A histerectomia é uma operação para remover o útero. É uma cirurgia importante e não é necessariamente a melhor opção de tratamento, devendo ser reservadas para as mulheres que já tentaram outras avenidas sem sucesso. Após a retirada do útero as mulheres não menstruarão mais nem poderão conceber filhos. A maioria dos procedimentos são realizados para tratar condições como miomas (crescimentos que se formam dentro do útero), sangramento intenso, endometriose, adenomiose (quando o tecido endometrial cresce na parede muscular do útero), prolapso uterino e câncer.
Os três tipos principais de cirurgia
Parcial com remoção de 2/3 do útero
Total com remoção do útero e cérvix (e às vezes trompas de falópio)
Radical: com remoção do útero, cérvix, vagina, trompas de falópio e ovários
As mulheres que não tiveram o colo do útero removido durante a histerectomia precisarão continuar fazendo exames de Papanicolau regularmente a cada dois anos. Mulheres com maior risco de câncer de ovário, como aquelas com histórico familiar, devem discutir os riscos e benefícios de manter seus ovários com um ginecologista. Embora o câncer de ovário seja um diagnóstico extremamente sério, principalmente porque tende a estar em estágio avançado no diagnóstico, é importante que as mulheres estejam cientes de que o risco de desenvolver câncer de ovário é bastante baixo em comparação com outros tipos de câncer.
Os efeitos colaterais da remoção do ovário, por outro lado, podem ser significativos. Os ovários produzem hormônios sexuais chamados andrógenos, incluindo testosterona, que são importantes para manter músculos e ossos fortes, um balanço positivo de proteínas, desejo sexual e bem-estar geral. Com até 35% da testosterona de uma mulher sendo produzida pelos ovários (o restante proveniente das glândulas supra-renais), esse é um fator a ser considerado. Estudos mostraram, por exemplo, que a remoção cirúrgica dos ovários pode causar uma redução de 50% nos níveis de testosterona, o que tem sido associado a uma deterioração significativa do desejo sexual, principalmente em mulheres mais jovens. Mulheres que sofrem de menopausa prematura ou submetidas a remoção cirúrgica de ambos os ovários no início da vida podem ficar angustiadas com as mudanças na libido e na vida sexual.
Os ovários também convertem testosterona em estrogênio. A remoção dos ovários de uma mulher na pré-menopausa resulta, portanto, em uma redução dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, provocando uma menopausa instantânea denominada menopausa cirúrgica. Essa queda nos níveis hormonais pode causar sintomas como calorões, suores noturnos, secura vaginal e aumento do risco de doenças cardíacas, além de osteoporose.
Como a cirurgia é feita?
A cirurgia pode ser feita via abdominal, vaginal ou laparoscópica. O método escolhido dependerá de vários fatores como as habilidades, conhecimentos e preferências do cirurgião. Também é levada em consideração a razão da histerectomia e outras características como peso da mulher, histórico de cirurgia pélvica e se já tiveram filhos ou não.
A histerectomia abdominal é realizada quando é necessária uma exploração extensiva, como no caso de câncer, útero aumentado, obesidade, se a mulher nunca teve filhos, se existem fibróides muito grandes, aderências extensas ou endometriose. A cirurgia pode ser realizada através de um corte horizontal, na linha do biquíni ou através de uma incisão vertical que envolve um corte do umbigo à linha dos pelos pubianos. O procedimento da linha do biquíni é mais comumente preferido, pois deixa uma cicatriz menos óbvia e resulta em um tempo de recuperação mais curto. A principal vantagem de uma histerectomia abdominal é a menor incidência de danos ao trato urinário e aos vasos sanguíneos. Este método também permite a reparação de um prolapso ao mesmo tempo, se necessário. A desvantagem é que esse método geralmente é mais doloroso.
Uma histerectomia vaginal envolve fazer uma incisão na parte superior da vagina e remover o útero através da vagina. As vantagens desse método são menos dor, menor tempo de internação e ausência de cicatriz visível. Por fim, a histerectomia laparoscópica envolve incisões pequenas no abdome. Um laparoscópio é um instrumento que permite a visualização do interior do abdome e é inserido através de uma das incisões na cavidade abdominal. O cirurgião pode visualizar os órgãos pélvicos em uma tela de vídeo e inserir instrumentos cirúrgicos nas demais incisões. Os procedimentos laparoscópicos costuma reduzir o tempo de hospitalização e o risco de infecções. Porém, o tempo de operação pode ser mais longo, os custos são mais altos e há aumento do risco de danos ao trato urinário. O tempo de internação após a cirurgia varia de acordo com o tipo de histerectomia realizada, do tempo que o intestino leva para voltar a funcionar, do estado geral da paciente e da presença ou ausência de complicações.
