportamento alimentar

O papel do microbioma gastrointestinal na função cerebral tem sido extensivamente estudado (leia este artigo anterior). A flora gastrointestinal (ou microbiota intestinal) é composta por uma variedade de espécies bacterianas que têm efeitos benéficos para nossa digestão e metabolismo. Além disso, influenciam a função cerebral por meio da liberação de várias moléculas de sinalização. Tais moléculas interagem com neurotransmissores e neuropeptídeos o que pode levar a alterações no humor e na reatividade ao estresse. A composição da dieta altera o tipo e quantidade de bactérias presentes no intestino. Por exemplo, dietas ricas em gorduras podem causar vazamento do epitélio intestinal, resultando na liberação de fatores inflamatórios que aumentam o risco de depressão e compulsão alimentar. Vários estudos analisam a modulação da microbiota intestinal com o uso de bactérias probióticas específicas, associado ao consumo de fibras adequadas para a redução da inflamação e da compulsão alimentar. Uma das bactérias estudadas em relação ao ganho de peso é a Akkermansia municiplhila. Conheça mais sobre a mesma neste vídeo:

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estratégias para aumento da dopamina

A dopamina é um neurotransmissor da família das catecolaminas, também conhecidas como aminas biogênicas. Os neurotransmissores dessa família modulam as funções de neurotransmissão relacionadas, por exemplo, às emoções, à atenção, ao aprendizado e ao sono.

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A dopamina transforma os impulsos nervosos em sinais químicos para poderem ser encaminhados para o próximo neurônio. Em seguida, a dopamina sofre recaptação pelo neurônio de origem, onde pode ser degradada por enzimas denominadas de MAO (monoaminoxidase). A ativação dos receptores pós-sinápticos causa os efeitos inibitórios ou excitatórios.

DOPAMINA E O SISTEMA DE RECOMPENSA

Uma das principais características da dopamina está na sua ação no chamado sistema de recompensa. Ao realizar determinadas atividades, como beber água quando se tem sede, o cérebro recebe estímulos e ocorre a liberação de dopamina, que nos dá enorme sensação de prazer.

Por isso, a dopamina, está relacionada à satisfação ou mesmo felicidade. Alimentos ricos no aminoácido tirosina facilitam a produção de dopamina. Entre estes alimentos estão leite e derivados, carne de gado, frango, peru, salmão, cavala, ovos, nozes e banana.

Evidências mostram que pessoas com excesso de peso e pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) possuem menores níveis de dopamina. Isto piora se a pessoa consumir muito açúcar ou alimentos que contenham carboidratos simples (doces, pizza, pães, bolos). E aí vira um ciclo vicioso, sem dopamina a pessoa sente-se menos feliz, busca doces, engorda e produz menos dopamina.

Estratégias para aumentar a produção de dopamina

A verdadeira transformação acontece quando priorizamos a chamada “dopamina lenta”. Essa liberação acontece por meio de atividades que promovem bem-estar profundo e duradouro, como praticar exercícios físicos, trabalhar em direção aos nossos objetivos, cozinhar refeições caseiras ou investir em hobbies significativos. Troque tudo que libera dopamina rápido pelas estratégias de liberação lenta e fortalecimento da resilência física, emocional e mental a longo prazo ⬇️.

  • Consuma refeições regulares. O jejum está na moda mas passar muitas horas sem comer poderá desregular o apetite, fazendo a pessoa procurar mais alimentos hipercalóricos e ricos em carboidratos. Se isto acontece com você, evite passar tempo demais sem se alimentar.

  • Reduza o consumo de carboidratos e aumente o consumo de proteínas. Você pode começar o dia com ovos, salmão defumado, iogurte rico em proteínas, nozes ou sementes. Em outros horários mantenha um bom consumo de proteína. Outras opções são leguminosas como lentilha, ervilha, feijão e grão-de-bico.

  • Escolha gorduras saudáveis, encontradas em alimentos como azeite de oliva, açafrão, gergelim, canola, nozes, linhaça, peixes oleosos como atum, arenque, atum e truta.

