Mitofagia, saúde celular, física e cerebral

A autofagia (ou macroautofagia) é um processo catabólico geneticamente programado, que degrada proteínas celulares e organelas danificadas ou em excesso. É um processo fundamental para a saúde celular e redução da velocidade de envelhecimento. A autofagia é estimulada pelo jejum.

Em resposta à restrição calórica ou privação de nutrientes, a autofagia não seletiva é ativada para fornecer às células aminoácidos essenciais e nutrientes para sua sobrevivência. É um processo de reciclagem orquestrado e cuidadoso para que partes de células velhas possam ser reaproveitadas, seja de forma estrutural ou oxidadas para produção de energia.

Já a autofagia seletiva ocorre para remover especificamente organelas danificadas ou em excesso e agregados de proteínas, mesmo em condições sem privação de nutrientes. Por exemplo, a mitofagia remove mitocôndrias danificadas. Estes danos são comuns durante o envelhecimento e em doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

Proteínas como BNIP3L, NIPSNAP1 e NIPSNAP2, acumulam-se na superfície da mitocôndria, recrutando proteínas envolvidas na autofagia seletiva. Este processo desacelera o envelhecimento e ajuda o corpo a manter um peso adequado, com células que funcionam bem.

Quando a mitofagia é comprometida instala-se o que chamamos de “disfunção mitocondrial”, associada à maior estresse oxidativo e doenças como câncer, problemas cardíacos e depressão e outras questões mentais e neurológicas.

A mitofagia tenta então minimizar o impacto de mitocôndrias velhas ou disfuncionais em nosso funcionamento. Não comer muito é a peça mais importante para desacelerar o envelhecimento e proteger o cérebro, assim como o jejum e tudo o que possa promover a biogênese mitocondrial (geração de novas mitocôndrias).

Evite ou remova açúcar da sua dieta pois hiperglicemia piora o funcionamento mitocondrial. Os níveis de glicose no corpo e no cérebro precisam estar adequados se quer ter mais energia e vitalidade. Ou seja, nem hipoglicemia (baixos níveis), nem hiperglicemia (altos níveis de açúcar no sangue). Quantidades mais estáveis são muito melhores para o metabolismo.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Disfunção mitocondrial

Mitocôndrias são nossas usinas energéticas. Pegam carbonos vindos da glicose, dos aminoácidos e dos ácidos graxos e produzem, junto com oxigênio, grandes quantidades de ATP, nossa moeda energética. São minúsculas, 4.000 vezes menores que a cabeça de um alfinete e ainda assim são gigantes metabólicos.

FUNÇÕES DAS MITOCÔNDRIAS

  • Produção de energia

  • Termogênese

  • Apoptose (morte celular programada)

  • Homeostase celular

  • Controle da insulina

  • Produção de espécies reativas de oxigênio (importante para geração de energia, para imunidade. Excesso acelera processo de envelhecimento)

  • Síntese de hormônios esteróides (estrogênio e testosterona)

  • Eliminação de toxinas como amônia e autofagia (digestão de seus próprios componentes danificados)

  • Síntese da proteína heme (que transporta oxigênio dentro das hemácias)

  • Síntese de RNA e DNA

  • Metabolismo de carboidrato, gordura, colesterol e neurotransmissores

  • Autofagia - processo pelo qual a célula consegue digerir seus próprios componentes danificados)

Causas da disfunção mitocondrial

Mutações genéticas são as principais causas de disfunção mitocondrial. Contudo, estresse oxidativo, uso de certos medicamentos, contato com toxinas (mofo, pesticidas, cigarro, metais pesados, poluição do ar), infecções, dieta hipercalórica, uso de estatinas, privação de sono, excesso de viagem de avião, síndrome fúngica, microbiota alterada (disbiose), doenças inflamatórias ou autoimunes, deficiência de micronutrientes e coenzima Q10, doenças crônicas como diabetes também influenciam o funcionamento mitocondrial.

Os órgãos que possuem mais mitocôndrias são os que mais sofrem em caso de disfunção mitocondrial: cérebro (incluindo o nervo óptico), músculo esquelético, coração, ovários, testículos, fígado.

A fadiga e a resistência insulínica são as primeiras características da disfunção mitocondrial. Contudo, o mau funcionamento mitocondrial também está associado a maior risco de aterosclerose, doença de Parkinson, dores exageradas, depressão, calcificação de vasos e doenças cardíacas, perda da visão (como no caso da doença hereditária LHON), problemas na fertilidade e alterações cognitivas ou falta de clareza mental (brain fog). O número de mitocôndrias e a qualidade do seu funcionamento determinam a longevidade humana. Quanto mais mitocôndrias funcionando a todo o vapor, mais energia, mais saúde e longevidade em geral.

No caso de mutações o aconselhamento genético é primordial, evitando-se que as mesmas sejam passadas de uma geração para outra. Mitocôndrias são herdadas apenas das mães. Técnicas hoje permitem que um óvulo da mãe receba mitocôndrias saudáveis de outra mulher doadora. Este óvulo é então fecundado pelo espermatozoide do pai, gerando um embrião saudável. Dessa forma, o embrião teria o material genético dos pais no núcleo mas teria o DNA mitocondrial de outra pessoa. Por isso, as crianças são popularmente chamadas de "bebê de três pais".

