"Às vezes como demais, tenho compulsão?"

Muitas pessoas chegam à consulta nutricional com a queixa: "sofro de compulsão, ajude-me". Contudo, em geral, o diagnóstico foi feito pela própria pessoa e não por um profissional. E nem todo mundo que come muito tem compulsão.

Como podemos traçar a linha entre compulsão alimentar e o comer exagerado?

O fato de você um dia ter comido metade do bolo ou uma caixa de bombom porque achou gostoso ou porque nesse dia estava mais estressado já caracteriza a compulsão? Isto não é algo que acontece com todo mundo? Não é natural que alguém coma mais em algumas situações como na pizzaria, na festa de aniversário ou no rodízio? Sim, é normal!

Mas, indivíduos com compulsão alimentar, um transtorno alimentar, experimentam uma maior perda de controle sobre a alimentação, em comparação com as pessoas sem compulsão alimentar. A perda de controle caracteriza-se por um "impulso", uma "obrigação" de comer, ou uma "incapacidade" para parar de comer ou de evitar que o episódio compulsivo ocorra. 

A compulsão alimentar é diferente da bulimia pois neste caso há alguma compensação, como indução de vômito, uso de diuréticos ou laxantes, ou mesmo prática exagerada de exercícios. Já na compulsão alimentar isso não acontece e por isso o ganho de peso costuma ser mais evidente. Mesmo assim, o transtorno pode ocorrer de forma irregular, com períodos em que há grande consumo de alimentos e outros períodos de um "comer mais normal" ou mesmo de restrições alimentares. Desta forma, o peso acaba ficando dentro do padrão de referência. Ou seja, tanto pessoas magras, quanto pessoas gordas podem sofrer com a compulsão.

O diagnóstico é feito por um psiquiatra que avalia o paciente seguindo as orientações do DSM-5, a bíblia da psiquiatria. De acordo com o manual, os sintomas do transtorno de compulsão alimentar incluem:

• Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Todo mundo come mais do que deveria em algumas ocasiões, mas quando isto se repete semanalmente há um sinal de alerta.

• Compulsão extrema. Enquanto algumas pessoas podem se referir a uma noite passada comendo biscoitos como uma farra, pessoas com transtornos consomem uma quantidade tão grande de calorias em pouco tempo que ficam sentindo-se mal. O fato de você ter comido muito sorvete não caracteriza uma compulsão mas se isto traz sintomas físicos muito desagradáveis (como dor abdominal, falta de ar) com frequência há aqui outro sinal de alerta. 

• Durante os episódios de compulsão a velocidade de consumo de alimentos é maior do que o normal. Pessoas com compulsão podem ingerir milhares de calorias sem nem perceber o sabor da comida. 

• Muitas vezes comemos sem fome, simplesmente pois passamos por um alimento cheiroso ou bonito que abre nosso apetite. Mas na compulsão isto é obsessivo. A pessoa pode não conseguir parar de pensar em comida, mesmo quando não está com fome.

• Após os episódios compulsivos o sofrimento, a culpa ou vergonha é frequente. Por isso, comer escondido também é comum em quem tem compulsão.

O que causa a compulsão?

Nossa cultura, recheada de alimentos ultraprocessados é, por si só, um gatilho para a compulsão. Pessoas que aprenderam a aplacar a tristeza, a dor, a ansiedade, o estresse com comida, encontram muita dificuldade de lidar com a oferta incessante de alimentos. Claro, esta não é a única causa. Outros fatores incluem:

• Transtornos psicológicos. Quando um problema de saúde mental é deixado sem tratamento, como a depressão, o comer compulsivo pode aparecer. Não é de se espantar que muitas pessoas com histórico de abuso sexual, físico ou psicológico desenvolvam problemas com a alimentação.

