Equilibrando a tireóide

Queixas comuns em meu consultório: tristeza, dores, baixa libido, ganho de peso, resfriados de repetição, cabelo quebradiço, pele seca... Estes sintomas comuns no hipotireoidismo podem aparecer também em indivíduos que tem a glândula tireoide funcionando normalmente. A tireoide produz hormônios que regulam o crescimento, o metabolismo, a produção de energia...

No cérebro, a glândula pituitária produz TSH (hormônio estimulador da tireoide), o qual estimula a produção de T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Esta produção é dependente de um consumo adequado de iodo. Quando a tireoide não produz seus hormônios em quantidade suficiente os sintomas acima aparecem. Estão em maior risco mulheres, indivíduos acima de 60 anos, pessoas com história familiar de problemas de tireoide, pacientes com doenças autoimunes como diabetes tipo 1, artrite reumatóide e lúpus. Outros sintomas possíveis incluem dores articulares, aumento da glândula, sensibilidade ao calor ou frio, ataques de pânico, aumento do colesterol plasmático, diminuição da memória e problemas de visão. O diagnóstico é feito pela medida do TSH e do T4, que estão baixos no hipotireoidismo. O tratamento inclui o uso e monitoramento dos níveis de T4.

Bom, e se você possui estes sintomas, fez os exames e deram todos normais? Neste caso, sua tireoide pode estar sofrendo as consequências de um estilo de vida inadequado mas ainda luta para funcionar. O tratamento exige modificações em sua alimentação e em sua rotina:

  • Desestresse: o estresse diminui as reservas de nutrientes no nosso organismo fazendo com que a produção de alguns hormônios seja prejudicada. Diminua a carga de trabalho, medite, faça yoga, durma mais, diminua o consumo de açúcar e aumente o consumo de chás calmantes como o de camomila.

  • Movimente-se: a atividade física aeróbica de baixa intensidade, como a caminhada, estimula a produção de hormônios da tireóide.

  • Fique de olho nas vitaminas: o consumo adequado de magnésio, selênio, iodo e vitaminas A, C, D e E são importantes para a produção dos hormônios da tireoide.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta e esteatose hepática

A esteatose hepática é uma condição em que uma grande quantidade de gordura se acumula no fígado prejudicando o funcionamento do mesmo. O órgão é indispensável à vida, sendo o grande responsável pelo metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios e pela desintoxicação do corpo. Assim, mal estar, dor na parte superior do abdome ou desconforto após as refeições podem aparecer como sintomas precoces do problema. A esteatose pode ser revertida porém, se não tratada, pode evoluir para destruição progressiva do fígado. As principais causas da esteatose são o consumo excessivo de álcool, a obesidade, o diabetes mellitus não controlado, o consumo excessivo de calorias, carboidratos e gordura.

Assim, o tratamento, em geral, envolve emagrecimento, redução do consumo calórico, redução do consumo de gorduras e aumento de alimentos antiinflamatórios no cardápio. O consumo de frutose também precisa ser diminuído por isto açúcares, doces, massas, refrigerantes, sucos adoçados e frutas com alta carga glicêmica ficam fora da dieta.

A quercetina presente na maçã, cebola e brócolis, contribui para a recuperação do órgão. O gengibre também possui substâncias antiinflamatórias que suprimem o NFKb, assim como a curcumina presente no açafrão. Chás, como o de erva-mate sem açúcar, também reduzem a inflamação. Suplementos  muito pesquisados e utilizados incluem a silimarina e a acetilcisteína.

A dra. Maria Inês Faviere indica ainda em seu livro (em promoção na livraria Florence) o consumo de frutas com propriedades antioxidantes, principalmente as ricas em vitamina C (acerola, amora, abacaxi, kiwi, limão, laranja, tangerina), alimentos ricos em ômega-3 (atum fresco, algas, arenque, anchova, bacalhau, cavala, linguado, salmão, sardinha, truta), selênio (castanhas), ácido alfa lipóico (espinafre) e colina (alface, broto de alfafa, couve-flor, cogumelos, cenoura, lêvedo de cerveja, aveia). Indica ainda o consumo de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), presente no caju, no ovo, nos peixes, queijos, sementes de gergelim e abóbora, cogumelos e na castanha do Brasil. Outros aminoácidos importantes para o restabelecimento do fígado são a cisteína, a taurina e a metionina, presentes em carnes em geral, pescados, laticínios, clara de ovo, leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, soja) e oleaginosas (amendoim, castanha do Brasil, castanha de cajú).