Complicações da histerectomia
Após a cirurgia, as mulheres podem sentir náuseas como efeito colateral da anestesia geral e sentir alguma dor e desconforto abdominal. Medicação para aliviar náuseas e dores estará disponível. Também pode haver algum sangramento vaginal que deve diminuir após alguns dias. As mulheres são incentivadas a se levantar e andar no primeiro dia após a cirurgia para evitar constipação e gases e diminuir o risco de coágulos sanguíneos e infecções pulmonares. Outras complicações incluem infecção pós-operatória e febre. Problemas mais graves são muito mais raros e envolvem hemorragia, formação de coágulo sanguíneo nos pulmões, danos aos órgãos vizinhos durante a cirurgia e queixas urinárias. Para algumas mulheres, o colo uterino pode estar envolvido no orgasmo e, se for removido, pode ocorrer uma diminuição da resposta sexual.
A maioria das mulheres experimenta uma melhora no humor e uma maior sensação de bem-estar após uma histerectomia. Para muitos, o alívio dos problemas ginecológicos que levaram ao procedimento e o medo da gravidez resultam em maior prazer sexual. Porém, mulheres anteriormente deprimidas ou em risco de desenvolver depressão devem ser acompanhadas por psicólogo/psiquiatra. A depressão após a histerectomia é mais comum se a operação ocorrer devido a câncer ou doença grave, e não como uma operação eletiva. Outros fatores de risco para o desenvolvimento de depressão pós-histerectomia são idade inferior a 40 anos e em mulheres sem filhos que ainda tinham a expectativa de engravidar.
Os sintomas da depressão podem incluir sentimentos graves e prolongados de tristeza e desesperança; menor interesse em atividades usuais; diminuição ou aumento do apetite; perda ou ganho significativo de peso; distúrbios de sono; libido diminuída; falta de energia; pensamentos de morte ou suicídio.
Teoricamente, quando os ovários são mantidos, as únicas alterações experimentada deveriam ser a interrupção dos períodos menstruais e a resolução da doença que provocou a cirurgia. Na prática, no entanto, um número significativo de mulheres cujos ovários permanecem após esse tipo de histerectomia experimenta sintomas da menopausa até quatro anos antes do que se poderia esperar. As possíveis explicações para isso são que a cirurgia pode alterar o suprimento sanguíneo para os ovários ou a condição que resultou na necessidade de fazer uma histerectomia, como endometriose ou cistos, já havia reduzido a vida natural dos ovários antes da cirurgia.
A menopausa após a remoção dos ovários é súbita, ao contrário das mudanças graduais geralmente experimentadas pelas mulheres na menopausa que ocorre naturalmente. A terapia de reposição estrogênica (TRO) é uma opção de tratamento frequentemente recomendada pelos médicos para aliviar os calorões e a secura vaginal. Esse tratamento geralmente envolve o uso de hormônios na forma de pílulas, adesivos, sprays, géis ou implantes. Para as mulheres que não desejam fazer a reposição hormonal opções alternativas podem ajudar a aliviar os sintomas , o que inclui uma dieta rica em fitoestrogênios e cálcio, atividade física regular, técnicas de gerenciamento de estresse e fitoterapia. Alguns fitoterápicos utilizados:
Tribulus terrestris: aumenta os níveis de testosterona e o desejo sexual
Gengibre (Ginger officinalis): reduz fogachos e a suores noturnos
Valeriana (Valeriana officinalis) e Hipérico (Hypericum perforatum): tratamento da depressão de leve a moderada
Pós-operatório inicial
A hospitalização para uma histerectomia abdominal sem complicações é geralmente de dois a quatro dias e de dois a três dias para a histerectomia vaginal ou laparoscópica. Após este período a mulher vai para casa, permanecendo em repouso total por mais alguns dias.
Quando estiver em casa, é importante manter a incisão limpa e seca. O seu médico dará instruções específicas para o banho, evitando a banheira por 4 semanas. Certifique-se de secar completamente a incisão, com batidinhas leves, nunca esfregando. Se você tiver drenos, poderá lavar-se usando uma esponja de banho ou chuveirinho. Sua incisão pode ficar levemente vermelha ao redor dos pontos ou grampos. Isto é normal. Os grampos são removidos 10 a 14 dias após a cirurgia.
