Esta área emergente de atenção em saúde mental busca entender como nossa alimentação pode prevenir e tratar doenças mentais. Funde o conhecimento da saúde mental, desde a neuroplasticidade à psicoterapia e medicina personalizada com nutrição. Em sua essência, a psiquiatria nutricional trata de cuidar de seus neurônios e de sua saúde mental. Utiliza-se dos conhecimentos da ciência da nutrição para otimizar a saúde do cérebro, tratar e prevenir distúrbios de saúde mental.
A pesquisadora pioneira em psiquiatria nutricional, Felice Jacka, foi uma das primeiras a mostrar em. pesquisas que uma melhor qualidade da dieta estaria associada a uma menor probabilidade de transtornos depressivos e de ansiedade e com menos sintomas psicológicos. Uma dieta de características antiinflamatórias estaria associada a um risco de depressão até 35% menor e de ansiedade até 32% menor.
Uma dieta ocidentalizada, por outro lado, rica em produtos ultraprocessados aumentaria as chances de depressão e outros transtornos mentais. Um estudo posterior, publicado em 2009, mostrou que em 10.094 estudantes universitários, aqueles que aderiram mais de perto a um padrão alimentar mediterrâneo tiveram um risco reduzido de 52% de depressão.
Há muito tempo pacientes vêm buscando algo extra que os possa ajudar. A medicação e a psicoterapia, isoladamente, não são suficientes para que muitas pessoas funcionem no seu melhor. O que estaria faltando? Conexão social, espiritualidade, dinheiro, movimento? Todos estes fatores são importantes, mas a nutrição mostra-se uma peça cada vez mais importante neste quebra cabeças.
Como a dieta pode ajudar nosso cérebro?
De muitas formas. Sabia que fadiga, cansaço ou exaustão (física e mental) podem ser um sintoma de deficiência de magnésio? Dormir bem é fundamental, descansar, relaxar. Mas ainda assim, pesquisas mostram que o baixo consumo de magnésio está associado a maior nível de estresse mental. A deficiência de magnésio é comum, por exemplo, em pacientes com fibromialgia e fadiga crônica. Cansar-se após uma corrida é normal. O que não é normal é manter-se cansado após a interrupção da atividade física ou do trabalho. Se você está sempre cansaço ou apático investigue se precisa de mais magnésio.
Melhorando a dieta de forma simples
Aqui estão algumas ideias para beneficiar seu cérebro e seu corpo. Troque:
Refrigerante por água com gás com gotas de limão
Batata frita por batata assada ou por batata crocante feita na airy fryer
Sorvete por iogurte natural com 1 colher de geleia sem açúcar
Mousses por smoothies de leite vegetal com frutas ou mousse de abacate com banana e cacau
Peixe frito por peixe assado ou cozido
Carnes fritas ou tipo churrasco por carnes marinadas ou ao molho com legumes
Doces por chocolate com mais de 75% de cacau
Biscoitos industrializados por biscoitos de aveia ou linhaça ou chia caseiros
Guloseimas da tarde por frutas, nozes e castanhas
Você come todos os dias, faz escolhas todos os dias. Se fizer 90% das escolhas adequadas para seu cérebro, sua saúde irá agradecer infinitamente. O início não é fácil. Por isso, o ideal é não ter guloseimas em casa.
Em 2017, o estudo SMILES, acompanhou 67 indivíduos que já estavam recebendo algum tratamento de saúde mental e deu a eles uma dieta de estilo mediterrâneo por meio de sete sessões de aconselhamento nutricional. Um terço dos indivíduos que receberam a intervenção nutricional entraram em remissão total. Isso pode não parecer um número grande, mas realmente é na saúde mental. Colocar um terço das pessoas com depressão resistente ao tratamento em remissão total é uma conquista incrível na área de saúde mental.
Em 2019, o estudo HELFIMED foi publicado e mostrou que a dieta antiinflamatória associada à suplementação de ômega-3 também reduzia os índices de depressão em 45% em três meses, com efeitos que duravam por 6 meses.
O estudo AMMEND, publicado em 2022, mostrou que intervenções nutricionais são eficazes no tratamento da depressão e melhoria da qualidade de vida de homens jovens. A psiquiatria nutricional não é uma farsa. As evidências acumulam-se e nutrientes adequados podem apoiar a neuroplasticidade, combater a neuroinflamação e o estresse oxidativo cerebral, suportar a síntese de neurotransmissores.
Bioquímica celular
Além do magnésio, vários outros ativos são importantes para as células do sistema nervoso e podem fazer parte da terapêutica nutricional do paciente com transtorno mental, de neurodesenvolvimento ou neurodegenerativo.
