Refluxo em bebês

O refluxo gastroesofágico (RGE) do lactente é caracterizado pela passagem do conteúdo do estômago com ou sem regurgitações e vômitos. É normal, fisiológico, não afeta a saúde do bebê. É o “gofador feliz”, na idade principalmente entre 3 e 12 meses. Apesar de regurgitar muito estão crescendo e desenvolvendo-se normalmente e não apresentam náuseas, apneia do sono, dificuldade de alimentação. Acontece em até 65% dos lactentes, melhorando no primeiro ano de vida, quando já assume uma postura ereta por mais tempo do dia.

A regurgitação acontece pois o esfíncter esofagiano inferior ainda fica bastante relaxado durante o dia, permitindo a volta do alimento. O refluxo pode ser apenas gasoso, mas pode ser também lácteo. O desconforto pode fazer a criança se irritar e chorar. Após a mamada é importante que o bebê seja mantido em pezinho. Quando for dormir a barriga deve estar voltada para cima.

O RGE é diferente da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) tem como característica o refluxo que leva a sintomas que afetam negativamente a saúde do bebê. Pode ser necessário o uso de fórmula infantil espessada.

Os sinais de alarme são vômitos em jato, vômitos bilioso, sangue no vômito, vômito ou regurgitação que acontece nos primeiros dias de vida ou após os 6 meses, distenção do abdome, urina escura e fétida, febre, perda de peso, fontanela abaulada, postura constantemente anormal, dermatite atópica moderada a grave (comum na alergia ao leite de vaca).

Uma importante causa do RGE é a alergia ao leite de vaca. Neste caso, o produto deve ser substituído para evitar sintomas relacionados ao aumento de IgE como refluxo, constipação, disquesia (evacuação com dor), cólicas. Se não conduzida adequadamente pode gerar a desordens funcionais gastrointestinais mais tarde na vida.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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DIABETES NA POPULAÇÃO NEGRA, AUTOCUIDADO E JEJUM INTERMITENTE

A desigualdade racial permeia todas as esferas. No Brasil, pessoas negras têm menor acesso à saúde, esperam mais para poderem ser atendidos, as consultas são mais curtas e, quando conseguem este acesso o tempo de consulta tende a ser menor (Domingues et al., 2013). Isto faz com que um menor número de pessoas sejam rastreadas para doenças silenciosas como diabetes e hipertensão. Se não tratadas essas doenças geram graves problemas de saúde, incluindo maior risco de infarto, derrames, cegueira, problemas renais e amputações. Esta realidade precisa mudar com revisões de práticas, garantindo a dignidade e os direitos básicos de cada cidadão.

Do ponto de vista individual, é muito importante que cada pessoa assuma responsabilidade pela própria saúde e busque uma alimentação mais natural, reduza o consumo de processados, procure movimentar o corpo diariamente (nem que sejam caminhadas) e dormir bem. Estratégias simples mas bem feitas são a principal arma para a boa saúde.

Outra prática que vem ganhando popularidade é o jejum intermitente. O termo jejum intermitente conota ingestão calórica e em menos horas do dia. Contudo, os estudos sobre a segurança e os benefícios do jejum intermitente com diabetes ainda são muito limitados. Teoricamente, não comer vai fazer com que as células utilizem depósitos de gordura, o que contribuiria para o emagrecimento e também para o controle da glicemia. O problema é que a resistência à insulina prolonga o tempo que leva para girar a chave metabólica e, portanto, entre as pessoas com diabetes o uso de gordura como fonte de energia não costuma ser fácil ou rápido.

Existem sim estudos mostrando que a redução na ingestão calórica beneficiam o metabolismo, ajuda no controle da pressão, reduz a inflamação e o estresse oxidativo, assim como os níveis de colesterol. Contudo, quando o jejum gera compulsão e reganho de peso o efeito tende a ser muito negativo. Por isso, a melhor dieta é sempre aquela que a pessoa consegue seguir.

Além disso, o jejum deve ser informado ao médico pois pacientes em uso de hipoglicemiantes podem ter efeitos colaterais, como hipoglicemia, tontura, quedas…

AJUSTE DE HIPOGLICEMIANTES (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

AJUSTE DE HIPOGLICEMIANTES (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

Os inibidores de metformina, tiazolidinediona (pioglitazona e rosiglitazona) e DPP-4 raramente causam hipoglicemia e esses medicamentos poderiam ser continuados normalmente. A metformina e os TZDs têm outros efeitos benéficos além do controle da glicose e, portanto, devem ser continuados. Os inibidores DPP4, por outro lado, são prescritos apenas para o controle da glicose, portanto, se o paciente ou provedor preferir, eles podem ser omitidos no dia de jejum. Já os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT-2) também raramente causam hipoglicemia; no entanto, eles também causam diurese osmótica. Devido a este último efeito, se houver alterações na ingestão de líquidos habitual do paciente durante o dia de jejum, pode ser apropriado pular o uso deste medicamento nos dias em que o paciente faz jejum intermitente para evitar a desidratação e a hipotensão resultante.

A gliburida, a glimepirida e a glipizida são sulfonilureias de ação prolongada e costumam estar associadas à hipoglicemia durante a ingestão calórica reduzida. Esses medicamentos devem sempre ter suas doses reduzidas na data do jejum para evitar potenciais eventos adversos. Além disso, se o paciente tomar esses medicamentos à noite, a dose tomada na noite anterior à data de jejum também deve ser reduzida ou suspensa por motivos de segurança.

