Afinal, o óleo de coco é bom ou ruim?

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O óleo de coco passou 2015 e 2016 sendo vendido na internet e nas revistas de saúde como capaz de emagrecer, melhorar a imunidade, dar energia, combater a candidíase, melhorar a saúde do fígado... Só que muitas das alegações destes veículos e também da indústria de suplementos e alimentos "saudáveis" advém de interpretações superficiais da ciência. Tudo bem, o óleo de coco pode não ser péssimo mas como você sabe bem, não existe alimento milagroso! Maçã faz bem, mas cura tudo? Não. Chia faz bem, mas cura tudo? Não. Azeite faz bem, cura tudo? Claro que não! E o mesmo acontece com o óleo de coco e qualquer outro alimento supostamente milagroso que você queira investigar.

Nossa saúde depende de uma combinação de fatores, incluindo genética, qualidade do sono, atividade física, alimentação equilibrada, dentre tantas outras questões. Quanto à alimentação, para que ela seja equilibrada deve fornecer tudo o que o corpo precisa, em termos de calorias, ácidos graxos essenciais, aminoácidos, vitaminas, minerais, fibras...

Por isso, a Associação Americana do Coração se emputeceu e soltou um comunicado alertando para o fato de que os resultados de pesquisas não podem ser extrapolados tão facilmente como fazem alguns "gurus da boa forma", revista e outros meio de divulgação de informações de saúde. Pesquisadora de Harvard também também deu entrevista alegando que óleo de coco é veneno por ter tanta gordura saturada quanto carne vermelha e manteiga.

Vejamos os dois lados da moeda. Primeiro, o que a indústria de alimentos e suplementos diz e a análise científica:

  • Óleo de coco é fonte de gordura saturada "boa". De fato, grande parte dos ácidos graxos do óleo de coco são iguais ao presente no leite materno. Uma das diferenças na composição do óleo de coco em relação a outros óleos é o alto teor do triglicerídeos de cadeia media (ácido láurico e caprílico, de cadeia média), que são facilmente utilizados pelo fígado, dificultando seu estoque. É o contrário do que acontece após o consume de gorduras saturadas, provenientes de alimentos como laticínios integrais, carnes gordas e manteiga, que possuem mais ácidos graxos de cadeia longa. Os ácidos graxos de cadeia média também são metabolizados mais rapidamente já que não precisam de carnitina para entrarem nas mitocôndrias e não aumentam as lipoproteínas LDL e VLDL, pois não são significativamente transportados por elas, ao contrário de outros tipos de gordura.

  • Existem estudos mostrando que o ácido láurico melhora o perfil lipídico, aumentando o "colesterol bom" (HDL-c). No entanto, dados mais recentes mostram que o consumo de óleo de coco é na verdade pouco benéfico neste sentido, pois o ácido láurico aumenta tanto o HDL-c, quanto o "colesterol ruim" (LDL-c). Além disso, o óleo de coco é veículo de vários outros ácidos graxos saturados que aumentam exclusivamente o LDL-c. Os óleos de coco e de palma são os que possuem mais gordura saturada na natureza (82%), bem acima de manteiga (63%), carne vermelha (50%) e banha de porco (39%), azeite de oliva (14%), óleo de cártamo (6%).

  • Propriedades antimicrobianas. A indústria diz que o óleo de coco melhora o sistema imunológico e protege o corpo contra bactérias. De fato, em estudos laboratoriais, conduzidos em placas de petri e tubos de ensaio o óleo de coco foi capaz de danificar o revestimento lipídico na membrana de algumas bactérias. Mas isso não é necessariamente benéfico. Nosso corpo possui bactérias boas e ruins. Caso o revestimento de bactérias boas seja alterado na verdade prejudicaremos a nossa imunidade, ao invés de melhorá-la.