  • Pratique yoga. Estudos mostram que a prática desta filosofia milenar ajuda a equilibrar neurotransmissores, como dopamina e GABA.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição e transtorno bipolar

O transtorno bipolar (TB) é um distúrbio afetivo crônico grave associado a uma carga clínica, social e econômica significativa, incluindo altos níveis de comorbidade. Pessoas com TB apresentam frequentes mudanças de humor, dos níveis de energia e da capacidade de realizar as tarefas do dia-a-dia.

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O transtorno pode estar associado também à depressão, episódios maníacos (pode ser por compras, sexo, comida), insônia, enxaqueca, alucinações ou delírios. As causas incluem fatores genéticos (polimorfismos dos genes CACNA1C, ODZ4 e NCAN), biológicos (mudanças no cérebro), desequilíbrios na produção de neurotransmissoes, fatores ambientais (abuso, estresse pós-traumático, infecções, tabagismo na gestação).

O tratamento adequado envolve a combinação de medicação, psicoterapia e alimentação adequada que permita a produção de neurotransmissores. Existem poucos estudos acerca da eficácia da nutrição no transtorno bipolar. Uma revisão sistemática avaliou 15 trabalhos que analisaram a suplementação de vitamina B12, vitamina D, folato, produtos fitoterápicos, além de intervenções para normalização dos níveis de homocisteína e creatinina. Contudo, os estudos foram feitos com um número muito pequeno de participantes e o acompanhamento foi limitado. Por isso, muitas pesquisas ainda são necessárias nesta área para elucidação dos benefícios reais dos suplementos no transtorno bipolar (Olagunju et al., 2019).

Outros suplementos também vem sendo estudados principalmente para o controle da depressão, como é o caso do ômega-3, rico em DHA. Um estudo recente mostrou que a suplementação de 1.250 mg de DHA diariamente por 12 semanas (3 meses) contribuiu para melhor desempenho cognitivo em teste de inibição de emoção (Ciappolino et al., 2020).

Outro estudo avaliou a suplementação de colina, uma vitamina do complexo B na redução dos episódios maníacos. Os participantes tomavam lítio e foram divididos em dois grupos, sendo que um deles passou a receber também colina. A suplementação em níveis mais altos se correlacionou o uso de colina ou fosfatidilcolina com redução da gravidade da mania e da depressão (Stoll et al., 1996). Contudo, estes são resultados preliminares, que devem ser melhor investigados. Além disso, consumir colina demais pode aumentar a disbiose intestinal, gerando um efeito contrário ao esperado. Falo sobre isto neste vídeo:

Para saber se o seu intestino está saudável faça um destes exames:

Dieta mediterrânea e transtorno bipolar

Estudos mostram que pessoas que adotam o padrão alimentar mediterrâneo vivem mais e melhor. A dieta caracteriza-se pelo baixo consumo de alimentos ultraprocessados e a presença de alimentos naturais e sazonais (da época). Porém, alguns pacientes só encontram alívio com a dieta cetogênica:

Na dieta mediterrânea, o azeite é utilizado para cozinhar e temperar os alimentos. Na cetogênica são também utilizados óleo de coco, manteiga, banha etc. Quantidades moderadas de peixe estão presentes regularmente na dieta. O consumo de outras carnes é baixo. Uma característica importante dos que seguem a dieta mediterrânea é a ausência de produtos ultraprocessados na alimentação. Estes produtos são fonte de gorduras trans, associadas à maior risco de depressão (Sanchez-Villegas & Martínez-González, 2013).

Contudo, cada pessoa é diferente e o ideal mesmo seria analisar como sua genética interage com os alimentos. Se existem componentes da dieta que não combinam com seu intestino, com seu sistema imune e, principalmente, com seu cérebro. Em minhas consultas solicito exames nutrigenéticos para pacientes com transtorno bipolar. Os mesmos permitem uma compreensão muito mais ampla do metabolismo humano, favorecendo uma prescrição mais individualizada e capaz de gerar mudanças positivas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/