Outros suplementos atualmente estudados:
5-Hidroxitriptofano (5-HTP): substrato para biossíntese de serotonina. Promove bem estar, regulação do sono e do humor. É indicado em algumas condições caracterizadas, em parte, por déficits de serotonina, principalmente depressão e distúrbios do sono, além de síndromes neurológicas como Parkinson e epilepsia, em casos de insônia, fibromialgia e cefaléia tensional crônica. Utilizado como profilático no caso de dores crônicas, incluindo dores de cabeça e fibromialgia.
Acetil L-Carnitina: Promove a neuroplasticidade, modulação da membrana neuronal e regulação de neurotransmissores. Possui atividade neurotrófica importante para o hipocampo.
Ácido Alfa Lipóico: coenzima com ação antioxidante, capaz de atraverssar a barreira hematoencefálica. Agente quelante de metais pesados e ação antiglicante.
Alfa GPC: a alfa-glicerilfosforilcolina é um fosfolipídeo derivado da fosfatidilcolina, precursor da acetilcolina. Sua biodisponibilidade, quando comparada a outras formas de colina, é mais elevada e permeia bem pela barreira hemato-encefálica. Atenua a taxa de declínio cognitivo em idosos, atuando como um nootrópico.
Baicalina: composto fenólico derivado da planta Scutellaria baicalensis que possui baicaleína, substância com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Parece regular receptores de dopamina, ter efeito desintoxicante hepático, reduzir estresse oxidativo, modular a função neuronal e prevenir a neurodegeneração relacionada à idade.
BHB (Beta HidroxiButirato): cetona bioidêntica que age como fonte de energia para o organismo, melhorando a função cognitiva, especialmente de pacientes com disfunção no metabolismo cerebral de glicose.
Biotina: vitamina do complexo B, necessária na função enzimática do transporte de carboxila e na fixação de CO2, na gliconeogênese, na lipogênese, na biossíntese de ácidos graxos, no metabolismo do propionato e no catabolismo de aminoácidos de estruturas ramificadas. Atua de forma regulatória do metabolismo saudável, proteção da função cerebral, da memória cognitiva e neurodegenerativa.
Citrulina Malato: aumenta a energia celular e a produção de óxido nítrico endógeno, com ação neuroprotetora e de manutenção do comprimento dos telômeros.
D-Ribose: participa de reações responsáveis pela produção de nucleotídeos durante o metabolismo da glicose e produção de energia.
Glicina: aminoácido essencial na biossíntese dos ácidos nucléicos, assim como dos ácidos biliares, porfirinas, fosfatos de creatina e outros aminoácidos. A glicina possui propriedades similares às do ácido glutâmico e do GABA, relaxando, acalmando e reduzindo a hiperatividade.
Glutationa: auxilia na inativação de compostos oxidantes e atua como neurotransmissor e neuromodulador.
Inositol: melhora a comunicação entre os neurônios.
L-carnitina: peptído formado a partir dos aminoácidos essenciais lisina e metionina. Participa no transporte dos ácidos graxos de cadeia longa através da membrana interna mitocondrial, melhorando a bioenergética de neurônios.
L-carnosina (beta-alanil-L –histidina) é um dipeptídeo formado pelos aminoácidos beta alanina e histidina. Atua como um antioxidante importante no cérebro.
L-glutamina: aminoácido não essencial obtido do metabolismo do acido glutâmico. Sua principal função no organismo é o transporte de amônia dos tecidos para o fígado, para ser biotransformada em uréia. Também é um potente estimulante do anabolismo protéico e principal fonte de energia para o sistema imunológico e intestino. Também é um importante precursor para a síntese de glutamato e do ácido g-aminobutílico (GABA), que são vistos como neurotransmissores excitadores e inibidores do cérebro, respectivamente.
Vitamina B9 (folato, ácido folínico, metilfolato): vitamina hidrossolúvel fundamental no metabolismo do 1-carbono. Níveis adequados são fundamentais para a metilação, proteção do DNA, produção de glutationa e de neurotransmissores, incluindo serotonina e dopamina.
Vitamina B5 (ácido pantotênico): participa da formação de coenzima A, peça fundamental no metabolismo energético, produção de hemácias e hormônios. Faz parte da colina acetil-transferase, enzima que transforma a colina em acetilcolina, neurotransmissor básico na formação da memória.
Discuto muito mais sobre este compostos e o campo da psiquiatria nutricional na plataforma https://t21.video