Probióticos melhoram a saúde do fígado e o metabolismo dos nutrientes

Metabolismo da glicose no fígado

Metabolismo da glicose no fígado

O fígado é um órgão essencial para a saúde. Atua como uma glândula exócrina (produzindo e liberando secreções que atuarão na digestão) e endócrina (produzindo e liberando substâncias que chegarão ao sangue e sistema linfático). Desempenha inúmeras funções como a desintoxicação do corpo, o armazenamento e liberação de glicose, o metabolismo dos lipídios e proteínas, a produção da maior parte das proteínas que circulam no plasma, o processamento de drogas e hormônios, a produção de bile etc. É por isso que, se o fígado vai mal, muitas outras coisas são afetadas, como a glicemia, a imunidade e até a cognição.

Por exemplo, quando o fígado não funciona bem há uma sobrecarga de toxinas circulando. Estas toxinas podem vir dos alimentos (aditivos, pesticidas), da produção hormonal, da produção por bactérias intestinais, de metais pesados, etc. Este excesso de toxinas prejudica a conversão do T4 em T3 (o hormônio mais ativo da tireóide). É por isso que pessoas com esteatose hepática podem ter prejuízo na tireóide. Todos os sistemas estão relacionados! As brássicas (brócolis, couve, repolho, couve-flor, rabanete, nabo, agrião, rabanete, rúcula) fornecem compostos que auxiliam o fígado no processo de destoxificação. Própolis é um suplemento que tem substâncias bioativas que ajuda também o fígado a liberar mais toxinas. Um fitoterápico interessante é a Withania somnifera (300 a 600 mg/dia).

Para melhorar o metabolismo hepático também é muito importante tratar o intestino. Sabia que suas bactérias intestinais fazem parte do seu sistema imunológico? Pois é, quando existem muitos microorganismos ruins no intestino, o sistema imune como um todo é desregulado. Quando existe uma variedade e quantidade maior de bactérias boas circulando o sistema imune como um todo é beneficiado. As bactérias benéficas (probióticas) também produzem compostos que beneficiam sua função hepática e ajudam a controlar o metabolismo dos nutrientes e a reduzir a pressão arterial.

O lactobacillus rhamnosus GG (LGG), que é encontrado em muitos suplementos probióticos comerciais reduz o estresse oxidativo no fígado. Em um experimento, camundongos que receberam uma dose tóxica de acetaminofeno, conhecido por causar lesões graves no fígado tiveram maior produção de radicais livres e inflamação. Porém, o grupo tratado com LGG sofreu menos dados no órgão. A administração do probiótico LGG a camundongos parece melhorar a resposta antioxidante do fígado, protegendo-o de danos oxidativos produzidos por drogas como o acetaminofeno. Estudos anteriores com animais também mostraram que o LGG ajuda proteger contra doença hepática alcoólica e esteatose hepática gordurosa não alcoólica, geralmente causada por dietas ricas em açúcar e alimentos processados.

O LGG parece ativar o Nrf2, uma proteína que regula a expressão de enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase e a catalase. O Nrf2 reduz a inflamação, melhora a função mitocondrial e estimula a biogênese mitocondrial. Além de consumir probióticos contendo LGG, o Nrf2 também pode ser ativado por: consumo de brássicas (novamente!). Como vimos, os vegetais crucíferos contém sulforafano que estimula o bom funcionamento hepático. Antioxidantes fenólicos presentes em alimentos como cebola, chá, uvas roxas, cacau, açafrão, cháv verde, mostarda, tofu, missô, linhaça. Uma outra forma de ativar o Nrf2 é com exercício de alta intensidade.

Modificações na microbiota durante a vida

Modificações na microbiota durante a vida

Voltando ao intestino: com o envelhecimento há uma alteração na composição da microbiota intestinal. Com isso aumenta a tendência à uma inflamação crônica de baixo grau e vários problemas que acompanham a velhice, como aumento da glicemia, dos níveis de colesterol e da pressão arterial, maior incidência de esteatose hepática, maior risco de intoxicação.

O uso de probióticos torna-se então importantíssimo nesta faixa etária. Recentemente, estudos vêm mostrando, por exemplo, a eficácia do transplante de microbiota fecal em pessoas idosas com problemas de saúde ou infectadas por Clostridium difficile de difícil tratamento (Messias et al., 2018). Nesta perspectiva de que tudo está integrado em nosso corpo, o uso de fecal também está sendo investigado para tratamento de aterosclerose, diabetes tipo 2, Parkinson e problemas hepáticos.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Esclerose lateral amiotrófica e nutrição

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ALA) é uma doença neurológica degenerativa rara, não contagiosa, que evolui de forma progressiva. Nesta doença, os neurónios motores que conduzem a informação do cérebro aos músculos (passando pela medula espinhal) morrem prematuramente. Como consequência, os músculos vão ficando mais fracos dificultando o caminhar, o falar, o andar, dentre outros movimentos.

