"Andreia, um dia o nutricionista diz que leite é inflamatório. Aí você liga a TV e assiste outro profissional dizendo que isto é mentira. E agora?". Perdi a conta de quantas vezes me mandaram perguntas similares a essa. Então vamos lá:
É bom lembrar que um alimento que faz bem a uma pessoa não necessariamente fará bem ao vizinho. Existem pessoas que comem pão francês todo dia e está tudo certo. Já outra pessoa come um pedacinho do mesmo pão e depois passa 5 dias com inchaço abdominal, sem conseguir evacuar. Tem gente que come várias bananas ao dia e não observa nada de diferente. Mas outros morrem de dor de estômago se comerem apenas uma unidade. E o mesmo acontece com o leite!
Artigo publicado em 2017 por Alessandra Bordoni e colaboradores discute a questão muito bem. Os pesquisadores lembram que grande parte das doenças inflamatórias crônicas (incluindo diabetes, obesidade, artrite reumatóide, Alzheimer) são influenciadas pela dieta. A inflamação após o consumo de certos alimentos faz parte da resposta normal ao estresse.
Os laticínios são um grupo particularmente interessante no contexto da inflamação. Todos os mamíferos recebem leite de suas mães ao nascer e possuem mecanismos para lidar com este alimento. Contudo, o leite produzido por seres humanos é diferente daquele produzido por vacas, ovelhas, búfalas, cadelas, éguas... Na pesquisa publicada no Critical Reviews in Food Science and Nutrition os autores apresentam evidências de que as pessoas que conseguem lidar com estas diferenças não se inflamarão. Já quem não conseguir lidar com as diferentes proteínas e compostos presentes nos leites de outras espécies se inflamará em grande medida.
Fora isso, o leite de vaca industrializado passa por várias transformações. Apesar do Brasil ter alcançado um lugar de destaque entre os principais produtores de leite do mundo um problema persiste: a baixa qualidade do produto. Cerca de metade das vacas apresenta infecção mamária (ESALQ/USP, 2016). Fora isso, existem os resíduos de hormônios e antibióticos encontrados nos produtos de origem animal, e a adulteração com formol, álcool etílico, água oxigenada, soda cáustica infelizmente é mais comum do que se imagina no leite longa vida (UHT, aquele de caixinha) do Brasil.
A opção é sua. Afinal, nenhum nutricionista, nutrólogo, coach conhece melhor seu corpo do que você mesmo. Na páscoa muita gente vai se empanturrar de chocolate e bacalhau com creme de leite. Pra alguns não haverá maiores consequências. Outros terão uma semana difícil, inflamada, com sintomas variáveis como dores de cabeça, tontura, insônia, dores, coceiras, tosse, rouquidão, náuseas, diarreia ou prisão de ventre, gases, azia, cansaço, apatia, vermelhidão na pele... É bom lembrar que quem sente-se assim têm maiores chances de desenvolver problemas de saúde a médio e longo prazo. O que você escolhe?
Muco e rinite sempre são alergia à leite?
Muco, rinite e dermatite são sintomas inespecíficos. Sozinhos, não diagnosticam alergia à proteína do leite (APLV). Entre os sinais que podem levantar suspeita estão:
1️⃣ Sintomas respiratórios, como rinite;
2️⃣ Sintomas gastrointestinais, como muco nas fezes, cólicas ou constipação;
3️⃣ Infecções respiratórias recorrentes;
4️⃣ Exames de sangue com IgE sérica específica;
5️⃣ Dermatite.
⚠️ Mas atenção: nem todo muco, rinite ou dermatite é APLV.
Outras causas comuns incluem:
Rinite alérgica, sinusite ou asma;
Infecções virais respiratórias recorrentes;
Refluxo gastroesofágico ou intolerâncias alimentares;
Dermatite atópica, de contato ou infecções de pele;
Imunodeficiências leves ou polipose nasal.
Transformar suspeita em diagnóstico sem critérios claros traz riscos:
❌ Desnutrição pela retirada do leite de crianças que não tem um bom consumo de outros alimentos;
❌ Perda de confiança da família quando a criança não melhora.
Evitar esse erro exige raciocínio clínico baseado em evidências: ouvir a história completa, analisar exames com criticidade, correlacionar sintomas e entender se o quadro é IgE mediado ou não (APLV é IgE-mediada e sintomas são imediatos, entre minutos a 2 horas). Testes cutâneos (prick test), marcadores inflamatórios plasmáticos e até exames genéticos podem ajudar no diagnóstico correto. Fale com um bom profissional, consulte o pediatra.
E se for preciso tirar o leite? Em geral é feito um teste de exclusão (2 a 4 semanas) com reintrodução controlada (provocação oral) para fechar de vez o diagnóstico. Ajustes da dieta são importantes para evitar desnutrição calórica, proteica ou deficiências de micronutrientes. Marque sua consulta de nutrição para os ajustes necessários.
Outras estratégias importantes para o combate à inflamação:
uso de condimentos e dieta antiinflamatória baseada em plantas;
beber pouco e não fumar;
exercícios respiratórios (aprenda no curso “tudo sobre yoga”)
redução do estresse oxidativo;
suplementação adequada de micronutrientes, aminoácidos e fitoquímicos com ações específicas no cérebro. Muitos deles possuem efeitos neuroprotetores incluindo: Allium sativum, Bacopa monnierae, Centella asiatica, Withania somnifera, Salvia officinalis, Ginkgo biloba, Huperiza serrata, Angelica sinensis, Uncaria tomentosa, Hypericum perforatum, Curcuma longa, Crocus sativus, Valeriana wallichii, Glycyrrhiza glabra, Scutellaria baicalensis, Angelica pubescens, Morus alba, Salvia miltiorrhiza, Uncaria rhynchophylla (Kumar e Khanum, 2012). Aprenda mais no curso psiconutrição!