O ideal é dar preferência aos alimentos pois alguns suplementos tem sido associados a lesões no fígado. Por isto, sempre consulte seu nutricionista antes de iniciar o consumo de qualquer produto ou erva.

Artigo recomendado:

Lustig (2013). Fructose: it's "alcohol without the buzz". Advances in Nutrition. Disponível em: www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3649103/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

A alimentação do corredor sênior

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Este meu artigo foi publicado na revista contra-relogio em 01/06/2013

Mudanças fisiológicas chegam também para os esportistas idosos, que precisam atentar para sua dieta diária, de forma a terem como aliada e não como inimiga. Estudos recentes mostram que o envelhecimento não afeta a capacidade de uso eficiente de oxigênio pelos pulmões nos indivíduos habituados a correr. Uma evidência é que na Maratona de Nova York os tempos de chegada entre os idosos mais rápidos têm caído a cada ano.

Nos países em desenvolvimento a Organização Mundial de Saúde considera idoso o indivíduo com idade superior a 60 anos. De acordo com o órgão, o grupo seria mais vulnerável a doenças crônicas, tendo necessidades nutricionais específicas. Este processo natural de envelhecimento é caracterizado pela diminuição progressiva da reserva funcional das pessoas, modificações fisiológicas e sociais, uso de medicações, alterações da mobilidade e dificuldades com a alimentação. 

Por exemplo, a funcionalidade das papilas gustativas pode diminuir com a idade. Dessa forma, para que o indivíduo sinta o sabor dos alimentos, acaba sobrecarregando no uso de temperos, sal ou açúcar, os quais podem contribuir para o aumento da pressão arterial, ganho de peso e descompensação glicêmica. Outros idosos perdem o interesse pelo alimento, o que aumenta o risco de desnutrição ou deficiências de vitaminas e minerais. 
Em termos de composição corporal, a diminuição da massa muscular, o aumento do percentual de gordura e a redução da hidratação celular são comuns. O envelhecimento bem-sucedido envolve o controle na velocidade destas mudanças, a prevenção de doenças e incapacidades, o funcionamento físico e mental excelente e o envolvimento ativo com a realidade que o cerca.

ENVELHECIMENTO SADIO. Os principais indicadores de qualidade de vida nesta idade são a própria longevidade, a saúde biológica e mental, a satisfação com a vida, um bom desenvolvimento cognitivo e a atividade física regular. A última é capaz de promover uma série de adaptações, as quais contribuem para um processo de envelhecimento sadio.

Receba a newsletter semanal. Dra. Andreia Torres é nutricionista, mestre em nutrição, doutora em psicologia clínica, especialista em yoga.

Um programa de condicionamento físico abrangente, incluindo treinamento de força e de resistência, está associado a menores taxas de mortalidade, menor número de eventos cardíacos, menor ocorrência de quedas, diminuição dos sintomas relacionados à depressão, preservação de funções cognitivas, como a memória e a atenção. Além disso, qualquer exercício traz um aspecto importante de sociabilidade.

As corridas, em especial, têm como benefícios principais a diminuição da pressão arterial, a maior sensibilidade ao hormônio insulina, o aumento da capacidade cardiorrespiratória, o aumento do bem-estar físico e mental, a redução da mortalidade. Se o objetivo do idoso for o aumento da velocidade, encoraja-se a complementação das corridas com o exercício de força. Um dos motivos é que a perda de massa magra leva à redução da força. 

A diminuição, por exemplo, na habilidade de movimentação dos braços reduz a velocidade do corredor, principalmente nas subidas. A musculação também protege este grupo contra lesões no tendão de Aquiles e nos músculos das pernas. Contudo, quanto mais se corre e quanto mais se treina com aparelhos, maiores são as necessidades nutricionais.

CARBOIDRATO É BÁSICO. Os alimentos representam a fonte utilizada pelo organismo para produzir energia necessária à realização do exercício. Se o idoso não atinge suas necessidades energéticas, a ingestão adequada de todos os nutrientes. Carboidratos representam a principal fonte de energia utilizada pelo organismo durante o exercício, especialmente em atividades de longa duração e intensidade moderada a alta. Assim, idosos que consomem uma dieta pobre em carboidratos podem apresentar menor rendimento e perda acelerada de musculatura. Dessa forma, a ingestão de carboidratos deve ser feita antes do exercício e também no período de recuperação. Atletas idosos devem consumir pelo menos 6 g de carboidratos/kg/dia. 

