IMPACTO DOS ALIMENTOS E SEUS NUTRIENTES NA SAÚDE MENTAL

O livro Eat to beat depression and anxiety (Comer para Vencer a Depressão e a Ansiedade) propõe que uma dieta saudável pode gerar uma melhoria substancial na saúde mental em apenas 6 semanas. Com alimentos e nutrientes adequados, sono reparador, conexões harmoniosas e atividade física você pode alimentar suas células cerebrais e seus neurônios. É disso que trata a psiquiatria nutricional.

Se a sua dieta é deficiente em vitamina B9, vitamina B12, gorduras do tipo ômega-3 e fibras prebióticas, sua saúde mental, em algum momento sofrerá. Vá melhorando sua dieta passo a passo, semana a semana e colha os benefícios.

Folhas verdes escuras: são um ótimo alimento para o cérebro porque fornecem vitaminas (como B9), minerais (como o magnésio), fibras, conferem saciedade, em poucas calorias, com baixíssimo índice glicêmico.

Coma o arco-íris: quanto mais colorida sua dieta, mais variada, mais rica em fitoquímicos antioxidantes sua alimentação será. Estas substâncias também controlam a inflamação e modulam o microbioma intestinal.

Troque parte das carnes por peixes e frutos do mar: estes são os alimentos muito ricos em ômega-3, selênio e iodo. Muitos dos diferentes nutrientes na escala de alimentos antidepressivos são encontrados em frutos do mar.

Nozes, feijões e sementes: Não tenha medo das lectinas. Elas só fazem mal para quem tem uma péssima microbiota. As pessoas mais longevas do mundo, nas zonas azuis, tende a consumir muito mais proteínas de origem vegetal (que contém lectinas), do que aquelas de origem animal.

Azeite de oliva: fonte de vitamina E (alfa-tocoferol), que pode modular o estresse oxidativo, reduzir a inflamação e o risco de doenças como Parkinson e de Alzheimer (Muscaritoli, 2021)

Alimentos fermentados: kefir, kombucha, kimchi e chucrute são exemplos de alimentos que ajudam a melhorar o microbioma intestinal e a saúde mental. Os alimentos fermentados contêm microorganismos vivos, que podem ocorrer naturalmente ou ser adicionados durante a fabricação. Esses alimentos têm certos componentes que podem beneficiar a saúde mental, incluindo:

  • Probióticos: os próprios microorganismos vivos

  • Prebióticos: compostos que apóiam o crescimento de microorganismos

  • Compostos bioativos: compostos, produzidos por microorganismos, que podem interagir com seu corpo

Esses componentes melhoram a diversidade de bactérias boas intestinais, apoiam a imunidade, reduzem a inflamação, melhoram a digestão dos alimentos. Além disso, os microorganismos interagem com o intestino e o intestino se comunica com o cérebro. O contrário também é verdadeiro: seu cérebro se comunica com seu intestino e essas mensagens influenciam suas bactérias intestinais. Os cientistas chamam essa conversa de mão dupla de "eixo microbiota-intestino-cérebro".

As bactérias que vivem no intestino são seres vivos e precisam de alimentos (as fibras e polifenóis). Um dos poucos grandes estudos observacionais que analisam a saúde mental e os alimentos fermentados foi publicado em 2015. Ele analisou a ansiedade social em um grupo de 710 jovens adultos. Os participantes preencheram questionários para avaliar quais alimentos eles comeram (incluindo alimentos fermentados) e seus níveis de ansiedade social e neuroticismo.

Nesse contexto, o neuroticismo descreve um grupo de características, incluindo uma disposição em relação ao humor negativo, raiva, ansiedade, autoconsciência, irritabilidade, instabilidade emocional e depressão. Os resultados sugerem que as pessoas que obtiveram pontuação alta no neuroticismo e consumiram alimentos fermentados tiveram menos sintomas de ansiedade social. Os autores escrevem:

“O consumo de alimentos fermentados que contêm probióticos pode servir como uma intervenção de baixo risco para reduzir a ansiedade social”, particularmente para aqueles que estão em maior risco de ansiedade social.

As dietas ao redor do mundo e entre regiões são complexas e vários componentes dos alimentos podem influenciar os sintomas de saúde mental. Separar seus efeitos é muito desafiador. Talvez, à medida que continuemos investigando, encontremos links mais profundos. Mas, se você gosta de alimentos fermentados, eles parecem beneficiar a saúde em geral. Portanto, adicioná -los à sua dieta provavelmente será bom para a sua saúde - e quem sabe, também pode dar um impulso de humor ao mesmo tempo.

Escore dos alimentos antidepressivos

Em 2018 foi proposto o escore dos alimentos antidepressivos (EAA), um sistema de classificação que identifica os alimentos mais ricos em nutrientes associados à prevenção e tratamento da depressão. Este sistema baseia-se em 12 nutrientes essenciais, identificados através de uma revisão sistemática da literatura científica, que demonstraram ter um papel significativo na saúde mental: ômega-3, folato, ferro, magnésio, potássio, selênio, tiamina, vitamina A, vitamina B6, vitamina B12, vitamina C e zinco.

