Suplementação no autismo

Suplementos vitamínicos / minerais são muito utilizados para prevenir e tratar carências nutricionais. Podem ser utilizados por qualquer pessoa e no autismo, especificamente devido às recusas alimentares podem ser fundamentais para regulação e correção metabólica. O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno frequente do desenvolvimento caracterizado por déficits generalizados na interação social, prejuízo na comunicação verbal e não verbal e padrões estereotipados de interesses e atividades.

Com uma prevalência mundial de 1 em 68 crianças, o TEA é mais comum em homens, que têm quatro vezes mais probabilidade de desenvolver a doença do que mulheres. Os distúrbios comportamentais são acompanhados por profundas alterações nos principais processos fisiológicos centrais, como neuroinflamação, neurogênese, neurotransmissão e na produção de hormônios pró-sociais, oxitocina e vasopressina.

Em um estudo envolvendo 141 pessoas com TEA, foi administrado para metade da amostra (53 crianças de 5 a 16 anos), um suplemento multivitamínico e mineral. Os níveis de muitas vitaminas, minerais e biomarcadores melhoraram ou aumentaram, mostrando boa adesão e absorção. Houveram melhorias estatisticamente significativas no estado metabólico de S-adenosilmetionina, glutationa reduzida, ATP e NADPH, em relação ao grupo não suplementado. Esta melhoria foi refletida nos resultados de testes como o Parental Global Impressions-Revised e nos subtotais para Hiperatividade (p = 0,003), ataques de cólera e linguagem (Adams et al., 2011).

​Outro estudo publicado pelo mesmo grupo mostrou que a suplementação de vitaminas / minerais, ácidos graxos essenciais, banhos de sal de Epsom, carnitina, enzimas digestivas e uma dieta saudável sem glúten, caseína e soja contribui para a melhoria da capacidade intelectual não verbal no grupo de tratamento em comparação com o grupo com TEA não suplementado (Adams et al., 2018).

Em estudo de 2016, realizado em 109 crianças com TEA (85 meninos e 24 meninas; com idades entre 3-10 anos), metade dos pacientes receberam suplemento de vitamina D3 por 4 meses. Os restantes receberam um placebo (cápsula sem composto ativo). Os níveis séricos de 25-hidroxicolecalciferol (25 (OH) D) foram medidos no início e no final do estudo. A gravidade do autismo e a maturidade social das crianças foram avaliadas pelos instrumentos: Escala de Avaliação do Autismo na Infância (CARS), Lista de Verificação de Comportamento Aberrante (ABC), Escala de Responsividade Social (SRS) e Lista de Verificação de Avaliação do Tratamento do Autismo (ATEC). A suplementação de vitamina D foi bem tolerada pelas crianças com TEA. As doses diárias usadas no grupo de terapia foram 300 UI de vitamina D3 / kg / dia, não excedendo 5.000 UI / dia. Os sintomas de autismo das crianças melhoraram significativamente, após a suplementação de vitamina D3 de 4 meses, mas não no grupo de placebo (SAAD et al., 2016).

Foi relatado ainda que crianças com transtorno do espectro do autismo (TEA) têm capacidade reduzida de metilar o DNA, além de apresentarem marcadores elevados de estresse oxidativo. Outro estudo de 2016 acompanhou 57 crianças com TEA. Metade recebeu tratamento com metil B12 (75 μg / kg) e a outra metade placebo por injeção subcutânea a cada 3 dias. O principal resultado foi a melhora geral nos sintomas de TEA, conforme medido pela pontuação de Melhoria Clínica Global de Impressões (CGI-I) no grupo suplementado, além de melhorias de componentes metabólicos indicando aperfeiçoamento na capacidade de metilação (Hendren et al., 2016).

Os distúrbios do sono são frequentemente relatados em pacientes com TEA. Evidências sugerem que o aumento do estresse oxidativo e a redução dos antioxidantes podem desempenhar um papel importante na patogênese desses distúrbios. A carnosina atua como um agente antioxidante, antitóxico e neuroprotetor. Em umensaio clínico duplo-cego randomizado, 43 pacientes autistas (31 meninos e 12 meninas; com idades entre 4 a 16 anos) foram divididos em dois grupos. Um grupo recebeu 500 mg de carnosina e o outro 500 mg de placebo por dia durante 2 meses. Os distúrbios do sono foram medidos por meio de questionários de hábitos de sono das crianças. A Escala de Avaliação de Autismo 2 de Gilliam foi usada para avaliar os efeitos da suplementação de carnosina na gravidade do autismo. A suplementação de carnosina não mostrou nenhum efeito na gravidade do autismo mas reduziudistúrbios do sono em 7,59 % da amostra suplementada, sendo outro suplemento a ser testado em pacientes com dificuldades para dormir (Zehrazad-Saber, Kheirouri, Noorazar, 2018). Outro suplemento é a melatonina. Falei dele neste post anterior.

Embora o TEA possa ser classicamente considerado principalmente neurológico em sua patologia, há evidências crescentes para demonstrar um papel para o sistema gastrointestinais e sua microbiota em aspectos da sintomatologia do transtorno. Aproximadamente 70% das crianças com TEA relatam distúrbios gastrointestinais, como distensão abdominal, constipação e diarreia, indicando que a fisiologia intestinal está realmente alterada. Curiosamente, em um pequeno estudo aberto no qual crianças com TEA foram tratadas com o antibiótico de amplo espectro vancomicina, houve uma melhora acentuada nos sintomas comportamentais. Embora os antibióticos não sejam uma estratégia de intervenção de longo prazo viável para o manejo do TEA, este estudo forneceu ao campo uma visão crítica de que a microbiota intestinal pode contribuir para os distúrbios comportamentais nesse distúrbio do neurodesenvolvimento.

Vários estudos adicionais observaram alterações significativas na composição da microbiota e na produção de metabólitos microbianos em crianças com TEA. É importante notar que há uma abundância reduzida do gênero de bactérias benéficas, Bifidobacterium, juntamente com um aumento da abundância dos gêneros Desulfovibrio e Clostridia potencialmente patogênicos na microbiota intestinal de crianças com TEA, um resultado que foi consistente em todos os estudos. Um estudo identificou que o gene cpb2, que codifica para a toxina clostridial β2 , é significativamente mais expresso na microbiota fecal de crianças com TEA em relação aos controles. A toxina β2 gera mais diarreia e desconfortos abdominais. A combinação de uma dieta sem caseína / glúten junto com o prebiótico B-GOS levou a uma melhora nos sintomas comportamentais de crianças autistas. Essas mudanças comportamentais foram acompanhadas por um aumento na abundância relativa da cepa benéfica, B. longum, na microbiota de crianças autistas.

Crianças seletivas que limitam muito o consumo de alimentos de origem vegetal possuem um microbioma menos diverso, fezes menos consistentes, o que, por sua vez, pode alterar o funcionamento cerebral. Parece uma via de mão dupla. O autismo afeta o consumo que afeta intestino. Intestino afeta cérebro que piora sintomas apresentados. Assim, corrigir a disbiose intestinal é importante nestes pacientes.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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