A necessidade média estimada de proteína para indivíduos idosos inativos é de 0,66 g de proteína/kg/dia. Apesar de a recomendação de ingestão de proteínas para atletas idosos ainda não ter sido estabelecida, o Colégio Americano de Medicina do Esporte sugere que a recomendação de ingestão de proteínas para indivíduos fisicamente ativos possa ser maior, em função da necessidade de reparação de fibras musculares após o exercício.

Já os alimentos ricos em gorduras (como abacate e açaí) são importante fonte de energia, vitaminas lipossolúveis e de ácidos graxos essenciais. Por isso, não é recomendado que a dieta contenha menos de 20% do valor calórico total sob a forma de lipídios. Devem-se evitar alimentos de origem animal com muita gordura, já que o consumo de lipídios acima de 35% do valor energético total diário está relacionado a um maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Escolhas saudáveis incluem nozes e castanhas, peixes, azeite e óleo de coco.

Uma série de fatores pode comprometer uma ingestão adequada de micronutrientes em idosos, como a baixa ingestão energética, as alterações no paladar, dificuldade na mastigação dos alimentos, problemas de digestão, má absorção intestinal e/ou o uso de medicações. A tabela mostra algumas interações entre medicamentos e nutrientes ou alimentos:

Tipo de medicamento Interação com o nutriente ou alimento

  • Medicamento para ansiedade: não consumir com frutas cítricas, principalmente grapefruit (toranja)

  • Medicamentos anti-hipertensivos (para redução da pressão arterial): não consumir com alcaçuz (alimento ou medicamento). Em inglês: licorice. Não ingerir toranja, pois a mesma aumenta a excreção da droga.

  • Diuréticos (para redução da pressão arterial): estas drogas aumentam a excreção de eletrólitos (sódio, potássio, magnésio...). Atente-se para sintomas como cãibras, fraqueza muscular, desidratação, dor de cabeça.

  • Estatinas (medicamentos para a redução do colesterol) não faça uso de álcool e grapefruit

  • Anti-inflamatório: evite alimentos ácidos, álcool, café e outros irritantes gastrointestinais

  • Agentes hipoglicemiantes (para redução da glicose sanguínea): a absorção de vitamina B12 pode ser prejudicada. Evite o consumo de álcool.

  • Drogas utilizadas para desordens gastrointestinais, como antiácidos: diminuem a absorção de vitamina B12 e ferro, e prejudicam a digestão de proteínas. Evite o consumo de álcool.

  • Medicamentos anticoagulantes: reduza o consumo de vitamina K e elimine suplementos contendo vitamina K. Evite o uso de suplementos de ômega-3, para evitar hemorragias.

FRUTAS E VERDURAS. É muito importante que o consumo de frutas e verduras não seja negligenciado. Sucos feitos com frutas de baixo índice glicêmico (morango, laranja, limão, maracujá, melão) batidos com folhosos (couve, espinafre, alface) ajudam a repor os nutrientes necessários ao dia a dia e os antioxidantes demandados pelas corridas. Estes sucos também regulam o funcionamento intestinal e oferecem nutrientes de rápida absorção.

Uma forma de entender as necessidades especiais do idoso é observar a pirâmide alimentar adaptada para idosos (http://www.elderlynursing.com/images/pyramid.jpg). Veja que na base está a hidratação, uma vez que o organismo depende da água para a redução da temperatura gerada pelo exercício, para absorção, transporte e uso dos nutrientes, para a lubrificação das articulações e a remoção de substâncias tóxicas absorvidas ou produzidas pelo corpo. Hidrate-se antes, durante e após os treinos.

A pirâmide também foca na necessidade de suplementação de nutrientes como cálcio, vitamina D e vitamina B12. Outros nutrientes importantes nesta fase são o magnésio e o ácido graxo ômega-3. Além disso, idosos anêmicos necessitarão de ferro e ácido fólico e indivíduos com resfriados ou infecções de repetição se beneficiarão do uso da glutamina e dos probióticos.

As melhores escolhas alimentares para atletas seniores:

- Mantenha um consumo alto e variado de frutas e verduras;
- Prefira cereais integrais;
- Consuma peixes pelo menos duas vezes por semana;
- Procure evitar o consumo de frituras;
- Selecione carnes magras e fontes de proteína vegetal diariamente (soja, quinua, feijão, lentilha, ervilha, grão de bico);
- Minimize o consumo de alimentos altamente processados;
- Substitua a manteiga por azeite de oliva ou óleo de coco. Se você colocar o azeite em um pote menor e levar ao congelador, e o óleo de coco à geladeira, obterá uma consistência similar à da manteiga.

Meu material no Youtube: Alimentação e envelhecimento:

GANHE MASSA MAGRA
Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/