Gases intestinais e dieta low fodmap (baixo teor de alimentos fermentáveis)

No intestino, vários gases - incluindo hidrogênio (H2), metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), sulfeto de hidrogênio (H2S), óxido nítrico (NO) e compostos contendo enxofre - são gerados por meio de interações químicas ou ações metabólicas da microbiota residente com os alimentos consumidos. A flatulência também pode ser gerada quando a pessoa engole gases durante a alimentação ou com o consumo de bebidas carbonatadas, como refrigerantes. Como o N2 deglutido não é absorvido ou metabolizado durante sua passagem pelo intestino, seus níveis permanecem razoavelmente estáveis ​​em todo o trato gastrointestinal. Outra fontes de gases no intestino delgado proximal, é a reação entre o bicarbonato (HCO3−), que é secretado pelo pâncreas, com o conteúdo de ácido clorídrico (HCl) vindo do estômago.

As pessoas são muito diferentes nisso tudo. Enquanto algumas sofrem demais com gases outras nunca têm esse problema. Para quem sofre com a flatulência mastigar bem os alimentos, consumir pouco alimento industrializado, evitar refrigerantes e cuidar da composição da microbiota intestinal estão entre as estratégias mais importantes. O volume e o perfil dos gases produzidos variam amplamente em função da abundância de bactérias e substratos.

Componentes não digeridos dos alimentos são fermentados no intestino pelas bactérias ali presentes (Kalantar-Zadeh et al., 2019)

Componentes não digeridos dos alimentos são fermentados no intestino pelas bactérias ali presentes (Kalantar-Zadeh et al., 2019)

Algumas pessoas produzem tantos gases que sofrem até com o consumo de alimentos saudáveis. Os carboidratos dietéticos são moléculas baseadas em carbono de diferentes comprimentos e tamanhos. Em uma dieta ocidental média, cerca de 40 g diários de carboidratos dietéticos escapam da digestão e absorção enzimática do hospedeiro no intestino delgado e atingem os segmentos fermentativos do intestino.

No intestino delgado, apenas os monossacarídeos são absorvidos diretamente, e a eficiência do processo de absorção difere entre os açúcares individuais. A glicose e a galactose, por exemplo, são absorvidas rapidamente, enquanto a frutose é absorvida mais lentamente. Má absorção de frutose, um evento fisiologicamente normal, ocorre quando o excesso de carga de frutose é alta, quando a velocidade de trânsito através do intestino delgado é rápido, ou quando a capacidade do intestino delgado para absorver o açúcar é diminuída. Dissacarídeos dietéticos (como lactose e sacarose) e oligossacarídeos liberados da digestão do amido mediada por amilase requerem digestão por enzimas de borda em escova antes da absorção. Assim, sua absorção falha quando a atividade dessas enzimas é baixa, como ocorre na deficiência de lactase ou sacarase-isomaltase.

Os carboidratos não absorvidos chegam ao cólon rico em bactérias, onde podem ser fermentados. Em geral, carboidratos de comprimentos de cadeia curta são fermentados mais rapidamente do que aqueles com um comprimento de cadeia longa, rendendo maiores quantidades de gás em um período de tempo mais curto. Os FODMAPs são justamente carboidratos de cadeia curta, de absorção lenta ou não digeríveis, que são prontamente fermentados. Quando a hipersensibilidade visceral está presente, sintomas como dor abdominal, distensão abdominal e alterações no hábito intestinal podem ocorrer em resposta à ingestão de FODMAP.

A dieta Low FODMAP é feito pela redução ou restrição de todos os alimentos com alto teor de FODMAP por um período, e reintrodução gradual dos mesmos, assim é possível perceber em qual grupo de FODMAP existe maior intolerância.

