Prisão de ventre na infância e adolescência

O ideal é que todos nós façamos pelo menos uma evacuação ao dia. Apesar de uma evacuação a cada três dias ser considerada normal, não é o ideal uma vez que um dos objetivos da evacuação é a eliminação de toxinas. Em crianças a média evacuatória é a seguinte:

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A constipação intestinal (prisão de ventre) é caracterizada por uma mudança na frequência, tamanho das fezes, consistência ou facilidade de passagem das fezes, gerando:

  • esforço excessivo ou desconforto ao evacuar;

  • eliminação de fezes ressecadas ou de consistência diferente da habitual (duras, cíbalos, seixos ou cilindros com rachaduras, calibrosas ou que entopem vasos);

  • frequência menor que 3 vezes por semana, com ou sem presença de escape fecal (soiling) por 2 ou mais semanas.

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Podemos usar a escala de bristol para classificar a constipação (tipo 1, 2 até 3). Além disso, a prisão de ventre pode ser classificada em aguda ou crônica.

A forma aguda é derivada de mudança da dieta ou ambiente, doença febril, desidratação, disbiose intestinal, sedentarismo ou permanência prolongada em leito hospitalar. Estas são causas funcionais e compreendem a grande maioria dos casos.

A forma crônica é derivada da aguda e dura mais que 30 dias. Leva mais tempo para tratar. Transtornos endócrinos ou metabólicos podem estar também desenvolvidos neste tipo de constipação, incluindo hipotireoidismo, acidose renal, diabetes insípidus e hipercalcemia.

As causas mais preocupantes são as neurogênicas (doença de Hirschsprung ou megacólon congênito, pseudo-obstrução intestinal crônica, tumores, fissuras anais, hipotonia muscular, disrafias como meningomielocele ou paralisia cerebral). Nestes casos a correção pode envolver também cirúrgica.

A cor das fezes

Também é importante observar a cor das fezes que varia de marrom claro-amarelado até verde escuro. As cor das fezes muda com a alimentação, com a presença de pigmentos ou corantes ou com a mudança de velocidade com que passam pelo trato digestivo.

Podem ficar mais avermelhadas com o consumo de beterrabas ou mais claras quando há diarreia. Contudo, é muito importante ficar de olho pois fezes negras, brancas, rajadas de sangue ou avermelhadas podem indicar doenças e uma consulta com o pediatra deve ser agendada.

Palestra da Dra. Ana Daniela Sadovsky no X congresso internacional de saúde da criança e do adolescente (novembro, 2020).

Palestra da Dra. Ana Daniela Sadovsky no X congresso internacional de saúde da criança e do adolescente (novembro, 2020).

Tratamento da constipação funcional

As causas da constipação funcional são multifatoriais. Algumas crianças prendem as fezes e esse comportamento de retenção é provavelmente a causa mais importante para o desenvolvimento da constipação nos pequenos. Pode ter sido desencadeado por uma produção prévia de fezes de grosso calibre e endurecidas levando a dor para evacuar. As fezes endurecidas podem também gerar fissuras anais que contribuem para os mecanismos de retenção fecal. Outra causa é a recusa no uso de um vaso sanitário fora de casa.

Para que a criança volte a usar o vaso a abordagem dos pais deve ser não punitiva. Se necessário a criança deverá ser acompanhada por psicólogo. O aconselhamento dietético também é importante. Crianças sadias pesando 10 ou mais quilogramas necessitam de 1000 a 1500 ml de água ao dia. A quantidade recomendada da ingestão de fibras para crianças acima de 2 anos deve ser calculada levando-se em consideração a idade em anos, acrescida de 5 g/dia (por exemplo: uma criança de 7 anos de idade deve ingerir 12 g/dia de fibra).

Exercícios físicos devem ser estimulados. Além disso, todas as crianças com idade de desenvolvimento neuropsicomotora correspondente a 4 anos de idade, devem ser instruídas a tentar evacuar no vaso sanitário durante 5 a 10 minutos depois de cada refeição (3x ao dia).

