Diferentes formas de magnésio

O magnésio é o rei dos minerais. É um mineral vital, que participa de mais de 400 reações bioquímicas fundamentais para geração de energia, regeneração celular, desempenho físico e mental. Rege a atividade de centenas de enzimas abrangendo aproximadamente 80% das funções metabólicas conhecidas, ajudando a:

  • Reduzir fadiga e cansaço

  • Melhorar o metabolismo energético

  • Garantir boa função muscular

  • Manter ossos e dentes

  • Apoiar a síntese de proteínas

  • Equilibrar eletrólitos no plasma

  • Melhorar a memória

Uma ingestão diária (DI) de 3,6 mg/kg é necessária para manter o equilíbrio de magnésio em humanos sob condições fisiológicas típicas. Ou seja, uma pessoa de 60 kg precisa de 216mg de magnésio ao dia. Mesmo sendo pouco, estima-se que 60% dos adultos não consumam todo o magnésio de que necessita. Uma das causas é a queda da quantidade de magnésio nos alimentos ao longo dos anos.

Dado o papel do magnésio no transporte de cálcio e potássio, sinalização celular, metabolismo energético, estabilidade do genoma, reparo e replicação do DNA, não é surpreendente que a hipomagnesemia esteja agora associada a muitas doenças, incluindo hipertensão, doença cardíaca coronária, diabetes, osteoporose e distúrbios neurológicos. Níveis séricos no sangue normais ficam entre 0,7–1 mmol/L e a hipomagnesemia é definida como <0,7 mmol/L.

Muitos pesquisadores sugerem não esperar até magnésio cair para menos de 0,7mmol/L. Indicam suplementação se o magnésio sérico já estiver abaixo de 0,85 mmol/L e a excreção urinária estiver abaixo de 80 mg/dia.

Causas da deficiência de magnésio

1 - Baixo consumo de alimentos fontes e alto consumo de alimentos ultraprocessados. As maiores fontes alimentares de magnésio são folhas verdes (78 mg/porção), nozes (80 mg/porção) e grãos integrais (46 mg/porção). Muitas pessoas trocam estes alimentos por produtos ultraprocessados pobres em magnésio. Refrigerantes, que contêm alto teor de ácido fosfórico, juntamente com uma dieta pobre em proteínas (<30 mg/dia) contribuem para a dificuldade de absorção de magnésio.

2 - Práticas agrícolas inadequadas. A crescente demanda por alimentos fez com que as técnicas agrícolas modernas afetassem a capacidade do solo para restaurar minerais naturais, como o magnésio. Além disso, o uso de fertilizantes à base de fosfato resultou na produção de complexos de fosfato de magnésio insolúveis em água, por exemplo, privando ainda mais o solo de ambos os componentes.

Muitas frutas e vegetais perderam grandes quantidades de minerais e nutrientes nos últimos 100 anos, com estimativas de que os vegetais reduziram os níveis de magnésio em 80–90% nos EUA e no Reino Unido.

Queda no teor de cálcio, magnésio e ferro em repolho, alface, tomate e espinafre entre 1914 e 2018 (Workinger, Doyle, Bortz, 2018).

3 - Fluoretação da água. O flúor usado na água, como medida de saúde pública para prevenção de cáries impede a absorção de magnésio, através da ligação e produção de complexos insolúveis.

4- Ingestão de cafeína e álcool aumenta a excreção renal de magnésio causando um aumento na demanda do organismo.

5 - Medicamentos comuns também podem ter um efeito deletério na absorção de magnésio, como antiácidos (por exemplo, omeprazol), devido ao aumento do pH do trato gastrointestinal, antibióticos (por exemplo, ciprofloxacina)e contraceptivos orais devido à complexação e diuréticos (por exemplo, furosemida e bumetanida), devido a um aumento na excreção renal.

Absorção de Magnésio

O magnésio pode ser absorvido ao longo de todo o comprimento do trato gastrointestinal, sendo que o duodeno absorve 11%, o jejuno 22%, o íleo 56% e o cólon 11%.