• Dieta rígidas. Nossa cultura valoriza a magreza fazendo com que muitas pessoas - principalmente as mulheres - tentem adequar-se à padrões nem sempre possíveis. Pesquisas mostram que dietas restritivas, principalmente quando iniciadas na adolescência ou juventude, podem fazer com que algumas pessoas desenvolvam ao longo do tempo um comer transtornado.

• Idade e sexo. Para cada 3 mulheres com compulsão, parecem existir 2 homens com o mesmo problema. Em relação à idade, enquanto bulimia e anorexia atingem os mais jovens, a compulsão alimentar pode surgir em outras fases como entre os 40 e 50 anos, quando muitas mudanças na vida aparecem.

• Pressão social. Pessoas que estão sob forte pressão (modelos, bailarinas, atletas, pessoas que vivem ou relacionam-se com pessoas muito rígidas) podem estressar-se a tal ponto que desequilíbrios na produção de neurotransmissores aparecem, contribuindo para a compulsão alimentar.

• Fatores biológicos. A química cerebral individual e a genética podem influenciar as chances de um comer transtornado.

Muitos fatores podem tornar difícil o controle metabólico, como sedentarismo, distúrbios dos sono, estresse, ansiedade, isolamento, tédio, falta de suporte social, baixa exposição solar, dentre tantos fatores que afetam a saúde. Não é fácil conciliar tantos fatores que afetam o consumo alimentar, o equilíbrio energético e metabólico.

King et al., 2020

King et al., 2020

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Os perigos da compulsão alimentar

Comer demais no natal é uma coisa. O transtorno da compulsão alimentar é outra e pode apresentar consequências graves para a saúde. A compulsão frequente contribui para o ganho excessivo de peso. Estudos evidenciam que um alto percentual de gordura aumenta o risco de doenças, incluindo artrite, osteoporose, diabetes, pressão alta, problemas cardiovasculares, certos tipos de câncer e problemas na vesícula biliar. Pessoas com compulsão também podem sentir muita culpa e vergonha, o que acaba prejudicando a auto-estima.

Tratamento para o transtorno da compulsão alimentar

Encontrar recursos para evitar a compulsão é o primeiro passo. Isto é feito por meio de técnicas cognitivo-comportamentais. Na terapia, o paciente com compulsão trabalha para descobrir as razões pelas quais come compulsivamente, enquanto implementa estratégias para lidar com a angústia emocional e os desejos por comida. A terapia cognitivo-comportamental, ajuda o comedor compulsivo a gerenciar melhor as emoções, a entender como as mesmas afetam os comportamentos, a escolher mecanismos de enfrentamento saudáveis.

Quando não há boa resposta pode-se tentar o uso de medicações, como antidepressivos. Porém, medicamentos nunca devem ser considerados de forma isolada. Por fim, pessoas que já estão com algum problema de saúde por conta do excesso de peso, poderão precisar de remédios, dieta e exercício (Galasso et al., 2018) para controle de questões como aumento da glicose, dos triglicerídeos, do ácido úrico, da pressão arterial* etc.

Práticas integrativas como meditação (Godfrey, Gallo, & Niloofar, 2014; Kristeller, Wolever, & Sheets, 2013) e yoga (Klatte et al., 2016) também apresentam ótimos resultados como tratamento coadjuvante para a compulsão alimentar.

*tensão arterial em Portugal

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Nutrição esportiva - creatina

A creatina é um dos suplementos mais pesquisados na área esportiva. Seu uso vem sendo indicado para aumento da força e volume muscular, tanto em homens, quanto em mulheres. Porém, mulheres frequentemente sentem receio de tomar creatina e ficarem muito grandes. Não, isto não acontecerá. O grande crescimento muscular depende do hormônio testosterona, que é baixinho nas mulheres. Então não, mulheres não ficarão do tamanho do incrível hulk tomando creatina. Claro, o peso pode aumentar um pouco devido ao aumento da massa magra e da água intracelular. 