Laxantes podem ser utilizados por um período, sob orientação médica. . Além disso, podem ser utilizadas substâncias que aumentam a frequência dos movimentos peristálticos, como o PEG 4000.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Cuidados na gestação para proteção do cérebro do recém nascido

A matriz germinativa é uma área do cérebro responsável pela proliferação neuronal e de precursores das células da glia. Os vasos que irrigam a matriz germinativa têm apenas uma camada de células e são muito frágeis, por isso estão mais sujeitos a lesões decorrentes de alterações no fluxo sanguíneo.

A hemorragia intraventricular é o sangramento da matriz germinativa subependimária. Quanto menor é o peso ao nascer maior o risco de hemorragia intraventricular na área. A matriz germinativa fornece no 3o trimestre gestacional os gliobastos que farão a sustentação cerebral por astrócitos e oligodendrócitos.

Os oligodendrócitos são os precursores da bainha mielina, responsável direta pela atividade de cognição. As principais causas de baixo peso ao nascer são:

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  • Prematuridade

  • Dieta inadequada e desnutrição da mãe

  • Infecções urinárias na gestação

  • Eclâmpsia

  • Problemas na placenta

  • Anemia grave

  • Deformidades no útero

  • Trombofilia

  • tabagismo na gestação

  • consumo de bebidas alcoólicas na gestação

Por isso, toda mulher deve ter acompanhamento pré-natal e nutricional adequado. Infecções maternas devem ser rapidamente tratadas. Em caso de risco, a prevenção do parto prematuro pode ser feita com uso de medicamentos tocolíticos, que reduzem contrações uterinas. O sulfato de magnésio (diminui apoptose celular, reduzindo a destruição cerebral) e corticóides (ação antiinflamatória, reduzindo o risco da hemorragia e paralisia cerebral) também podem ser utilizados no período antenatal.

Ao nascer, o prematuro possui imaturidade sistêmica, dificuldade de circulação e desconforto respiratório, que aumentam o risco de hemorragia cerebral. Se estiver doente e inflamado este risco aumenta ainda mais. Outros fatores de risco são hipotermia precoce, pneumotórax, flutuação da pressão sanguínea, hipotensão com rápida correção, coagulopatias. O parto deve ser acompanhado por equipe competente e feito em hospital com UTI neonatal para que os cuidados sejam rápidos, o que evita infarto hemorrágico periventricular ou hidrocefalias pós hemorrágicas, questões responsáveis por óbito, paralisia cerebral ou agravamento de lesões da substância branca do cérebro.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Saúde mental x bem-estar mental - cuidados desde a gestação

Bem-estar mental e saúde mental são dois conceitos relacionados, mas independentes. Saúde mental refere-se a sinais e sintomas específicos que causam sofrimento emocional significativo e persistente, que por sua vez afeta nossa capacidade de funcionar, processar informações e tomar decisões. A presença de tais sinais e sintomas indica problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, psicose, transtornos alimentares.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve a saúde mental como um componente integral e essencial da saúde de forma mais ampla, definindo-a como:

“Um estado de bem-estar em que um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”.

Envolvida nessa noção de saúde mental, então, está a noção de bem-estar mental. Bem-estar mental refere-se a nosso senso de identidade e nossa capacidade de viver nossas vidas o mais próximo possível da maneira que queremos; um florescente bem-estar mental está associado a atingir nosso potencial, desenvolver relacionamentos fortes e fazer coisas que consideramos importantes e valiosas. Se você experimenta um baixo bem-estar mental por um longo período de tempo, é mais provável que desenvolva um problema de saúde mental.

Se você já tem um problema de saúde mental, é mais provável que tenha períodos de baixo bem-estar mental do que alguém que não tenha. Mas isso não significa que você não terá períodos de bem-estar. Em relação às crianças este bem-estar depende de uma atenção integral.

O cuidado com a saúde e bem-estar mental começam na gestação. No Brasil, a política nacional de atenção integral à saúde da criança foi instituída em 2015. Reúne um conjunto de ações e estratégias em busca do desenvolvimento integral desta criança, no plano físico, mental e emocional. Por isso, além da atenção à saúde que inicia-se na gestação, além de estratégias de estímulo ao aleitamento materno, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, a política também foca na prevenção de acidentes, na promoção de uma cultura de paz e redução dos casos de violência, nos cuidados dos mais vulneráveis e das crianças com necessidades especiais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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