Dois sistemas de transporte, um passivo e outro ativo, são responsáveis pela absorção de magnésio. Em concentrações intestinais mais baixas de magnésio, um mecanismo de transporte transcelular e saturável predomina e depende de um transportador ativo. Esse transporte ativo ocorre predominantemente no intestino delgado distal e no cólon por meio de uma via transcelular saturável (à esquerda), na qual TRPM6 e TRPM7 transportam ativamente o magnésio para as células epiteliais GI, que é efluído por meio de um trocador de Na+/Mg2+. Devido à saturabilidade desta via, a mesma é responsável apenas por 10 a 20% do magnésio total absorvido. A maior parte do magnésio é absorvido por uma via paracelular (à direita), onde o magnésio atravessa as junções apertadas do epitélio intestinal, auxiliado por proteínas claudinas associadas ao magnésio.

A difusão paracelular passiva ocorre no intestino delgado e, por não ser saturável, é responsável por 80 a 90% da absorção total de magnésio (Workinger, Doyle, Bortz, 2018).

Refeições contendo carboidratos e ácidos graxos de cadeia média aumentam a absorção de magnésio, mas também aumentarão a demanda, uma vez que o magnésio é crítico para a quebra de glicose e liberação de insulina.

Distribuição do magnésio no Corpo Humano

Uma vez que o magnésio é absorvido, ele é distribuído por todo o corpo para uso e armazenamento. Apenas 0,8% de magnésio é encontrado no sangue com 0,3% no soro e 0,5% nos eritrócitos (células vermelhas), com uma concentração sérica total típica de magnésio entre 0,65–1,0 mmol/L. O restante está distribuído em tecidos moles (19%), músculo (27%) e osso (53%).

Tipos de magnésio

A solubilidade da forma de magnésio (sal inorgânico, sal orgânico, quelato, etc.) é um fator importante, com maior solubilidade correlacionada com maior absorção. Existem várias formas farmacêuticas do magnésio. Diferentes moléculas podem se ligar ao átomo de magnésio, alterando sua absorção, biodisponibilidade, acumulo em tecidos.

O magnésio ligado a glicina (quelado) tende a distribuir-se de maneira homogênea por diferentes tecidos (especialmente nas maiores doses). O magnésio malato ou dimalato atinge a corrente sanguínea mais rapidamente (Uysal et al., 2018).

Contudo, em estudos com animais observa-se que o magnésio taurato tende a acumular-se melhor no sistema nervoso central.

O citrato de magnésio também tem uma alta solubilidade em água sendo rapidamente absorvido pela parede intestinal. A mais rápida absorção reduz o risco de diarreia, mais comum com o uso do óxido de magnésio. Assim, o óxido de magnésio acaba sendo mais indicado para as pessoas com intestino preso.

Sinergismo entre nutrientes

Nada no corpo atua sozinho. Existem um sinergismo entre os nutrientes no organismo. Por exemplo, tanto magnésio quanto potássio são fundamentais para o equilíbrio eletrolítico, controle da pressão arterial e funcionamento normal do coração porque estabilizam eletricamente as células cardíacas.

A deficiência de magnésio pode levar à perda de potássio nas células. Com o potássio indo para o sangue a célula fica com um excesso de cálcio e sódio, o que gera um desequilíbrio e maior risco de apoptose (morte) celular.

Estudos recentes também mostram que a ingestão de magnésio é importante para otimizar os níveis de vitamina D3, apoiando função muscular e bem-estar geral.

Vários tipos de magnésio podem ser combinados nas fórmulas manipuladas ou prontas. O óxido de magnésio ajuda a aumentar os níveis do mineral a longo prazo. Pertence às fórmulas de magnésio inorgânico e também é chamado de magnésio elementar. É usualmente combinado com outras formas farmacêuticas como citrato e bisglicinato.

O bisglicinato de magnésio é um composto orgânico de magnésio (o magnésio está ligado ao aminoácido glicina). Este magnésio quelado ao aminoácido ajuda a proteger as membranas mucosas do trato digestivo, sendo muito bem tolerado.

Outros nutrientes podem ser adicionados às fórmulas, dependendo do objetivo do produto. Fórmulas contendo L-cisteína (um dos aminoácidos semi-essenciais) contribui para aumento de antioxidantes. Isto porque a cisteína é usada para a produção de N-acetil-cisteína (NAC) e, posteriormente, de glutationa. A L-cisteína também é um componente da pele e do cabelo, além de desempenhar um papel na produção de DNA e proteínas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/