Terapia Nutricional na Síndrome do Intestino Curto

A Síndrome do Intestino Curto (SIC) é uma complicação decorrente de condições congênitas (atresia intestinal) ou adquiridas (ressecções cirúrgicas de intestino, de maciça enterectomia, de atresias - fechamento, oclusão - intestinais e de aganglionose extensa) caracterizada por diarréia, perda de proteína, de gordura e de peso.

Geralmente acomete indivíduos com menos de 200 cm de intestino delgado funcionante em adultos e/ou quando há uma ressecção de intestino delgado maior que 70 a 75%. As ressecções ou alterações funcionais de grande área do intestino podem levar a uma drástica perda de área absortiva e, conseqüentemente, má absorção de macro (carboidratos, proteínas e lipídios) e micronutrientes (vitaminas e minerais), água e eletrólitos. A reduzida área de absorção determina vários graus de má absorção, além da perda da imunidade gastrintestinal e da habilidade para secretar peptídeos regulatórios gastrintestinais e hormônios tróficos. O sinal mais freqüentemente evidenciado imediatamente após uma extensa ressecção intestinal é diarréia profusa, exacerbada por ingestão por via oral. Ocorrem, também, problemas a curto e em longo prazo com a má absorção, levando a distúrbios do balanço de fluídos, perda de peso, anemia e deficiências vitamínicas.

Após ressecções maciças do intestino delgado, a parte preservada sofre, com o tempo, mudanças adaptativas, tais como espessamento da parede, dilatação e diminuição da motilidade que resultam em progressiva melhora da diarréia e da má absorção, principalmente de gorduras e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Tais adaptações, transcorrem em três períodos.distintos no pós-operatório. No primeiro,com até 3 meses de duração, há desequilíbrio hidroeletrolítico decorrente da diarréia intensa. O segundo, com duração de até um ano, corresponde ao período de adaptação no qual há estabilização da diarréia, permitindo o início da dieta via oral. No terceiro a adaptação máxima é atingida e a dieta via oral é elaborada de maneira a oferecer todos os nutrientes necessários para manutenção de um bom estado nutricional.

Nas três fases o tratamento é bastante individualizado e varia com a área de ressecção do intestino, condições fisiológicas, idade, aceitação e tolerância da dieta e estado de saúde do indivíduo. Orientações gerais incluem:

- Aumentar a frequência e dimunir o volume das refeições afim de compensar a má absorção;

- Suplementação de vitaminas, minerais, ácidos graxos de cadeia média e glutamina;

- Aumentar o consumo de líquidos para prevenir a desidratação;

- Evitar alimentos ricos em oxalato como: chocolate, chá preto e chá mate, refrigerantes a base de cola, cerveja, sucos com bagaço, limonada, suco de tomate, café instantâneo, manteiga de amendoim, tofu, feijões, beterraba, cenoura, aipo, couve, alface, batata frita, alho-poró, amora, uvas, batata-doce, tangerina, farinha de milho, pipoca, biscoitos de soja, gérmen de aveia, cereais matinais, nozes, pretzels, pimenta, sopa de vegetais;

- Reposição de probióticos;

- Restringir lactose quando há ressecção de jejuno;

- Medicação anti-motilidade intestinal pode ser necessária.

Observação: os alimentos bem tolerados deverão ser reintroduzidos na dieta afim de evitar a monotonia do cardápio e para a prevenção de deficiências nutricionais.

Em caso de diarreia prefira:

- Alimentos cozidos e preparados em casa;

- Carboidratos constipantes como maizena, farinha de mandioca, arroz branco;

- Água mineral, sucos coados (cenoura com limão, maçã com limão, goiaba), água de coco, água de arroz (Retirar parte da água do cozimento do arroz, esfriar) pura ou batida com maçã sem casca ou goiaba sem as sementes; 

-  Caldo de legumes, caldo da frango (ferver em panela com tampa), canja de galinha (com peito de frango + arroz + temperos naturais e sal);

- Chá de erva-cidreira, espinheira santa, hortelã, erva-doce, gengibre (em temperatura ambiente);

- Frutas: banana, maçã assadas ou cozidas;

- Vegetais: batata inglesa, chuchu, inhame, cará, batata salsa, cenoura cozida.

EVITAR:

- Açúcar, doces, mel, chocolate, sorvete, condimentos (temperos prontos, tablete de caldo de galinha ou de carne);

- Alimentos ricos em fibras: folhosos, frutas cruas, aveia, fibra de trigo, trigo integral, centeio, linhaça;

- Vegetais hiperfermentativos (formadores de gases): feijão, ervilha, lentilha, cebola, alho, couve-flor, couve, pimentão, repolho, pepino, brócoli, rabanete, abacate, melancia, melão, batata doce;

- Lanches rápidos (salgadinhos  fritos, sanduíches);

- Camarão, marisco, miúdos, peles de aves, embutidos (lingüiça, patê), defumados, maionese;

- Leite: se a ingestão é necessária, substituir por leite BAIXA LACTOSE ou usar “leite” de soja;

- Fumo, álcool;

OBSERVAÇÕES:

- Deitar após a refeição para desacelerar o trânsito intestinal facilitando absorção de  líquidos;

- Mastigar bem os alimentos; 

- Ingerir líquidos para restabelecer/manter o equilíbrio hídrico;

- Fazer pelo menos 05 a 06 refeições por dia, evitando grande quantidade de alimento na mesma refeição; 

- Com a melhora da diarréia recomenda-se ingestão de fibra solúvel (maçã crua, banana, mingau de aveia com os leites indicados) para a formação das fezes e restauração da motilidade intestinal;

- Evitar as gorduras (manteiga, margarina, creme de leite, alimentos gordurosos e frituras, óleo em excesso). 

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/