As comunidades de bactérias intestinais evoluíram ao longo de milhões de anos junto com os seres humanos. A microbiota ajuda-nos a digerir fibras alimentares, produz alguns neurotransmissores importantes, hormônios, enzimas e vitaminas. No entanto, a microbiota desequilibrada aumenta a inflamação corporal e o risco de algumas doenças como obesidade, diabetes e até doença de Alzheimer (Kowalski & Mulak, 2019). Isto acontece pois a microbiota também tem um papel epigenético, alterando a expressão de genes.
A metilação do DNA e as modificações das histonas (conversaremos sobre isso no grupo de estudos) são marcas epigenéticas parcialmente reguladas por enzimas como metilases e acetilases, cuja atividade depende dos metabólitos do hospedeiro e produzidos pela microbiota intestinal. Contudo, alterações na microbiota geram reduções na produção de butirato, por exemplo.
O butirato ajuda a determinar quando e onde certos genes presentes em células intestinais serão expressos. Garante, por exemplo, a expressão apropriada das proteínas que são necessárias para formar junções entre as células intestinais, não permitindo que alimentos mal digeridos, alérgenos, pedaços de bactérias ou substâncias inflamatórias cheguem à corrente sanguínea. Quando isso não acontece, várias substâncias podem navegar pela corrente sanguíneo até o cérebro. A principal causa do desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) é a dieta inadequada.
Intestino e cérebro possuem redes neurais complexas que comunicam-se constantemente. Agora, em tempos de coronavírus, ainda não temos dados suficientes para dizer o que acontece no intestino de uma pessoa infectada e que impacto isto terá no sistema nervoso. Porém, sabemos que um dos sintomas da infecção é a diarreia. E que existem também manifestações neurológicas do coronavírus, como dor de cabeça, tontura, alteração no estado de consciência e perda de paladar e/ou olfato. Ou seja, o novo coronavírus parece afetar tanto cérebro quanto o sistema nervoso (Mao et al., 2020).