O poder das plantas na prevenção e tratamento do diabetes

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Diabéticos sabem que não podem abusar de carboidratos, que devem limitar o consumo de carboidratos simples. Mas agora há uma tendência que me preocupa: a exclusão dos carboidratos da dieta. Nosso metabolismo não é tão simples e nosso cérebro, coração, rins dependem de carboidratos. Dietas que excluem carboidratos reduzem significativamente o consumo de nutrientes e compostos protetores como fibras, vitaminas, minerais, fitoquímicos. Pessoas com menor consumo de carboidratos possuem pior flora intestinal e maior inflamação, o que piora o controle glicêmico. Fora isso, dietas pobres em carboidratos são ricas em gorduras. E estudos de quase 90 anos mostram que o consumo excessivo de gorduras também desequilibra a glicemia.  

Quando a quantidade de gordura dentro dos músculos é grande há maior produção de ceramidas e radicais livres que bloqueiam a cascata bioquímica para que açúcares entrem nas células. Com isso desenvolve-se a resistência ao hormônio insulina (Krssak et al., 1999; Roden et al., 1996; Samuel e Shulman 2012). Diminuindo-se a quantidade de gorduras no plasma a resistência à insulina diminui (Santomauro et al., 1999). Esta é uma das explicações para a ineficácia a longo prazo de dietas cetogênicas para o controle da resistência à insulina e diabetes tipo 2. 

O tipo de gordura da dieta também influencia a resistência à insulina (Craegen e Cooney, 2008). Gorduras saturadas presentes em laticínios e carnes devem ser consumidas com moderação pois causam maior lipotoxicidade do que gorduras monoinsaturadas (azeite, abacate) e poliinsaturadas do tipo ômega-3 (peixes, linhaça). O metabolismo da gordura saturada  gera maior produção de radicais livres, inflamação e disfunção mitocondrial (Craegen e Cooney, 2008; Evans, 2013; Martins et al., 2012Nolan e Larter, 2009). Outras doenças relacionadas com a lipotoxicidade de gorduras saturadas e trans são alergias, aterosclerose, hipertensão, hipertrofia do miocárdio, doenças autoimunes e certos tipos de câncer (Estadella et al., 2013).

Experimentos que substituem na dieta alimentos industrializados (para redução da gordura trans) e alimentos de origem animal (para redução das gorduras saturada e trans) por alimentos de origem vegetal (para aumento de gorduras mono e poliinsaturadas, fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos) observam a melhoria da sensibilidade à insulina (Vessby et al., 2001) e da atividade mitocondrial (Karlic et al., 2008). Estudos mostram que vegetarianos possuem melhor sensibilidade à insulina do que onívoros (pessoas que consomem todo tipo de comida) de mesmo peso e idade (Chiu et al., 2014Goff et al., 2005; Gojda et al., 2013; Tonstad et al., 2013). Dietas vegetarianas ricas em fibras ajudam até a reduzir o uso de insulina em diabéticos tipo 1 (Anderson e Ward, 1979). Diabéticos possuem maior mortalidade e o alto consumo de carnes, laticínios aumenta a mortalidade precoce em 73 vezes enquanto o consumo moderado de alimentos de origem animal aumenta a mortalidade precoce em 23 vezes! (Levine et al., 2014). 

Além de aumentar o consumo de frutas e verduras e reduzir o consumo de proteínas de origem animal comer apenas o que o corpo precisa é fundamental. Mais sobre este assunto no curso Alimentação Consciente.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Importância da alimentação para a saúde mental

Mais e mais estudos mostram a importância da alimentação adequada para a saúde mental. Série especial sobre a temática foi publicada em novembro de 2016 na revista da associação americana de psicologia. Décadas de pesquisa mostram a importância da alimentação apropriada na inflamação cerebral, estresse e processos fisiológicos ligados à saúde mental.  O conjunto de 5 artigos publicados mostra a diversidade de estudos conduzidos neste novo campo interdisciplinar entre a psicologia e a nutrição. 

  • Estudo com mais de 11.800 pessoas mostra que a dieta mediterrânea - rica em frutas, verduras, gorduras boas, castanhas e peixes, pobre em laticínios, carne vermelha e açúcar está associada a menor risco de depressão (Sanchéz-Villegas et al., 2016).