Os ajustes também precisam ser feitos em relação à dosagem de insulina:

AJUSTE DE DOSE DE INSULINA (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

AJUSTE DE DOSE DE INSULINA (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

Os ajustes na insulina basal em conjunto com o jejum intermitente precisam levar em consideração as taxas de açúcar no sangue do paciente em jejum, bem como o risco de hipoglicemia. Além disso, a duração da ação da insulina basal deve ser considerada nas considerações de cada paciente. Em um paciente começando com açúcar no sangue em jejum que são considerados controlados para aquele paciente, o paciente pode ser mais suscetível à hipoglicemia durante o dia de jejum ou na manhã seguinte. Com o ajuste adequado da medicação e automonitoramento dos níveis de glicose no sangue, o jejum intermitente poderia ser feito, se for desejo do paciente (GRAJOWER, & HORNE, 2019). O ideal é sempre estar apoiado por uma equipe de médicos e nutricionistas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Tratamento da cólica do bebê

Transtornos gastrointestinais funcionais (TGFs) são sintomas gastrointestinais crônicos e recorrentes, como cólica e refluxo fisiológico. Acometem bebês pequenos (incluindo aqueles com menos de um ano de vida) sem que se observem anormalidades estruturais ou bioquímicas destas crianças (exames normais). Podem ser confundidos ou coexistir com outras condições, como a alergia ao leite de vaca (ALV). Crianças maiores também podem apresentar manifestações de TGFs. Os mais comuns por faixa etária são:

Palestra da Dr. Roberta Fragoso no X congresso internacional de saúde da criança e do adolescente

Palestra da Dr. Roberta Fragoso no X congresso internacional de saúde da criança e do adolescente

Estes transtornos são muito comuns, geram ansiedade nos pais e avós e estão, muitas vezes, associados a trocas desnecessárias de fórmulas ou uso indevido de medicamentos (custos adicionais financeiros e para a saúde).

A regurgitação do lactente pode chegar até 67% das crianças (principalmente no primeiro ano de vida), a cólica pode atingir até 40% das crianças (principalmente até o 4o mês de vida) e a constipação até 27% das crianças avaliadas até o 4o ano de vida (Benninga et al., 2016). A disquesia (defecação com dor) atinge quase 15% de crianças na América do Sul (Vandenplas et al., 2015). Algumas crianças possuem mais de uma disfunção como cólica + regurgitação e constipação + disquesia.

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O choro do bebê

Chorar faz parte da comunicação do recém nascido, conectando-o com seus cuidadores. Faz parte do desenvolvimento normal dos bebês. Por volta das 3 semanas de vida os pais conseguem diferenciar os tipos de choro. A quantidade e padrão de choro diurno dependem da idade, com máximo entre 2 e 6 semanas, e redução a partir do 4o mês. Crianças com cólicas choram mais. Choro excessivo na madrugada deve ser melhor avaliado.

De acordo com os critérios de Roma IV lactentes com menos de 5 meses com períodos recorrentes e prolongados de choro (3 horas ou mais ao dia, durante 3 ou mais dias em 1 semana), inquietação e irritabilidade, sem causa aparente e inconsolável, sem febre, doença ou déficit de crescimento estão provavelmente com cólica. Mesmo assim é importante o acompanhamento pediátrico para afastar megalias ou massas palpáveis e outros problemas de saúde. Contudo, enquanto as causas funcionais atingem 95% das crianças as doenças apenas 5%.

Características da cólica do lactente

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  • Inicia-se e termina de forma abrupta

  • Geralmente no final da tarde, início da noite

  • Choro alto, de difícil consolo, com rubor facial, hipertonia

  • Abdome tenso, punhos cerrados

  • Agitação de braços, arqueamento do tronco

  • Pernas encolhem e esticam

    Melhoria com eliminação de flatos ou evacuação

Embora a evolução seja benigna é comum nestes períodos os pais relatarem exaustão, desespero, frustração, tristeza ou mesmo sintomas depressivos. Alguns pais chegam a sacudir o bebê levando à síndrome do bebê sacudido. Chacoalhar o bebê pode gerar lesões cerebrais, pois o cérebro frágil se move para frente e para trás dentro do crânio. Bebês choram mesmo, chacoalhar não adianta.

Causas das cólicas

Muitos fatores vêm sendo investigados a respeito da propensão do bebê ter mais ou menos cólicas. O que a mãe comeu na gestação, se estava bem de saúde, se tinha uma microbiota saudável, o tipo de parto, o aleitamento, a genética, o uso de antibióticos são alguns dos fatores que podem modificar a tolerância intestinal e o risco de cólica.

Alguns estudos mostram que crianças com mais cólicas possuem menor diversidade e estabilidade da microbiota, possuem mais E.coli, clostridium e bacteróide e menos L. acidophilus e bifidobactérias), produzem menos butirato. O uso de probióticos e butirato pode ajudar bastante na redução das cólicas.

Fatore psicossociais também podem podem ter um efeito no bebê. O fraco vínculo mãe-bebê, a depressão pós-parto, a violência doméstica e o tabagismo são alguns dos fatores psicossociais atualmente estudados.

Como ajudar o bebê?

  • Paciência até passar

  • Dar carinho, acalentar

  • Dar banho morno ou aquecer a barriga

  • Amamentar

  • Enrolar em pano

  • Não medicar desnecessariamente (simeticona e omeprazol não são melhores que placebo; dicyclomina não é indicado para crianças menores de 6 meses, pelos efeitos adversos) Biagioli et al., 2016

  • Fazer massagem

  • Usar lactobacillus reuteri DSM17938 (Sung et al., 2018)

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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