  • O óleo de coco reduz a gordura abdominal. O que acontece é que o consumo de qualquer gordura leva tempo para ser digerido. Além disso, o consumo de gordura não estimula a liberação de insulina. Com isso a fome diminui e a pessoa leva mais tempo para comer. Ou seja, não é o óleo de coco que emagrece e sim a pessoa provavelmente está consumindo menos calorias ao final do dia. Mas isso aconteceria com qualquer tipo de gordura. Em 2010 um grupo de pesquisadores avaliou homens que consumiram laticínios, óleo de coco ou carne no café da manhã e não observaram diferenças significativas entre os grupos em termos de fome, saciedade ou consumo energético ao final do dia (Poppitt et al., 2010).

  • Para indivíduos apoE4 não recomenda-se óleo de coco pois pode aumentar o estresse oxidativo e a inflamação, contribuindo para o risco de doença de Alzheimer. Quando usado, é feito de forma pontual apenas para que o paciente entre, em alguns momentos do protocolo de tratamento, em cetose.

Em 2015 um grupo da UFRJ publicou o efeito do consumo de óleo de coco extra virgem no peso e na circunferência da cintura de pessoas com doença arterial coronariana. Cerca de 100 pessoas participaram do estudo e consumiram 1 colher de sopa de óleo de coco por dia com fruta. Os homens do estudo reduziram um pouco a circunferência abdominal mas o grupo controle não recebeu nada (Cardoso et al., 2015). O grupo experimento precisaria ter sido comparado com um grupo que recebeu um placebo para que pudessemos discutir melhor. Além disso, as frutas tem um efeito anti-obesidade (Sharma et al., 2016). Assim, podemos dizer que existem aspectos confundidores no estudo que precisam ser analisados.

Outro grupo brasileiro comparou o consumo de óleo de coco versus o consumo de óleo de soja (Assunção et al., 2009). Desta vez não houveram diferenças em termos de circunferência da cintura nos grupos. Só que as pessoas que receberam o óleo de coco aumentaram os níveis de insulina circulantes. Ou seja, a resistência à insulina piorou, o que não é nada bom porque aumenta o risco de diabetes tipo 2. Um estudo mais novo, publicado por pesquisadores da Universidade do Colorado também não encontraram melhorias no peso ou circunferência da cintura, circunferência do quadril ou percentual de gordura com o consumo de óleo de coco versus óleo de girassol (Harris et al., 2017).

  • Outra alegação é que o óleo de coco pode ser passado na pele para proteção contra queimaduras solares. Contudo estudo publicado por Gause & Chauhan (2016) mostrou que óleos naturais não bloqueiam bem os raios ultravioleta. Na verdade, o fator de proteção do óleo de coco fica próximo de 1. Dermatologistas recomendam o uso de protetores com no mínimo FPS 30. Por outro lado, é um excelente hidratante que pode ser usado em áreas ressecadas do corpo. Para maior proteção solar você pode usar o óleo de coco associado a óleos essenciais como lavanda francesa, manuka, calêndula ou açafrão (turmérico). Mesmo assim, se não for utilizar um protetor solar, como recomendado pelos dermatologistas, use chapéu e blusa de manga comprida branca, para maior proteção.

O óleo de coco seja a pior coisa do mundo mas definitivamente não é o salvador da pátria, como dizem por aí. Dieta saudável é dieta colorida, bem variada, gostosa e que atenda as necessidades nutricionais e emocionais de quem estiver comendo.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Efeitos do whey protein no intestino

O whey protein é uma mistura de proteínas do leite, obtida durante a produção do queijo. É comumente vendido como suplemento nutricional para atletas porém estudos tem mostrado outros benefícios com o consumo.

O whey fornece todos os aminoácidos essenciais e tem ótima digestibilidade, sendo mais rapidamente absorvido em relação a outros tipos de proteína (Boirie et al., 1997). Auxilia o ganho de massa magra (Pennings et al., 2011), ajuda a equilibrar a glicemia (Frid et al., 2005) e a reduzir a inflamação corporal (Zhou et al., 2015).

Outros estudos também mostram que o consumo de whey protein pode ajudar a tratar a hiperpermeabilidade intestinal (Benjamin et al., 2012) e a reduzir a inflamação do tecido (Sprong, Schonewille e van der Meer, 2010). Pesquisas mais novas mostram que o consumo de whey contribui para uma microbiota saudável  (Yu et al., 2016).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/