  • Jane Pei-Chen Chang e colaboradores (2016) focam a pesquisa nos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) . Crianças com TDAH parecem possuir menores níveis de ômega-3 circulante. As melhores fontes de ômega-3 são os peixes de água fria como salmão, atum e sardinha. Apesar de alimentos de origem vegetal como algas e linhaça possuírem ômega-3, este ainda precisa ser convertido na sua forma ativa para o cérebro (DHA). Estudos focam na forma como crianças TDAH metabolizam o ômega-3 de forma diferenciada.

  • Jerome Sarris e colaboradores (2016) examinaram os efeitos do tratamentos com o aminoácido N-acetil-cisteína (NAC) no transtorno obsessivo-compulsivo. O NAC reduz a inflamação cerebral e em pacientes jovens possuem um benefício real na redução de sintomas como a depressão.

  • Lothian, Blampied e Rucklidge (2016) exploraram o papel de vitaminas e minerais no tratamento da insônia, condição associada a uma variedade de problemas mentais. Com a suplementação de micronutrientes selecionados foram observadas melhorias no humor e na ansiedade. Mais artigos sobre ansiedade publicados anteriormente neste blog podem ser acessados aqui.

  • Por fim Akbaraly e colaboradores (2016) examinaram a relação entre a dieta e sintomas associados à depressão em 4.246 adultos por um período de 5 anos. Os pesquisadores observaram que uma dieta com alto índice inflamatório esteve associado a mais sintomas depressivos, principalmente em mulheres. Mais artigos sobre alimentação publicados anteriormente neste blog podem ser acessados aqui.

  • Faltou falarem da relação entre o funcionamento intestinal e a neuroinflamação mas você poderá aprender mais sobre este tema no curso online:

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A psicoterapia também ajuda muito. Falar sobre sentimentos reduz a ansiedade e ajuda no gerenciamento da medicação. Indico a Julia Maciel, psicóloga formada pela UnB e que atende online, por videoconferência Atividade física, meditação, acupuntura e yoga também vêm mostrado-se importantes complementos ao tratamento tradicional medicamentoso. Cuide-se!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Alimentação consciente para crianças

Crianças pequenas possuem uma sabedoria interior para se alimentar. Elas não sabem o que é carboidrato, proteína, lipídio ou caloria. Gluten? Nunca ouviram falar. Mas elas sabem o quanto comer, sabem também quando parar de comer. Simplesmente seguem as orientações do próprio corpo. Choram quando estão com fome, rejeitam comidas que não agradam. Já adultos deixam de comer mesmos estando com fome, seja porque estão sem tempo, sejam porque querem emagrecer. Por outro lado, adultos também comem sem fome e comem até sem gostar do que estão comendo, simplesmente para não "fazer desfeita"...

O problema é que as crianças imitam os adultos e com o passar do tempo comem doces até ficar com dor de barriga, rejeitam os mesmos alimentos que os pais não comem (como frutas e verduras), desenvolvem preferências baseadas no aprendizado familiar. Muita mãe me liga desesperado: "meu filho não quer comer hoje". Em geral, não há motivo para se descabelar. Ele comerá bem amanhã e no final da semana tudo dará certo. Empurrar comida nas crianças é o primeiro passo para que deixem de comer em resposta à fome. Aos 5 anos, crianças que são subornadas à mesa ("se não almoçar tudo, não vai poder brincar, assistir tv, comer a sobremesa etc...") devoram tudo, mesmo sem necessidade.

Mas os pais podem comer de forma mais consciente, a família pode comer de forma mais consciente e pode ensinar técnicas de alimentação consciente para crianças de todas as idades:

(1)   Faça pelo menos uma refeição por dia com seus filhos, à mesa, de forma descontraída e alegre. Ansiedade e alimentação não são uma boa combinação. Comer de forma relaxada e tranquila são ótimas combinações.

(2)   Deixe as crianças ajudarem na escolha e preparo dos alimentos. Converse sobre o alimento escolhido. De onde ele veio, onde foi plantado, quem o trouxe até o supermercado, como chegou até vocês. Qual é a importância da água, da chuva, do sol, do ar nisso tudo? 

(3)   Experimente coisas novas usando todos os sentidos. Qual é o formato do brócolis, como o que ele se parece, qual é a sensação dessa mini-árvore em nossas mãos, qual é a sua cor, seu cheiro, seu sabor. A experimentação permite a descoberta de um grande mundo de possibilidades.

(4)   Explique o benefício de determinados alimentos para a saúde.

(5)   Evite falar em calorias e em dietas. Meninas expostas a este mundo possuem um maior risco de desenvolvimento de desordens alimentares precocemente. Não seja tão rígido, principalmente em festas e ocasiões especiais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/