Transtornos gastrointestinais funcionais (TGFs) são sintomas gastrointestinais crônicos e recorrentes, como cólica e refluxo fisiológico. Acometem bebês pequenos (incluindo aqueles com menos de um ano de vida) sem que se observem anormalidades estruturais ou bioquímicas destas crianças (exames normais). Podem ser confundidos ou coexistir com outras condições, como a alergia ao leite de vaca (ALV). Crianças maiores também podem apresentar manifestações de TGFs. Os mais comuns por faixa etária são:
Estes transtornos são muito comuns, geram ansiedade nos pais e avós e estão, muitas vezes, associados a trocas desnecessárias de fórmulas ou uso indevido de medicamentos (custos adicionais financeiros e para a saúde).
A regurgitação do lactente pode chegar até 67% das crianças (principalmente no primeiro ano de vida), a cólica pode atingir até 40% das crianças (principalmente até o 4o mês de vida) e a constipação até 27% das crianças avaliadas até o 4o ano de vida (Benninga et al., 2016). A disquesia (defecação com dor) atinge quase 15% de crianças na América do Sul (Vandenplas et al., 2015). Algumas crianças possuem mais de uma disfunção como cólica + regurgitação e constipação + disquesia.
O choro do bebê
Chorar faz parte da comunicação do recém nascido, conectando-o com seus cuidadores. Faz parte do desenvolvimento normal dos bebês. Por volta das 3 semanas de vida os pais conseguem diferenciar os tipos de choro. A quantidade e padrão de choro diurno dependem da idade, com máximo entre 2 e 6 semanas, e redução a partir do 4o mês. Crianças com cólicas choram mais. Choro excessivo na madrugada deve ser melhor avaliado.
De acordo com os critérios de Roma IV lactentes com menos de 5 meses com períodos recorrentes e prolongados de choro (3 horas ou mais ao dia, durante 3 ou mais dias em 1 semana), inquietação e irritabilidade, sem causa aparente e inconsolável, sem febre, doença ou déficit de crescimento estão provavelmente com cólica. Mesmo assim é importante o acompanhamento pediátrico para afastar megalias ou massas palpáveis e outros problemas de saúde. Contudo, enquanto as causas funcionais atingem 95% das crianças as doenças apenas 5%.
Características da cólica do lactente
Inicia-se e termina de forma abrupta
Geralmente no final da tarde, início da noite
Choro alto, de difícil consolo, com rubor facial, hipertonia
Abdome tenso, punhos cerrados
Agitação de braços, arqueamento do tronco
Pernas encolhem e esticam
Melhoria com eliminação de flatos ou evacuação
Embora a evolução seja benigna é comum nestes períodos os pais relatarem exaustão, desespero, frustração, tristeza ou mesmo sintomas depressivos. Alguns pais chegam a sacudir o bebê levando à síndrome do bebê sacudido. Chacoalhar o bebê pode gerar lesões cerebrais, pois o cérebro frágil se move para frente e para trás dentro do crânio. Bebês choram mesmo, chacoalhar não adianta.
Causas das cólicas
Muitos fatores vêm sendo investigados a respeito da propensão do bebê ter mais ou menos cólicas. O que a mãe comeu na gestação, se estava bem de saúde, se tinha uma microbiota saudável, o tipo de parto, o aleitamento, a genética, o uso de antibióticos são alguns dos fatores que podem modificar a tolerância intestinal e o risco de cólica.
Alguns estudos mostram que crianças com mais cólicas possuem menor diversidade e estabilidade da microbiota, possuem mais E.coli, clostridium e bacteróide e menos L. acidophilus e bifidobactérias), produzem menos butirato. O uso de probióticos e butirato pode ajudar bastante na redução das cólicas.
Fatore psicossociais também podem podem ter um efeito no bebê. O fraco vínculo mãe-bebê, a depressão pós-parto, a violência doméstica e o tabagismo são alguns dos fatores psicossociais atualmente estudados.
Como ajudar o bebê?
Paciência até passar
Dar carinho, acalentar
Dar banho morno ou aquecer a barriga
Amamentar
Enrolar em pano
Não medicar desnecessariamente (simeticona e omeprazol não são melhores que placebo; dicyclomina não é indicado para crianças menores de 6 meses, pelos efeitos adversos) Biagioli et al., 2016
Fazer massagem
Usar lactobacillus reuteri DSM17938 (Sung et al., 2018)