Com o tempo, a cor da sua cicatriz ficará mais clara e menos perceptível. Isso levará de seis a 12 meses. Use roupas largas que não esfreguem ou irritem a área da incisão. Você pode colocar um pedaço de gaze limpo sobre a incisão para evitar irritações nas roupas. Evite a exposição direta ao sol na área da incisão. Além disso, não use pomadas ou loções diretamente sobre a cicatriz, enquanto não estiver bem fechada.
Após a cirurgia, desconforto e dor leve a moderada são comuns. Tome sua medicação para a dor antes que a dor se torne incapacitante. Também é útil alternar sua medicação para a dor com um anti-inflamatório. Se você sentir muito desconforto à medida que sua atividade aumenta, tente tomar o medicamento para dor meia hora antes dessa atividade. Se sua dor não for aliviada pela medicação, ligue para seu médico. Medicação para a dor pode causar constipação. Para evitar prisão de ventre beba bastante água e consuma uma dieta rica em fibras. Coma mamão com farelo de aveia e psyllium ou inulina (ou um mix de fibras), por exemplo. Converse com seu nutricionista.
Não segure a urina. Vá ao banheiro sempre que precisar. Você pode ter um corrimento vaginal por até oito semanas. Duas semanas após a cirurgia, algumas mulheres experimentam um aumento no sangramento vaginal por 24 horas. Isto é normal. No entanto, se persistir ou ficar muito pesado, chame seu médico.
Após a cirurgia você se sentirá mais cansada. Tente tirar um cochilo ou faça mais pausas durante o dia. Tarefas simples podem inicialmente esgotá-la. Após esse período inicial você terá mais ânimo para se movimentar e realizar tarefas domésticas muito leves, mas deve evitar ficar em pé por um período de tempo prolongado. Cerca de três a quatro semanas após a operação, as mulheres podem começar a aumentar o nível de atividade física, mas o trabalho pesado e a permanência prolongada devem continuar a ser evitados. Isso permite que os tecidos se recuperem corretamente e evitem danos futuros.
Como orientação geral, as mulheres não devem levantar mais de três a quatro quilos (aproximadamente o equivalente a uma chaleira cheia de água) durante esse período. O trabalho pesado e a malhação só voltam depois de cerca de três meses após a cirurgia.
Um check-up pós-operatório geralmente ocorre cerca de seis semanas após a operação para garantir que o corpo se cure adequadamente. Esta visita oferece uma oportunidade para uma mulher discutir quaisquer preocupações que possa ter e perguntar que tipos de atividades são permitidas a partir de então.
O sexo com penetração não é recomendado até que a parte superior da vagina esteja completamente recuperada, o que geralmente ocorre cerca de seis a oito semanas após a histerectomia. Durante esse período, as mulheres podem se concentrar em outras atividades, como tocar os órgãos genitais externos, abraços, beijos e massagens. Mulheres com problemas na vida sexual após uma histerectomia podem achar útil consultar um psicólogo, conselheiro ou terapeuta sexual. Por outro lado, outras mulheres podem experimentar aumento do desejo após a cirurgia como resultado do alívio de sintomas ginecológicos dolorosos e inconvenientes. Não ter que se preocupar com uma gravidez indesejada também pode ter um efeito positivo em alguns relacionamentos
Mulheres que tiveram seus ovários removidos podem experimentar secura vaginal, o que pode tornar a penetração desconfortável. Isso pode ser aliviado usando um lubrificante à base de água. O útero eleva-se durante a excitação sexual e se contrai com o orgasmo. Mulheres que estavam cientes destas sensações uterinas vão notar alteração nas sensações durante o ato sexual.
Caso sinta dor no peito, falta de ar, palpitações ou dor na panturrilha, vá a uma emergência local para avaliação.
Autocuidado antes e depois da cirurgia
Após uma histerectomia, um estilo de vida saudável não é mais uma opção - é uma necessidade. Aprenda mais sobre ayurveda e consulte um nutricionista para começar seu estilo de vida saudável antes da cirurgia.
Se precisar perder peso corte calorias, doces, frituras, álcool antes da cirurgia pois é comum o ganho de peso posterior. Faça atividade física antes da cirurgia para auxiliar no processo e chegar no dia marcado com boa saúde. Se precisar contrate um personal trainer ou faça caminhadas e yoga em casa.
Decida o que é mais importante para você. Para alcançar uma vida equilibrada, é essencial esclarecer suas prioridades. Carreira satisfatória? Cônjuge? Filhos? Serviço comunitário? Saúde? Aventura e viagem? Dedique-se ao que é de fato prioritário. Se um compromisso não se encaixar na sua lista de prioridades, abandone-o. Você terá mais tempo para as coisas que importam para você. Valorize-se e dê às suas prioridades o respeito que elas merecem.