Lembre que ao realizar essa dieta e diminuir as quantidades de carboidratos fermentáveis, há também diminuição do combustível utilizado pelas bactérias benéficas da microbiota intestinal. Assim, essa dieta é capaz de diminuir a diversidade da microbiota e por isso não é recomendado executá-la por longos períodos. Por isso, ao executar a dieta FODMAP suplemente uma variedade de probióticos para amenizar a disbiose intestinal.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição para prevenção e controle de miomas - diferenças entre nutrição ocidental e medicina ayurvédica

Um fibromioma é uma massa ou tumor benigno localizado no útero que não é canceroso. Podem ser tão pequenos como uma ervilha ou tão grandes como uma bola de basquetebol. Cerca de 30% das mulheres com mais de 30 anos de idade têm fibromiomas. As causas dos fibromiomas não estão completamente elucidadas. No entanto, genética, desregulação hormonal e dieta inadequada parecem contribuir para o problema que pode gerar dor, hemorragias, aumento do volume abdominal, problemas nas costas, infertilidade, prisão de ventre e abortos de repetição.

No vídeo abaixo discuto o papel da nutrição na prevenção e tratamento dos fibromiomas ou miomas uterinos, de acordo com a nutrição ocidental. Depois, discuto o mesmo aspecto de acordo com o Ayurveda.

E a visão ayurvédica sobre os miomas?

Para a medicina tradicional nascida na Índia há milhares de anos (Ayurveda, a ciência da vida), miomas têm influência do apana vayu. Vayus (ventos) são correntes de energias internas existentes no corpo. Os textos clássicos tratam de cinco vayus e um dele é o apana, que direciona tudo para fora (fezes, urina, suor, menstruação, bebê durante o parto etc).

O vayus são subdoshas de vata, que pode ficar agravado pela diminuição dos tecidos corporais e pelo bloqueio do movimento (o caminho natural de vata dosha). Prender a urina, não evacuar, bloqueio da menstruação (com anticoncepcional, uso do DIU) geram acúmulo de Vata e aumento do risco de várias condições. Uma delas é o mioma. Por isso, não podemos suprimir impulsos fisiológicos naturais. Ervas e alimentos oleosos ajudam no tratamento da constipação e ajudam a tratar os miomas. Ervas como alcaçuz ou shatavari podem ser eficazes. A fórmula ayurvédica Triphala é comumente usada com sucesso.

Além disso, desequilíbrios na alimentação geram muitas das doenças femininas como SOP, miomas, TPM, endometriose. É fundamental excluir alimentos ultraprocessados da alimentação e alimentos que causem intolerâncias (isso é individual) e não comer demais (comer apenas quando tiver fome, apenas quando tiver digerido a refeição anterior).

Nem precisamos falar que para uma saúde perfeita precisamos dormir bem, movimentar o corpo, parar, descansar, meditar, praticar yoga. Cuide-se!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
Tags

Interferência da suplementação de biotina no exame de tireóide

Atendo muitas pessoas com alterações genéticas que afetam o metabolismo da biotina (vitamina B7). Esta vitamina é um cofator essencial para enzimas carboxilases envolvidas no metabolismo de ácidos graxos, degradação da leucina e gliconeogênese. Polimorfismos genéticos que alteram absorção ou uso desta vitamina aumentam o risco de sintomas como cansaço, depressão, dores musculares, anemia, problemas autoimunes (como esclerose múltipla), convulsões, hipotonia muscular, desequilíbrio, alterações na visão, audição e pele.

Resultado de exame genética de criança com síndrome de Down (porém não é só na SD que observamos estas alterações).

Resultado de exame genética de criança com síndrome de Down (porém não é só na SD que observamos estas alterações).

COMO AVALIAR E SUPLEMENTAR BIOTINA?

Mas atenção: o uso de quantidades altas de biotina pode alterar exames de tireóide, que voltam a normalizar com a suspensão da vitamina. É importante levar isto em consideração para não gerar um falso diagnóstico de alteração da tireóide (Elston et al., 2016). A biotina liga-se aos hormônios alterando o resultado do imunoensaio mas não quer dizer que a tireóide não esteja funcionando ou não produzindo doses adequadas de T3 e T4.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/