Estimulo à produção de novas mitocôndrias

A biogênese mitocondrial é o processo de síntese de novas mitocôndrias dentro das células. Quanto mais mitocôndrias saudáveis, mais energia e saúde. Para o estímulo desta produção, a prática do exercício aeróbico intenso, restrição calórica, exposição ao frio, suplementação de alguns nutrientes e a adoção de uma dieta cetogênica são algumas das estratégias recomendadas. Vitaminas, minerais e compostos bioativos também são importantíssimos para a regulação da função mitocondrial.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

OPÇÕES DE TRATAMENTO NA ATAXIA CEREBELAR

A etiologia da ataxia cerebelar (AC) é heterogênea e inclui causas facilmente identificadas e frequentemente reversíveis (isto é, toxicidade por drogas e deficiência de vitamina B12). Mas também inclui condições degenerativas irreversíveis, de alto desafio para a equipe de saúde, para os pacientes e seus familiares.

Nas ataxias há degeneração progressiva do cerebelo e de suas vias aferentes e eferentes, resultando no comprometimento do controle motor. Os pacientes geralmente apresentam queixas de falta arrastada e marcha instável. A neuroquímica da AC é complexa, e inclui alterações de neurotransmissores como glutamato e GABA.

Para controle da hiperexcitabilidade cerebelar são usados medicamentos como riluzol. Para favorecer o equilíbrio de neurotransmissores são prescritas drogas como amantadina, buspirona, gabapentina, pregabalina, lamotrigina e topiramato. O acompanhamento neurológico é fundamental. Neuroreabilitação e até jogos com videogames tem sido estudados para melhoria da conexão entre neurônios.

Suplementos

Deficiências nutricionais podem afetar o funcionamento cerebral, motor, a produção de neurotransmissores, a função mitocondrial e os níveis de neuroinflamação. Dependendo dos polimorfismos genéticos encontrados suplementos serão sugeridos. Antioxidantes, DHA, vitamina D, zinco estão entre os suplementos frequentemente prescritos.

Para aumentar a energia de neurônios precisamos melhorar a função mitocondrial. Um ciclo de estratégias como jejum intermitente, dieta cetogênica, restrição calórica, sauna banho gelado, atividade física, tudo ajuda. Além disso, suplementos como vitaminas do complexo B, ribose, NADH, coenzima Q10, ácido alfa lipoico, creatina, antioxidantes e carnitina podem ajudar. Na dieta, deve-se caprichar nos polifenóis!

Para atingir os valores acima alguns pacientes precisarão adotar uma dieta com características mais cetogênicas. Um estudo publicado em 2022 mostrou que a suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM) na quantidade de 18g ao dia, por 3 meses, melhorou a marcha e o equilíbrio de pacientes idosos. Isto foi devido ao metabolismo da glicose suprimido no córtex sensório-motor no cérebro. Além disso, ressonância magnética e PET com 18F-fluorodeociglicose também confirmaram o aumento da conectividade funcional do hemisfério cerebelar ipsilateral (Mutoh et al. 2022).

Basicamente, o cérebro estava funcionando melhor e isso se traduziu em melhor movimento físico. Os MCTs (triglicerídeos de cadeia média) são únicos em comparação com outras gorduras, pois são rapidamente convertidos em corpos cetônicos. As cetonas são pequenas moléculas solúveis em água que são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica. Eles fornecem mais energia por unidade de oxigênio e produzem menos resíduos metabólicos, daí sua reputação como um supercombustível para o cérebro.

Conforme envelhecemos o uso de glicose para o cérebro torna-se menos eficiente. Por isso, açúcares e carboidratos simples devem ser reduzidos e corpos cetônicos aumentados. Uma forma de estimular a produção de corpos cetônicos é pela dieta cetogênica suplementada com TCM.

Tipos de TCM

Existem quatro tipos diferentes de TCMs:

  • Ácido capróico (C6): é o mais eficiente na absorção e absorção, mas tem um cheiro e sabor bastante ruins, quando isolado. Presente naturalmente no óleo de palma e laticínios integrais.

  • Ácido caprílico (C8) ou ácido octanóico: ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido. Aumenta corpos cetônicos na corrente sanguínea 3 vezes mais rápido que C10 e 6 vezes mais rápido que C12. Cheiro e sabor melhores do que C6. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido cáprico (C10): ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido, contudo 3 vezes mais lentamente que C8. Mas, a mistura nos produtos é interessante para manter os níveis de corpos cetônicos mais constantes no plasma. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido láurico (C12): ajuda a manter a microbiota saudável. Tem ação antifúngica. Leva mais tempo para ser absorvido e pode elevar mais os níveis de colesterol plasmáticos do que C8 e C10. Disponível naturalmente no óleo de coco e nos laticínios integrais.

Destes, C8 e C10 são os mais associados à perda de peso e encontrados em marcas como:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/