A fórmula de cálculo:

EAA = ∑(Densidade de cada nutriente por 100g do alimento/12) x 100 ​

Onde:

  • A densidade nutricional de cada um dos 12 nutrientes é somada.

  • O valor total é dividido pelo número de nutrientes (12) para obter a média.

  • O resultado é multiplicado por 100 para normalizar a pontuação.

Quanto maior o AFS, mais rico o alimento é em nutrientes antidepressivos.

Alimentos com AFS elevado são recomendados para melhorar a saúde mental.

Além dos alimentos disponíveis na tabela original, baseada em alimentos mais consumidos na América do Norte, usei a fórmula para incluir alimentos regionais brasileiros e plantas alimentícias não convencionais, riquíssimas em nutrientes.

Lembro que dependendo da tabela utilizada para cálculo também podem existir divergências no % EAA, como é observado no caso do fígado, que deixei para ilustrar. O mais importantes é que são todos comida mesmo, nada de empacotados!

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Magnésio e epilepsia

A epilepsia é uma doença caracterizada pela ocorrência de convulsões. Estima-se que atinja 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Medicamentos, manejo do estresse, dieta cetogênica são importantes no gerenciamento da doença.

A busca por possibilidades alternativas de tratamento tem direcionado alguma atenção para o magnésio. O magnésio é um elemento essencial envolvido em muitos processos corporais e é considerado deficiente na dieta ocidental moderna.

Como a atividade convulsiva tem sido fortemente associada à neurotransmissão glutamatérgica excessiva, o magnésio poderia modular potencialmente a excitotoxicidade ligada à epilepsia (mais sobre este tema aqui).

O magnésio extracelular reduz picos espontâneos na atividade convulsiva através do receptor NMDA, ao mesmo tempo que diminui a hiperexcitabilidade da superfície neuronal. Na verdade, é bem conhecido que a hipomagnesemia, por si só, pode causar atividade convulsiva com deficiência mais grave.

Níveis mais baixos de magnésio no cabelo são observados em pacientes epilépticos quando comparados com controles saudáveis. A relação entre a gravidade da doença e a concentração de magnésio não é uma área que tenha sido amplamente explorada e poderia resultar em informações valiosas se mais trabalhos se concentrassem nesta associação potencial.

No que diz respeito ao magnésio como tratamento, descobriu-se que a suplementação de magnésio é benéfica para a hipomagnesemia, um fator de risco conhecido para convulsões em crianças e adultos. Outras condições associadas a convulsões sintomáticas, como a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia, também demonstraram uma melhoria como resultado da suplementação de magnésio.

São necessários mais ensaios clínicos aleatorizados para compreender melhor o potencial do magnésio como opção de tratamento para a epilepsia. Tais ensaios, com medições mais precisas dos níveis de magnésio, forneceriam uma visão maior e mais específica sobre o papel potencial do magnésio como tratamento (ou tratamento adjuvante) para vários tipos de epilepsia.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Magnésio na prevenção do derrame cerebral

O acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, apresenta-se com sintomas como fala arrastada, paralisia/dormência e dificuldade para caminhar. O AVC pode ser dividido em dois tipos: isquêmico (onde o fluxo sanguíneo é impedido, geralmente por um coágulo) e hemorrágico (onde um vaso sanguíneo se rompe, causando comprometimento do fluxo sanguíneo no cérebro).

A hipóxia (falta de oxigenação) induzida causa excitotoxicidade e morte celular resultante. O papel do magnésio na função vascular, bem como na sua capacidade de proteger contra a excitotoxicidade mediada pelos receptores NMDA, tornou-o um elemento de interesse na comunidade de investigação do AVC.

Estudos que examinaram o risco de acidente vascular cerebral e os níveis de magnésio produziram resultados mistos. Enquanto alguns estudos não encontram qualquer relação entre os níveis séricos de magnésio ionizado e o risco de AVC, outros mostraram que mulheres com níveis baixos de magnésio ionizado (<0,82 mmol/L) tiveram um risco 57% maior de acidente vascular cerebral isquêmico. Concentrações séricas mais elevadas de magnésio no momento da admissão hospitalar também parecem relacionar-se com menor volume de hematoma e menores pontuações de hemorragia intracerebral em pacientes com hemorragia intracerebral espontânea aguda, além de menor mortalidade.

A maioria das meta-análises revisadas descobriu que cada incremento de 100 mg/dia na ingestão de magnésio na dieta proporcionou entre 2% e 13% de proteção contra acidente vascular cerebral total. É importante notar que existem muitos tipos de AVC e que nem todos os subtipos de AVC demonstraram uma relação universal com o magnésio.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/