O transtorno bipolar (TB) é um distúrbio afetivo crônico grave associado a uma carga clínica, social e econômica significativa, incluindo altos níveis de comorbidade. Pessoas com TB apresentam frequentes mudanças de humor, dos níveis de energia e da capacidade de realizar as tarefas do dia-a-dia.
O transtorno pode estar associado também à depressão, episódios maníacos (pode ser por compras, sexo, comida), insônia, enxaqueca, alucinações ou delírios. As causas incluem fatores genéticos (polimorfismos dos genes CACNA1C, ODZ4 e NCAN), biológicos (mudanças no cérebro), desequilíbrios na produção de neurotransmissoes, fatores ambientais (abuso, estresse pós-traumático, infecções, tabagismo na gestação).
O tratamento adequado envolve a combinação de medicação, psicoterapia e alimentação adequada que permita a produção de neurotransmissores. Existem poucos estudos acerca da eficácia da nutrição no transtorno bipolar. Uma revisão sistemática avaliou 15 trabalhos que analisaram a suplementação de vitamina B12, vitamina D, folato, produtos fitoterápicos, além de intervenções para normalização dos níveis de homocisteína e creatinina. Contudo, os estudos foram feitos com um número muito pequeno de participantes e o acompanhamento foi limitado. Por isso, muitas pesquisas ainda são necessárias nesta área para elucidação dos benefícios reais dos suplementos no transtorno bipolar (Olagunju et al., 2019).
Outros suplementos também vem sendo estudados principalmente para o controle da depressão, como é o caso do ômega-3, rico em DHA. Um estudo recente mostrou que a suplementação de 1.250 mg de DHA diariamente por 12 semanas (3 meses) contribuiu para melhor desempenho cognitivo em teste de inibição de emoção (Ciappolino et al., 2020).
Outro estudo avaliou a suplementação de colina, uma vitamina do complexo B na redução dos episódios maníacos. Os participantes tomavam lítio e foram divididos em dois grupos, sendo que um deles passou a receber também colina. A suplementação em níveis mais altos se correlacionou o uso de colina ou fosfatidilcolina com redução da gravidade da mania e da depressão (Stoll et al., 1996). Contudo, estes são resultados preliminares, que devem ser melhor investigados. Além disso, consumir colina demais pode aumentar a disbiose intestinal, gerando um efeito contrário ao esperado. Falo sobre isto neste vídeo:
Para saber se o seu intestino está saudável faça um destes exames:
Dieta mediterrânea e transtorno bipolar
Estudos mostram que pessoas que adotam o padrão alimentar mediterrâneo vivem mais e melhor. A dieta caracteriza-se pelo baixo consumo de alimentos ultraprocessados e a presença de alimentos naturais e sazonais (da época). Porém, alguns pacientes só encontram alívio com a dieta cetogênica:
Na dieta mediterrânea, o azeite é utilizado para cozinhar e temperar os alimentos. Na cetogênica são também utilizados óleo de coco, manteiga, banha etc. Quantidades moderadas de peixe estão presentes regularmente na dieta. O consumo de outras carnes é baixo. Uma característica importante dos que seguem a dieta mediterrânea é a ausência de produtos ultraprocessados na alimentação. Estes produtos são fonte de gorduras trans, associadas à maior risco de depressão (Sanchez-Villegas & Martínez-González, 2013).
Contudo, cada pessoa é diferente e o ideal mesmo seria analisar como sua genética interage com os alimentos. Se existem componentes da dieta que não combinam com seu intestino, com seu sistema imune e, principalmente, com seu cérebro. Em minhas consultas solicito exames nutrigenéticos para pacientes com transtorno bipolar. Os mesmos permitem uma compreensão muito mais ampla do metabolismo humano, favorecendo uma prescrição mais individualizada e capaz de gerar mudanças positivas.