Aprenda a relaxar. Ouça músicas que proporcionam uma fuga mental. Ou encontre um exercício de relaxamento que funcione - como respiração ritmada, respiração profunda, respiração visualizada, relaxamento muscular progressivo. Ensino várias técnicas neste curso.
Descanse o suficiente, durma e medite. O sono ajuda seu corpo a se recuperar do estresse do dia. Leia algo que lhe inspire. Concentre-se no autoconhecimento, autorenovação, otimismo e esperança. Encontre a si mesma.
Alimentação antes e após a histerectomia
Antes da cirurgia faça exames de sangue e se estiver anêmica suplemente ferro, B12 e B9. Suspenda o uso de ômega-3 e gingko biloba por um mês até o dia da cirurgia, pois aumentam o risco de sangramento. Após a histerectomia faça refeições bem equilibradas para ajudá-la a se recuperar mais rapidamente e para se sentir melhor. O que você come após a cirurgia afeta seu bem-estar e sua cicatrização. A alimentação também afeta sua vitalidade e níveis de energia.
Faça pelo menos três refeições ao dia, com alimentos proteicos e antiinflamatórios, que reduzirão dor e inflamação e contribuirão para a boa recuperação tecidual. Refeições saudáveis não precisam ser caras ou demoradas. Se não tiver ajuda deixe arroz integral, feijão, porções de carne ou tofu e sopas congeladas para usar na primeira semana do pós-operatório. Capriche no uso de ervas antiinflamatórias nas suas refeições. Bons exemplos são orégano, alecrim, açafrão, manjerona, cominho, alecrim, salsinha, manjericão, curry, sálvia, pimenta, tomilho e hortelã. Suplementos como a curcumina do Crocus sativus e o ômega-3 podem ainda ser usados para a redução de inflamação e dores.
Tenha em casa frutas frescas e verduras, nozes, castanhas, sementes e iogurte. Consulte um nutricionista e discuta também a suplementação para o pós-operatório. Os alimentos e nutrientes certos vão contribuir para reduzir o processo inflamatório (vitaminas K, A, C), a dor (açafrão, gengibre, etc) o edema, a perda de massa magra (aminoácidos, colágeno, ferro), a resistência à insulina (dieta de baixo índice e carga glicêmica, ômega-3), facilitar a cicatrização (vitamina D, zinco, magnésio, ferro, complexo B, vitaminas A C e E, cálcio, manganês).
Evite alimentos ultraprocessados, gorduras trans (hidrogenadas), presente em margarina, frituras, salgadinhos, doces e qualquer coisa açúcarada. Após a cirurgia podem surgir problemas intestinais relacionados ao microbioma alterado pelo uso de medicamentos e anestesia. A diminuição da atividade física, inchaço interno, dor pélvica, estar longe de casa também contribuem para alterações como a prisão de ventre. Troque o pão de trigo por um pão de aveia, troque o suco por frutas inteiras laxantes (ameixa, mamão, pêssego, kiwi). Consuma legumes duas vezes ao dia. Boas opções são abóbora, brócolis, couve.
Deixe as leguminosas de molho (feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, soja) por 10 a 12 horas antes do preparo ou causarão muitos gases. O chá de gengibre pode ajudar a aliviar cólicas e gases. Hidrate-se muito bem para as fezes ficarem mais macias. Se precisar tome um suplemento de fibras solúveis ou de fibras prebióticas. Apenas use laxantes orientados por seu médico.
Bebidas fermentadas (kombucha, kefir de leite ou kefir de água) são boas opções para restaurar a microbiota intestinal após a histerectomia. Teste antes pois você vai querer conforto durante o processo de recuperação. Vai querer alimentos que já conhece e com os que sabe que sente-se bem. O mesmo podemos dizer em relação aos suplementos. O whey protein isolado ou suplementos proteicos veganos podem ser usados como opção de proteína em caso de falta de fome para uma refeição completa. Ouça o seu corpo e progrida na sua dieta de acordo com o seu bem-estar e seus sintomas físicos.
Após um ano da cirurgia, mulheres submetidas a histerectomias parecem apresentar maior risco de ganho de peso (Moorman et al., 2009). Para que isso não aconteça os hormônios devem estar em equilíbrio (não deixe de fazer seus exames anuais), reduza o estresse e melhore a qualidade do sono, volte para a musculação e não coma mais do que precisa.