Mas o inchaço é mais normal em protocolos em que se usa 20g de creatina por 5 a 7 dias. Quem usa a creatina em quantidades baixas (3 a 5g ao dia) sente poucas alterações em termos de hidratação, mesmo que com tempos prolongados de suplementação.

Como a creatina funciona?

A creatina doa fósforo para o ADP (adenosina difosfato) de forma rápida aumentando a produção de ATP (adenosina trifosfato) que é a molécula que nosso corpo usa para mover músculos e realizar qualquer outra tarefa. 

No exercício, com maior capacidade de gerar ATP você consegue malhar mais, fazer mais esforço, aumentando as microlesões musculares. Com mais estímulo a hipertrofia acontece mais rápido.

Se não quiser suplementar não há problema! A creatina também é encontrada nas carnes. Assim, se a sua dieta já é hiperprotéica você se beneficiará menos da suplementação. Já se você come pouca ou nada de carnes você se beneficiará mais com a suplementação.

Gravei um vídeo explicando mais sobre este suplemento:

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O Yoga no trabalho das doulas

Uma doula é uma profissional treinada para assistência ao parto e cuidados maternos, proporcionando apoio emocional e prático para a mãe, o pai e, por vezes, outros membros da família. Também prepara o local que acolherá o bebê em seu nascimento, além de continuar dando apoio à mãe e sua família após o nascimento da criança. 

Pesquisas mostram que, com o apoio das doulas, as mulheres têm maior probabilidade de ter um parto e uma experiência pós-natal mais positiva. Os estudos mais conhecidos foram realizados por Marshall Klaus e John Kennell, dois importantes médicos no que toca ao conhecimento e reconhecimento do vínculo. Concluíram que as gestantes acompanhadas por uma mulher, que lhe prestasse ajuda emocional e física, durante todo o trabalho de parto, tinham resultados surpreendentemente melhores, reduzindo os problemas na amamentação, a incidência de depressão pós-parto, assim como redução de:

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A doula não substitui uma parteira ou um obstetra. É um apoio a mais, emocional, informativo e físico antes, durante e após a gestação.  Uma doula:

  • participa e apoia partos em casa ou no hospital.

  • ajuda o parceiro a apoiar a gestante.

  • ensina técnicas de apoio físico.

  • garantirá que você coma e descanse sempre que precisar.

  • apoia os ideias de nascimento de cada família.

  • conhece profissionais de saúde que ajudarão a gestante a vivenciar o momento da gestação e parto da forma sonhada.

  • ajuda os clientes a compreenderem os jargões médicos.

  • ajuda com a decisão do tipo de parto.

  • acompanha a família nas horas antes do nascimento.

  • ajuda na adaptação após o parto.

  • contribui para a redução do estresse das mães.

  • transmite confiança e ensina técnicas para que a mulher consiga amamentar ou ordenhar o leite.

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Qualquer mulher com mais de 18 anos pode ser doula, inclusive quem não é profissional da saúde. Não é fundamental que seja mãe, mas a experiência da maternidade com certeza traz um componente especial à relação doula-gestante. Não precisa ter tido parto normal para ser uma boa doula.  Para tornar-se uma doula o mais comum é fazer um curso e depois começar a praticar.

Outra possibilidade é fazer o caminho autodidático, baseado em leituras e atendimentos, mais adequado para quem já tem contato prévio com gestantes (exemplo professoras de yoga, terapeutas corporais, fisioterapeutas).

Muitas doulas também escolhem se formar em yoga. A prática na gestação reforça o sistema nervoso, melhora a circulação sanguínea, favorece a digestão, dá às mulheres mais autoconfiança e paciência. No pós-natal o yoga ajuda a reposicionar os órgãos femininos. No curso de formação online de instrutores de yoga um dos módulos é inteiramente dedicado às gestantes.

Existem cursos de formação online e também profissionais capacitados ensinando a distância. Escolha a melhor forma de iniciar ou avançar na sua prática.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/