Os primeiros sintomas surgem geralmente entre os 40 e os 75 anos, sendo mais comum em homens brancos. Não se conhece a causa da doença que provavelmente é resultado da combinação de fatores genéticos e ambientais.

O tratamento requer a participação de equipes multidisciplinares englobando médicos, farmacêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e, em alguns casos, assistentes sociais, para a adaptação da assistência às necessidades individuais dos pacientes.

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A esclerose lateral amiotrófica (ELA) tem uma patogênese complexa em que observa-se dano mitocondrial e dificuldade de produção de energia na forma de ATP, neuroinflamação, excesso de glutamato e estresse oxidativo aumentado. A dieta e a suplementação deve atacar precocemente todas estas áreas para evitar a aceleração da doença.

Observa-se na ALA um acúmulo da enzima Superóxido Dismutase (SOD-1) mutada no citoplasma das células, o que gera aumento do estresse oxidativo, inflamação, desequilíbrio da homeostase do cálcio e apoptose de neurônios. A nutrição pode contribuir com o tratamento com o uso de antioxidantes (vitamina C, vitamina E) que não estimulem SOD-1 e nrf2, com substâncias antiinflamatórias (como ômega-3, curcumina, resveratrol e EGCG), magnésio e vitamina D (para equilibrio da homeostase do cálcio) e theanina do chá verde que inibe neurotransmissão glutamatérgica (responsável pela citoxicidade neuronal).

Outra teoria para a ELA é o contato com a neurotoxina β-N-metilamino-L-alanine (BMAA) presente na água, ar, certos alimentos (sementes de trigo - Triticum aestivum) e cianobactérias de certas regiões do mundo (Li et al., 2024). Esta toxina é incorporada em proteínas e toma o lugar do aminoácido serina. Por isso, a suplementação de L-serina em altas doses (15g até 2 vezes ao dia) é recomendada (Bradley et al., 2017).

Para pacientes com dificuldade de deglutição alterações na consistência podem ser necessárias, assim como a terapia enteral em casos mais graves. O gasto energético pode estar aumentado. Por isso, recomenda-se acompanhamento nutricional para evitar perda de peso e agravamento da perda muscular.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Toxoplasmose e excesso de dopamina

A toxoplasmose é uma infeção causada pelo parasita Toxoplasma gondii. Este parasita reproduz-se apenas no intestino de gatos. Seres humanos e outros animais infectam-se após o contato com fezes destes felino ou com alimentos que contenham ovos doToxoplasma gondii . Estima-se que entre 10 a 70% das pessoas estejam infectadas, dependendo da população estudada. O Brasil possui uma das maiores populações mundiais infectadas (aproximadamente 66,7%). Culpa dos gatos ou das carnes mal passadas (ou ambos?).

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Se uma mulher grávida for infetada, a infeção pode ser transmitida ao feto através da placenta, o que pode resultar em aborto ou na ocorrência de toxoplasmose congênita, doença que pode gerar icterícia grave, convulsões e atraso intelectual. Carnes mal passadas são grandes vilões.

Entre as pessoas infectadas após o nascimento, estima-se que até 1/4 tenham o toxoplasma no cérebro. Em pessoas saudáveis o parasita parece não causar nenhuma consequência importante. Porém, pessoas imunodeprimidas podem desenvolver esquizofrenia, desordem bipolar, depressão, problemas de memória, epilepsia e condições neurodegenerativas (Sinai et al., 2016). Estudos mostram que o Toxoplasma gondii pode alterar comportamentos em camundongos e gatos, colocando-os em maior risco de acidentes ou morte (Flegr, 2013).

Um dos problemas é que a infecção pelo Toxoplasma gondii aumenta os níveis de dopamina. A dopamina é um neurotransmissor importante, ajudando a regular memória, atenção, movimentos voluntários, humor, prazer e libido. A doença de Parkinson está associada à baixa produção de dopamina. Já a esquizofrenia está relacionada à altas quantidades de dopamina. Pelo menos 1/5 dos pacientes com esquizofrenia parece estar infectados pelo Toxoplasma gondii (Smith, 2014). O excesso de dopamina também parece ser comum em condições como déficit de atenção e hiperatividade, paranóia, halucinações, psicose, desordem bipolar.

É por isso que o tratamento envolve o uso de medicamentos que antagonizam a dopamina. Já o uso de substâncias que aumentam a dopamina agravam sintomas (cafeína, cocaína, anfetaminas, açúcar). Pessoas muito estressadas ou que dormem pouco também podem ter maiores níveis de dopamina. Já suplementos contendo plantas como Bacopa monnieri, Morus alba, 5-HTP, Magnolia officinalis e Glycyrrhiza glabra ajudam a reduzir os níveis de dopamina e tem sido estudados como alternativa para o tratamento da toxoplasmose (Sharif et al., 2016). Para mais informações consulte um nutricionista especialista em fitoterapia.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/